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segunda-feira, 26 de abril de 2021

ABORDAGENS SOCIOLÓGICAS DA RELIGIÃO

 

 

INTRODUÇÃO

 

            Os fundadores da Sociologia não estavam interessados no fenômeno religioso enquanto tal, mas estavam à procura das causas sociais da grande mudança social que assistiam e dos possíveis remédios para as patologias sociais que acompanhavam a passagem da sociedade tradicional para a industrial. Divisão social do trabalho, desemprego, aumento das desigualdades sociais, conflitos de classe, anomia, etc., eram as grandes questões para as quais a teoria sociológica procurou uma resposta durante o séc. XIX. Essas questões coletivas apresentavam uma dimensão ética, e foi nessa perspectiva que os clássicos da sociologia colocaram a questão da religião, considerada como um fator decisivo para explicar as estruturas e os processos que asseguravam a ordem e o controle social nas sociedades humanas. As 3 vertentes clássicas- o organicismo positivista, o materialismo dialético e a teoria da ação social- deram origem a muitas outras abordagens sociológicas para a  religião, que de maneira bastante ampla, podemos distinguir em funcionalista, conflitual e simbólico-cultural.

 

ABORDAGEM FUNCIONALISTA

Distingue os conteúdos das doutrinas e dos sentimentos religiosos, considerados como obstáculos ao progresso, das funções sociais desenvolvidas pela religião, essas consideradas essenciais para a coesão social e para a integração dos indivíduos na sociedade, especialmente em períodos de rápidas mudanças sociais, como o era na revolução industrial. A primeira formulação consciente (sistemática) se encontra em Émile Durkheim, porém podem ser considerados precursores C. H. de Saint Simon, Augusto Conte, J. Stuart Mill, A. de Tocqueville; enquanto que H. Spencer e os antropólogos da escola anglo-saxônica, como B. Malinowski deram importantes contribuições para a sua elaboração.

 

ABORDAGEM CONFLITUAL

Considera superados não somente os conteúdos da religião, mas também a sua pretensa função integradora. Para Feuerbach, Marx e Engels, Voltaire e Hume a religião é mistificadora e alienante, pois oculta as reais forças que conduzem a mudança e escamoteia os conflitos que se verificam na esfera da produção, impedindo a autodeterminação do homem.

 

ABORDAGEM SIMBÓLICO-CULTURAL

Confluem as contribuições de autores bem diferentes entre si, como Max Weber, Georg Simmel e Ernest Troeltsch, todos eles tendo em comum na base uma concepção da religião depositária de fundamentais significados culturais, pelos quais os indivíduos e coletividade são capazes de interpretar  a própria condição de vida, construir uma identidade e dominar o próprio ambiente.

 

 

 

 

 

 

POSITIVISMO

 

INTRODUÇÃO

            A primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico foi o positivismo, pois foi a primeira a definir o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação.

            A revolução industrial no séc. XVIII, expressão do poder da burguesia em expansão, demonstrou a eficácia do novo saber inaugurado pela ciência moderna no séc. XVII. Ciência e técnica tornam-se aliada, provocando modificações no ambiente humano jamais suspeitadas. A exaltação desse novo saber e novo poder  leva à concepção do cientificismo.

            O positivismo derivou do cientificismo, a crença no poder da ciência de explicar a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais. Esta filosofia social derivou seu método de investigação das ciências naturais, especialmente a física e a biologia. Assim a sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmoniosamente, segundo um modelo físico ou mecânico, por isso o positivismo também foi chamado de organicismo.

            Com o surgimento da Teoria da Evolução de Charles Darwin, Darwinismo, a idéia de evolução lenta e progressiva também foi aplicada à sociologia, é o que se chama de darwinismo social (princípio de que as sociedades se modificam e se desenvolvem num mesmo sentido e que tais transformações representariam sempre a passagem de um estágio inferior para outro superior em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais adaptado e mais complexo) Nesta época as nações industrializadas partiram para o colonialismo, para conquistar novos mercados, especialmente Ásia, América, e África, as populações destes lugares forma consideradas “fósseis vivos” Nestes lugares os europeus se encontraram com civilizações “menos desenvolvidas”, “primitivas”, e então justificaram a exploração com a ideologia da “civilização”, retirar estes povos do atraso em que viviam.

