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sábado, 7 de maio de 2022

Não são apenas 14 apóstolos na Bíblia. Missionário ou apóstolo, qual o termo bíblico?




1-Quantos apóstolos tem na bíblia?

A Bíblia fala de dois grupos de apóstolos:

1-     os canônicos- (os 12, pois lançaram os fundamentos e os que forma inspirados a escrever livros do cãnon sagrado , como Paulo, Silvano e Timóteo, Tiago,  Ef 2:20; 3:5. 


2-     Os não canônicos (missionários).  At 14:14; Gl 1:19 (como Barnabé e Tito); Andronico e Júnias Rm 16:7. Esses anunciam as boas novas sobre o fundamento dos outros, sobre a doutrina apóstólica.


confira abaixo:

os 12

Mt 10:2  Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, por sobrenome Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão;

Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu;

Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes, que foi quem o traiu.

Matias - 13º

Atos 1:26  E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.


Barnabé  e Paulo-  14º e 15º

 ¶ Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo.
2  E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado.
3  Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram.
4 ¶ Enviados, pois, pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.


Atos 14:14  Porém, ouvindo isto, os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgando as suas vestes, saltaram para o meio da multidão, clamando:

1 Co 9:1  Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor?
2  Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor.
3 ¶ A minha defesa perante os que me interpelam é esta:
4  não temos nós o direito de comer e beber?
5  E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?
6  Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?

Gálatas 2:9  e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão;

 Barnabé era apóstolo no sentido mais amplo da palavra, como também muitos outros eram assim nomeados naquela época. Eram irmãos enviados por igrejas locais para a obra de evangelização pioneira, para a plantação de novas igrejas em locais ainda não evangelizados. Usada neste sentido, a palavra "apóstolo” descreve a função deles, de enviados em missão. Teoricamente ela podería ser empregada em nossos dias para designar aqueles que são enviados para o campo missionário, para fazer a obra de evangelização e plantar novas igrejas (como Barnabé, Silas e Timóteo) Apóstolos : a verdade bíblica sobre o apostolado / Augustus Nicodemus Lopes - São José dos Campos, SP : Fiel, 2014.p. 112


Silas ou Silvano 16º - missionario com Paulo e coautor de carta
Timóteo 17º- missionário com Paulo e coautor da carta

2 Coríntios 1:19 Porque o Filho de Deus, Cristo Jesus, que foi, por nosso intermédio, anunciado entre vós, isto é, por mim, e Silvano, e Timóteo, não foi sim e não; mas sempre nele houve o sim.
1 Ts 1:1 Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo, graça e paz a vós outros.
7 ¶ Embora pudéssemos, como enviados [apóstolos] de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia, nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos;

2 Ts 1:1 Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus, nosso Pai, e no Senhor Jesus Cristo,
1 Pedro 5:12 Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão, como também o considero, vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de novo, que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes.


Atos 15:22  Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido homens dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia: foram Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos,
Atos 15:27  Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais pessoalmente vos dirão também estas coisas.
Atos 15:32  Judas e Silas, que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram.
Atos 15:34  Mas pareceu bem a Silas permanecer ali.
Atos 15:40  Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor.
Atos 16:19  Vendo os seus senhores que se lhes desfizera a esperança do lucro, agarrando em Paulo e Silas, os arrastaram para a praça, à presença das autoridades;
Atos 16:25  Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam.
Atos 16:29  Então, o carcereiro, tendo pedido uma luz, entrou precipitadamente e, trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas.
Atos 17:4  Alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres.
Atos 17:10  E logo, durante a noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus.
Atos 17:14  Então, os irmãos promoveram, sem detença, a partida de Paulo para os lados do mar. Porém Silas e Timóteo continuaram ali.
Atos 17:15  Os responsáveis por Paulo levaram-no até Atenas e regressaram trazendo ordem a Silas e Timóteo para que, o mais depressa possível, fossem ter com ele.
Atos 18:5  Quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, Paulo se entregou totalmente à palavra, testemunhando aos judeus que o Cristo é Jesus.



 Parece-nos que a resposta é a mesma dada no caso de Barnabé: Paulo, às vezes, chama de “apóstolos” os obreiros enviados para o serviço do Senhor, alguns dos quais seus companheiros de viagens. Silas era da igreja de Jerusalém, profeta e notável entre os irmãos. Seu relacionamento com Paulo começou quando foi escolhido e enviado pela igreja para acompanhá-lo, junto de outros, na missão de entregar aos cristãos gentios as decisões do concilio de Jerusalém sobre a entrada deles na igreja (At 1 5 .2 2 ,3 2 ). Mais tarde, o próprio Paulo o escolhe como parceiro para a segunda viagem missionária, depois do desentendimento com Barnabé (At 15.36-41). Juntamente com Timóteo, Silas e Paulo vão aTessalônica, Beréia e depois a Corinto (At 18.5). Paulo os chama de apóstolos no sentido mais abrangente da palavra, que é de enviados de Cristo, através das igrejas, para a obra de pregar o Evangelho Apóstolos : a verdade bíblica sobre o apostolado / Augustus Nicodemus Lopes - São José dos Campos, SP : Fiel, 2014.p. 113


 Aqueles que eram enviados por Cristo, através das igrejas, para pregar o Evangelho em regiões onde Cristo ainda não havia sido anunciado. Aqui temos Barnabé (At 14.1,14; IC o 9.6), Silvano e Timóteo (lT s 1.1; 2.7) e “os demais apóstolos” mencionados por Paulo (IC o 9.5). É somente neste sentido, assim entendemos, que alguém em nossos dias podería reivindicar a designação. Todavia, os verdadeiros missionários estão bem longe de procurar títulos desta natureza Apóstolos : a verdade bíblica sobre o apostolado / Augustus Nicodemus Lopes - São José dos Campos, SP : Fiel, 2014p. 120-121






Tiago18º irmão do Senhor, uma das colunas com Pedro e João e autor da carta 
Gálatas 1:17  nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco.
Gálatas 1:19  e não vi outro dos apóstolos, senão Tiago, o irmão do Senhor.

#At 12.17; 15.13; 21.18; Gl 1.19; 2.9}

Atos 12:17  Ele, porém, fazendo-lhes sinal com a mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão e acrescentou: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, retirou-se para outro lugar.
Atos 15:13  Depois que eles terminaram, falou Tiago, dizendo: Irmãos, atentai nas minhas palavras:
Atos 21:18  No dia seguinte, Paulo foi conosco encontrar-se com Tiago, e todos os presbíteros se reuniram.

Gálatas 2:9  e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão;



Tito-19º missionário com Paulo

Tito é  mencionado nos seguintes textos: {#2Co 2.13; 7.6-16; 8.6,16,23; 12.18}. 

{#Gl 2.1-3; Tt 1.4-5}

Gálatas 2:1  Catorze anos depois, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também a Tito.
Gálatas 2:2  Subi em obediência a uma revelação; e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular aos que pareciam de maior influência, para, de algum modo, não correr ou ter corrido em vão.
Gálatas 2:3  Contudo, nem mesmo Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se.
Tito 1:4  a Tito, verdadeiro filho, segundo a fé comum, graça e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador.
Tito 1:5  Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi:

2 Coríntios 2:13  não tive, contudo, tranqüilidade no meu espírito, porque não encontrei o meu irmão Tito; por isso, despedindo-me deles, parti para a Macedônia.
2 Coríntios 7:6  Porém Deus, que conforta os abatidos, nos consolou com a chegada de Tito;
2 Coríntios 7:7  e não somente com a sua chegada, mas também pelo conforto que recebeu de vós, referindo-nos a vossa saudade, o vosso pranto, o vosso zelo por mim, aumentando, assim, meu regozijo.
2 Coríntios 7:8  Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a carta, não me arrependo; embora já me tenha arrependido (vejo que aquela carta vos contristou por breve tempo),
2 Coríntios 7:9  agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis.
2 Coríntios 7:10  Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.
2 Coríntios 7:11  Porque quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que defesa, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vindita! Em tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto.
2 Coríntios 7:12  Portanto, embora vos tenha escrito, não foi por causa do que fez o mal, nem por causa do que sofreu o agravo, mas para que a vossa solicitude a nosso favor fosse manifesta entre vós, diante de Deus.
2 Coríntios 7:13  Foi por isso que nos sentimos confortados. E, acima desta nossa consolação, muito mais nos alegramos pelo contentamento de Tito, cujo espírito foi recreado por todos vós.
2 Coríntios 7:14  Porque, se nalguma coisa me gloriei de vós para com ele, não fiquei envergonhado; pelo contrário, como, em tudo, vos falamos com verdade, também a nossa exaltação na presença de Tito se verificou ser verdadeira.
2 Coríntios 7:15  E o seu entranhável afeto cresce mais e mais para convosco, lembrando-se da obediência de todos vós, de como o recebestes com temor e tremor.
2 Coríntios 7:16  Alegro-me porque, em tudo, posso confiar em vós.
2 Coríntios 8:6  o que nos levou a recomendar a Tito que, como começou, assim também complete esta graça entre vós.
2 Coríntios 8:16  Mas graças a Deus, que pôs no coração de Tito a mesma solicitude por amor de vós;
2 Coríntios 8:23  Quanto a Tito, é meu companheiro e cooperador convosco; quanto a nossos irmãos, são mensageiros [apóstolos]  das igrejas e glória de Cristo.
2 Coríntios 12:18  Roguei a Tito e enviei com ele outro irmão; porventura, Tito vos explorou? Acaso, não temos andado no mesmo espírito? Não seguimos nas mesmas pisadas?




Andrônico e Júnias 20º e 21 ª

Júnias era uma mulher 



Romanos 16:7  Saudai Andrônico e Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos e estavam em Cristo antes de mim.


2- Epafrodito e dois irmãos são apóstolos?
Não, eram enviados para acompanhar as ofertas. Ambos haviam sido eleitos pelas igrejas da Macedonia para acompanharem a entrega em Jerusalém das ofertas levantadas por estas igrejas,


2 Co 8:16 ¶ Mas graças a Deus, que pôs no coração de Tito a mesma solicitude por amor de vós;
17  porque atendeu ao nosso apelo e, mostrando-se mais cuidadoso, partiu voluntariamente para vós outros.
18  E, com ele, enviamos o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas.
19  E não só isto, mas foi também eleito pelas igrejas para ser nosso companheiro no desempenho desta graça ministrada por nós, para a glória do próprio Senhor e para mostrar a nossa boa vontade;
20  evitando, assim, que alguém nos acuse em face desta generosa dádiva administrada por nós;
21  pois o que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens.
22  Com eles, enviamos nosso irmão cujo zelo, em muitas ocasiões e de muitos modos, temos experimentado; agora, porém, se mostra ainda mais zeloso pela muita confiança em vós.
23  Quanto a Tito, é meu companheiro e cooperador convosco; quanto a nossos irmãos, são mensageiros das igrejas e glória de Cristo.

