"1 Rubrica: filosofia.: ciência proposta pelo filósofo francês Destutt de Tracy (1754-1836), que atribui a origem das ideias humanas às percepções sensoriais do mundo externo" (Dicionário Houaiss Eletrônico)
1b- Conjunto de ideias usadas pela classe dominante para dominar o proletariado
2 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: filosofia.
no marxismo, totalidade das formas de consciência social, o que abrange o sistema de ideias que legitima o poder econômico da classe dominante (ideologia burguesa) e o que expressa os interesses revolucionários da classe dominada (ideologia proletária ou socialista) (Dicionário Houaiss Eletrônico)
1c- Conjunto de ideias de um grupo ou indivíduo ou instituição
3 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: sociologia.
sistema de ideias sustentadas por um grupo social, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos
Ex.: i. conservadora, cristã, nacionalista
4 Derivação: por extensão de sentido.
conjunto de convicções filosóficas, sociais, políticas etc. de um indivíduo ou grupo de indivíduos
Ex.: sua i. identifica-se com a dos republicanos (Dicionário Houaiss Eletrônico)
1d- Ideias distorcidas da realidade
1 FILOSOFIA Ciência que trata da formação das ideias.2 Tratado das ideias de forma abstrata.3 Conjunto de sistemas de valores sociais que reconhecem o poder econômico da classe dominante quanto à legitimidade dos ideais que refletem a ânsia por transformações radicais que dignifiquem a classe dominada ou o proletariado, segundo o marxismo e seus seguidores.4 FILOSOFIA Doutrina que considera a sensação como fonte única dos nossos conhecimentos e único princípio das nossas faculdades.5 Maneira de pensar que caracteriza um indivíduo ou um grupo de pessoas, um governo, um partido etc.6 PEJORATIVO Conjunto de concepções abstratas que constituem mera análise ou discussão sem fundamento de ideias distorcidas da realidade. (Dicionário Michaelis)
O matrimônio, pois, só se realizará com toda a liberdade quando, suprimidas a produção capitalista e as condições, de propriedade criadas por ela, forem removidas todas as considerações econômicas acessórias que ainda exercem uma influência tão poderosa na escolha dos esposos. Então, o matrimônio já não terá outra causa determinante que não a inclinação recíproca. A origem da familia da propriedade privada e do estado. São Paulo: La Fonte, 2017, p. 106
E, desde que o amor sexual é, por sua própria natureza, exclusivista - embora em nossos dias esse exclusivismo só se realize plenamente sobre a mulher - o matrimônio baseado no amor sexual será, por sua própria natureza, monogâmico...
Idem, p. 107
Para isso era necessária a monogamia da mulher, mas não a do homem; tanto assim que a monogamia daquela não constituiu o menor empecilho á poligamia, oculta ou descarada, deste. Mas a revolução social iminente, transformando pelo menos a imensa maioria das riquezas duradouras hereditárias - os meios de produção - em propriedade social, reduzirá ao mínimo todas essas preocupações de transmissão por herança. E agora cabe a pergunta: tendo surgido de causas econômicas, a monogamia desaparecerá quando desaparecerem essas causas ?
A resposta poderia ser, e não sem fundamento: longe de desaparecer, antes há de se realizar plenamente a partir desse momento. Porque com a transformação dos meios de produção em propriedade social desaparecem o trabalho assalariado, o proletariado, e, consequentemente, a necessidade de se prostituírem algumas mulheres, em número estatisticamente calculável. Desaparece a prostituição e, em lugar de decair, a monogamia chega enfim a ser uma realidade - também para os homens...
Idem ,p.100
Marx escreveu uma carta a Engels em 22 de junho de 1869. comentário de Engels sobre o livro Uranismo, de Karl Heinrich Ulrichs, enviado para ele.
O Uranismo [Urnings] que você me enviou é algo muito curioso. Há revelações extremamente antinaturais. Os pederastas já são numerosos e estão descobrindo que constituem um poder no Estado. Só lhes falta a organização, mas, segundo parece, ela já existe em segredo. Além disso, contam com homens importantes em todos os partidos mais antigos e, até mesmo, nos mais recentes. E como eles têm homens tão importantes em todos os partidos antigos e até nos novos, de Rösing a Schweitzer, eles não podem deixar de triunfar. Daqui em diante, vai virar moda dizer guerre aux cons, paix aux trous-de-cul.[guerra aos idiotas, paz aos idiotas ] que sorte a nossa por sermos demasiados idosos. Assim, não temos a obrigação de pagar tributo com o nosso corpo diante da vitória desse partido. Mas e a jovem geração! Diga-se de passagem, apenas na Alemanha é que um tipo semelhante pode manifestar-se e transformar tal obscenidade em teoria, e oferecer um convite, "entre". Infelizmente, ele ainda não tem coragem de confessar publicamente o que é.... Mas, está aguardando somente que o novo Código Penal da Alemanha do Norte reconheça os ‘direitos da sacanagem’ e a situação vai mudar completamente. Então, as coisas vão mal o suficiente para pessoas pobres como nós, com nossa tendência infantil para as mulheres. Se Schweitzer pudesse ser útil para alguma coisa, seria para arrancar desse cavalheiro peculiar e honrado as particularidades dos pederastas em lugares altos e altos, o que certamente não seria difícil para ele como um irmão de espírito. (MARX & ENGELS, 2010, Lawrence & Wishart Electric Book, p. 295-6). Manchester, 22 June 1869
