Pesquisar e

Mostrando postagens com marcador Flávio Josephus não foi um traidor. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Flávio Josephus não foi um traidor. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 14 de maio de 2019

Flavio Josephus foi um traidor? Matou os filhos?


Bust of Flavius Josephus (?) (©: Berlin, FU, Abgußsammlung, Inv.-Nr. 28/86)    ///     Flavius Josephus, original name Joseph Ben Matthias (born AD 37/38, Jerusalem, Roman Judaea—died AD 100, Rome), Jewish priest, scholar, and historian.
Joseph Ben Matthias (nome antes de se tonar cidadão romano)




Introdução




General e historiador; nascido em 37 ou 38; morreu depois de 100. Ele se orgulha de pertencer à raça hasmoneana do lado de sua mãe ("Vita", § 1). Seu bisavô era Simon "the Stammerer". Quando menino, Josefo foi distinguido por sua boa memória e facilidade de aprender. Ele passou pelas escolas dos fariseus, dos saduceus e dos essênios, e depois passou três anos no deserto com um certo Banus. Quando tinha dezenove anos, ele se ligou finalmente ao partido dos fariseus ( ib. § 2). Em seu vigésimo sexto ano, ele teve a oportunidade de viajar para Roma no interesse de certos sacerdotes que haviam sido enviados para lá acorrentados pelo procurador Félix. Aqui ele obteve o favor da imperatriz Poppæa. ...

Logo após o retorno de Josefo a Jerusalém (66), a grande guerra judaica eclodiu, e a defesa da Galiléia foi confiada a ele pelo Sinédrio em Jerusalém ("BJ" ii. 20, § 4; "Vita", § 7) Ele estava acompanhado por dois homens versados na Lei, Joazar e Judas, enviados pelo sinédrio para vigiar suas ações. Ele os enviou de volta a Jerusalém ( ib.§§ 7, 12, 14), e depois passou a organizar a administração da província; instituindo um sinédrio de setenta membros e governando as cidades por meio de um conselho de sete homens, uma instituição depois se estendeu por toda a Palestina sob o título "Os sete melhores da cidade". Ele manteve rígida disciplina entre as tropas, que somavam cerca de 100.000 de infantaria e 5.000 de cavalaria; cercou-se de 500 guardas; e fortificou e provisionou um número considerável de cidades ( ib. §§ 12-14; "BJ ii. 20, §§ 5-8)....

Na primavera de 67, os romanos sob Vespasiano e Tito começaram a guerra. Josefo estava acampado perto da aldeia de Garis, não longe de Séforis; mas ele foi forçado a recuar sobre Tiberíades porque seus homens tinham fugido à aproximação dos romanos ( ib. § 71; "BJ" iii. 6, §§ 2-3). Ele exigiu de Jerusalém se deveria ou não tratar com Vespasiano, e pediu reforços. O Sinédrio não pôde atender a sua solicitação; e Josefo entrincheirou suas tropas em Jotapata (Maio, 67), lugar que foi cercado por Vespasiano no dia seguinte. Josefo recorreu a todos os possíveis estratagemas; mas apesar destes e dos maravilhosos atos de bravura realizados pelos defensores, os romanos, depois de um cerco de quarenta e sete dias, forçaram a entrada na cidade, que com as fortificações foi arrasada (julho de 67). Josefo escapou para uma cisterna ligada a uma caverna na qual encontrou quarenta soldados. Seu esconderijo foi descoberto; e Josefo, cuja vida lhe fora assegurada pelos romanos através da intervenção de um amigo chamado Nicanor, escapou apenas por enganar seus companheiros. Ele persuadiu-os a matar uns aos outros após sorteio, mas arranjou para ser o último, e depois se rendeu aos romanos com um companheiro ("BJ" iii. 8, §§ 1-8). ...Josefo, quando Vespasiano lhe deu sua liberdade ("BJ" iv. 10, § 7), de acordo com o costume adotou o nome de família de Vespasiano, "Flávio"; Jewish Encyclopedia
http://www.jewishencyclopedia.com/articles/8905-josephus-flavius


Como a minha origem remonta a uma longa série de antepassados de
família sacerdotal, eu poderia vangloriar-me da nobreza do meu nascimento,
pois cada nação, estabelecendo a grandeza de uma família em certos sinais de
honra que a acompanham, entre nós uma das mais notáveis é ter-se a
administração das coisas santas. Mas não sou apenas oriundo da família dos
sacerdotes: sou também da primeira das vinte e quatro linhas que a compõem e
cuja dignidade está acima de todas. A isso posso acrescentar que, do lado de
minha mãe, tenho reis entre meus antepassados. O ramo dos hasmoneus, de
que ela é proveniente, possuiu durante um longo tempo, entre os hebreus, o
reino e o sumo sacerdócio  ...
 Nesse mesmo tempo, os costumes de minha mulher se me tornaram insuportáveis; eu a repudiei, embora tivesse três filhos dela, dois dos quais haviam morrido, restando-me apenas Hircano. Desposei outra, de Creta, judia de nascimento, filha de pais nobres e muito virtuosa. Dela tive dois filhos, Justo e Simão, cognominado Agripa.
História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD.Vida de Josefo.

Os judeus rebeldes são derrotados. Josepho se rende


266. Como os romanos estavam muito irados contra Josefo e Vespasiano estava persuadido de que uma grande parte da continuação daquela guerra dependia de tê-lo em suas mãos, procuraram-no com grande interesse, por toda a parte, onde se julgava estar ele escondido, mas também entre os mortos. Ele fora tão feliz, que depois da queda da cidade, fugindo pelo meio dos inimigos, desceu a um poço muito profundo, ao lado do qual havia uma caverna espaçosa, que não podia ser vista do alto. Lá encontrou quarenta dos mais valentes dos seus, que também ali se tinham refugiado e que tinham todo o necessário para vários dias. Lá ficou o dia todo e só saiu à noite para observar os guardas inimigos e ver se havia algum meio de salvação. Não o encontrando, porém, tanto os guardas eram fiéis, voltava para a caverna. Dois dias assim se passaram; no terceiro, uma mulher o denunciou. Vespasiano mandou Paulino e Calicano, dois tribunos, garantir-lhe que o trataria bem, exortando-o a sair; ele não quis fazê-lo, porque, não estando persuadido da clemência dos romanos, e sabendo do seu ressentimento, pelo mal que lhes havia feito, temia que quando o tivessem em seu poder, procurassem vingar-se.