Filipenses 2:25  Julguei, todavia, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e, por outro, vosso mensageiro [apóstolotexto grego] e vosso auxiliar nas minhas necessidades;



3-Falsos apóstolos:

Coríntios 11:5  Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos.

2 Coríntios 11:13  Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo.
2 Coríntios 12:11  Tenho-me tornado insensato; a isto me constrangestes. Eu devia ter sido louvado por vós; porquanto em nada fui inferior a esses tais apóstolos, ainda que nada sou.
Apocalipse 2:2  Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos;







Profetas do Nova Aliança e seus dois tipos-




 1- O que significa profeta?


  • "No Antigo Testamento  Hebraico: nabiy’
1) porta-voz, orador, profeta

  • No Novo Testamento Grego: prophetes

1) nos escritos gregos, intérprete de oráculos ou de outras coisas ocultas
2) alguém que, movido pelo Espírito de Deus e, por isso, seu instrumento ou porta-voz, solenemente declara aos homens o que recebeu por inspiração, especialmente aquilo que concerne a eventos futuros, e em particular tudo o que se relaciona com a causa e reino de Deus e a salvação humana"      (Léxico de Strong)

2- Todos os cristão são profetas?
Não. Alguns tem o dom ou ministério de profeta

1 Coríntios 12:28 A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.

1 Coríntios 12:29 Porventura, são todos apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? Ou, operadores de milagres?

1 Coríntios 14:29 Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem.

Efésios 4:11 E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres,


3- Ter dom de profecia é o mesmo que ser profeta?
Não. Nem todo que ensina tem dom de Mestre.
Nem todo que evangeliza tem dom de Evangelista
Nem todo que profetiza é um profeta.

A bíblia faz distinção entre eventualmente profetizar e ser um profeta
Atos 21:8 ¶ No dia seguinte, partimos e fomos para Cesaréia; e, entrando na casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele.
9  Tinha este quatro filhas donzelas, que profetizavam.
10  Demorando-nos ali alguns dias, desceu da Judéia um profeta chamado Ágabo;
11  e, vindo ter conosco, tomando o cinto de Paulo, ligando com ele os próprios pés e mãos, declarou: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios.

Saul profetizou mas não era um profeta

1 Sm 10:10  Chegando eles a Gibeá, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; o Espírito de Deus se apossou de Saul, e ele profetizou no meio deles.
11  Todos os que, dantes, o conheciam, vendo que ele profetizava com os profetas, diziam uns aos outros: Que é isso que sucedeu ao filho de Quis? Está também Saul entre os profetas?
12  Então, um homem respondeu: Pois quem é o pai deles? Pelo que se tornou em provérbio: Está também Saul entre os profetas?
13  E, tendo profetizado, seguiu para o alto.

A profecia nos dias de hoje não pode ser uma revelação doutrinária, mas pode apenas revelar segredos ou previr:

1 Co 14:24  Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado;
25  tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós.

Isso era semelhante as profecias de Ágabo

4- Tipos de Profetas

A Bíblia fala de 2 classe de profetas, tanto no Novo como no Antigo Testamento:


  •  Literários  ou canônicos (que escreveram l os Livros da Bíblia  Moisés, Isaías, Oséias, Jeremias Paulo, João, Lucas etc. ou que tiveram suas profecias doutrinárias registradas em livros canônicos ou inspirados) como João Batista e  Enock.

Os literáriolançaram as bases da fé cristã escrevendo os livros do Antigo e Novo Testamento
Efésios 2:20  edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular;

Efésios 3:5  o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito,
 
2 Pedro 3:2  para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos,

1 Pedro 1:10  Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada,

Romanos 1:2  o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras,

Atos 24:14  Porém confesso-te que, segundo o Caminho, a que chamam seita, assim eu sirvo ao Deus de nossos pais, acreditando em todas as coisas que estejam de acordo com a lei e nos escritos dos profetas,

  •  Não literários   (são os que suas profecias não tem conteúdo doutrinário)
Antigo T- Elias, Eliseu, Natã, etc. 
 Novo.T-  Não escreveram nada inspirados pelo Espírito. Não traziam novas revelações. Mas eram usados por Deus para fazer o povo voltar à palavra dos profetas literários
Atos 15:32  Judas e Silas, que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram.
 Atos 13:1  Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo.
  Atos 11:27 ¶ Naqueles dias, desceram alguns profetas de Jerusalém para Antioquia,
28  e, apresentando-se um deles, chamado Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que estava para vir grande fome por todo o mundo, a qual sobreveio nos dias de Cláudio.
Atos 21:10  Demorando-nos ali alguns dias, desceu da Judéia um profeta chamado Ágabo 
11  e, vindo ter conosco, tomando o cinto de Paulo, ligando com ele os próprios pés e mãos, declarou: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios.




5- Existem ainda profetas? 

Ef 4:11  E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres,
12  com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo,
13  Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo,

14  para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.


a- Os objetivos últimos não foram alcançados
Chegamos TODOS  à unidade da fé?
Chegamos TODOS ao pleno conhecimento?
Chegamos  TODOS á perfeita varonalidade do caráter cristão?

b- Os objetivos imediatos como aperfeiçoamento para o serviço, para edificação da igreja requer ainda, dentre outras coisas, o envio de missionários [apóstolos]  e o serviço dos profetas que não era só predizer, mas ser um porta voz de Deus em cima da palavra revelada pelos profetas literários.
 Atos 15:32  Judas e Silas, que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram.


Em suma, existem ainda apenas profetas não literários, pois os literários são aqueles que doutrinaram a igreja por meio de seus livros que compuseram a Bíblia Sabrada




6-Deus guia seu povo com novas revelações?
  
Não.

1- No aspecto Doutrinário, Deus já guiou o povo por profetas, agora nos guia pela sua Palavra (a Bíblia) por meio do Espírito Santo. Pois sua Palavra já foi revelada na sua Plenitude (ver 2-Tipos de Profetas)


  •  João 16:13  quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.
  • Romanos 8:14  Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
  • Gálatas 5:18  Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei.
  • 1 João 2:20  E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento.
  • 1 João 2:27  Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou.

7- Podemos provar, julgar os que se dizem profetas?

Sim

 Profetas devem ser julgados pela Palavra.

1 Coríntios 14:29 Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem.

1 João 4:1 Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.

Mateus 7:15  Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.
Mateus 24:11  levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos.
Mateus 24:24  porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.
Marcos 13:22  pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos.

 Tudo que vai além da Palavra (Bíblia) não vem de Deus

Jd 1:3 Amados, enquanto eu empregava toda a diligência para escrever-vos acerca da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos escrever, exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos.

 Gálatas 1:8  Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.
9  Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.

1 João 4:1  Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.
2 João 1:10  Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas.


Gl 1:6 ¶ Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho,
7 o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá alémdo que vos temos pregado, seja anátema.
9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.


1 Coríntios 4:6  Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro.

1 Tm 6:3  Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade,
4  é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas,

terça-feira, 3 de maio de 2022

TOLERANCIA NÃO É RENUNCIAR AS PRÓPRIAS CONVICÇÕES- Declaração de Princípios sobre a Tolerância - UNESCO (ONU)

  


Segue abaixo a DEFINIÇÃO e em seguida a DECLARAÇÃO NA ÍNTEGRA

 

Artigo 1º - Significado da tolerância

1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e a apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.

1.2 A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância poderia ser invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve ser praticada pelos indivíduos, pelos grupos e pelo Estado.

1.3 A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo (inclusive o pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e fortalece as normas enunciadas nos instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos.

1.4 Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade. Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.


 

Artigo 1º - Significado da tolerância

1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e a apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.

1.2 A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância poderia ser invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve ser praticada pelos indivíduos, pelos grupos e pelo Estado.

1.3 A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo (inclusive o pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e fortalece as normas enunciadas nos instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos.

1.4 Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade. Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.



Declaração de Princípios sobre a Tolerância

aprovada pela Conferência Geral da UNESCO em sua 28ª reunião

Paris, 16 de novembro de 1995

Os Estados Membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura reunidos em Paris em virtude da 28ª reunião da Conferência Geral, de 25 de outubro a 16 de novembro de 1995

Preâmbulo

Tendo presente que a Carta da Nações Unidas declara " Nós os povos das Nações Unidas decididos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra,... a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana,... e com tais finalidades a praticar a tolerância e a conviver em paz como bons vizinhos",

Lembrando que no Preâmbulo da Constituição da UNESCO, aprovada em 16 de novembro de 1945, se afirma que "a paz deve basear-se na solidariedade intelectual e moral da humanidade",

Lembrando também que a Declaração Universal dos Direitos do Homem proclama que "Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião"(art. 18), "de opinião e de expressão"(art. 19) e que a educação "deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos étnicos ou religiosos" (art.26),

Tendo em conta os seguintes instrumentos internacionais pertinentes, notadamente:

  • o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos;
  • o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;
  • a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial;
  • a Convenção sobre a Prevenção e a Sanção do Crime de Genocídio;
  • a Convenção sobre os Direitos da Criança;
  • a Convenção de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados, seu Protocolo de 1967 e seus instrumentos regionais;
  • a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher;
  • a Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, desumanos ou degradantes;
  • a Declaração sobre a Eliminação de todas as Formas de Intolerância e de Discriminação fundadas na religião ou na convicção;
  • a Declaração sobre os Direitos da Pessoas pertencentes a minorias nacionais ou étnicas, religiosas e lingüisticas;
  • a Declaração sobre as Medidas para Eliminar o Terrorismo Internacional;
  • a Declaração e o Programa de Ação de Viena aprovados pela Conferência Mundial dos Direitos do Homem;
  • a Declaração de Copenhague e o Programa de Ação aprovados pela Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social;
  • a Declaração da UNESCO sobre a Raça e os Preconceitos Raciais;
  • a Convenção e a Recomendação da UNESCO sobre a Luta contra a Discriminação no Campo do Ensino;

Tendo presentes os objetivos do Terceiro Decênio da luta contra o racismo e a discriminação racial, do Decênio Mundial para a educação no âmbito dos direitos do homem e o Decênio Internacional das populações indígenas do mundo,

Tendo em consideração as recomendações das conferências regionais organizadas no quadro do Ano das Nações Unidas para a Tolerância conforme a Resolução 27 C/5.14 da Conferência Geral da UNESCO, e também as conclusões e as recomendações das outras conferências e reuniões organizadas pelos Estados membros no quadro do programa do Ano das Nações Unidas para a Tolerância,

Alarmados pela intensificação atual da intolerância, da violência, do terrorismo, da xenofobia, do nacionalismo agressivo, do racismo, do anti-semitismo, da exclusão, da marginalização e da discriminação contra minorias nacionais, étnicas, religiosas e lingüísticas, dos refugiados, dos trabalhadores migrantes, dos imigrantes e dos grupos vulneráveis da sociedade e também pelo aumento dos atos de violência e de intimidação cometidos contra pessoas que exercem sua liberdade de opinião e de expressão, todos comportamentos que ameaçam a consolidação da paz e da democracia no plano nacional e internacional e constituem obstáculos para o desenvolvimento,

Ressaltando que incumbe aos Estados membros desenvolver e fomentar o respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais de todos, sem distinção fundada sobre a raça, o sexo, a língua, a origem nacional, a religião ou incapacidade e também combater a intolerância,

aprovam e proclamam solenemente a presente Declaração de Princípios sobre a Tolerância

Decididos a tomar todas as medidas positivas necessárias para promover a tolerância nas nossas sociedades, pois a tolerância é não somente um princípio relevante mas igualmente uma condição necessária para a paz e para o progresso econômico e social de todos os povos,

Declaramos o seguinte:

Artigo 1º - Significado da tolerância

1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e a apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.