"Com o tempo, essa família ateniense chegou a ser o tipo pelo qual modelaram suas relações domésticas não apenas o resto dos jônios como, ainda, todos os gregos da metrópole e das colônias.Entretanto, apesar do seqüestro e da vigilância, as gregas achavam muitas e freqüentes ocasiões para enganar os seus maridos. Estes, que se teriam ruborizado de demonstrar o menor amor às suas mulheres, divertiam-se com toda espécie de jogos amorosos com hetairas; mas o envilecimento das mulheres refluiu sobre os próprios homens e também os envilece, levando-os às repugnantes práticas da pederastia e a desonrarem seus deuses e a si próprios, pelo mito de Ganimedes *. A origem da familia da propriedade privada e do estado. São Paulo: La Fonte, 2017,p. 88
"Ganimedes , grego Ganymēdēs, latim Ganymedes, ou Catamitus , na lenda grega , o filho de Tros (ou Laomedon), rei de Tróia . Por causa de sua beleza incomum, ele foi levado pelos deuses ou por Zeus , disfarçado de águia , ou, de acordo com uma conta cretense, por Minos , para servir como copeiro. Em compensação, Zeus deu ao pai de Ganimedes um garanhão de cavalos imortais (ou uma videira dourada). As primeiras formas do mito não têm conteúdo erótico, mas no século V AC acreditava-se que o seqüestrador de Ganimedes tinha uma paixão homossexual por ele; O seqüestro de Ganimedes foi um tópico popular em vasos áticos do século V. A palavra inglesa catamite foi derivada da forma latina popular de seu nome. Mais tarde ele foi identificado com a constelação Aquarius." Encyclopaedia Britannica https://www.britannica.com/topic/Ganymede-Greek-mythology
Se o marxismo por natureza defende os interesses LGBT por que seus lideres perseguiram os homossexuais?
O aborto era a primeira etapa, mas outras atitudes reaccionárias que tinham persistido não tardaram a reafirmar-se. A legislação revolucionária tinha abolido o velho parágrafo
czarista que sujeitava a homossexualidade a penalidades; quinze anos depois, em Março de 1934, foi de novo adoptado com penas que iam de três a oito anos. É extremamente elucidativo sobre o despertar do sentimento patriarcal observar que na Rússia, como em qualquer outra parte, a homossexualidade só é reconhecida e punida entre machos; a homossexualidade entre mulheres é considerada como impensável ou não existente
(2). Houve prisões e perseguições em massa aos homossexuais, assim como campanhas de propaganda sobre o tema: a homossexualidade é «decadente», «oriental», «burguesa» e
até «fascista» (culpabilidade por associação com a Männerbünde nazi). Política Sexual. Kate MIllet Lisboa: Dom Quixote, 1979, p. 168
Data de 1971 a infeliz resolução do Primeiro Congresso Nacional de Educação e Cultura de Cuba onde se decretou que
“os desvios homossexuais representam uma patologia anti-social, não admitindo de forma alguma suas manifestações, nem sua propagação, estabelecendo como medidas preventivas o afastamento de reconhecidos homossexuais artistas e intelectuais do convívio com a juventude, impedindo gays, lésbicas e travestis de representarem artisticamente Cuba em festivais no exterior.”
Foram então estabelecidas penas severas para “depravados reincidentes e elementos anti-sociais incorrigíveis”.
Em 1959 ao tomar o poder em Cuba, Fidel declarou que “um homossexual não pode ser um revolucionário”.
Em 1965 Fidel e Che Guevara criam as Unidades Militares de Ajuda à Produção, acampamentos de trabalho agrícola em regime militar, com cercas de 4 metros de arame farpado, onde os homossexuais e outros “marginais” realizavam trabalho forçado nos canaviais, com até 16 horas de trabalho forçado, em condições desumanas muito semelhantes aos campos de concentração nazistas. Inúmeros artistas e escritores homossexuais foram perseguidos nesta ocasião: Virgílio Piñera, Lezama Lima, Gallagas, Anton Arrulat, Ana Maria Simo, inclusive o poeta norte-americano Alien Ginsberg, expulso por ter divulgado que era rumor permanente em Cuba e no exterior, que o irmão de Fidel, Raul Castro, era homossexual enrustido. Outro jornalista gay a ser perseguido foi Allen Young, que de garoto propaganda da revolução cubana, tornou-se persona non grata ao denunciar a crueldade da homofobia nesta ilha. Este norte-americano esteve no Brasil e ficou célebre ao recusar cumprimentar o então presidente Castelo Branco.
Em 1980, segundo informes oficiais, 1700 “homossexuais incorrigíveis” de Cuba foram deportados para os Estados Unidos, embora organizações de direitos humanos calculem que ultrapassaram 10 mil gays e travestis expulsos de seu país. No início da crise da Aids, Cuba foi denunciada internacionalmente pela criação de rigorosas prisões para “sidosos”, (doentes de aids), em sua maior parte, homossexuais. Segundo o Presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira, “Fidel Castro tem um dívida histórica a ser resgatada com a humanidade: deve assumir que errou gravemente em tornar Cuba um inferno para os homossexuais e transexuais, causando muita dor, sofrimento, estigmatização e morte de milhares de amantes do mesmo sexo.”Em recente entrevista ao jornal mexicano La Jornada, a própria sobrinha de Fidel Castro, Mariela Castro, sexóloga responsável pelo Centro Nacional de Educação Sexual de Cuba (Cenesex), reconheceu que “a homofobia oficial desenvolvida pelo regime cubano nas últimas décadas foi um erro.” O premiado filme Morango e Chocolate, de Reinaldo Arenas, mostra realisticamente a crueldade deste “erro” capitaneado por El Comandante Fidel; Arenas, vítima desta repressão, suicidou-se em 1990 aos 47 anos. http://www.ggb.org.br/cuba_livre.html acesso em 24/3/2018
- Foi um termo criado pela igreja católica para se referir aos estudos de gênero ou a perspectiva de gênero após a Conferência da ONU de Beijing (1995)
- A ideia de gênero como ideologia foi introduzida por Joseph Ratzinger em 1997, antes de ele se tornar o papa Bento 16. Depois disso apareceu em vários documentos da Igreja Católica.