Vespasiano mandou-lhe outro tribuno, de nome Nicanor, muito conhecido de Josefo, que lhe falou da generosidade dos romanos para com os vencidos; que sua virtude, em vez de ter granjeado o ódio de seus generais, lhes havia causado admiração; que eles estavam tão longe de querer torturá-lo como o poderiam fazer, se quisessem, sem que para isso fosse preciso que ele se entregasse, que só pensavam, ao invés, em conservá-lo pelos seus méritos; e se Vespasiano tivesse tido algum mau desígnio, não teria escolhido um de seus amigos para mandar-lho, como ministro de uma perfídia, com o pretexto de amizade; mas, quando mesmo lho tivesse ordenado, ele desobedeceria, antes que executar uma ordem tão indigna de um homem honrado. Estas palavras, embora tão claras, não conseguiram, porém, persuadir de todo a Josefo, e os soldados romanos, irritados com tal resistência, quiseram incendiar a caverna; mas Vespasiano os conteve, porque o queria vivo em suas mãos. No entanto, Nicanor insistia cada vez mais e as ameaças dos soldados aumentavam sempre, porque seu número também aumentava. Josefo então lembrou-se dos sonhos que tivera, nos quais Deus lhe fizera ver as desgraças que sucederiam aos judeus e os felizes resultados obtidos pelos romanos, pois ele sabia explicar os sonhos e ver a verdade mesmo no meio das trevas, a qual Deus muitas vezes se compraz em esconder e como ele era sacerdote, também conhecia as profecias que estão nos livros santos. Como se, naquele momento, estivesse cheio do Espírito de Deus, tudo o que Ele lhe havia feito ver nos sonhos, pareceu renovar-se, e ele dirigiu-lhe esta oração: "Grande Deus, Criador do universo, pois que resolvestes terminar a prosperidade dos judeus, para aumentar a dos romanos e me escolhestes para lhes predizer o que está para acontecer, eu me submeto à vossa vontade, entrego-me aos romanos e consinto em continuar a viver. Mas protesto diante de vossa eterna majestade que, como um vosso ministro e não como um traidor, eu me entrego a eles.História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD. Livro 3  cap. 24


267. Joosefo, depois dessa oração, prometeu entregar-se a Nicanor; imediatamente os que estavam com ele, naquela caverna, rodearam-no de todos os lados, exclamando: "Onde está o amor pelas nossas leis? Onde estão aquelas almas generosas, aqueles verdadeiros judeus, nos quais Deus, ao criar, infundiu tão grande desprezo pela morte? Josefo, tendes tanto amor à vida, que para conservá-la vos determinastes entregar, tornando-vos escravo? Ousareis ainda ver a luz do dia, depois de ter perdido a liberdade? Esquecestes tão depressa tantas exortações que nos fizestes, para nos levar a sacrificar tudo para defendê-la? A opinião que tínhamos de vossa coragem e de vossa prudência, quando combatíeis contra os romanos, estava mal fundada, se esperais agora encontrar entre eles vossa salvação. E se ela corresponder ao juízo que dela fazíamos, como podeis dever vossa vida àqueles que então consideráveis como vossos mortais inimigos; se sua boa sorte vos fez esquecer vossos primeiros sentimentos, nós não os perdemos, como vós. Conservamos sempre o mesmo amor pelas nossas santas leis e pela glória de nossa pátria e vos oferecemos para conservá-los, nossos braços e nossas espadas. Se sois bastante generoso para vos matardes a vós mesmos, conservareis, morrendo, a qualidade de chefe dos judeus, do contrário, não deixareis de morrer, pois recebereis a morte de nossas próprias mãos, mas vós morrereis como um covarde e como um traidor".

 Depois destas palavras puxaram das espadas ameaçadoramente, para matá-lo, se ele se entregasse aos romanos. Josefo, então, temendo faltar ao que devia a Deus, se morresse antes de ter comunicado aos seus compatriotas todas aquelas coisas que ele mesmo lhe havia manifestado, recorreu à razão, que julgou ser a mais própria para persuadi-los, e falou-lhes deste modo:
História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD. Livro 3  cap. 25

Josephus diz que o suicidio é um ato de covardia, contra a natureza.

268. "De onde vem essa vontade que sentis de vos matar a vós mesmos e em querer separar corpo da alma, dividindo o que a natureza tão fortemente uniu? Se alguém imagina que eu mudei de idéia, os romanos sabem-no se é verdade a afirmação, de que nada é mais glorioso do que morrer na guerra, mas pelas leis da guerra e pelas mãos dos vencedores. Estou ainda de acordo em que não deveria criar dificuldade em me matar do mesmo modo que rogar aos romanos que me matem; mas, ainda que sejamos seus inimigos, eles nos querem conservar a vida, com quanto mais forte razão somos nós levados a conservá-la e em nada haveria mais loucura do que em nos tratarmos mais cruelmente do que queremos que eles nos tratem? É certamente uma bela coisa morrer pela liberdade, contanto que seja combatendo para defendê-la, caindo sob as armas daqueles que nô-la querem arrebatar.

