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quinta-feira, 12 de março de 2020

Escatologia do seculo 2 Irineu de Lyon

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Contra as heresias 180 d.C

Livro V


25,1. Não somente pelo que foi dito até agora, mas também pelo que acontecerá no tempo do Anticristo, manifesta-se que o demônio, enquanto apóstata e ladrão, quer ser adorado como Deus e enquanto escravo quer ser proclamado rei. Com efeito, o Anticristo, depois de ter recebido todo o poder do demônio, virá não como rei justo, submetido a Deus e dócil à sua lei, mas como ímpio, injusto e sem lei, como apóstata, injusto, homicida e ladrão, recapitulando em si toda a apostasia do demônio. Rejeitará os ídolos para fazer acreditar que ele é Deus, mas se levantará como o único ídolo concentrando em si a falsidade de todos os ídolos e para que os que adoram o demônio com a multidão de abominações o sirvam agora através deste único ídolo. O Apóstolo, na segunda carta aos Tessalonicenses, fala assim do Anticristo: “Porque deve vir primeiro a apostasia, e aparecer o homem ímpio, o filho da perdição, o adversário, que se levanta contra tudo que se chama Deus, ou recebe culto, chegando a sentar-se pessoalmente no templo de Deus e querendo passar por Deus”. 104 O Apóstolo se refere claramente à sua apostasia e à sua elevação acima de tudo que se chama deus, ou seja, objeto de culto, isto é, de todos os ídolos — são estes chamados os deuses pelos homens, mas não o são — e à tentativa tirânica de se fazer passar por Deus. 

25,2. Além disso, afirma o que já temos abundantemente demonstrado, isto é, que o templo de Jerusalém foi construído de acordo com a prescrição do verdadeiro Deus. O Apóstolo, manifestando a sua opinião, chama-o propriamente templo de Deus. No terceiro livro dissemos que os apóstolos, falando em seu próprio nome, nunca chamam Deus a ninguém, a não ser ao verdadeiro Deus, o Pai de nosso Senhor, por ordem do qual foi construído o templo de Jerusalém, pelos motivos apresentados acima, no qual se assentará o adversário querendo passar por Deus, conforme diz também o Senhor: “Quando virdes a abominação da desolação, de que fala o profeta Daniel, instalada no lugar santo, que o leitor o entenda, então os que estiverem na Judéia, fujam para as montanhas, aquele que estiver no terraço, não desça para apanhar as coisas da sua casa. Pois naquele tempo haverá tão grande tribulação como não houve desde o princípio do mundo até agora, nem tornará a haver jamais”. 105

 25,3. Daniel, ao contemplar o fim do último reino, isto é, os últimos dez reis entre os quais será dividido o reino, sobre os quais virá o filho da perdição, diz que surgiram dez chifres à besta e depois, entre eles surgia um chifre pequeno, diante do qual foram arrancados três dos primeiros. “E eis, que este chifre, diz ele, tinha olhos como olhos humanos e boca que falava palavras arrogantes, e cujo aspecto era mais majestoso do que o dos outros. Estava eu contemplando: e este chifre fazia guerra aos santos e prevalecia sobre eles até o momento em que veio o Ancião dos Dias e foi feito o julgamento em favor dos santos do Altíssimo. E chegou o tempo em que os santos entraram na posse do reino”. 106 Depois, na explicação da visão, foi-lhe dito: “O quarto animal será um quarto reino na terra, que se elevará sobre todos os outros, devorará a terra inteira, calcá-la-á aos pés e a esmagará. Os dez chifres desta besta são dez reis que surgirão, e outro se levantará depois deles, que superará no mal todos os outros que o precederam, e abaterá três reis; proferirá insultos contra o Altíssimo e oprimirá os santos do Altíssimo e tentará mudar os tempos e a Lei, o que lhe será concedido por um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, 107 isto é, por três anos e seis meses, tempo que, ao vir, reinará sobre a terra. O apóstolo Paulo, falando sobre isso na segunda carta aos Tessalonicenses, manifestava também o motivo desta vinda: “Então aparecerá o ímpio, aquele que o Senhor destruirá com o sopro de sua boca, e suprimirá pela manifestação da sua Vinda. Vinda que será assinalada pela atividade de Satanás, com toda sorte de portentos, milagres e prodígios mentirosos e por todas as seduções da injustiça, para os que se perdem, porque não acolheram o amor da verdade, a fim de serem salvos. É por isso que Deus lhes manda o poder da sedução, para acreditarem na mentira e serem condenados todos os que não creram na verdade, mas antes consentiram na injustiça”. 108