- O maior divulgador do conceito de 'ideologia de Gênero foi o argentino Jorge Escala em 2010
- Um dos maiores nomes dos estudos de genero é Judite Butler, que atualmente abandonou os estudos do tema.
"A americana de 61 anos é doutora em Filosofia pela Universidade de Yale e dá aulas há 24 anos na Universidade da Califórnia em Berkley, uma das principais instituições de ensino dos Estados Unidos.Entre 1988 e 1993, publicou trabalhos considerados hoje base de áreas de estudos conhecidas como teoria queer e de gênero, segundo as quais há uma diferença entre o sexo biológico e as identidades masculina e feminina que, além de serem formadas por aspectos físicos, seriam também construções sociais por receberem influências históricas e sociais.
"Sou vista como a fundadora do conceito ou sua principal representante, mas meu trabalho nessa área tem 25 anos e não é o que faço atualmente", afirma Butler.
"Tinha uma carreira em Antropologia e Sociologia bem antes de começar a usar o conceito, que hoje é uma ideia amplamente aceita em qualquer instituição de pesquisa internacional", diz, em referência à visão sobre gênero como um fenômeno também social e não apenas biológico.Aqueles que se opõem a estes conceitos, como os criadores da campanha contra a filósofa, afirmam se tratar não de uma teoria, mas de uma ideologia de gênero que, mascarada como uma luta contra o preconceito, buscaria subverter as noções tradicionais de sexualidade e, assim, corromper institutos sociais, como a família."http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41820744
Se Ratzinger começa a mencionar os perigos da “perspectiva de gênero” em 1997, é possível reconhecer no Documento de Aparecida (2007) a disseminação da noção entre os bispos católicos latino-americanos até tornar-se tema de textos leigos como o citado livro do ativista católico argentino Jorge Scala (2010). MISKOLCI, Richard; CAMPANA, Maximiliano. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Soc. estado., Brasília , v. 32, n. 3, p. 725-748, dez. 2017 .
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922017000300725&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 mar. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/s0102-69922017.3203008.
A mal chamada […] “perspectiva” […] de gênero, é, na verdade, uma ideologia. Provavelmente a ideologia mais radical da história, posto que - ao impor-se -, destruiria o ser humano em seu núcleo mais íntimo e, simultaneamente, acabaria com a sociedade (Scala, 2010: 7)1.
Com esse parágrafo, Jorge Scala começa seu livro La ideología del género. O el género como herramienta de poder. Segundo o autor, a “ideologia de gênero” é um instrumento político-discursivo de alienação com dimensões globais que busca estabelecer um modelo totalitário com a finalidade de “impor uma nova antropologia” a provocar a alteração das pautas morais e desembocar na destruição da sociedade. O livro, que tem por finalidade “despertar consciências adormecidas, e ajudá-las a trabalhar por um mundo melhor” (Scala, 2010: 8), provocou grande impacto, não apenas na Argentina, onde foi publicado pela primeira vez, mas também em outros países (tendo sido também traduzido para o português)...
Na América Latina, o livro de Scala teve influência importante, sendo o combate contra o que denomina como “ideologia” o que justificou manifestações que vão desde movimentos a favor da família tradicional até manifestações contra políticas de governos de esquerda. Iniciada na Argentina e no Brasil, a disseminação da gramática político-moral da noção de ideologia de gênero já alcançou, em 2016, países como o México e a Colômbia, contribuindo, no caso do primeiro para a luta contra a aprovação do “matrimonio sin discriminación” e, no último, para a vitória do não à paz no plebiscito que visava referendar o acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)2. As origens das ideias que sustentam a existência de uma “ideologia de gênero” podem encontrar-se no seio da Igreja Católica, mais especificamente nos textos do então cardeal Joseph Aloisius Ratzinger, que, em 1997, escrevia:
Atualmente se considera a mulher como um ser oprimido; assim que a liberação da mulher serve de centro nuclear para qualquer atividade de liberação tanto política como antropológica com o objetivo de liberar o ser humano de sua biologia. Se distingue então o fenômeno biológico da sexualidade de suas formas históricas, às quais se denomina “gender”, mas a pretendida revolução contra as formas históricas da sexualidade culmina em uma revolução contra os pressupostos biológicos. Já não se admite que a “natureza” tenha algo a dizer, é melhor que o homem possa moldar-se ao seu gosto, tem que se libertar de qualquer pressuposto de seu ser: o ser humano tem que fazer a si mesmo segundo o que queira, apenas desse modo será “livre” e liberado. Tudo isso, no fundo, dissimula uma insurreição do homem contra os limites que leva consigo como ser biológico. Se opõe, em seu extremo último, a ser criatura. O ser humano tem que ser seu próprio criador, versão moderna de aquele “serei como deuses”: tem que ser como Deus (Ratzinger, 1997: 142).