Mas essas circunstâncias cessam agora, pois os combates terminaram e os romanos não nos querem tirar a vida. Quando nada nos obriga a buscar a morte, não há menos covardia em
 dá-la a si mesmo do que temê-la e fugir dela, quando o dever e a honra nos obrigam a tal nos expormos. Que nos impede entregarmo-nos aos romanos, se não o temor da morte? E que vantagem há, então, em se escolher uma certa para se evitar uma incerta? Se se disser que é para se evitar a escravidão, eu pergunto, se o estado em que nos encontramos pode passar como um estado livre; e se se acrescentar que é um ato de coragem, matar-se a si mesmo, eu afirmo, ao contrário, que é uma covardia, como imitar um piloto tímido que, pelo temor da tempestade, afundasse, ele mesmo, seu navio, antes de correr risco de perecer, e por fim, que é combater o sentimento de todos os animais e por uma impiedade sacrílega ofender a Deus mesmo, o qual criando-os, deu a todos um instinto contrário. Pois vemos que eles se matam a si mesmos, voluntariamente; mas a natureza não lhes inspira como uma lei inviolável o desejo de viver? Essa razão não faz também que consideremos como nossos inimigos e castiguemos como tais os que tentam contra nossa vida? Como a recebemos de Deus, podemos crer que Ele tolere, sem se ofender, que os homens ousem desprezar o dom que lhes fez? E como é dele que recebemos o ser, ousaríamos querer deixar de existir a não ser segundo lhe apraz e Ele determina? E verdade que nossos corpos são mortais, porque são feitos de uma matéria frágil e corruptível; mas nossas almas são imortais e participam de algum modo da natureza de Deus. Assim não podemos sem impiedade tirar aos homens essa graça, que eles dEle recebem como um depósito que lhes quis confiar. E se alguém quiser fazê-lo, poder-se-á iludir em ocultar aos olhos de Deus a ofensa que lhe faz? Todos estão de acordo em que é justo castigar um escravo que foge de seu senhor, embora esse senhor seja mau e nós julgaremos poder sem crime abandonar a Deus que não somente é nosso senhor mas um senhor soberanamente bom? Não sabeis que Ele difunde suas bênçãos sobre a posteridade daqueles, que depois de ter chamado para junto de si, entregaram em suas mãos, a vida, que, segundo as leis da natureza, ...

Se queremos viver, não temamos não poder fazê-lo com honra, depois de ter demonstrado com tantos feitos nosso valor e nossa virtude. Se nos obstinarmos em querer morrer, morramos gloriosamente, recebendo a morte das mãos daqueles de quem seremos prisioneiros de guerra. Não quero me tornar inimigo de mim mesmo, faltando, por uma indesculpável traição à fidelidade, que devo a mim mesmo, nem ser mais imprudente do que aqueles que se tornam voluntariamente inimigos, fazendo, para tirar a minha vida, o que fazem para salvar a sua. Desejo, entretanto, que os romanos não faltem à palavra e eu não somente morrerei com coragem, mas com prazer, se depois de me terem dado sua palavra, eles me tirarem a vida, porque nada tanto me poderia consolar por nossas perdas, como ver que, com essa vergonhosa perfídia, eles obscureceriam o brilho de sua vitória." História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD.  Livro 3 cap 25

Josepho cria uma estratégia para sobreviver


269. Com estas e outras razões, Josefo tentou afastar seus amigos da funesta resolução que eles haviam tomado, mas os encontrou surdos à sua voz, porque seu desespero os havia levado a escolher a morte. Em vez de se acalmarem, irritaram-se ainda mais, vieram a ele de espada na mão, censurando-lhe a fraqueza, e todos pareciam querer matá-lo. Em tão extremo perigo ele chamava a um pelo nome; olhava para outro, como um general que sabe comandar e cuja virtude infunde respeito nos que estão acostumados a obedecer, tomou um outro pelo braço e assim desviava de vários modos os golpes dos que haviam determinado sua morte, como um animal selvagem rodeado por vários caçadores volta a cabeça para aquele que está prestes a feri-lo. Por fim, como, apesar do furor que os incitava, não podiam deixar de respeitar um chefe, ao qual dedicavam tanta estima, sentiram seus braços enfraquecer, as espadas caíam-lhes das mãos e ao mesmo tempo, ao desferir os golpes, sentiam que seu afeto por ele opunha-se à cólera, diminuindo-lhes cada vez mais a força e tornando-a inútil.

Josefo, por seu lado, não perdeu a calma em tão grave perigo: confiando na proteção de Deus, assim lhes falou: "Pois que estais mesmo resolvidos a morrer, lancemos a sorte para ver quem deverá ser morto, por primeiro, por aquele que o seguirá; continuemos a fazer sempre do mesmo modo, a fim de que nenhum de nós se mate por si mesmo, mas receba a morte das mãos de um outro". Essa proposta foi por todos recebida com alegria, porque não duvidavam de que ele também estaria no número dos mortos e que prefeririam à vida, uma morte comum a todos eles. 

270. Foi então lançada a sorte e o que era determinado apresentava o pescoço ao que o devia matar. Isso continuou até que restavam somente Josefo e um outro; o que aconteceu, talvez, por uma especial proteção de Deus ou por casualidade. Josefo, vendo que se lançasse a sorte, ela, ou lhe custaria a vida ou ele teria que manchar suas mãos no sangue de um amigo, aconselhou-o a viver, dando-lhe garantia de salvá-lo. 

271. Assim, Josefo conseguiu escapar daquele tremendo perigo que correra, quer do lado dos romanos, quer dos de sua própria nação, e entregou-se a Nicanor. Este levou-o a Vespasiano e jamais interesse foi maior do que o dos soldados romanos em se reunirem junto do chefe para vê-lo. No meio do tumulto, notavam-se os vários sentimentos, pelas diversas maneiras de agir: uns demonstravam alegria, por ter ele sido aprisionado; outros, ameaçavam-no; outros apertavam-se ainda mais para vê-lo de perto; os que estavam mais afastados gritavam que se devia matar aquele inimigo do povo romano e os que estavam mais perto dele, lembrando seus admiráveis feitos, comentavam as vicissitudes da sorte. Mas todos os chefes, embora antes irritados contra ele, sentiram seu ódio acalmar-se e Tito, mais que qualquer outro, pois tinha a alma muito nobre, pela grandeza da coragem que Josefo demonstrava em sua infelicidade e por sua idade, ainda em plena virilidade, sentiu extrema compaixão. Considerando, além disso, que um homem que se tinha tornado temível em tantos combates, encontrava-se agora preso e escravo nas mãos dos inimigos, não podia admirar muito as vicissitudes da guerra e a inconstância das coisas humanas. Vários, imitando-o, foram favoráveis a Josefo e ele foi principalmente causa de que Vespasiano também a isso se inclinasse. História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD.  Livro 3 cap. 26