1.2 A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância poderia ser invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve ser praticada pelos indivíduos, pelos grupos e pelo Estado.

1.3 A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo (inclusive o pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e fortalece as normas enunciadas nos instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos.

1.4 Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade. Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.

Artigo 2º - O papel do Estado

2.1 No âmbito do Estado a tolerância exige justiça e imparcialidade na legislação, na aplicação da lei e no exercício dos poderes judiciário e administrativo. Exige também que todos possam desfrutar de oportunidades econômicas e sociais sem nenhuma discriminação. A exclusão e a marginalização podem conduzir à frustração, à hostilidade e ao fanatismo.

2.2 A fim de instaurar uma sociedade mais tolerante, os Estados devem ratificar as convenções internacionais relativas aos direitos humanos e, se for necessário, elaborar uma nova legislação a fim de garantir igualdade de tratamento e de oportunidades aos diferentes grupos e indivíduos da sociedade.

2.3 Para a harmonia internacional, torna-se essencial que os indivíduos, as comunidades e as nações aceitem e respeitem o caráter multicultural da família humana. Sem tolerância não pode haver paz e sem paz não pode haver nem desenvolvimento nem democracia.

2.4 A intolerância pode ter a forma da marginalização dos grupos vulneráveis e de sua exclusão de toda participação na vida social e política e também a da violência e da discriminação contra os mesmos. Como afirma a Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, " Todos os indivíduos e todos os grupos têm o direito de ser diferentes" (art. 1.2).

Artigo 3º - Dimensões sociais

3.1 No mundo moderno, a tolerância é mais necessária do que nunca. Vivemos uma época marcada pela mundialização da economia e pela aceleração da mobilidade, da comunicação, da integração e da interdependência, das migrações e dos deslocamentos de populações, da urbanização e da transformação das formas de organização social. Visto que inexiste uma única parte do mundo que não seja caracterizada pela diversidade, a intensificação da intolerância e dos confrontos constitui ameaça potencial para cada região. Não se trata de ameaça limitada a esse ou aquele país, mas de ameaça universal.

3.2 A tolerância é necessária entre os indivíduos e também no âmbito da família e da comunidade. A promoção da tolerância e o aprendizado da abertura do espírito, da ouvida mútua e da solidariedade devem se realizar nas escolas e nas universidades, por meio da educação não formal, nos lares e nos locais de trabalho. Os meios de comunicação devem desempenhar um papel construtivo, favorecendo o diálogo e debate livres e abertos, propagando os valores da tolerância e ressaltando os riscos da indiferença à expansão das ideologias e dos grupos intolerantes.

3.3 Como afirma a Declaração da UNESCO sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, medidas devem ser tomadas para assegurar a igualdade na dignidade e nos direitos dos indivíduos e dos grupos humanos em toda lugar onde isso seja necessário. Para tanto, deve ser dada atenção especial aos grupos vulneráveis social ou economicamente desfavorecidos, a fim de lhes assegurar a proteção das leis e regulamentos em vigor, sobretudo em matéria de moradia, de emprego e de saúde, de respeitar a autenticidade de sua cultura e de seus valores e de facilitar, em especial pela educação, sua promoção e sua integração social e profissional.

3.4 A fim de coordenar a resposta da comunidade internacional a esse desafio universal, convém realizar estudos científicos apropriados e criar redes, incluindo a análise, pelos métodos das ciências sociais, das causas profundas desses fenômenos e das medidas eficazes para enfrentá-las, e também a pesquisa e a observação, a fim de apoiar as decisões dos Estados Membros em matéria de formulação política geral e ação normativa.

4. Artigo 4º - Educação

4.1 A educação é o meio mais eficaz de prevenir a intolerância. A primeira etapa da educação para a tolerância consiste em ensinar aos indivíduos quais são seus direitos e suas liberdades a fim de assegurar seu respeito e de incentivar a vontade de proteger os direitos e liberdades dos outros.

4.2 A educação para a tolerância deve ser considerada como imperativo prioritário; por isso é necessário promover métodos sistemáticos e racionais de ensino da tolerância centrados nas fontes culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas da intolerância, que expressam as causas profundas da violência e da exclusão. As políticas e programas de educação devem contribuir para o desenvolvimento da compreensão, da solidariedade e da tolerância entre os indivíduos, entre os grupos étnicos, sociais, culturais, religiosos, lingüísticos e as nações.

4.3 A educação para a tolerância deve visar a contrariar as influências que levam ao medo e à exclusão do outro e deve ajudar os jovens a desenvolver sua capacidade de exercer um juízo autônomo, de realizar uma reflexão crítica e de raciocinar em termos éticos.

4.4 Comprometemo-nos a apoiar e a executar programas de pesquisa em ciências sociais e de educação para a tolerância, para os direitos humanos e para a não-violência. Por conseguinte, torna-se necessário dar atenção especial à melhoria da formação dos docentes, dos programas de ensino, do conteúdo dos manuais e cursos e de outros tipos de material pedagógico, inclusive as novas tecnologias educacionais, a fim de formar cidadãos solidários e responsáveis, abertos a outras culturas, capazes de apreciar o valor da liberdade, respeitadores da dignidade dos seres humanos e de suas diferenças e capazes de prevenir os conflitos ou de resolvê-los por meios não violentos.

Artigo 5º - Compromisso de agir

Comprometemo-nos a fomentar a tolerância e a não violência por meio de programas e de instituições no campo da educação, da ciência, da cultura e da comunicação.

Artigo 6º - Dia Internacional da Tolerância

A fim de mobilizar a opinião pública, de ressaltar os perigos da intolerância e de reafirmar nosso compromisso e nossa determinação de agir em favor do fomento da tolerância e da educação para a tolerância, nós proclamamos solenemente o dia 16 de novembro de cada ano como o Dia Internacional da Tolerância.

Aplicação da Declaração de Princípios

sobre a Tolerância

A Conferência Geral,

Considerando que em virtude da missão que lhe atribui seu Ato constitutivo nos campos da educação, ciência - ciências exatas e naturais, como também sociais -, cultura e comunicação, a UNESCO tem o dever de chamar a atenção dos Estados e dos povos sobre os problemas ligados a todos os aspectos da questão essencial da tolerância e da intolerância.

Considerando a Declaração de Princípios da UNESCO sobre a Tolerância, proclamada em 16 de novembro de 1995,

1. Insta os Estados Membros

(a) a ressaltar, a cada ano, o dia 16 de novembro, Dia Internacional da Tolerância, mediante a organização de manifestações e de programas especiais destinados a pregar a mensagem da tolerância entre os cidadãos, em cooperação com os estabelecimentos educacionais, as organizações intergovernamentais e não-governamentais e os meios de comunicação;

(b) a comunicar ao Diretor Geral todas as informações que desejariam compartilhar, sobretudo os conhecimentos extraídos da pesquisa ou do debate público sobre os problemas da tolerância e do pluralismo cultural, a fim de ajudar a compreender melhor os fenômenos ligados à intolerância e às ideologias que pregam a intolerância, como o racismo, o fascismo e o antisemitismo e também as medidas mais eficazes para enfrentar tais problemas;

2. Convida o Diretor Geral:

(a) a assegurar ampla difusão do texto da Declaração de Princípios, e para tal fim, a publicar e fazer distribuir esse texto não somente nas línguas oficiais da Conferência Geral, mas também no maior número possível de outras línguas;

(b) a instituir um mecanismo apropriado para a coordenação e avaliação das ações realizadas no âmbito do sistema das Nações Unidas e em cooperação com outras organizações para fomentar e ensinar a tolerância;

(c) a comunicar a Declaração de Princípios ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, solicitando-lhe que a apresente, como convém, à Assembléia Geral das Nações Unidas em sua qüinquagésima primeira sessão, de acordo com a Resolução 49 313 da Assembléia Geral.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

64 % da população brasileira não consegue entender um livro simples- 30 % são analfabetos funcionais- INAF Brasil 2018

 

http://www.formasemaneiras.com.br/grid_contextualizacao.html


5 níveis de Alfabetismo Funcional

Analfabetos funcionais abrangem analfabetos e os rudmentares.

Segue abaixo numeros arredondados- por isso a soma dá mais de 100%


1-Analfabeto- 8%

Corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda que uma parcela consiga ler números familiares (de telefone, preços etc.).


2-Rudmentar-  22% só entende textos pequenos e de seu quotidiano

 Localiza uma ou mais informações explícitas, expressas de forma literal, em textos muito simples (calendários, tabelas simples, cartazes informativos) compostos de sentenças ou palavras que exploram situações familiares do cotidiano doméstico.  

 Compara, lê e escreve números familiares (horários, preços, cédulas/moedas, telefone) identificando o maior/menor valor.

  Resolve problemas simples do cotidiano envolvendo operações matemáticas elementares (com ou sem uso da calculadora) ou estabelecendo relações entre grandezas e unidades de medida. 

Reconhece sinais de pontuação (vírgula, exclamação, interrogação etc.) pelo nome ou função. 


3-Elementar 34% entende textos de tamanho médio- não consegue entender um livro!! não reconhece figuras de linguagem ou sinais de pontuação

 Seleciona uma ou mais unidades de informação, observando certas condições, em textos diversos de extensão média realizando pequenas inferências. 

  Resolve problemas envolvendo operações básicas com números da ordem do milhar, que exigem certo grau de planejamento e controle (total de uma compra, troco, valor de prestações sem juros). 

 Compara ou relaciona informações numéricas ou textuais expressas em gráficos ou tabelas simples, envolvendo situações de contexto cotidiano doméstico ou social. 