Este parágrafo do atual papa emérito Bento XVI se constituiria uma peça-chave para começar a desenhar uma contraofensiva político-discursiva poderosa contra o feminismo e sua proposta de reconhecimento e avanço em matéria de direitos sexuais e reprodutivos.O texto de Ratzinger é um ataque às ideias feministas que se gestavam há décadas, mas poderia se dizer que é uma reação mais direta à Conferência Mundial de Beijing sobre a Mulher, organizada pelas Nações Unidas, em 1995. Esta quarta conferência caracterizou-se por substituir o termo “mulher” (que havia sido o principal sujeito nas primeiras três conferências)3 pelo conceito de gênero, estabelecendo que[...] todas as políticas e instituições econômicas [dos governos e da comunidade internacional], assim como aqueles encarregados de conceder recursos devem adotar uma perspectiva de gênero (Declaração e Plataforma de Ação de Beijing, 1995: 265).
Dessa forma, nessa conferência se reconheceu que a desigualdade da mulher é um problema estrutural e só pode ser abordada de uma perspectiva integral de gênero.Essas declarações, que tinham um alcance global, colocaram a categoria “gênero”4 no centro dos debates que giravam em torno do papel da mulher, provocando uma importante reação por parte de diversos setores religiosos conservadores e, em especial, da própria Igreja Católica. Assim, por causa dessa conferência, o papa João Paulo II, em sua “Carta às mulheres”, se referiu à necessidade de defender a identidade feminina desde uma perspectiva essencialista e, alguns anos depois, na “Carta aos bispos”, de 31 de maio de 2004, manifestou-se contra o discurso feminista, reiterando que a maternidade era um elemento-chave da identidade feminina (ponto 13).
A partir de então, a contraofensiva católica (e posteriormente de todo o conservadorismo religioso) seria o combate a essa “perspectiva de gênero”. Para isso, começou a atacar, afirmando que na verdade não era mais do que uma ferramenta ideológica de dominação e, assim, a desarticular, desconfigurar e reprovar as ideias e mensagens feministas. Esses setores começaram a definir a “ideologia de gênero” como “um sistema de pensamento fechado” a defender que as diferenças entre o homem e a mulher não correspondem a uma natureza fixa, senão que são construções culturais e convencionais, feitas segundo os papéis e estereótipos que cada sociedade designa aos sexos (Scala, 2010). E como ideologia, as equipara aos diversos totalitarismos, incluindo o nazismo e o comunismo.
A noção de “ideologia de gênero” aparece mesmo nas discussões da Igreja Católica latino-americana e na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (Celam) de 2007, conhecido como “Documento de Aparecida”. Na seção vinculada à realidade que atravessa a região, é clara a preocupação em relação às demandas de cidadania por homossexuais quando afirma:40. Entre os pressupostos que enfraquecem e menosprezam a vida familiar, encontramos a ideologia de gênero, segundo a qual cada um pode escolher sua orientação sexual, sem levar em consideração as diferenças dadas pela natureza humana. Isso tem provocado modificações legais que ferem gravemente a dignidade do matrimônio, o respeito ao direito à vida e a identidade da família (Celam, 2007: 30).
Nesse documento, a Igreja Católica latino-americana afirma que a defesa do conceito tradicional de família deve ser um eixo prioritário de luta, já que se encontra ameaçada pelo secularismo e pelo relativismo ético, pelos diversos fluxos migratórios internos e externos, pela pobreza, pela instabilidade social e por legislações civis contrárias ao matrimônio que, ao favorecer os anticoncepcionais e o aborto, ameaçam o futuro dos povos (Celam, 2007: 279).
O documento de Aparecida estabelece uma agenda comum contra o que denomina “ideologia de gênero”, algo que foi exposto primeiramente pelo cardeal Ratzinger e logo retomado em outros documentos oficiais da Igreja, como foi o Conselho Pontifício para a Família (“Família, matrimônio e uniões de fato”, 21 de novembro de 2000) e, posteriormente, na Congregação para a Doutrina da Fé, “Carta aos bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo” (maio de 2004). Em suma, com o documento de Aparecida, a batalha contra a “ideologia de gênero” era declarada em toda a América Latina.
A luta contra a “ideologia de gênero” é uma forma de resistência contra os recentes avanços que vêm se dando na América Latina em matéria de direitos sexuais e reprodutivos. Jorge Scala (2010: 30) considera que tais direitos não são mais do que o resultado da manipulação da linguagem, em que os “ideólogos de gênero” convencem a seus interlocutores afirmando tratar-se de direitos humanos e assim os “submetem” sem resistência já que “tudo aquilo que se apresenta ao povo como fruto de um consenso democrático imediatamente é considerado como algo bom mesmo quando é um ato criminoso”, posto que ninguém poderia opor-se à defesa dos direitos humanos...