 Os principais pensadores da escola positivista foram Albert Schäffle, Herbert Spencer Alfred Espinas e Augusto Conte.

 

Augusto Conte (1798-1857)

  • Conte acreditava que a história da humanidade evoluiu em  3 etapas ou estágios:

Teológico ou fictício- através do medo e da ignorância o homem explica o s fenômenos da natureza por meio de deuses concebidos à sua imagem.

Metafísico ou abstrato-  neste estágio o homem procura forças abstratas, conceitos, reflexão mental,  por trás dos fenômenos.

Científico ou positivo- neste estágio o homem pode abandonar as formas de saber dos estágios anteriores, seguindo a ciência.

  • Conte afirmava que a sociologia ia substituir as funções da religião que são a coesão e integração e assim esta desapareceria. Na época dele a sociedade estava entrando na era industrial, e neste tempo os fundamentos tradicionais da ordem social estavam sendo desfeitos.
  • Afirmava que a sociologia era capaz de promover uma reforma moral e intelectual da sociedade moderna
  • Embora outros positivistas adotem o evolucionismo social como Herbert Spencer e L. T. Hobhouse, eles não propõe, como Conte a substituição da religião pela sociologia.
  • “A sociologia da religião contemporânea tira da obra de Conte e de Spencer uma contribuição feita mais de estímulos e de exemplos metodológicos do que de contribuições teóricas.” (A religião na sociedade pós-moderna, p. 41)

 

 

Émile Durkheim (1858-1917)

 

  • Um pressuposto fundamental do pensamento de Durkheim é que a sociedade plasma o indivíduo desde o nascimento, socializando-o em valores e modelos de comportamento bem definidos (É o que ele chama de fato social), isto é, a sociedade prevalece sobre o indivíduo.
  • Durkheim afirma que os fatos sociais apresentam coerção social, pois leva o indivíduo a se conformar independente de sua vontade ou escolha à regras.
  • O indivíduo é entendido a partir do social e não ao contrário. É a consciência coletiva (conjunto de regras, representações, modelos de comportamento) que guia o agir dos indivíduos.

 

  • Partindo do pressuposto de que o totemismo era o sistema religioso mais primitivo, ele propõe uma interpretação sócio-genética da religião: o sentimento religioso mesmo dirigido à divindades diferentes, em qualquer lugar sempre tem a mesma origem, nasce do sentimento de  dependência que a sociedade, como potência coletiva e autoridade moral, inspira em seus membros.

 

  • A religião segundo ele dá forma expressiva a sentimentos que alimentam normas e valores e através dos ritos consolida-os na consciência dos indivíduos. Além disso os ritos suscitam atitudes de temor e respeito para as normas sociais. Assim ela assume uma função de integração e coesão social.

 

  • A sociedade é vista como uma realidade transcendente, dotada de autoridade moral sobre o indivíduo e, ao mesmo tempo, capaz de levá-lo além de si mesmo; depois, reconhece no sagrado a própria sociedade em forma simbólica.

 

  • Assim para ele a religião é vista somente na dimensão coletiva, em outras palavras, a religião é a experiência coletiva do sagrado. O sagrado é o símbolo da própria sociedade. O sentimento religioso é o sentimento de dependência do indivíduo do grupo social.
  • Para ele a religião surge nos estágios de efervescência coletiva, isto é, naqueles momentos em quem os membros de um grupo social atingem uma intensidade de sentimentos tal que se sentem como que fundidos numa só realidade.

 

  • Ensinava que uma característica comum a todas as religiões era a distinção entre sagrado e profano. (Isto não acontece nas religiões Monistas, pois afirmam que a realidade é uma só, nem em formas religiosas pós-modernas)
  • A religião para ele sempre existirá, pois é uma só coisa com a sociedade; a religião é a sociedade sacralizada.