Josepho profetiza a morte de Nero

272. Vespasiano ordenou que vigiassem cuidadosamente a Josefo, porque queria enviá-lo a Nero. Josefo veio a sabê-lo e mandou dizer-lhe que tinha algo a lhe comunicar, mas a ele somente, em segredo. Vespasiano deu-lhe audiência, na presença de Tito e de seus amigos, e ele assim falou: "Vós julgais, sem dúvida, senhor, que tendes somente a Josefo, prisioneiro em vossas mãos. Mas eu venho por ordem de Deus comunicar-lhe uma coisa que muito vos interessa, e é muito mais importante. Eu bem sei de que modo os que têm a honra de comandar os exércitos dos judeus devem morrer, por terem caído vivos em vossas mãos. Quereis mandar-me a Nero. E por que mandar-me, pois que ele e os que lhe devem suceder até vós, têm tão pouco tempo de vida? E somente a vós e a Tito, vosso filho, que eu considero imperadores; a este, depois de vós, porque ambos subireis ao trono. Fazei-me pois guardar quanto vos aprouver, mas como vosso prisioneiro, não de outro; somente vós vos tornastes, pelo direito da guerra, senhores da minha liberdade e de minha vida; mas sê-lo-eis dentro em breve de toda a terra e eu merecerei um tratamento muito mais severo do que a prisão, se eu for tão mau e tão ousado, em abusar do nome de Deus, para vos obrigar a prestar fé a uma impostura". 

Persuadido de que Josefo lhe falava daquele modo, para obrigá-lo a lhe ser favorável, a princípio não quis acreditar, mas pouco a pouco foi se dispondo a fazê-lo, porque Deus, que o destinava ao império, fazia-o conhecer por outros sinais e indícios que podia mesmo esperar chegar a tal e via que Josefo era verdadeiro em tudo o que dizia. Um de seus amigos, por exemplo, na presença dos quais ele lhe havia falado, pergunta a Josefo, se aquelas predições não eram meras ilusões, como é que ele não tinha previsto a ruína de Jotapate, a sua prisão e evitado, se pudesse, tal desgraça e infelicidade, ele respondeu que havia predito aos de Jotapate, que sua cidade seria tomada, depois de uma resistência de quarenta e sete dias, e que ele mesmo cairia vivo nas mãos dos romanos. Vespasiano, ante estas palavras de seu amigo, mandou indagar secretamente dos outros prisioneiros, se tudo tinha acontecido como ele dissera e constatou que era verdade. Assim, começou a acreditar no que ele lhe havia dito, referindo-se a ele em particular, mas não deixou de vigiá-lo menos cuidadosamente; não havia, porém, favor com que não o distinguisse em tudo o mais. Tito, por sua vez, tratava-o com grande deferência. 
História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD. Livro 3. Cap. 27


Josepho passa a ser considerado um traidor

277. Quando a notícia do que havia acontecido em Jotapate chegou a Jerusalém, a importância de tal perda e a ausência de alguém que tivesse visto o que se dizia, fez que a princípio não se acreditasse; do grande número de homens que estavam naquela miserável cidade, não ficara um só que lhes pudesse levar as notícias. A fama, que espalha tão prontamente os maus resultados, foi a única pela qual se soube a princípio tudo aquilo. Mas a verdade veio, em seguida, de todos os lados e dissipou pouco a pouco todas as dúvidas. Acrescentavam-se até mesmo coisas de que ainda não se havia falado e dizia-se que Josefo tinha sido morto. Toda Jerusalém ficou aflita. Os outros mortos eram lamentados por parentes e amigos, mas ele era chorado por todos e o luto que se tomou por ele, durante trinta dias, foi tão grande que todos buscavam ansiosamente músicos, para entoar cânticos fúnebres, como se usa nas homenagens aos mortos. Mas o tempo trouxe a verdade. Soube-se como tudo se havia passado: Josefo estava vivo entre os romanos e seu general, em vez de tratá-lo como escravo, prestava-lhe ainda grandes honras. Então, por uma mudança estranha, aquele grande amor que se tinha por ele, quando o julgavam morto, converteu-se em tal ódio, apenas se soube que ele estava vivo, que o chamavam de fraco, covarde e traidor. A indignação era geral; por toda a cidade ouviam-se injúrias contra ele; as desgraças que os oprimiam irritavam lhes de tal modo o espírito que eles agiam sem nenhuma prudência; as aflições, que para os sensatos fazem-nos evitar caírem em outras, para eles só serviam de aguilhão, para excitá-los ainda mais. Assim, parecia que o fim de uma fosse o começo de outra e eles animavam-se cada vez mais contra os romanos, persuadidos de que, vingando-se deles, vingar-se-iam também de JosefoHistória dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD. Livro 3. Cap. 30

Josepho é honrado por suas predições cumpridas

367.  Este sábio príncipe, vendo que a fortuna secundava seus desígnios de tal sorte, que tudo lhe saía como ele poderia desejar, julgou que não fora sem uma determinação particular de Deus, que a providência o havia conduzido por tantos e tão variados caminhos, até o cúmulo da grandeza, chegando mesmo a dominar sobre toda a terra. Vários sinais que lhe tinham sido preditos, voltavam-lhe agora à mente e de modo especial, que Josefo não havia temido, mesmo quando Nero ainda vivia, afirmar-lhe que Deus o destinava ao império. Essa recomendação impressionou-o tanto que ele não pôde pensar, sem pasmar, que ainda o conservava prisioneiro. Reuniu Múcio, os comandantes de suas tropas e seus amigos particulares, falou-lhes do grande valor de Josefo, das dificuldades que lhe havia criado no cerco de Jotapate e de como ele, sozinho, havia sido causa de que o assédio se prolongasse tanto e o tempo lhe havia demonstrado a veracidade das predições por ele feitas, de que ele chegaria ao trono do império e que no momento ele atribuía apenas ao temor; parecia-lhe vergonhoso conservar ainda por mais tempo, como escravo e na miséria, aquele de quem Deus se quisera servir para pressagiar-lhe tão grande felicidade, à qual se pode chegar neste mundo. Depois de ter assim falado, mandou chamar Josefo e o pôs em liberdade. Essa generosidade comoveu vivamente a todos os seus oficiais. Julgaram que, tratando tão generosamente a um estrangeiro, imaginavam que tudo poderiam esperar de sua gratidão. 