 Reconhece significado de representação gráfica de direção e/ou sentido de uma grandeza (valores negativos, valores anteriores ou abaixo daquele tomado como referência). 

 

4-Intermediário 25%- pessoa consegue ler o texto e correlacionar a história com sua vida privada

 Localiza informação expressa de forma literal em textos diversos (jornalístico e/ou científico) realizando pequenas inferências. 

  Resolve problemas envolvendo operações matemáticas mais complexas (cálculo de porcentagens e proporções) da ordem dos milhões, que exigem critérios de seleção de informações, elaboração e controle em situações diversas (valor total de compras, cálculos de juros simples, medidas de área e escalas); 

  Interpreta e elabora síntese de textos diversos (narrativos, jornalísticos, científicos), relacionando regras com casos particulares com o reconhecimento de evidências e argumentos e confrontando a moral da história com sua própria opinião ou senso comum. 

  Reconhece o efeito de sentido ou estético de escolhas lexicais ou sintáticas, de figuras de linguagem ou sinais de pontuação. 


5-Proficiente 12 % só estas pessoas sabem diferenciar fato de opinião

Elabora textos de maior complexidade (mensagem, descrição, exposição ou argumentação) com base em elementos de um contexto dado e opina sobre o posicionamento ou estilo do autor do texto. 

Interpreta tabelas e gráficos envolvendo mais de duas variáveis, compreendendo elementos que caracterizam certos modos de representação de informação quantitativa (escolha do intervalo, escala, sistema de medidas ou padrões de comparação) reconhecendo efeitos de sentido (ênfases, distorções, tendências, projeções). 

 Resolve situações-problema relativos a tarefas de contextos diversos, que envolvem diversas etapas de planejamento, controle e elaboração, que exigem retomada de resultados parciais e o uso de inferências. 


FONTE:

INAF BRASIL 2018

quarta-feira, 30 de março de 2022

Karl Barth- análise do pensamento








1-Antecedente Histórico

Teologia Liberal

Teologia Liberal surgiu em meados do século XIX e tentou conciliar os conceitos da Igreja Protestante com as aspirações humanas positivas, buscando uma adaptação entre religião, pensamento e cultura moderna, que são influências do Iluminismo e Racionalismo. Neste período tudo era submetido a uma análise racional, incluindo a Bíblia. Com isso, a fé foi rebaixada pela razão humana, que triunfou sobre ela.

Para este movimento teológico, o amor a Deus é realizado basicamente no amor ao próximo, e o Reino de Deus é visto como uma realidade presente encontrada na sociedade transformada sob o aspecto ético. Neste mesmo período é enfatizado o método histórico-crítico de interpretação da Bíblia, que negava a inspiração divina das Escrituras e abalou a confiabilidade desta.

O antropocentrismo crescia e a importância das Escrituras era diminuída a meros relatos humanos. O liberalismo teológico clássico foi uma reação contra o poder da religião institucionalizada, e principalmente contra a aceitação da infalibilidade das Escrituras e inerrância da Palavra de Deus por parte da Igreja. Fundamentado no Iluminismo do século XVIII, ele afirmava que o conhecimento tradicional sobre Deus, pensado de forma metafísica, não compactua com o conhecimento científico. Não havendo espaço para categorias como sobrenatural na história, esta seria apenas uma mera relação de causas e efeitos. Essa compreensão deu início a uma busca da Palavra de Deus dentro das Escrituras, tornando-se mais intensa com a utilização do método histórico-crítico, que ousou fazer a separação entre as duas coisas. Os críticos então tinham o direito de emitir juízos sobre afirmações bíblicas como sendo ou não verdadeiras. Os primeiros estudiosos que aplicaram este método ao estudo das Escrituras negavam que a Bíblia fosse, de fato, a Palavra de Deus inspirada. Revista de Cultura Teológica - v. 18 - n. 70 - ABR/JUN 2010 p. 70-71José Elenito Teixeira Morais, Luiz Carlos Ferreira e Renata Ferreira Gomes


2- Citações de Karl Barth sobre a Palavra de Deus 

A Bíblia não é u m livro de receitas, é u m documento único da revelação divina. É preciso que a revelação nos fale de maneira que possamos compreendê-la. Em cada época, a Igreja viu-se na obrigação de responder ao que lhe era dito n a Bíblia. Ela viu-se obrigada a fazê-lo, cada vez, com uma outra língua e com outras palavras, diferentes daquelas da Escritura. ...

Mas Jesus Cristo governa em sua Palavra pelo Espírito Santo. O governo da Igreja é, assim, idêntico com a Sagrada Escritura, através do seu teste m u n h o dele. Portanto, a Igreja deve continuamente estar o c u p a d a com a exposição e aplicação da Escritura. O n d e a Bíblia se torna um livro morto com a cruz sobre a capa e margens douradas, o governo de Jesus na Igreja é inativo. N este caso, a Igreja não é mais aquela santa Igreja universal, mas permanece a ameaça de r u p tu ra naquilo que é profano e separatista. Evidente q u e até mesmo esta “Igreja” se chamará pelo nome de Jesus Cristo. Entretanto , não são as palavras, m as a realidade que interessa; e tal Igreja não estará n u m a posição para trazer a realidade à ação. Esboço de uma dogmática

 

Os profetas e os apóstolos se situam no momento da revelação histórica cujo documento é a Escritura. Nós damos testemunho da Revelação....


Se o pregador se dá por tarefa expor uma idéia sob uma forma qualquer – mesmo se esta idéia resulta de uma exegese séria e adequada – então não é a Escritura que fala, mas fala-se sobre ela. Para ser positivo, a pregação deve ser uma explicação da Escritura. Eu não tenho que falar "sobre", mas "de", tirando da Escritura o que eu digo. Eu não tenho que dizer, mas que redizer...

Vejamos agora o aspecto positivo desta afirmação: a pregação deve ser conforme a Revelação. Devemos partir do fato de que o próprio Deus deseja revelar-se; é Ele que deseja testemunhar sua Revelação; é Ele que a realizou e que a deseja realizar. Assim, a pregação tem lugar na obediência, escutando a vontade de Deus.

Dissemos acima que a pregação tem um ponto de partida único, a saber, que Deus se revelou. É preciso dizer também, que ela tem, da mesma forma, um único ponto de chegada: o cumprimento da revelação, da redenção que vem a nosso encontro. De uma extremidade a outra, o Novo Testamento tende para o cumprimento da salvação. Mas isso não contradiz o "tudo foi cumprido de uma vez por todas".


Cristo que veio, é também aquele que voltará. A vida da fé é orientada para este dia da Parousia. Este ponto de partida e este ponto de chegada se resumem nesta declaração: "Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente". E, dado que nós esperamos tudo de Cristo, pode-se dizer que cristologia e escatologia não são senão uma só coisa. Assim, a revelação está tanto na frente como atrás de nós....

É no meio chamado Igreja que a pregação tem lugar. Ela está ligada à existência e à missão da Igreja. É precisamente por esta razão que ela deve ser conforme a Revelação. É preciso relembrar que esta se situa no quadro do Antigo e do Novo Testamento.

O sacramento remete ao fato da Revelação, o qual Deus realizou. As Escrituras Sagradas remetem à qualidade da Revelação. É ocioso opor Sacramento à pregação.

A Revelação, ação divina, tem lugar no seio da vida humana e da história humana. Todavia a Igreja não pode transmiti-la de um modo imediato. Para que este evento seja sempre atual e verdadeiro, ela tem necessidade das Escrituras Sagradas, que são o testemunho dos intermediários desta Revelação.

A Igreja repousa sobre o fundamento de testemunhas que foram chamadas, de uma maneira particular, a serem seus apóstolos. Desde que se dá testemunho da Revelação – isto é, desde que se lê e se explica a Escritura – a Igreja deve compreender que ela não vive por si mesma, que esta vida não é sua própria vida, uma vida que ela tiraria de seu próprio interior, mas que ela está fundamentada sobre a única e exclusiva ação de Deus realizada em Israel e em Cristo (estes dois centros da Revelação: um povo e um Salvador).

O pregador deve se apoiar no movimento da Palavra de Deus. Não é suficiente dizer ou ter lido em algum lugar que a Bíblia é a Palavra de Deus para saber o que ela deseja dizer. Na realidade ela não o é no mesmo sentido em que se diz, por exemplo, que o Código Civil contém o pensamento do Estado. Para compreender o que se passa na realidade, seria melhor dizer que a Bíblia torna-se Palavra de Deus. E desde que ela se torna para nós, ela o é. O pregador é chamado a viver uma aventura com a Bíblia, há um intercâmbio contínuo entre ele e a Palavra de Deus. Quando falamos em mobilidade, queremos dizer, ser dócil a esse movimento da Palavra, deixar-se levar através das Escrituras.


Se a Igreja é constituída pelo testemunho dos apóstolos, intermediários da Revelação, qual é neste contexto, o papel da pregação? – Ela tem unicamente que explicar este testemunho.

Nós partimos deste fato: a Igreja é o lugar onde a Bíblia é aberta. Foi aí que Deus falou e fala. Aí Ele nos dá uma missão, uma ordem....


e a pregação é fiel a Bíblia, então ela não pode ser fastidiosa. A Escritura é, na realidade, tão interessante, e ela tem a nos dizer tantas coisas novas e apropriadas para nos abalar, que os ouvintes não podem em verdade, ser levados a dormir!...

...Ora, a Escritura Santa é o testemunho exclusivo da Revelação de Deus, o único meio de transmissão da Palavra de Deus....

...quatro critérios das Escrituras Sagradas que testemunham a Revelação...


Do começo ao fim, a Bíblia diz sempre uma mesma coisa, uma coisa única, ela o faz porém, constantemente, de outra maneira. Variedade da Escritura tem também esta conseqüência, que cada texto em cada época fala ao homem da maneira que é necessária para ele. É por isso que não há somente o trabalho do filólogo, mas é preciso procurar também no texto da Palavra de Deus para a comunidade....

...a Revelação é a Palavra encarnada, e por isso mesmo ela se tornou um evento histórico....

A Bíblia é o único documento da Revelação, mas um documento suficiente. É por isso que nós a chamamos Escritura Santa, a Palavra de Deus que vem até nós. Se se compreende que este livro é realmente o testemunho da Palavra de Deus, parece inútil falar do assunto e do tema do sermão, não há um assunto, senão um tema: A Revelação de Deus, Jesus Cristo. Entretanto, o que figura no texto bíblico – lembramo-nos – não é a Revelação propriamente dita, mas o testemunho da Revelação. E mais, este testemunho é expressão humana; ele nos é dado pelos profetas e apóstolos que não falam de seu próprio entendimento, mas que foram constrangidos (como disse Paulo), que não poderiam fazer de outra forma (como dizem os profetas). A proclamação do Evangelho. São Paulo: Novo Século. Centro Acadêmico "Eduardo Carlos Pereira" - 1963



 

Livro Teologia Contemporânea:

Barth (1886-1968) foi um dos grandes nomes da Teologia Cristã Protestante. Educado na Teologia Liberal, tendo como principal orientador Adolf Von Harnack, ele decepcionou-se com esta teologia e inclusive com seu mentor, por apoiarem publicamente a política de guerra do Kaiser Wilhelm II, da Alemanha, em 1914.