 

Herbert Spencer (1820-1903)

  • Sua abordagem apresenta como características o organicismo e o evolucionismo, pois acreditava que havia uma equivalência entre organismo biológico e organismo social.
  • A sociedade foi considerada por ele como um conjunto super orgânico de estruturas e funções que, para conhecê-lo, é preciso analisar as unidades que compõem e o papel que elas exercem. A diferenciação é um processo natural, assim as sociedades humanas são vistas como momentos internos de um desenvolvimento progressivo, em base ao princípio de formas homogêneas e incoerentes para formas sempre mais diferenciadas e harmonicamente integradas.
  • Na sua perspectiva encontramos como em Conte a tentativa de realizar uma sociedade auto-orientada, da qual o desenvolvimento industrial e o progresso científico constituem os fatores principais do processo evolutivo, e na qual a religião desenvolve pelo menos um papel privado; todavia ele não propõe como Conte, a substituição da religião pela sociologia.

 

Karl Marx (1818-1883)

  • Considerava que não se pode pensar a relação indivíduo-sociedade separadamente das condições materiais em que essas relações se apóiam. Para ele as condições materiais de todas a sociedade condicionam as demais relações sociais. Em outras palavras, para viver, os homens têm de, inicialmente, transformar a natureza, ou seja, comer, construir, etc., sem  o que não poderia existir como seres vivos. Por isso o estudo de qualquer sociedade deve partir justamente  das relações sociais que os homens estabelecem entre si  para utilizar os meios de produção e transformar a natureza. Assim as relações sociais de produção condicionam todo o resto da sociedade.
  • Segundo Marx, as desigualdades sociais observadas em seu tempo era provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista, que dividem os homens em proprietários e não-proprietários dos meios de produção. As desigualdades são a base da formação das classes sociais.
  • Para Marx as relações  entre os homens se caracterizam por relações de oposição, antagonismo, exploração e complementaridade entre as classes sociais (classe social é um, grupo de indivíduos que ocupam uma mesma posição nas relações de produção em determinada sociedade). A história do homem é a história das lutas de classes.
  • Sob o ponto de vista de Marx a religião era “expressão de sofrimento real, protesto contra um sofrimento real, suspiro da criatura oprimida, coração de um mundo sem coração, espírito de uma situação sem espírito, ópio do povo” e também “teoria geral deste mundo,... seu fundamento universal de consolo e legitimação”.
  • Numa primeira fase, portanto, Marx trabalha a religião como alienação. Numa segunda fase, que começa com a Ideologia Alemã (1845) ele considera a religião como ideologia, falsa consciência, é o reflexo ilusório, fantástico, das relações de dominação de classe, de exploração: as idéias religiosas exprimem, justificam e escondem a realidade da dominação. Assim para ele a religião servia de legitimação para a classe dominante e consolo para os dominados. A religião surgia então em conseqüência da situação dos pobres, pois “É o homem que faz a religião; a religião não faz o homem” e “Não é a consciência que determina a vida, mas é a vida que determina a consciência”. Assim a religião deve ser abolida como condição para a verdadeira felicidade. Mas para abolir a religião é preciso que a situação seja mudada, a situação que necessita de ilusões. Pois ela só existe numa situação de alienação.

 

TENDÊNCIA ATUAIS DO PENSAMENTO MARXISTA

·         Vários Marxistas atualmente tem reconhecido que nem toda religião é ópio do povo ou alienação; tais como: Michael Löwoy, Luciem goldmann, Michèle Bertrand pois, percebe-se a participação de religiosos em lutas sócio-políticas em países como Nicarágua, El Salvador e Brasil.

 

 

Max Weber (1854-1920)