Tito, que estava presente, disse-lhe: "É, Senhor, uma ação digna de vossa bondade, dar a liberdade a Josefo, livrando-o das suas cadeias. Mas parece-me que seria também digno de vossa justiça prestar-lhe a honra de quebrá-las, para restaurá-lo no estado em que ele estava, antes do seu cativeiro, pois é esta a maneira de que se usa, para com aqueles que foram injustamente postos em ferros". Vespasiano aprovou essa proposta. As cadeias foram quebradas e o efeito da predição de Josefo granjeou-lhe tal reputação de ser verdadeiro, que todos estavam dispostos a crer no que ele dissesse, para o futuro. História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD. Livro 3. Cap. 30 Livro 4 cap. 38


Josepho se torna mediador nas negociações de rendição
403.  Considerava ele todas essas coisas e pesava todas as razões; Nicanor, seu amigo, homem muito ilustre e habilidoso, aproximou-se das muralhas com Josefo, para procurar persuadir os judeus a pedir a paz, mas foi ferido por uma flecha no ombro esquerdoHistória dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD. Livro 5 cap. 17

415...Tito não tinha dúvidas em apoderar-se da praça, mas como desejava conservá-la, procurava, ao mesmo tempo, em que apertava o cerco, levar os judeus a se arrependerem de sua revolta, porque ele sabia que as razões são, às vezes, mais poderosas que as armas. Julgou dever unir os conselhos às ações, sem se obstinar mais recusando entregar-lhe uma praça que já deveriam considerar como tomada. Ele lançou para esse fim suas vistas sobre Josefo, que julgava o mais capaz de todos, para persuadi-los, porque era de sua nação e falava a sua língua. História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD. Livro 5 cap. 25



Josepho mostra que os judeus devem se render como também diziam os profetas. 

416. Depois desta ordem, Josefo escolheu um lugar apropriado, bem alto, fora do alcance dos dardos, de onde os judeus pudessem ouvi-lo. Exortou-os, então, a ter compaixão de si mesmos, do povo, do Templo e de sua pátria. ...

 "Miseráveis que sois, vos esquecestes talvez de onde vos veio auxílio em todos os tempos? Será por meio das armas que pretendeis vencer os romanos, como se devesseis às vossas próprias forças as vitórias que tendes obtido? E esse Deus Todo-poderoso, que criou o universo não foi sempre o protetor dos judeus, quando eles foram injustamente atacados? Não compreendereis vós mesmos, refletindo, o ultraje que lhe fazeis, violando o respeito que lhe é devido, fazendo de seu Templo uma fortaleza, de onde sais empunhando armas como de uma praça de guerra? Esquecestes tantas ações, tão religiosas, de nossos avós e de quantas guerras a santidade desse lugar foi preservada? Tenho vergonha de relatar as obras admiráveis de Deus a pessoas indignas de ouvi-las. 
.... "Que direi da passagem de nossos antepassados pelo Egito? Não viveram eles quatrocentos anos sob uma dominação estrangeira? E, embora fossem em número muito maior, para se libertar pelas armas, não preferiram abandonar se ao governo e à providência de Deus? Quem não conhece os milagres que Ele fez para libertá-los? Com quantas espécies de animais Ele não devastou esse país? Com quantas enfermidades não o afligiu? Como corrompeu os frutos da terra e as águas do Nilo? Como, acrescentando flagelos a flagelos, Ele feriu com outras dez pragas aquele miserável reino? E como, declarando-se Ele mesmo o defensor de nossos pais, que Ele destinava para seus sacerdotes, os fez sair de lá e os guiou, sem que, no meio de tantos perigos, um só perdesse a vida?

 "Quando os filisteus tomaram-nos a arca da aliança e ousaram com suas mãos impuras tocá-la, que não sofreu a Filístia? O simulacro de Dagom, não caiu aos seus pés? E aqueles que se vangloriavam de no-lo ter arrebatado, sentindo suas vísceras estraçalhadas por dores horríveis, não foram obrigados a no-la restituir, ao som de címbalos e de trombetas para procurar, pela expiação de seu crime, aplacar a cólera de Deus, que se declarava tão altamente o protetor de nossos antepassados, porque em vez de recorrer às armas eles punham somente nEle sua confiança? "Quando Senaqueribe, rei da Assíria, seguido da força de toda a Ásia, veio sitiar a capital da Judéia, sucumbiu ela sob um poder tão prodigioso e nossos avós recorreram às armas para se defender? As únicas a que se entregaram foram às orações e aos votos; e o anjo do Senhor exterminou quase inteiramente, numa só noite, aquele temível exército. Os assírios viram no dia seguinte, ao despontar do sol, cento e oitenta e cinco mil dos seus estendidos mortos por terra; e embora os judeus não pensassem em perseguir os que restavam, seu terror foi tal, que eles fugiram com tanto medo, como se já se sentissem atravessados pela ponta de suas espadas.

 "Não sabeis também que nossa nação, tendo sido durante setenta anos escrava em Babilônia, ela reconquistou sua liberdade, quando o Senhor inspirou a Ciro que lha desse e que depois que esse grande príncipe os fez partir para seu país, eles recomeçaram a oferecer sacrifícios a Deus, como a seu verdadeiro libertador? "Mas, para não me delongar demasiado a este propósito, que grandes feitos jamais realizaram nossos predecessores, quer pelas armas, quer sem elas, com uma assistência particular de Deus, cumprindo suas ordens? Eles venciam sem combater, quando lhe aprazia dar-lhes a vitória; e eram sempre vencidos quando combatiam sem consultá-lo e sem obedecer-lhe. Será preciso uma prova melhor do que esta?

Quando Nabucodonosor, rei da Babilônia, sitiou Jerusalém e Zedequias, nosso rei, teimou em se defender, contra a advertência do profeta Jeremias, ele foi preso, levado escravo e viu destruir diante de seus olhos a cidade e o Templo, embora esse príncipe e seu povo fossem muito mais moderados que vossos chefes e vós? Esse mesmo profeta, declarando que Deus, para castigá-los de seus crimes, permitiria que eles fossem feitos escravos, se não se entregassem nem abrissem suas portas aos inimigos, Zedequias e seu povo não tentaram contra sua vida? E vós, sem se falar no que se passa dentro de vossas muralhas, porque não há palavras capazes de descrever os horríveis excessos de tantos crimes, vós me injuriais, vós atirais dardos para me matar, porque vos falo de vossos pecados e não podeis tolerar que eu censure o que não tivestes vergonha de fazer.