Em 1919, a atmosfera tranqüila da teologia européia viu-se perturbada pelo aparecimento de um comentário da Carta aos Romanos, escrito por certo ministro ainda desconhecido, Karl Barth. Segundo disse um escritor, Barth pegou uma carta escrita em grego característico do primeiro século da Era Cristã e conseguiu torná-la uma exposição especial para as necessidades do homem do século vinte. Todos os teólogos recentes devem alguma coisa a Barth, mesmo nos casos nos quais os teólogos somente reagem contra ele. Atualmente se diz com certa freqüência que vivemos numa época pós-barthiana. Entretanto, mesmo que seja verdade, o fato é que a presente época ostenta as marcas da contribuição feita por Barth. Barth nasceu em 1886 em Basiléia, na Suíça, e estudou sob a influência de teólogos liberais, como Harnack e Hermann.


 Em 1911, ele começou seu pastorado de dez anos na vila suíça de Safenwill, onde ele escreveu seu Comentário da Carta aos Romanos. Em 1921, tornou-se professor em Gottingen e em 1929 transferiu-se para Bonn. Barth observou com atenção ascensão política de Hitler e foi um dos fundadores da Igreja Confessional, que resistiu a todas as tentativas dos “Cristãos da Alemanha” no sentido da união do cristianismo com o nazismo.

Ele colaborou na elaboração da Declaração de Barmen, que, em verdadeiro desafio lançado ao totalitarismo de Hitler, afirmava que Deus é o único Führer (líder) da Igreja. Em 1935, por ter se recusado a jurar fidelidade ao nazismo, ele teve de deixar o território da Alemanha. Aceitou, então, uma cátedra de teologia na Universidade de Basiléia, da qual só veio a sair por aposentadoria, em 1962.

 Barth começou como teólogo liberal, acreditando que o Reino de Deus pudesse estabelecer-se mediante os esforços de homens portadores de dedicação cristã. A Primeira Guerra Mundial causou um tremendo choque ao otimismo que o caracterizava. Quando vi como as nações civilizadas estavam enfurecidas na orgia da destruição, teve a impressão de estar o homem numa condição tão desesperada que seus problemas não seriam solucionados apenas com mudanças operadas nas estruturas políticas e econômicas. Por algum tempo ele esteve perplexo com as deficiências nos sermões que tinha de pregar semanalmente. Muitas pessoas vinham ouví-lo cada semana, mas, que podia ele dizer a elas? Não raro, os ouvintes saíam do culto em verdadeiro estado de desapontamento, pois não lhes parecia que seus sermões fizessem a necessária confrontação com os problemas que mais prendiam a atenção de todos.

Barth consultou os teólogos de então, mas percebeu que eles nada tinham que pudesse ajudar a um pregador de comunidade modesta. Os teólogos ignoravam os problemas relacionados com a pregação, pelo fato de que a teologia tinha se tornado acadêmica, mais do que eclesiástica. Posteriormente, já como teólogo, Barth tinha a convicção de que a única razão para que existam teólogos é que eles sejam capazes de ajudar e criticar a obra a que o pregador se destina.

Se os teólogos ignoram a tarefa do pregador, eles terminarão por entregar-se a murmúrios inaudíveis a respeito de Deus, esquecidos de que têm uma terefa mais elevada do que a de manipularem, de maneira um pouquinho diferente, as mesmas idéias já muito comuns no mundo moderno. Uma vez que não pôde encontrar nenhuma ajuda no campo da teologia, Barth se voltou para a Bíblia, em cujas páginas ele encontrou “um estranho e novo mundo”, bem mais cativante do que as lições da mais recente filosofia. Ele não tinha nenhuma intenção de tornar-se teólogo; apenas tinha a esperança de que, de uma perspectiva bíblica, seria possível adicionar “uma pitada de tempero” para melhorar o sabor da teologia que outros estavam produzindo.

Entretanto, depois do aparecimento de seu Comentário da Carta aos Romanos, ele foi empurrado para o centro mesmo das discussões teológicas. p.81

Compara-se ele com alguém caindo em lugar escuro, tudo fazendo para se firmar. Para sua grande surpresa, ele tinha tocado numa corda destinada a acionar um sino e, uma vez que as badaladas se fizeram ouvir, toda a cidade se despertou. A teologia de Barth não é fácil de ser resumida, pelo fato de que ele tem escrito mais do que qualquer outro teólogo desde Tomás de Aquino. Sua obra mais extensa, a “Dogmática da Igreja”, tem mais de oito mil páginas, mesmo incompleta. Outra dificuldade para se fazer um resumo consiste no fato de que seu pensamento passou por mudanças muito significativas. 

Ele costuma ressaltar que a teologia é um esforço finito e humano de compreender a Deus e exige que se mantenha um espírito de constante reforma e revisão de conceitos. A Teologia deve levar em consideração as condições contemporâneas. Nunca bastará que simplesmente se repita o que disseram os teólogos do passado. Eles foram realmente grandes, pelo fato de que fizeram aplicação da Palavra de Deus atendendo às exigências de sua época. Em vez de ficarmos repetindo suas idéias, o que temos de fazer é realizar para nosso tempo o que eles entenderam necessário para o tempo quando viveram. Barth insiste que seus alunos leiam muito, tendo a Bíblia numa das mãos e os jornais na outra. Uma vez que se tenha em mente que o mundo passou por muitas mudanças durante a vida de Barth, não se estranhará que sua teologia tenha se alterado. Todavia, há temas básicos que permeiam toda a sua teologia, dando-lhe uma consistência fundamental. A teologia de Barth, em seu todo, parte da convicção que ele sempre expressou de que, por mais de um século, os teólogos tinham enveredado por um caminho que os conduzia a erros. A teologia obstinava-se no esforço de partir do estudo do homem para a compreensão de Deus. Schleiermacher ensinou que quando os homens olhassem para dentro de si poderiam encontrar a Deus. Ritschl, por exemplo, procurou levar seus leitores a encontrar Deus nas preocupações éticas que tinham. Outros pensadores insistiram na possibilidade de encontrar Deus nas experiências místicas do homem ou na razão humana. Barth diz que todas essas vias que pretendem partir do homem para Deus não passam de becos sem saída. Na Bíblia, verifica-se que não é o homem que procura por Deus, e, sim, Deus mesmo que procura pelo homem. Através de todas as transformações sofridas por sua teologia, essa concentração do pensamento de Barth, que consiste em mostrar como é Deus quem procura pelo homem, jamais sofreu qualquer mudança.

Barth distingue entre religião e fé. Religião é a procura de Deus por parte do homem e resulta sempre em que o homem encontre um tipo de deus correspondente aos desejos que tem. Isso não significa uma crítica levantada só contra as religiões não cristãs, pois também os cristãos criam religiões e a crítica mais severa de Barth contra a religião visa exatamente a religiões cristãs. Jesus é a revelação divina que destrói qualquer religião. Os cristãos dos primeiros séculos eram considerados ateus pelo fato de agirem de modo a destruírem os deuses feitos pelos homens naqueles tempos. Em face dessa consideração, não deixaria de ser um sinal muito salutar se pudéssemos ver os cristãos ainda sob suspeitas de ateísmo. Pelo fato de que temos um Deus vivo, Barth previne-nos contra a tendência de identificar a Palavra de Deus com qualquer forma estereotipada ou instituição humana. 


Para ele, nem mesmo a Bíblia deve ser identificada como sendo a Palavra de Deus.?/


O erro do fundamentalismo, no seu entender, consiste em ver a Bíblia como se ela fosse um “Papa-de- papel”, com todas as características de auto-suficiência. Para Barth, as palavras registradas na  Bíblia e as que foram proferidas por Jesus não passam de “sinais”. Pode-se ler a Bíblia sem que se tenha o privilégio de ouvir a Palavra de Deus. Entretanto, é certo que a Palavra de Deus veio até nós mediante esses sinais. Um dia qualquer, encontrando-nos a ler uma passagem das Escrituras, a Palavra de Deus poderá surpreender-nos falando conosco exatamente na situação em que nos encontramos. p.82

Os escritores bíblicos procuraram transmitir-nos a revelação que receberam de Deus e, ao lermos o que escreveram, o mesmo Deus que lhes falou poderá falar-nos também. Assim entendida, conclui Barth, a Bíblia é um relato de uma revelação passada e é uma promessa de revelação futura.

Revelação para Barth não significa que recebermos uma nova informação ou teologia que não pudéssemos obter através de esforços próprios. Deus não revela informações, mas, sim, a Si mesmo. A Palavra de Deus é sempre dirigida a uma pessoa em situação peculiar. Quando Deus chama, diz Barth, ele não chama estação por estação transmissora, ele chama pessoa por pessoa. Em sua primeira obra publicada, Barth insistiu no conceito de que Deus é “Inteiramente Outro”. Os críticos de Barth têm objetado que, se Deus é na verdade inteiramente Outro, segue-se que não podemos entender nada a respeito dele, mesmo que se revele. Entretanto, Barth nunca negou que haja lugar para uma analogia entre Deus e o homem, de modo tornar possível o entendimento de Deus por parte do homem. Ao designar Deus de Entidade inteiramente Outra, o que Barth quis dizer essencialmente é que Deus é uma realidade distinta de nós. Ele se recusava a fazer uso do termo “Deus”, para descrever o “espírito de humanidade” ou os “aspectos produtivos do conceito de valor no universo.” Além disso, ele desejava ressaltar que não podemos chegar à compreensão de Deus partindo da consideração do ser humano no que tenha de melhor, apenas adicionando-lhe alguns superlativos. Deus não é nenhuma culminação de tudo quanto seja bom no homem. Mesmo quando o homem alcança o cumprimento das mais elevadas virtudes, ainda assim não passará de servo inútil, que terá de ficar na inteira dependência do perdão divino. 