...não é de se estranhar que a luta contra a “ideologia de gênero” se torne um eixo prioritário de ação política. Ação que não se limita a documentos ou declarações da Igreja, mas também de diversas organizações não governamentais denominadas de “pró-vida” e que se caracterizam por terem um acentuado perfil religioso conservador. A partir de diversas ações políticas (como lobby legislativo ou denúncias a funcionários públicos), jurídicas (como a apresentação de ações judiciais em que usam argumentos legais e “científicos” sobre os perigos da “ideologia de gênero” para a sociedade) e midiáticas (através de manifestações públicas, programas de rádio e televisão ou congressos “acadêmicos”) instalam nas discussões públicas os “perigos sociais” que representariam essa “ideologia”. Essas organizações se apresentam como seculares e democráticas, genuínas representantes da sociedade civil, e, portanto, interlocutoras legítimas na hora de estabelecer negociações com os poderes do Estado...
De qualquer forma, não é apenas a Igreja Católica e as organizações pró-vida que se reúnem em torno de seus preceitos religiosos as únicas instituições que lideram essa cruzada. Organizações evangélicas se uniram à “causa” e em vários países da região tiveram um enorme impacto para impedir o avanço dos direitos sexuais e reprodutivos. Somam-se a esses grupos, outros, os quais apoiam a batalha por razões não apenas religiosas, caso do Programa Escola sem Partido, no Brasil, criado em 2004 como reação às práticas educacionais que seus defensores definem como “doutrinação política e ideológica na sala de aula” e “usurpação do direito dos pais sobre a educação moral e religiosa de seus filhos”6. MISKOLCI, Richard; CAMPANA, Maximiliano. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Soc. estado., Brasília , v. 32, n. 3, p. 725-748, dez. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922017000300725&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 mar. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/s0102-69922017.3203008.
"A ideia de gênero como ideologia foi introduzida por Joseph Ratzinger em 1997, antes de ele se tornar o papa Bento 16. O trabalho acadêmico de Richard Miskolci e Maximiliano Campana [1] acompanha a recepção desse conceito em diversos documentos do Vaticano.
Em 2010, o argentino Jorge Scala lançou um livro intitulado "La Ideologia de Género", que foi traduzido ao português por uma editora católica [Katechesis]. Esse pode ter sido um ponto de virada para as recepções de "gênero" no Brasil e na América Latina.
De acordo com a caricatura feita por Scala, aqueles que trabalham com gênero negam as diferenças naturais entre os sexos e pensam que a sexualidade deve ser livre de qualquer restrição. Aqueles que se desviam da norma do casamento heterossexual são considerados indivíduos que rejeitam todas as normas.
Vista por essa lente, a teoria de gênero não só nega as diferenças biológicas como gera um perigo moral. No aeroporto de Congonhas, em São Paulo, uma das mulheres que me confrontaram começou a gritar coisas sobre pedofilia. Por que isso? É possível que ela pense que homens gays são pedófilos e que o movimento em favor dos direitos LGBTQI nada mais é do que propaganda pró-pedofilia. (Judith Butler)
Assim, em primeiro lugar e acima de tudo, "Problemas de Gênero" buscou afirmar a complexidade de nossos desejos e identificações de gênero e se juntar àqueles integrantes do movimento LGBTQ moderno que acreditavam que uma das liberdades fundamentais que precisam ser respeitadas é a liberdade de expressão de gênero.
O livro negou a existência de uma diferença natural entre os sexos? De maneira nenhuma, embora destaque a existência de paradigmas científicos divergentes para determinar as diferenças entre os sexos e observe que alguns corpos possuem atributos mistos que dificultam sua classificação.
Também afirmei que a sexualidade humana assume formas diferentes e que não devemos presumir que o fato de sabermos o gênero de uma pessoa nos dá qualquer pista sobre sua orientação sexual. Um homem masculino pode ser heterossexual ou gay, e o mesmo raciocínio se aplica a uma mulher masculina.
Nossas ideias de masculino e feminino variam de acordo com a cultura, e esses termos não possuem significados fixos. Eles são dimensões culturais de nossas vidas que assumem formas diferentes e renovadas no decorrer da história e, como atores históricos, nós temos alguma liberdade para determinar esses significados.
Mas o objetivo dessa teoria era gerar mais liberdade e aceitação para a gama ampla de identificações de gênero e desejos que constitui nossa complexidade como seres humanos.
Esse trabalho, e muito do que desenvolvi depois, também foi dedicado à crítica e à condenação da violação e da violência corporais.
Além disso, a liberdade de buscar uma expressão de gênero ou de viver como lésbica, gay, bissexual, trans ou queer (essa lista não é exaustiva) só pode ser garantida em uma sociedade que se recusa a aceitar a violência contra mulheres e pessoas trans, que se recusa a aceitar a discriminação com base no gênero e que se recusa a transformar em doentes e aviltar as pessoas que abraçaram essas categorias no intuito de viverem uma vida mais vivível, com mais dignidade, alegria e liberdade.
Meu compromisso é me opor às ofensas que diminuam as chances de alguém viver com alegria e dignidade. Assim, sou inequivocamente contra o estupro, o assédio e a violência sexual e contra todas as formas de exploração de crianças. Liberdade não é — nunca é — a liberdade de fazer o mal. Se uma ação faz mal a outra pessoa ou a priva de liberdade, essa ação não pode ser qualificada como livre —ela se torna uma ação lesiva..."
A teoria da performatividade de gênero busca entender a formação de gênero e subsidiar a ideia de que a expressão de gênero é um direito e uma liberdade fundamentais. Não é uma "ideologia".http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/11/1936103-judith-butler-escreve-sobre-o-fantasma-do-genero-e-o-ataque-sofrido-no-brasil.shtml
5- A destruição da família é uma ideia marxista, de Marx e de Engels?