 "Quando o rei Antíoco Epifânio veio a sitiar essa praça, não sucedeu também uma outra coisa que confirma o que acabo de referir? Nossos antepassados, em vez de confiar no auxílio de Deus, quiseram ir contra Ele; travou-se o combate e eles perderam. A mortandade foi geral, a cidade foi tomada, saqueada, destruída; o Santuário, manchado e profanado, o serviço de Deus abandonado durante três anos e meio. "Não seria supérfluo acrescentar outros exemplos a tantos já citados? Quem nos levou à guerra contra os romanos, senão nossas divisões e nossos crimes? Não foi essa a causa principal de nossa escravidão, quando da contestação entre Aristóbulo e Hircano, animando-lhes o furor, um contra o outro, deu motivo a Pompeu de atacar Jerusalém e fez que Deus submetesse os judeus aos romanos porque o mau uso que eles faziam da liberdade os tornavam indignos de gozar da mesma? Assim, embora nada eles tivessem feito contra a religião e contra nossas leis, em comparação com os tantos crimes que cometestes, e eles tivessem muito mais recursos que vós, para sustentar a guerra, não puderam manter o assédio que durou três meses. "Não sabemos qual o fim de Antígono, filho de Aristóbulo, e de que modo Deus permitiu, durante seu reinado, que o povo caísse em outra servidão por causa de seus pecados? Herodes, filho de Antípatro, ajudado por Sósio, general de um exército romano, não sitiou também Jerusalém? Deus para castigar a impiedade daqueles que a defendiam não permitiu que ela fosse tomada e saqueada. "Não é evidente então que jamais o caminho das armas nos não foi favorável em semelhantes ocasiões, mas que os assédios que sustentamos nos foram sempre funestos? Não tenho pois eu razão em acreditar que aqueles que ocupavam um lugar tão sagrado, como o Templo, devem, sem confiar em forças humanas, abandonar-se inteiramente ao governo de Deus, quando sua consciência não lhes censura ter desobedecido às suas leis? Mas haverá uma das ações que mais Ele tem em abominação, que não a tenhais cometido? E de quanto sobrepujais em impiedade àqueles que vimos tão repentinamente feridos pelos raios da sua justiça? Os pecados ocultos, como os latrocínios, as traições, os adultérios, vos parecem muito comuns. Praticais a porfia, a rapina, os assassínios e inventastes mesmos novos crimes.

 Fazeis do Templo vosso refúgio, e esse lugar sagrado, tão respeitado pelos romanos, que lá adoravam a Deus, embora o culto que nós lhe prestamos não esteja de acordo com sua religião, foi conspurcado pelos sacrilégios daqueles cujo nascimento obriga à observância de suas leis e que são o seu mesmo povo. Podeis esperar, depois de tudo isso, ser ajudado por aqueles a quem ofendeis com tantos crimes? São justos? Estais em estado de suplicantes? Vossas mãos são puras como eram as do nosso rei, quando implorava o auxílio do céu, contra os assírios e Deus fez morrer numa só noite todo seu exército? Ou podeis dizer que os romanos, agindo como faziam os assírios, tendes motivo de esperar que Deus os castigará do mesmo modo? Mas não sabeis que seu rei, depois de ter recebido dinheiro nosso para compensar o saque da cidade, não temeu violar o juramento e incendiar o Templo? Os romanos, ao contrário, só vos pedem o pagamento do tributo que vossos antepassados solenemente se comprometeram e lhe pagavam. Dando-lhes essa satisfação, eles não saquearão vossa cidade nem tocarão nas coisas santas; continuareis livres com vossas famílias, gozareis pacificamente de todos os vossos bens e não sereis perturbados na observância de vossas santas leis. Não é pois loucura imaginar que Deus tratará os que o irritam continuamente com suas ofensas da mesma maneira como Ele trata os que agem com tanta moderação e justiça? Nada é capaz de adiar por um momento sequer a sua vingança, quando Ele está resolvido a executá-la. Exterminou Ele os assírios na primeira noite, quando sitiaram aquela cidade. 

Se sua vontade era libertar-vos e castigar os romanos, Ele lhes teria já feito sentir os efeitos de sua cólera, como os fez sentir a esse temível povo e como os fez experimentar à nossa nação, quando Pompeu entrou pela brecha em Jerusalém, quando Sósio, depois dele, também a tomou, quando Vespasiano devastou a Galiléia e, enfim, quando Tito veio organizar esse grande assédio. Mas nem Pompeu, nem Sósio encontraram obstáculo algum, do lado de Deus, que os tenha impedido de executar seu empreendimento; a guerra que Vespasiano nos fez o elevou ao império; e parece que a mesma natureza quis fazer um esforço, em favor de Tito, pois a fonte de Siloé e as outras que estão fora da cidade, que eram tão minguadas antes de sua vinda, a ponto de para se ter água, ser preciso gastar dinheiro, agora a fornecem em tal abundância que basta não somente para o exército romano, mas até mesmo para se regarem os jardins. E a mesma coisa aconteceu quando esse rei de Babilônia, de que falei, sitiou a cidade, tomou-a e a incendiou, bem como o Templo, embora eu não me possa persuadir de que a impiedade de nossos antepassados, que lhes trouxeram semelhante mal, fossem comparáveis às vossas.

 Não tenho motivo de crer que Deus, vendo esses santos lugares, consagrados ao seu serviço, conspurcados por tanta abominação, vos abandonou, para se colocar do lado dos que vós combateis? Quando um homem de bem vê que tudo está corrompido em sua família, ele a deixa e muda em ódio o afeto que lhe tinha. Vós quereríeis que Deus, ao qual nada está oculto e que, para conhecer os pensamentos mais secretos dos homens, não tem necessidade de que eles lho digam, ficassem convosco, embora sejais culpados dos maiores de todos os crimes, e eles sejam, tão notórios que todos os conhecem, e pareça que altercais, para ver quem é, dentre vós, o mais malvado e embora vos glorifiqueis com o vício, como os outros o fazem com a virtude? 