  • Dentre os 3 autores que tem sido considerados os fundadores da sociologia- Marx, Durkheim e Weber, este último foi o que mais se preocupou com o fenômeno religioso, e conseqüentemente é o que mais tem influenciado a sociologia da religião.
  • Para ele não há uma linha unívoca nem um curso progressivo na história, assim se afasta bastante do modelo do materialismo histórico e de concepções evolucionistas dominantes de seu tempo.
  • Weber também rejeita a proximidade com a biologia defendida pelos teóricos evolucionistas, e em clara distinção a esses destacava a importância do método histórico e comparativo.
  • Para a sociologia positivista a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles. Para Weber, ao contrário, não existe oposição entre indivíduo e sociedade: as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação. A análise de Weber está centrada nos atores sociais e em suas ações. Destaca a subjetividade e intencionalidade dos atores sociais.
  • Max enfatizava que os acontecimentos que integram a sociedade têm origem nos indivíduos. Assim a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto de ações individuais reciprocamente referidas. Por isso ele define como objeto da sociologia a ação social (qualquer ação que o indivíduo faz implicando numa orientação significativa visando outros indivíduos.). A ação social pode ser: Tradicional, Afetiva, Racional com relação a Valores e Racional com relação a Fins. Assim Weber destaca a subjetividade do agente social.
  • Restituiu uma posição autônoma à religião no concerne à capacidade de exercer influência sobre a sociedade.
  • O modelo de Weber é a interação recíproca entre religião e sociedade.
  • Max introduziu a noção de carisma (qualidade considerada extraordinária)- uma importante contribuição à teoria da mudança social, mostrando o influxo das idéias religiosas no surgimento de comportamentos inovadores- que até hoje tem sido utilizada para interpretar fenômenos, como o surgimento de novos movimentos religiosos na sociedade pós-industrial. Segundo sua análise destaca que as grandes religiões originam-se  da pregação de um líder carismático (ao qual Weber dá o nome de profeta), ao redor do qual se reúnem discípulos. Esta figura rejeita a tradição e exige obediência por causa do carisma que dele emana. Assim ele considera o carisma o poder revolucionário criador da história capaz de derrubar a regra e a tradição. Ele defende dois tipos de profetas, o emissário e o exemplar. O profeta emissário foi peculiar às religiões do Oriente Médio (Zoroastrismo, judaísmo, cristianismo e islamismo) e pretendiam ser instrumentos de transformação do mundo. Já o profeta exemplar defende uma religião de salvação do tipo predominantemente contemplativo. Ele é visto como um exemplo, um santo. O primeiro conduz predominantemente a ascese e o segundo a mística. Na religião ascética o fiel se vê como instrumento de Deus e adota uma postura ativa para controlar seus impulsos. Na religiosidade mística desenvolve uma postura predominantemente contemplativa. Esses dois tipos de religiosidades implementam teodicéias e racionalidades distintas. A religiosidade ascética tende para um Deus pessoal e uma ascese intramundana , enquanto que uma religiosidade mística tende para uma postura contemplativa e para uma imanência e despersonalização do divino; tanto quanto para uma ascese fora do mundo (extramundana).
  • Ele destaca que com a morte do líder carismático ocorre a questão da sucessão e da estabilização da mensagem e isto ocorre através do que ele chama de “rotinização do carisma”. Assim os discípulos alteram o caráter do carisma e da autoridade que se funda sobre ele. O carisma, considerado algo sobrenatural passa a ser objeto de aquisição e de educação, pois para se tornar portador deste carisma o discípulo deve ser recrutado, treinado e colocado à prova. Assim o carisma entra de novo na vida cotidiana. Assim os seguidores não possuindo o carisma original passam apenas a viver a experiência  de forma secundária, mediada por ritos e símbolos.Em outras palavras, os discípulos institucionalizam o carisma, isto é, criam um corpo doutrinal, práticas cultuais e uma organização sacerdotal (sacerdotes) que constituem outros suportes e mediações para poder reviver a experiência do fundador.
  • A sociologia da religião de Weber emerge do surgimento do capitalismo. Defende que o espírito do capitalismo conseguiu se firmar estavelmente no Ocidente somente pela racionalização de todos os aspectos da vida encorajada pela reforma protestante (eliminação da função mediadora da Igreja Católica por meio de indulgências, sacerdotes, etc.; a desmagização [desencanto] do mundo por meio do questionamento dos milagre dos santos, da transubstanciação), em especial pela ascese intramundana do calvinismo (compromisso ativo no mundo,  em especial o incentivo ao trabalho e ao estudo) e que isto se deu de forma não intencional, pois a usura era condenada pelo protestantismo. Porém destaca que o capitalismo por sua vez se tornou prejudicial ao protestantismo (individualismo, consumismo, exploração, utilitarismo, etc).
  •  Assim para Weber a religião pode  ter efeitos tanto de reforço  e justificação dos ordenamentos sociais existentes, como de crítica e subversão destes últimos. O fulcro da atenção de Weber desloca-se, portanto sobre os efeitos que determinadas imagens religiosas do mundo, mediante determinadas normas éticas, têm sobre as respectivas sociedades, em particular sobre o agir econômico.