Pelo fato de que Barth nega a capacidade do homem de alcançar uma compreensão de Deus mediante as faculdades da razão, com freqüência se ouve chamá-lo irracionalista. Certamente, em suas primeiras obras, Barth se sentia na obrigação de dizer coisas muito pejorativas contra a razão humana, mas a posição que passou a defender depois é consistentemente racional. Distingue ele entre o raciocínio a priori e a razão a posteriori. O raciocínio a priori alega o conhecimento da verdade independentemente da experiência. Quando nega que o homem possa conhecer a Deus pelos processos racionais, Barth deseja é negar que se tenha qualquer conhecimento a priori de Deus. Caso se admitisse que o homem dispõe de conhecimento a priori de Deus, se deveria concluir ter ele também um critério pelo qual pudesse avaliar a revelação de Deus. O raciocínio a posteriori é o que se pode efetuar depois da experiência de um acontecimento qualquer. Barth insiste na afirmação de que todo o conhecimento de Deus é a posteriori. Não podemos saber quem é Deus até o momento em que ele se revela a si mesmo.

Não podemos saber a priori que Deus seja amor, por exemplo; essa é uma noção que adquirimos depois que a vida de Cristo a torna evidente para nós. Todavia, depois que Deus se revela, Barth insiste na necessidade de que o homem use a razão para entender o que Deus disse.

A experiência vivida por Barth na vigência do nazismo muito concorreu para que ele se firmasse cada vez mais na tese de que nós podemos conhecer a Deus somente através de revelação. Bom número de teólogos levantou contra Barth a objeção de que sua posição nada tinha de relevância, pois ele tinha estabelecido um divórcio entre a revelação e a história e cultura humanas. Tais teólogos não se cansaram de afirmar que nos informamos sobre a natureza de Deus partindo da História tanto quanto das Escrituras. Quando Hitler chegou ao poder, a maioria desses teólogos tentou encontrar uma fórmula que tornasse o cristianismo compatível com o nazismo. Por todo um século, os teólogos tinham se esforçado para conseguir certa modernização da fé para reconciliarem-na com a modernidade. p.83

Naquela fase da história da Alemanha, Hitler era a própria personificação da modernidade e a todos parecia ser muito lógico que se procurasse alguma fórmula de reconciliação entre o cristianismo e a situação contemporânea. Já vimos que Barth concordava com seus críticos na questão de que a teologia devia sofrer mudanças à luz dos novos tempos. Entretanto, só nisso fica sua concessão para com os críticos. Barth estava disposto a aprender das condições de seu tempo o como expressar-se a fé crista, mas ele estava persuadido de que a época atual não pode revelar o que temos de dizer. O que temos de dizer em matéria teológica estende suas raízes na revelação de Deus e não nas condições da época moderna. Aqueles que acusavam Barth da falha de apresentar uma revelação dissociada das condições da época, por isso mesmo irrelevante para o homem moderno, tinham, por sua vez, muito pouco a dizer a propósito do nazismo. Alguns deles comprometeram-se com o “Movimento Cristão Alemão”, que se esforçava para encontrar uma fórmula de conciliação entre o nazismo e o cristianismo. Outros ficaram hesitando indefinidamente entre uma atitude de franca aceitação do nazismo e uma atitude de crítica ponderada. Barth exerceu um papel importante em face da situação de sua época precisamente por manter-se como testemunha de uma Palavra de revelação divina, que era capaz de emitir juízo em qualquer tempo.

Em seus escritos mais antigos, Barth foi profundamente influenciado pelo pensamento de Kierkegaard. Do pensamento de Kierkegaard ele aceitou a tese da distinção qualitativa existente entre tempo e eternidade. Muito do que o antigo Barth disse a respeito do Deus Inteiramente Outro estava baseado no conceito de que o tempo e a eternidade, o homem e Deus são realidades que se opõem. Isso significa que é um absoluto paradoxo afirmar que Jesus é Deus e homem. No fim da década de vinte, Barth começou a escrever sua Dogmática, chegando a completar um de seus alentados volumes. Quando os críticos disseram que a obra dependia muito da filosofia existencialista, Barth refez todo o trabalho. Tratava-se do ponto mais decisivo em seu desenvolvimento teológico. A partir de então, ele se dedicou ao objetivo de fundamentar sua teologia na Bíblia apenas, e, assim, procurando libertar-se da influência do conceito de uma distância existente entre Deus e o homem, ele foi capaz de considerar seriamente a encarnação de Cristo. Enquanto, na primeira fase da exposição de sua teologia, sua ênfase era sobre o Espírito Santo, considerado como ponto fundamental de encontro entre Deus e o homem, Barth passou depois a ressaltar a pessoa de Cristo como centro da teologia. Barth agora entende ser uma falácia afirmar que a encarnação de Deus em Cristo seja um paradoxo. A aparência de paradoxo decorre de pensarmos que, independentemente de Cristo, dispomos do conhecimento de quem Deus seja e o que venha a ser Deus e homem, e não podemos vislumbrar como nossas idéias concernentes a Deus e homem possam convergir no reconhecimento de uma só pessoa. Entretanto, diz-nos Barth, caso se não começamos com raciocínios apriorísticos, mas procuramos encontrar em Cristo a revelação tanto de Deus como do homem, o paradoxo se dissipará. Em Cristo, vemos que Deus inclui o conceito de humanidade. O homem pode compreender a revelação de Deus pelo fato de que o homem foi criado à imagem da humanidade que existe no próprio Deus. O ponto de vista de Barth pode ser ilustrado através da discussão que ele faz concernente à onipotência divina. Dizer que Deus é onipotente equivale a dizer que ele dispõe de todo o poder no universo. Enquanto o homem pensa em termos apriorísticos, ele entende que o poder de Deus é análogo ao que o próprio homem gostaria de ter, caso lhe fosse concedido um poder ilimitado. Assim, parece-nos absurdo que Deus se mostre fraco, nasça numa manjedoura, e morra cravado numa cruz. p.84

Quando, porém, decidimos raciocinar a posteriori, isto é, à luz da revelação de Deus em Cristo, então podemos adquirir uma noção totalmente diferente do que venha a ser a onipotência divina. A onipotência passará a incluir a compreensão de que Deus dispõe do poder de tornar-se fraco e de palmilhar a senda que conduz à crucificação. Deus demonstra que ele - não os deuses criados pela imaginação humana - é um Ser verdadeiramente poderoso, exatamente pelo fato de que, muito diferentemente dos deuses humanos, ele ousa tornar-se fraco e destituído. Em vez de manter-se invariavelmente entronizado em sublimes altitudes, como o homem o faria, caso lhe fosse conferida a onipotência, Deus desce até o homem em sua humilhação. Em vez de exigir subserviência do homem, Deus vem ao homem como alguém que serve. Cristo é a revelação do verdadeiro Deus e também do verdadeiro homem. Pelo fato de que Barth começou sua revolução teológica expressando real desilusão com o otimismo liberal a propósito do ser humano, é comum ouvir dizer que ele substituiu um ponto de vista otimista por outro pessimista com relação ao homem. Isso não é verdade. Ainda no início de sua influência como teólogo, sabe-se que Barth chamou a atenção de alguns de seus admiradores, por perceber que eles estavam insistindo demais na realidade do pecado e da depravação da natureza humana.

Não podemos render glórias a Deus reduzindo o conceito da liberdade humana, dizia Barth com insistência. E verdade que, atentando-se para o que o homem tem sido ao longo da história, não se pode deixar de ressaltar o fato de que ele é um indigno pecador. As páginas da história mostram quanto o homem tem sido desumano para com o próprio homem. Não obstante, ao olharmos para Cristo e reconhecermos ser ele o verdadeiro homem, entendemos que o pecado não é nenhuma parte essencial da natureza própria do ser humano.

Barth crê efetivamente que o homem não auxiliado por Deus inevitavelmente cai no pecado. Mas, em Cristo, Deus deixa claro que não é seu desejo deixar que o homem fique à mercê da pecaminosidade. Por isso Barth insiste em dizer que não devemos jamais fazer referências ao pecado, a menos que prossigamos dizendo que o pecado ficou vencido, perdoado e destituído de seu terror mediante a obra de Cristo. Jesus disse que para os homens certas coisas são impossíveis, mas elas são possíveis a Deus (Mt 19.26). Nisso se encontra o tema da doutrina antropológica de Barth. A consideração de que para Deus todas as coisas são possíveis, Barth passa a dar a maior ênfase na realidade da nova vida que, mediante o poder de Deus, o homem alcança usufruir. G. C. Berkouwer deu o seguinte título ao seu livro a respeito de Barth: O Triunfo da Graça na Teologia de Karl Barth. Esse é um título muito apropriado, pois são poucos os teólogos que têm escrito tão vividamente a respeito do triunfo de Deus sobre o pecado ou procurado ressaltar a firme promessa de uma nova vida que é dada ao homem.

O fundamento para o otimismo de Barth pode ser encontrado na doutrina da expiação que ele desenvolve. Temos chamado a atenção para o fato de que, no entender de Barth, Deus revela sua onipotência na capacidade de tornar-se fraco. Isso significa que, em Cristo, Deus chegou até um “país longínquo”, onde os homens vivem como pródigos. Deus não se satisfaz em viver a sós no céu, pelo contrário, agrada-lhe ter a companhia do homem. Quando a ética cristã nos incentiva a tomar as cargas uns dos outros, não é isso senão porque o próprio Deus toma sobre si as cargas de outro. Quando somos exortados a que amemos os inimigos, não será isso senão porque Deus também ama os que são seus inimigos. Deus revela-nos que ama “o mundo” e não apenas judeus, cristãos ou pessoas bem qualificadas. Uma vez que Deus amou o mundo e veio pessoalmente a este mundo, da mesma forma deve sua Igreja sentir-se vocacionada a servir ao mundo. p.85

Aceitando vir até o “país longínquo”, o Filho se fez carne. Isso significa que ele aceitou a condição limitada que é a natureza humana, caracterizada por tentações e problemas. Jesus submeteu-se às condições de nossa existência. Entretanto, Cristo não se encarnou indiscriminadamente, pois é certo que ele se encarnou como judeu. No entender de Barth, os judeus ocupam lugar muito peculiar na teologia cristã. Deus, no propósito de conquistar a humanidade para si, escolheu o povo judeu, visando utilizá-lo na realização de seu plano de salvação. O Velho Testamento nos relata como foi que Deus se mostrou fiel para com o povo judeu, mesmo quando o povo não correspondia a essa fidelidade. Aos judeus Deus fez as promessas pertinentes a todos os homens, e, assim, quando o Filho chegou no “país longínquo”, ele se tornou judeu, para que cumprissem as promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó. Enquanto Hitler estava promovendo o assassinato de seis milhões de judeus, Barth procurou estudar os capítulos 9 a 11 da Carta aos Romanos, com uma nova visão, e teve uma compreensão dos judeus que, na verdade, se opunha a muitos conceitos comuns entre cristãos a respeito desse povo. O ponto de vista mais em voga entre cristãos é o de que nos tempos do Velho Testamento, os judeus eram o povo escolhido de Deus, mas, uma vez que a nação rejeitou a Cristo, ela deixou de ser a nação eleita, pois foi substituída pela Igreja. Alguns cristãos têm ido mais longe do que isso, afirmando que os judeus se encontram sob maldição, pelo fato de terem crucificado a Cristo. Barth entende que toda essa maneira de ver os fatos difere do pensamento expresso por Paulo. Desde o começo, os judeus foram escolhidos por Deus por causa da graça divina, e não por causa de qualificações que pudessem apresentar. Da mesma forma, os cristãos também dependem da graça de Deus. Se a desobediência dos judeus resultou em que eles já não devam considerar-se como povo eleito de Deus, então os cristãos, que se vêm demonstrando sempre desobedientes contra Deus, já não têm nenhuma razão para esperar que Deus cumpra as promessas que lhes fez. Uma vez que Deus se tornou carne judia em Cristo, o povo de Deus passou a existir numa dupla forma - a Sinagoga e a Igreja. Paulo entende que essas duas instituições cabem no propósito divino.