- Não. Marx e Engels defendiam a libertação da mulher da opressão masculina. Mas eram a favor da monogamia, mas com direitos iguais entre homem e mulher. ou seja, a monogamia não iria desaparecer e sim fortalecer
"o primeiro antagonismo de classes que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher, na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino. A monogamia foi um grande progresso histórico, mas, ao mesmo tempo, iniciou, juntamente com a escravidão e as riquezas privadas, aquele período, que dura até nossos dias, no qual cada progresso é simultaneamente um retrocesso relativo, e o bem-estar e o desenvolvimento de uns se verificam às custas da dor e da repressão de outros....
A origem da familia, da propriedade privada e do Estado. Engels. São Paulo: La Fonte, 201p. 89
De igual modo, o caráter particular do predomínio do homem sobre a mulher na família moderna, assim como a necessidade e o modo de estabelecer uma igualdade social efetiva entre ambos, não se manifestarão com toda a nitidez senão quando homem e mulher tiverem, por lei, direitos absolutamente iguais. Então é que se há de ver que a libertação da mulher exige, como primeira condição, a reincorporação de todo o sexo feminino á indústria social, o que, por sua vez, requer a supressão da família individual enquanto unidade econômica da sociedade... Idem ,p. 99
Para isso era necessária a monogamia da mulher, mas não a do homem; tanto assim que a monogamia daquela não constituiu o menor empecilho á poligamia, oculta ou descarada, deste. Mas a revolução social iminente, transformando pelo menos a imensa maioria das riquezas duradouras hereditárias - os meios de produção - em propriedade social, reduzirá ao mínimo todas essas preocupações de transmissão por herança. E agora cabe a pergunta: tendo surgido de causas econômicas, a monogamia desaparecerá quando desaparecerem essas causas ?
A resposta poderia ser, e não sem fundamento: longe de desaparecer, antes há de se realizar plenamente a partir desse momento. Porque com a transformação dos meios de produção em propriedade social desaparecem o trabalho assalariado, o proletariado, e, consequentemente, a necessidade de se prostituírem algumas mulheres, em número estatisticamente calculável. Desaparece a prostituição e, em lugar de decair, a monogamia chega enfim a ser uma realidade - também para os homens...
Idem ,p.100
O matrimônio, pois, só se realizará com toda a liberdade quando, suprimidas a produção capitalista e as condições, de propriedade criadas por ela, forem removidas todas as considerações econômicas acessórias que ainda exercem uma influência tão poderosa na escolha dos esposos. Então, o matrimônio já não terá outra causa determinante que não a inclinação recíproca. Idem, p. 106
E, desde que o amor sexual é, por sua própria natureza, exclusivista - embora em nossos dias esse exclusivismo só se realize plenamente sobre a mulher - o matrimônio baseado no amor sexual será, por sua própria natureza, monogâmico...
Idem, p. 107
Por isso, quando chegarem a desaparecer as considerações econômicas em virtude das quais as mulheres foram obrigadas a aceitar essa infidelidade masculina habitual - a preocupação pela própria subsistência e, ainda mais, pelo futuro dos filhos - a igualdade alcançada pela mulher, a julgar por toda a nossa experiência anterior, influirá muito mais no sentido de tornar os homens monógamos do que no de tornar as mulheres poliandras. Mas o que, sem sombra de dúvida, vai desaparecer da monogamia é o conjunto dos caracteres que lhe foram impressos pelas relações de propriedade a que deve sua origem. Esses caracteres são, em primeiro lugar, a preponderância do homem e, depois, a indissolubilidade do matrimônio.... Idem, p. 107
Isso se verá quando uma nova geração tenha crescido: uma geração de homens que nunca se tenham encontrado em situação de comprar, à custa de dinheiro, nem com a ajuda de qualquer outra força social, a conquista de uma mulher; e uma geração de mulheres que nunca se tenham visto em situação de se entregar a um homem em virtude de outras considerações que não as de um amor real, nem de se recusar a seus amados com receio das conseqüências econômicas que isso lhes pudesse trazer. E, quando essas gerações aparecerem, não darão um vintém por tudo que nós hoje pensamos que elas deveriam fazer. Estabelecerão suas próprias normas de conduta e, em consonância com elas, criarão uma opinião pública para julgar a conduta de cada um. E ponto final...
Como a família monogâmica se aperfeiçou a partir dos começos da civilização e, de uma maneira muito notável nos tempos modernos, é lícito pelo menos supor que seja capaz de continuar seu aperfeiçoamento até que chegue à igualdade entre os dois sexos.... Idem, p. 109Engels fala do fim da família como sistema opressor e econômico, frase esta citada frequentemente contextualizada na internet:
“Então é que se há de ver que a libertação da mulher exige, como primeira condição, a reincorporação de todo o sexo feminino à indústria social, o que, por sua vez, requer a supressão da família monogâmica como unidade econômica da sociedade”
Marx e Engels falavam do controle do estado na educação das crianças e da proliferação de sexo livre como consequencia da implantação da revolução comunista (que nunca aconteceu):
"Em todo caso, modificar-se-á muito a posição dos homens. Mas, também, há de sofrer profundas transformações a das mulheres, a de todas elas. Quando os meios de produção passarem a ser propriedade comum, a família individual deixará de ser a unidade econômica da sociedade. A economia doméstica converter-se-á em indústria social. O trato e a educação das crianças tornar-se-ão público; a sociedade cuidará, com o mesmo empenho, de todos os filhos, sejam legítimos ou naturais. Desaparecerá, assim, o temor das "conseqüências", que é hoje o mais importante motivo social tanto do ponto de vista moral como do ponto de vista econômico - que impede uma jovem solteira de se entregar livremente ao homem que ama. Não bastará isso para que se desenvolvam, progressivamente, relações sexuais mais livres, e também para que a opinião pública se torne menos rigorosa quanto à honra das virgens e à desonra das mulheres ?