 25,4. A mesma coisa dizia o Senhor aos que não acreditavam nele: “Eu vim em nome de meu Pai e não me acolhestes”; quando virá outro em seu próprio nome vós o recebereis. Com este “outro” indicava o Anticristo, que é estranho a Deus. Ele é o juíz iníquo de quem o Senhor disse: “não temia a Deus e não respeitava nenhum homem”, 109 ao qual recorreu a viúva esquecida de Deus, isto é, a Jerusalém terrena, reclamando justiça contra o seu inimigo. É exatamente isto que fará o Anticristo no tempo de seu reinado: transferirá o seu reinado para Jerusalém, assentar-se-á no templo de Deus, enganando os seus adoradores, fazendo com que creiam que é o Cristo. Eis por que Daniel diz ainda: “O santuário será de-vastado; o sacrifício foi trocado pelo pecado e a justiça foi lançada por terra; ele fez e conseguiu fazer isso”. E o anjo Gabriel explicando-lhe as visões, dizia a respeito do Anticristo: “E no fim do seu reinado levantar-se-á um rei de olhar arrogante, capaz de penetrar os enigmas. Seu poder será considerável; ele tramará coisas inauditas, prosperará em suas empresas, arruinando poderosos e o próprio povo dos santos; o jugo de sua coleira se apertará; a perfídia terá êxito em suas mãos; ele se exaltará em seu coração, e, supreendendo-os, destruirá a muitos; causará a ruína de muitos e esmagá-los-á com as mãos, como ovos”. Depois o anjo indica o tempo de sua dominação tirânica durante o qual os santos que oferecerão ao Senhor sacri-fícios puros serão perseguidos: “Durante o tempo de meia semana, diz, serão abolidos o sacrifício e a oblação, e no templo haverá a abominação da desolação e até a consumação do tempo a consumação será dada acima da desolação”. 110 A “metade da semana” equivale a três anos e seis meses.

 25,5. Em todas estas profecias são indicadas não somente a apostasia e as heresias que recapitulam em si todo erro diabólico, mas ainda se afirma que há um só e idêntico Pai, anunciado pelos profetas e revelado pelo Cristo. Ora, se as profecias de Daniel relativas ao fim dos tempos foram confirmadas pelo Senhor que diz: “Quando virdes a abominação da desolação predita pelo profeta Daniel”; 111 se Daniel teve a explicação das visões pelo anjo Gabriel e se este é ao mesmo tempo o arcanjo do Criador e quem anunciou a Maria a boa nova da vinda visível e da encarnação do Cristo, está provado com toda clareza que um só e idêntico é o Deus que enviou os profetas, depois o seu Filho e nos chamou para que o conhecêssemos.

26,1. Uma revelação mais clara ainda acerca dos últimos tempos e dos dez reis, entre os quais será dividido o império que agora domina, foi feita por João, o discípulo do Senhor, no Apocalipse. Explicando o que eram os dez chifres vistos por Daniel, refere o que lhe foi dito: “Os dez chifres que tu viste são dez reis que ainda não receberam o reino, mas que receberão o poder como reis, por uma hora, com a besta. Eles não têm senão um pensamento, o de homenagear a besta com a sua força e o seu poder. Eles combaterão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis”. 112 Está claro, portanto, que aquele que deve vir matará três destes dez reis, que os outros se lhe submeterão e que ele será o oitavo entre eles. Eles destruirão Babilônia, reduzi-la-ão a cinzas, darão o seu reino à besta e perseguirão a Igreja, mas, em seguida, serão destruídos pela vinda de nosso Senhor