Entretanto, pois que Deus é tão bom, que se deixa comover pelo arrependimento e pela penitência, resta-vos um meio de salvação. Deixai as armas; tendo vosso coração traspassado de dor, por verdes vossa pátria reduzida a tão grave contingência, abri os olhos para considerar a beleza dessa cidade, a magnificência desse Templo, a riqueza dos  presentes oferecidos a Deus por tantas e tão diversas nações e concebei horror por expô-los ao saque. Considerai que sua ruína não poderia ser atribuída, senão a vós somente, pois que somente a vossa teimosia será o facho que irá acender o fogo destruidor que há de reduzir a cinzas as coisas, deste mundo, mais dignas de serem conservadas. Se vosso coração, mais duro que o mármore, é insensível ao que deveria tão sensivelmente tocá-lo, tende pelo menos compaixão de vossas famílias e cada qual ponha diante dos olhos sua esposa, seus filhos, seus parentes, prestes a perecer pelo ferro ou pela fome. Dir-se-á talvez que, o que me faz assim falar é o desejo de salvar da ruína comum, minha mãe, minha esposa e meus filhos, cuja descendência é tão ilustre, para merecer que os consideremos. Mas para assim mostrar que é somente o vosso interesse que me faz assim falar, vos entrego suas vidas, e vos entrego a minha e considerar-me-ei feliz de morrer, se minha morte vos puder tirar dessa deplorável cegueira, que vos fazendo correr para vossa própria ruína, vos levou até as bordas do precipício". Assim terminou Josefo suas palavras, derramando muitas lágrimas. Mas não conseguiu comover os rebeldes, nem persuadi-los de que encontrariam sua salvação na conversão. O povo, ao contrário, ficou muito comovido e pensou em se salvar, fugindo. Muitos venderam o que tinham de mais precioso, por alguma pequena quantidade de peças de ouro, de medo que os rebeldes os apanhassem e fugiram para junto dos romanos. Tito permitiu-lhes refugiar-se em qualquer lugar do país que eles escolhessem. Essa liberdade que lhes deu aumentava ainda mais nos outros o desejo de se livrar, pela fuga, dos males que suportavam. Mas João e Simão puseram guardas nas portas com ordem de não deixar sair os judeus, bem como entrar os romanos; e ante a menor suspeita eram mortos os que se pensava estar dispostos a fugir. História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD. Livro . cap. 26


Conclusão:

Flávio Josefo agiu como Jeconias, se rendeu entendendo que o cerco era permissão divina por causa do pecado.

Ele se divorciou de sua esposa, e casou com outra como ele mesmo registra. não matou seus filhos ou sua mulher.


443... Bem sabeis que, quando os babilônios entraram na Judéia com tão grandes forças, Jeconias, que então reinava, saiu voluntariamente de Jerusalém e lhe deu como reféns sua mãe e vários dos seus parentes, a fim de impedir a ruína da cidade, a profanação das coisas santas e o incêndio do Templo. Toda nossa nação reconheceu dever a ele, que tal não acontecesse e por isso renova-se todos os anos a recordação desse fato, para que ele passe de século a século, a fim de perpetuar o reconhecimento por tão grande benefício! Embora estejais à beira do precipício, ainda vos podeis salvar, pois asseguro que os romanos vos perdoarão, contanto que não vos obstineis mais em vos tornardes indignos de todo perdão. E para que não possais duvidar de minha palavra, considerai que é um judeu que a dá, por que motivo ele a dá e da parte de quem a dá? Deus me livre de ser tão infeliz e tão covarde de esquecer a minha origem e o amor que sou obrigado a ter pelas leis de meu país. Mas, em vez de ficardes impressionados com tantas considerações, começais um novo furor e continuais a me injuriar. Mas confesso que o mereço, pois estou agindo contra a ordem de Deus, exortando-vos a pensar na salvação àqueles que sua justiça condenou. Todos sabem o que os profetas predisseram, que essa miserável cidade será destruída, quando virmos os que têm a graça de terem nascido judeus, manchar as mãos com assassínios de seus próprios irmãos? Esse tempo, talvez, ainda não chegou? Toda a cidade e também o Templo ainda conservam os corpos daqueles que tão cruelmente massacrastes. Podemos então duvidar de que Deus mesmo não se una aos romanos para fazer expiar pelo fogo tanta abominação e tantos crimes?" Josefo não pôde continuar a falar, porque as lágrimas e os soluços embargaram-lhe a voz. Os romanos tiveram compaixão de seu sofrimento e admiraram seu amor pela pátria. Mas suas palavras somente conseguiram irritar ainda mais a João e aos seus e aumentar o desejo que eles tinham de poder apanhá-lo

História dos Hebreus.Guerra dos Judeus. Rio de Janeiro: CPAD.Livro 6 cap. 8


 "As tristes experiências de Joaquim mudaram a natureza inteiramente, e como ele se arrependeu dos pecados que cometera como rei, ele foi perdoado por Deus, que revogou o decreto no sentido de que nenhum de seus descendentes nunca deveria tornar-se rei (Jer 22:30..; ... Pesiḳ, ed Buber, xxv 163a, b); ele mesmo se tornou o ancestral do Messias (Tanhuma, Toledot, 20 [ed. Buber, i. 140])...
A vida de Joaquim, é a melhor ilustração da máxima: "Durante a prosperidade de um homem nunca deve esquecer a possibilidade do infortúnio, e na adversidade não devem desespero do retorno de prosperidade" (Seder 'Olam R. xxv.). Seguindo o conselho de Joaquim, filho de Nabucodonosor cortou o corpo do pai em 300 pedaços, que tinha dado a 300 abutres, para que ele pudesse ter certeza de que Nabucodonosor nunca voltar a preocupá-lo ("Chronicles of Jerahmeel,", LXVI. 6). Evil-Merodaque tratou Joaquim, como um rei, vestiram-no de púrpura e arminho, e por causa dele libertou todos os judeus que haviam sido presos por Nabucodonosor (Targum Sheni, near the beginning).Foi Joaquim, também, que ergueu o magnífico mausoléu sobre o túmulo do profeta Ezequiel (Benjamin de Tudela, "Itinerário", ed. Asher, i. 66). No segundo templo havia uma porta chamada "Porta de Jeconias", porque, segundo a tradição, Jeconias (Joaquim) deixou o Templo por aquele portão quando ele foi para o exílio (Middot (Talmud) 2. 6)." http://www.jewishencyclopedia.com/articles/8560-jehoiachin
"Jeconias, o exilado, tem filhos, num dos quais a linha messiânica tem prosseguimento (1 Cr 3.17,18). Relendo Jr 22.30, começamos a entender que a predição de que ficaria sem filhos não significava outra coisa senão que nenhum de seus filhos ocuparia o trono terreno de Davi. Ora, essa mudança favorável entre o Jeconias antes de sua deportação e aquele depois da deportação,... Se mais é necessário, considere-se também 2Rs 25.27-30. Cf. Jr 52.31-34. Jeconias é solto da prisão, é tratado com humanidade na corte de Evil-Merodaque, rei de Babilônia, em cuja mesa comia regularmente, e se lhe concede uma mesada vitalícia. Concede-se lhe ainda "um trono acima dos tronos dos reis que se achavam com ele em Babilônia". Um contraste mais agudo é dificilmente concebível. Naturalmente Mateus conhecia tudo isso. Por todo o seu Evangelho Mateus está constantemente provando que ele está bem familiarizado com suas fontes....(COMENTÁRIO DO NOVO TESTAMENTO Mateus Volume 1 WILLIAM HENDRIKSEN. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.p. 181)
Jr 52:31  No trigésimo sétimo ano do cativeiro de Joaquim, rei de Judá, no dia vinte e cinco do duodécimo mês, Evil-Merodaque, rei da Babilônia, no ano em que começou a reinar, libertou a Joaquim, rei de Judá, e o fez sair do cárcere.
32  Falou com ele benignamente e lhe deu lugar de mais honra do que o dos reis que estavam consigo em Babilônia.
33  Mudou-lhe as vestes do cárcere, e Joaquim passou a comer pão na sua presença, todos os dias da sua vida.
34  E da parte do rei da Babilônia lhe foi dada subsistência vitalícia, uma pensão diária, até ao dia da sua morte, durante os dias da sua vida.