A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Engels. São Paulo: La Fonte, 2017, 101
b- O manifesto comunista fala da destruição da família burguesa, patriarcal QUANDO DESAPARECER O CAPITAL.
Ou seja, com a Revolução comunista tanto a familia burguesa quanto a familia o proletário iriam sofrer uma nova configuração. A mulher deixaria de ser explorada, bem como as crianças:
"Abolição da família! Até os mais radicais ficam indignados diante desse desígnio infame dos comunistas. Sobre que fundamento repousa a família atual, a família burguesa? No capital, no ganho individual. A família, na sua plenitude, só existe para a burguesia, mas encontra seu complemento na supressão forçada da família para o proletário e na prostituição pública. A família burguesa desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu complemento, e uma e outra desaparecerão com o desaparecimento do capital. Acusai-nos de querer abolir a exploração das crianças por seus próprios pais? Confessamos este crime. Dizeis também que destruímos os vínculos mais íntimos, substituindo a educação doméstica pela educação social. E vossa educação não é também determinada pela sociedade, pelas condições sociais em que educais vossos filhos, pela intervenção direta ou indireta da sociedade por meio de vossas escolas, etc? Os comunistas não inventaram essa intromissão da sociedade na educação, apenas mudam seu caráter e arrancam a educação à influência da classe dominante. As declamações burguesas sobre a família e a educação, sobre os doces laços que unem a criança aos pais, tornam-se cada vez mais repugnantes à medida que a grande indústria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as crianças em simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho.
Toda a burguesia grita em coro: "Vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade das mulheres!" Para o burguês, sua mulher nada mais é que um instrumento de produção. Ouvindo dizer que os instrumentos de produção serão explorados em comum, conclui naturalmente que haverá comunidade de mulheres. Não imagina que se trata precisamente de arrancar a mulher de seu papel atual de simples instrumento de produção....
10. Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material, etc." O manifesto comunistac-Algumas feministas radicais como Shulamita Firestone, defenderam sim todo tipo de relação como incesto, pedofilia, homossexualidade e o fim da monogamia. Shulamita era marxista, mas estas ideias não são marxistas.
'4. Liberdade sexual, amor, etc. Por enquanto não falamos muito sobre o amor, nem sobre a liberdade sexual, porque não há razão para isso ser um problema: não haverá nada os impedindo. Com uma licença total, as relações humanas finalmente seriam redefinidas para melhor. Se uma criança não conhece a própria mãe, ou pelo menos não atribui a ela um valor especial em relação às outras pessoas, é pouco provável que ela a escolha como seu primeiro objeto de amor apenas para depois ter que desenvolver inibições em relação a esse amor. É possível que a criança estabeleça suas primeiras relações físicas íntimas com pessoas de seu próprio tamanho, por mera conveniência física, exatamente como os homens e as mulheres podem preferir um ao outro em vez de pessoas do mesmo sexo, por mera conveniência física. Mas, se ao contrário ela escolhesse se relacionar sexualmente com os adultos, mesmo que isso se desse com a sua própria mãe genética, não haveria razões a priori para ela rejeitar seus avanços sexuais, uma vez que o tabu do incesto teria perdido valor. O household, forma social transitória, não estaria sujeito aos perigos da endogamia. Assim, sem o tabu do incesto, os adultos poderiam voltar, dentro de poucas gerações, a uma sexualidade mais natural"polimorfamente pervertida", a concentração na sexualidade genital e no prazer orgásmico dando lugar a relações físicas/emocionais totais que os incluíssem. As relações com as crianças incluiriam o grau de sexualidade genital que as crianças fossem capazes de ter provavelmente bem mais do que nós imaginamos hoje — mas pelo fato de a sexualidade não ser mais o foco dos relacionamentos, a ausência de orgasmo não constituiria um problema sério. Os tabus referentes à sexualidade entre adultos/crianças e à homossexualidade desapareceriam, tanto quanto as amizades não-sexuais (o amor "inibido quanto ao alvo", de Freud). Todas as relações íntimas incluiriam o relacionamento físico, desaparecendo de nossa estrutura psíquica o conceito de relações físicas exclusivas (monogamia), bem como a imagem de um Parceiro Ideal. Mas permanecem em conjuntura o tempo que levaria para essas mudanças acontecerem e as formas que elas tomariam. Os casos específicos não nos interessam aqui. Necessitamos apenas estabelecer as precondições para uma sexualidade livre. As formas que ela assumirá representariam seguramente um progresso dentro do que temos agora, "natural" no seu sentido mais autêntico. A dialética do Sexo. Shulamita Firestone.1970 p. 273-274
"Os primeiros movimentos feministas e homossexuais latino-americanos se organizam a partir da década de 1970 associados à luta contra a ditadura e a uma perspectiva política predominantemente de esquerda. No entanto, pesquisadoras mostram que a relação desses movimentos com a esquerda nunca foi sem tensões e constrangimentos. Em sua história do movimento feminista brasileiro, Céli Pinto (2003: 45) afirma que o feminismo era visto por muitos participantes da luta contra a ditadura militar (1964-1985) como um “desvio pequeno-burguês”. Sonia E. Alvarez (2014: 22), por sua vez, mostra que a esquerda revolucionária latino-americana “relegava a ‘questão da mulher’ ao status de uma ‘contradição secundária’”.