Para Barth, tudo indicava que Hitler tinha uma compreensão demoníaca de uma importante verdade que a maioria dos cristãos deixou de levar em conta. Hitler percebeu que tinha de promover o extermínio dos judeus pelo fato de que, enquanto os judeus continuassem existindo, seriam testemunhas do Deus vivo, que jamais deixará de condenar a presunção dos ditadores de que são capazes de exercer uma autoridade insuperável (Barth ressaltou que a melhor prova que existe da existência de Deus é a existência dos judeus neste mundo). Barth viu, nas medidas de perseguição adotadas por Hitler contra os judeus, uma declaração de guerra contra o próprio Deus. Com base nisso, Barth sentiu-se em condições de predizer que as perseguições movidas por Hitler contra os judeus haveriam de conduzi-lo bem cedo à adoção de medidas de perseguição contra a Igreja. Cristo veio a este mundo como judeu e identificou com seu povo e com o pecado de seus concidadãos. Uma vez encarnado, Cristo se expôs às mesmas tentações que são comuns aos homens em geral, mas sabe-se que ele não cometeu nenhum pecado, revelando-nos, dessa maneira, que o pecado não é algo que seja essencial ao homem. A vida de Cristo, portanto, acarreta julgamento sobre nossas vidas. Quando contemplamos a humana verdadeira, que é característica de Cristo, passamos a entender que a vida egocêntrica dos homens em geral é uma distorção da natureza que temos em nós. Em Cristo fica evidente que nosso pecado consiste em pretendermos ser capazes de julgar a nós mesmos. Adão e Eva caíram no pecado por terem desejado conhecer o bem e o mal como Deus os conhece.p.86

Conhecer o bem e o mal como Deus mesmo os conhece equivaleria a tomar o lugar daquele que cria a distinção entre o bem e o mal. Cada nação, classe e indivíduo adota seus próprios padrões e costumes, pelos quais é levado a pensar de si mesmo como sendo bom. Entretanto, sabe-se que, com a vinda de Cristo a este mundo, ficou claro que o homem se encontra debaixo do juízo divino e não tem capacidade de julgar-se a si mesmo. Se toda a obra de Cristo tivesse consistido em proferir o juízo contra nós, isso teria resultado em fazer-nos mais infelizes do que antes que ele viesse ao mundo. Todavia, Cristo nos revela que Deus tem liberdade de escolher a maneira pela qual seu juízo vem sobre os homens, e a verdade é que o juízo divino recaiu sobre Deus mesmo em Cristo, e não sobre o homem. E, pelo fato de que Deus profere o juízo sobre si mesmo, ele nos livra da obrigação de nos julgarmos a nós mesmos. Essa é uma experiência de liberdade, pelo fato de que, quando o homem pretende ser juiz de si mesmo, faz-se vulnerável ao juízo do próximo. O homem é perseguido pela necessidade de que outros pensem bem dele. O homem pecador é bastante estranho. Em certos momentos o homem exibe as próprias virtudes como a justificar-se a si mesmo, mas, logo depois o mesmo homem começa a olhar a seu redor, para certificar-se da presença de outros que concordam com a opinião que ele tem de si mesmo. Que admirávelconvicção de liberdade aparece nas palavras de Paulo, quando diz: “Todavia, a mim mui pouco se

me dá de ser julgado por vós, ou por tribunal humano; nem eu, tampouco, julgo a mim mesmo. Porque, de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor” (1 Co 4.3-4). O cristão pode expressar-se assim porque, quando ele se sente julgado por Cristo, percebe ao mesmo tempo de que é julgado por aquele que lhe ministra uma palavra de perdão e lhe faz promessas relacionadas com uma nova vida. Deus não teve em pequena conta a condição pecaminosa em que o mundo se encontra, mas também não entendemos que ele tenha ficado distante do mundo, como que dizendo: “Que o mundo vá para o inferno!” A verdade é que ele decidiu fazer a difícil viagem até o “país longínquo”, no propósito de tornar-se como uma de suas criaturas decaídas, para possibilitar o plano de libertar os homens do juízo, da separação de Deus e do nada, que é a morte.

Desde a vinda de Cristo a este mundo não nos destinamos mais ao futuro como pecadores. O motivo dessa destinação removeu-se já de sob nossos pés. Em um sermão que regou, Barth citou um grupo de soldados japoneses destacados em uma ilha remota do Pacífico que, catorze anos depois de terminada a Segunda Guerra Mundial, ainda a atirava contra todos os que lhes aparecessem diante dos olhos, pois não tinham ouvido nada sobre o término da guerra. Que gente estranha aquela, lutando numa guerra terminada catorze anos antes! Mas isso não é tão estranho como o fato de que continuamos a viver como pecadores dois mil anos depois que Cristo anulou o poder do pecado.

Barth não aceita nem o pensamento expresso por Anselmo, de que a morte de Cristo teria sido uma satisfação dada por causa da ira divina, nem a idéia de que Cristo foi punido por nós. Esses pontos de vista parecem não bíblicos para ele, por implicarem a ocorrência de algo que teria concorrido para mudar a mente divina a propósito do homem. Tudo quanto se tem de pensar com relação à encarnação de Cristo é que Deus não quis abandonar o homem à sua própria sorte; o amor divino não consentia na permanência do pecado, pois o homem, mediante a prática do pecado, estava destruindo a si mesmo. Deus abriu um novo caminho diante do homem, para fazê-lo encontrar a paz. Cristo, mediante o perfeito arrependimento que experimentou, realizou o que o homem tinha de fazer. Ele se pôs a si mesmo sob juízo, para fazer com que o homem ficasse livre do juízo. p.87


Como é que podemos alegar hoje que somos aqueles pelos quais Cristo agiu? Admitindo- se que o Filho chegou até o “país longínquo” e foi o juiz que se submeteu a julgamento por nós - que será que isso importa a nós no século vinte? A única resposta parece-nos ambígua, quando sugere que os atos de Cristo nos podem falar pelo fato de que ouvimos o relato de tais atos através da leitura da Bíblia e da pregação. Mas, será o caso de perguntar-se: Terá mesmo significado essa palavra que descreve os atos de Cristo quando a ouvimos como algo já de segunda mão? Barth observa que a teologia contemporânea tem se interessado pelo problema de como relacionar a fé com a História. Entretanto, será que a História, com suas dúvidas e ambigüidades, nos trará alguma ajuda?

Barth declara que nós nos capacitaremos para encontrar respostas a tais perguntas somente na medida em que atentarmos para a ressurreição de Cristo. Para os primeiros discípulos, a ressurreição de Cristo era como o veredicto de Deus concernente a Cristo. Ressuscitando a Cristo de entre os mortos, Deus deixava claro que tinha aceitado o arrependimento de Cristo em favor dos homens. Estar morto significa anular-se. A ressurreição de Cristo de entre os mortos exigiu de Deus o exercício do mesmo poder necessário para que o mundo surgisse do nada. Pela ressurreição que operou em Cristo, Deus fez uma promessa à sua criatura racional no sentido de jamais abandoná-la. Deus revelou daquela forma que Cristo havia de estar sempre com o homem; que aquele que veio até o “país longínquo”, para estar com seu povo, ainda se encontra presente.

A expiação não é como uma transação comercial entre Deus e Cristo e que pudesse acontecer, por exemplo, em Marte, tão convenientemente como aconteceu na face da terra. A expiação significa que o Senhor de tudo quanto existe veio ao encontro de seu povo no tempo e no espaço. Deus tem eternamente em sua própria constituição o Filho, que partiu para o “país longínquo”, sofreu as experiências que nos afligem, submeteu-se a julgamento pelos homens e, finalmente, morreu e ressuscitou ao terceiro dia. A ponte que liga nossa época e o primeiro século da Era Cristã não se confunde com os resultados das pesquisas dos historiadores; a ponte é a própria pessoa do Senhor Jesus, que vive para sempre. A cruz de Cristo e sua ressurreição fizeram com que a Igreja surgisse. O membro da Igreja é uma pessoa que sabe que a condição humana mudou desde a vinda de Cristo ao mundo. A Igreja não pode deixar de ser missionária; ela tem de contar a todos o que aconteceu; ela tem o dever de anunciar aos soldados que ainda se encontram em esconderijos atrás de árvores que a guerra chegou ao fim. Não é que a proclamação feita pela Igreja cause mudanças, a situação de todos os homens neste mundo veio a mudar por efeito da morte e da ressurreição de Cristo. Já foi assinado o tratado de paz. O cético, entretanto, insiste em perguntar: “O que é mesmo que foi mudado?” Não é evidente que o mundo continua com guerras e com rumores de guerra? Não se vê que os homens continuam sofrendo injustiças da parte de outros homens? O Novo Testamento, Barth nos lembrar, contém previsões de tudo isso. A resposta a tais perguntas não será, como pensam alguns, afirmar que Cristo foi para o céu, mas há de voltar logo para promover o estabelecimento de seu Reino perfeito. Os homens referidos no Novo Testamento não estavam felizes pelo fato de esperarem para logo a volta de Cristo sobre as nuvens dos céus. Pelo contrário, eles se mantinham na expectativa da segunda vinda de Cristo porque experimentavam como fato  glorioso e real a presença do Senhor com eles. Depois dos vários aparecimentos durante os quarenta dias que se seguiram à ressurreição, eles continuaram vendo a presença de Cristo com eles mediante a atuação do Espírito Santo. Com freqüência se ouve esta pergunta: Qual é a novidade do cristianismo? Nem sua ética nem sua teologia podem ser consideradas como exclusivas. Segundo o entende Barth, a exclusividade do cristianismo é o próprio Cristo. Ser cristão nada mais é do que ser um novo homem por estar convencido da realidade da crucificação e ressurreição do Salvador.  p.88