 2 Rs 25:27  No trigésimo sétimo ano do cativeiro de Joaquim, rei de Judá, no dia vinte e sete do duodécimo mês, Evil-Merodaque, rei da Babilônia, no ano em que começou a reinar, libertou do cárcere a Joaquim, rei de Judá.
28  Falou com ele benignamente e lhe deu lugar de mais honra do que a dos reis que estavam com ele na Babilônia.
29  Mudou-lhe as vestes do cárcere, e Joaquim passou a comer pão na sua presença todos os dias da sua vida.
30  E da parte do rei lhe foi dada subsistência vitalícia, uma pensão diária, durante os dias da sua vida.

Zedequias, tio de Jeconias (Joaquim), filho de Josias, era considerado um figo ruim, ao contrário de Jeconias, que era um figo bom. Os figos bons (incluindo os descendentes de Jeconias, como Zorobabel) voltaram para Judá.
2 Reis 24:17  O rei da Babilônia estabeleceu rei, em lugar de Joaquim, ao tio paterno deste, Matanias, de quem mudou o nome para Zedequias.

Jr 24:1 ¶ Fez-me ver o SENHOR, e vi dois cestos de figos postos diante do templo do SENHOR, depois que Nabucodonosor, rei da Babilônia, levou em cativeiro a Jeconias, filho de Jeoaquim, rei de Judá, e os príncipes de Judá, e os artífices, e os ferreiros de Jerusalém e os trouxe à Babilônia.
2  Tinha um cesto figos muito bons, como os figos temporãos; mas o outro, ruins, que, de ruins que eram, não se podiam comer.
3  Então, me perguntou o SENHOR: Que vês tu, Jeremias? Respondi: Figos; os figos muito bons e os muito ruins, que, de ruins que são, não se podem comer.
4  A mim me veio a palavra do SENHOR, dizendo:
5  Assim diz o SENHOR, o Deus de Israel: Do modo por que vejo estes bons figos, assim favorecerei os exilados de Judá, que eu enviei deste lugar para a terra dos caldeus.
6  Porei sobre eles favoravelmente os olhos e os farei voltar para esta terra; edificá-los-ei e não os destruirei, plantá-los-ei e não os arrancarei.
7  Dar-lhes-ei coração para que me conheçam que eu sou o SENHOR; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus; porque se voltarão para mim de todo o seu coração.
8  Como se rejeitam os figos ruins, que, de ruins que são, não se podem comer, assim tratarei a Zedequias, rei de Judá, diz o SENHOR, e a seus príncipes, e ao restante de Jerusalém, tanto aos que ficaram nesta terra como aos que habitam na terra do Egito.
9  Eu os farei objeto de espanto, calamidade para todos os reinos da terra; opróbrio e provérbio, escárnio e maldição em todos os lugares para onde os arrojarei.
10  Enviarei contra eles a espada, a fome e a peste, até que se consumam de sobre a terra que lhes dei, a eles e a seus pais.

[93]...  João,... tu tens um exemplo diante de ti, Jeconias, o rei dos judeus, se tu tens uma mente para salvar a cidade, que, quando o rei de Babilônia, fez guerra contra ele, fez por sua própria vontade sair desta cidade antes era tomada, e foi submetido a um cativeiro voluntário com sua família, que o santuário não pode ser entregue até o inimigo, e que ele não pode ver a casa de Deus incendiada;em que conta que ele é celebrado entre todos os judeus, em seus memoriais sagrados, e sua memória é tornar-se imortal, e será transmitida fresco para baixo a nossa posteridade através de todas as idadesEste, João, é um excelente exemplo de tal momento de perigo, e ouso venture a promessa de que os romanos ainda te perdoarão. E tomar nota que eu, que faz esta exortação a ti, sou um dos tua própria nação; Eu, que sou judeu, fazem esta promessa a ti. E se tornará te considerar quem eu sou que te dar este conselho, e donde sou derivados; por enquanto eu estou vivo eu nunca deve estar em tal escravidão, como a renunciar a minha própria tribo, ou esquecer as leis de nossos antepassados. Tu tens indignação para mim de novo, e fazendo um clamor para mim, e me afrontas; na verdade, eu não posso negar, mas eu sou digno de tratamento pior do que tudo isso equivale a, porque, em oposição ao destino, eu faço este amável convite para ti, e esforçar-se para forçar a libertação sobre aqueles a quem Deus condenou..." Bellum Jucaicum Livro 6    https://sites.google.com/site/latinjosephus/bellum-judaicum/book-6