O fundamento sobre o qual se apóia todo o esforço missionário e da pregação do evangelho que se vem realizando no mundo encontra-se na pessoa de Jesus Cristo A ressurreição de Cristo, conhecida como realidade nos dias atuais mediante a atuação do Espírito Santo, expressa o veredicto de Deus. Se Cristo não tivesse ressuscitado, não poderíamos dizer aos homens que a situação humana diante de Deus mudou. Na melhor das hipóteses, diríamos que a situação poderia mudar, caso pudessem imitar a Jesus, mas isso lhes seria, de fato, uma má notícia, pois quem estaria em condições de aceitar o desafio? O veredicto divino nos assegura que aquilo que nós não podíamos fazer por nós mesmos Deus o fez por nós. Somos julgados e perdoados; somos renovados mediante o poder do Espírito Santo. O otimismo de Barth a propósito do que Deus pode fazer para transformar-nos em novas criaturas baseia-se na nova situação que Deus determinou que surgisse. Quando o Filho partiu para o “país longínquo”, fez isso em espírito de obediência para com o Pai. Semelhantemente, o cristão deve sentir-se chamado a uma vida de obediência, e Barth, então, mostra-se muito preocupado com esta pergunta de natureza ética - como será que o cristão deve demonstrar que mantém vida de obediência para com Deus? A convicção de Barth é que o cristão tem de procurar servir a Deus com tudo quanto faça parte da vida. Ele deve interessar-se pelos problemas de natureza política e social, tanto quanto se interessa pelos problemas individuais. Uma das razões pelas quais Barth repudiou a teologia liberal, sob cuja influência ele obteve sua formação, foi o comportamento adotado por seus professores durante a Primeira Guerra Mundial. Ele ficou aturdido em face de professores aos quais admirava e que manifestavam apoio espiritual irrestrito para com a causa que a Alemanha estava defendendo. Para Barth, o fato demonstrava que aqueles teólogos, na preocupação de conformar-se com o mundo moderno, até perderam a consciência do juízo divino sobre este mundo. Barth expressa total repugnância a qualquer ética que procure se traduzir em termos de regras e preceitos. Através da Bíblia, vê-se como Deus promulga mandamentos para a observância de homens situados em um dado tempo e espaço. Em Cristo, encontramos o modelo próprio para nosso espírito de obediência, sendo nosso dever nos mantermos como discípulos de Cristo dentro de cada situação com suas características peculiares e suas necessidades. Em certo sentido, pode-se alegar que isso deixará o cristão sem qualquer orientação, uma vez que ele não vai poder contar com normas inflexíveis que lhe assegurem uma conduta coerente. Por outro lado, porém, sabe-se que Cristo é uma pessoa real e a lealdade que se deve devotar a seu Espírito não deixará o cristão destituído de orientação precisa em sua maneira de conduzir-se. Por que é que devemos obediência a Deus? Os não-cristãos não cansam de nos acusar de obedecemos a Deus por pensarmos que ele é semelhante a um policial todo-poderoso e cósmico. Barth rejeita essa maneira de considerar o fato. Seria algo inteiramente degradante para o ser humano obedecer a Deus somente por reconhecer-se que Deus é poderoso para fulminar o homem, caso não lhe preste obediência. Não melhorará muito dizer que, mediante a obediência que presta a Deus, o homem consegue a realização de sua própria natureza. Essa é uma verdade, mas resulta em procurar estimular o espírito de obediência por motivos egoístas. Conforme o entende Barth, a razão fundamental pela qual se deve obediência a Deus é que é esse espírito que melhor corresponde ao amor com que Deus se deu a nós em Cristo. Mediante a obediência cristã autêntica, o homem se torna verdadeiramente livre. Fazer a vontade de alguém que nos ama e a quem também amamos, é um motivo perene de alegria espiritual. O cristão não presta obediência a Deus por motivos de medo nem de fraqueza; sua obediência para com Deus provém de uma exuberância de alegria e força espiritual. Aquele que presta obediência sem exuberância de alegria espiritual será, num sentido muito profundo, um desobediente. p.89

Ele é semelhante àquele indivíduo de uma das parábolas de Jesus que aceita estar presente ao banquete só porque foi convidado, mas deixa de trajar-se de acordo com o ambiente das bodas, com o objetivo de deixar transparecer a alegria de que está possuído. O cristão não deve surpreender-se por encontrar aqueles que não têm seus nomes incluídos entre os que se dizem cristãos, agindo de conformidade com o espírito de Cristo. Não é incomum que tais pessoas causem constrangimentos a certos cristãos. Quando isso acontece, o cristão não deve ficar se defendendo, alegando falsas razões pelas quais não tem conseguido que sua conduta seja melhor. Pelo contrário, aí está um exemplo do ponto de vista adotado por Barth de que, efetivamente, a situação de todos os homens mudou desde a expiação efetuada por Cristo. Como resultado dessa observação, o cristão deve sentir-se impulsionado a dar graças a Deus, vendo como o espírito de Cristo opera mesmo naqueles que não confessam o nome de

Cristo. O discipulado cristão convence-nos à adoção de um relacionamento diferente com as coisas neste mundo - com a família, o emprego da força, o dinheiro e coisas semelhantes. Cada uma dessas coisas pode tornar-se um ídolo para nós. O perigo que é a tentação de nos tornarmos demasiado apegados às coisas deste mundo não deve, entretanto, ser nenhuma razão para que os cristãos nada queiram com tais coisas. Essa conclusão seria muito falsa, porque, em primeiro lugar, ela implicaria em falta de fé no poder que Deus tem de tornar alguém imune ao pecado quando está exposto ao mundo. Em segundo lugar, seria uma conclusão errada, pelo fato de que o cristão nunca deve sentir-se chamado a salvar sua própria alma. A vocação do crente é no sentido de que ele procure servir ao mundo, coisa que não conseguirá fazer fugindo do mundo. O cristão terá de fazer uso das coisas neste mundo de modo diferente do que acontece no mundo, o que, não raro, até pode acarretar mal-estar no mundo. Entretanto, isso não é motivo para se entender que o cristão tenha de agir sempre com antagonismo para com o mundo; por exemplo, quando Daniel estava na cova dos leões, não pensou que devesse pisar na cauda deles. Além disso, é claro que o cristão não tem necessariamente de sentir-se obrigado a lutar contra o mundo, pois a verdade é que este mundo já tem motivo demais de perturbação para que os cristãos lhe queiram introduzir mais perplexidades. O cristão que deseja se conservar fiel a seu Senhor bem sabe que tem de enfrentar perseguições e incompreensões no mundo. O cristão deve ter em mente que, conforme o título de um dos livros de Barth, será inevitável que ele nade “contra a corrente”.

O discipulado cristão incentiva o crente a servir ao Estado. Seria mera hipocrisia uma oração no sentido de que o Estado se torne justo, por exemplo, sem que o indivíduo que ora assim a Deus procure fazer tudo para torná-lo justo. Além disso, como foi o caso de Barth sob a vigência do nazismo, o cristão poderá sentir-se na obrigação de opor-se ao Estado. Nesse caso, entretanto, o cristão estará agindo em favor do Estado, e não contra o Estado. O cristão estará, em situações assim, levantando objeções contra as falhas do Estado, procurando colaborar para que se torne um Estado verdadeiro. O Estado considerado como instituição existe pela graça divina e visa ser um fator de bênção para a vida humana. O Estado não existe para ser cultuado; o poder que ele tem em si é limitado pela vontade divina. Mesmo que não se deva identificar o cristianismo com nenhuma democracia e mesmo que se reconheça que os homens podem se comportar como cristãos sob qualquer forma de governo, Barth é de opinião, que os cristãos devem normalmente colaborar para o estabelecimento de alguma forma de governo democrático pois esta é sempre a maneira mais apropriada para conseguir que o Estado seja útil para o ser humano. p.90

No mundo do pós-guerra, Barth continuou expressando idéias políticas que estão em desacordo com as tendências gerais contemporâneas. Por exemplo, em 1948 Brunner escreveu uma carta, criticando-o por não se opor ao comunismo, como fizera relativamente ao nazismo.

Barth respondeu-lhe, chamando a atenção para o fato de que a Igreja, na obediência que devota a Cristo, deve falar tendo em vista situações concretas e não em termos de princípios gerais. A ação desempenhada em tempos passados não deve repetir-se como a música de um gramofone; à Igreja cabe o dever de procurar a vontade divina para o tempo presente. Barth entendia que a situação em 1948 era diferente da situação reinante em 1933. Em 1933, Hitler era uma tentação efetiva para o mundo Ocidental. Os louvores que eram ouvidos em seu favor partiam de todos os lados; até mesmo Winston Churchill lhe dedicou alguma apreciação. Certo número de alemães de influência tinha organizado o Movimento Cristão da Alemanha com o objetivo de promover uma compatibilização do cristianismo com o nazismo, e tinha conseguido, de fato, infiltrar-se na estrutura da Igreja. Já em 1948, Barth entendia que a situação nada tinha de semelhança com a anterior. Por onde quer que tivesse viajado em todo o mundo Ocidental, tinha visto que, com exceção de um número muito desprezível de comunistas, era inegável a oposição que essa ideologia vinha sofrendo em toda parte. Cada pessoa individualmente se sentia livre para opor-se ao comunismo, e, com efeito, assim se manifestava.

Então, por que haveria a Igreja de sentir-se com a responsabilidade de dizer precisamente o que todos os cidadãos podiam ler nos órgãos de imprensa? Enquanto isso, não se deveria reconhecer que, no Ocidente, o problema real consistia, então, em que as pessoas em geral se inclinavam para uma atitude destituída de crítica na consideração da maneira de vida que se tornara habitual? Não seria o caso de reconhecer-se o perigo a que a Igreja estava exposta de fazer da luta anticomunista um princípio absoluto? 


Karl Barth conseguiu deixar às gerações futuras uma preciosa herança no campo da teologia. Por muitos anos ainda sua Dogmática proporcionará inspiração para novas investigações teológicas. Ele tem conquistado aplausos dos teólogos católicos romanos e sua obra tem contribuído muito para as discussões ecumênicas contemporâneas entre protestantes e católicos. Sua tentativa séria, visando construir uma teologia em torno do ato de Deus em Cristo e também sua expressão jubilosa da fé cristã, atrairão adeptos ao longo de muitos anos. Talvez os que entendem que a teologia tenha entrado em fase pós-barthiana compreendam que esse juízo é prematuro. Neste continente, o que se tem verificado é que Barth tem sido consistentemente incompreendido (essa incompreensão constava da primeira edição deste livro). A história futura poderá concluir que, pelo menos neste continente, a teologia que se professou durante a década  de sessenta era ainda pré-barthiana.