Tensão similar - e até mais contundente - se dava em relação aos nascentes movimentos homossexuais cuja causa era não apenas secundarizada, mas, muitas vezes, ridicularizada e rechaçada pela esquerda hegemônica8. Portanto, a pauta desses movimentos não foi reconhecida ou incorporada na aliança então esboçada em alguns contextos nacionais entre a Igreja Católica, os movimentos pró-democracia e as vertentes à esquerda preocupadas com temáticas como justiça social e maior igualdade econômica.
8. Na Argentina, durante os primeiros anos da década de 1970, a Juventude Peronista, movimento hegemônico de esquerda naquele momento, afastou a Frente de Liberación Homosexual que queria militar entre os peronistas sem deixar de assumir uma identidade homossexual (Bazán, 2010: 355)...
Desde 1999, políticos de esquerda chegam à Presidência da República em países como Venezuela (1999-presente), Brasil (2003-2016), Argentina (2003-2015), Bolívia (2006-presente), Chile (2006-2010 e 2014-presente) e Equador (2007-presente). Historicamente, como já comentado, partidos de esquerda tiveram maior proximidade dos movimentos sociais com uma agenda de justiça social em termos econômicos do que com movimentos vinculados a direitos humanos como os feministas e LGBT. De qualquer forma, provavelmente devido a demandas internacionais que levam a sociedade civil organizada a participar da discussão de políticas públicas, em alguns contextos nacionais sul-americanos a relação entre os movimentos sociais e os governos de esquerda passou a movimentar propostas de iniciativas educacionais e legais visando ao reconhecimento da igualdade de gênero, ao enfrentamento da homofobia, assim como à aprovação do casamento igualitário.... MISKOLCI, Richard; CAMPANA, Maximiliano. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Soc. estado., Brasília , v. 32, n. 3, p. 725-748, dez. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922017000300725&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 mar. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/s0102-69922017.3203008.
" Brasil, iniciativas educacionais envolvendo problemáticas das diferenças avançaram durante o governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), sendo a mais bem-sucedida a das relações étnico-raciais. O ensino da história da África e das relações étnico-raciais tornou-se lei e tem sido progressivamente adotado no ensino básico e fundamental assim como, mais recentemente, no ensino superior13. No que concerne a questões de gênero e sexualidade, Keila Deslandes (2016) afirma que a criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), em 2004, pelo então ministro da educação Tarso Genro, lançou as bases para a implementação de políticas educacionais visando promover a igualdade de gênero e o combate à homofobia.
O conflito entre iniciativas legislativas contra a homofobia e a posição religiosa se deflagra principalmente a partir da proposta da deputada Iara Bernardi (PT) do Projeto de Lei 122/2006 (Campos et alii, 2015: 168). Programas governamentais como o “Brasil sem homofobia”, assim como os voltados para a discussão de temáticas de direitos humanos, gênero e sexualidade na escola trazem o debate para as políticas educacionais. Segundo Maria das Dores Campos Machado é o lançamento do III Plano Nacional dos Direitos Humanos, no final de 2009, ainda no governo Lula, que “funcionou como uma fagulha no campo já minado das comunidades morais conflitantes” (Machado, 2017: 374),...
O Conselho Nacional LGBT foi criado apenas para dar um suposto verniz democrático a medidas e políticas criadas, na verdade, de cima para baixo. Além disso, o governo não implementou o que o conselho discutiu e, em algumas ocasiões, usou o conselho para fazer frente às demandas internacionais que solicitam que as políticas de direitos humanos sejam criadas em diálogo com a sociedade civil (Colling, 2013: 425).
Nesse contexto, não havia uma aliança entre o governo de esquerda e as demandas dos movimentos feministas e LGBT. Ao contrário, durante o governo Dilma, houve um distanciamento do governo federal em relação aos movimentos sociais em geral e, em especial, aqueles relacionados a direitos sexuais. Assim, as fontes consultadas convergem na percepção de que o governo Dilma não representou ameaça efetiva à agenda moral dos conservadores.
MISKOLCI, Richard; CAMPANA, Maximiliano. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Soc. estado., Brasília , v. 32, n. 3, p. 725-748, dez. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922017000300725&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 mar. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/s0102-69922017.3203008.
"Desde o fim da década de 1970, diversos ativistas homossexuais militavam em grupos partidários e muitos deles contribuíram, por exemplo, para a fundação do PT em 1980. Todavia, a relação entre o movimento homossexual com estas organizações partidárias tem sido caracterizada por diversas tensões e conflitos...".Contemporânea v. 6, n. 1, p. 182 Jan.–Jun. 2016.
Os militantes homossexuais vinculados à esquerda partidária tinham um duplo desafio: de um lado convencer seus “camaradas” de esquerda da importância de incluir a luta contra a opressão sexual como parte fundamental da luta por uma transformação global da sociedade; de outro demonstrar a seus companheiros de ativismo homossexual que a vinculação da causa homossexual à luta da esquerda não colocaria em xeque a autonomia do movimento frente às organizações partidárias. Contemporânea v. 6, n. 1, p. 185 Jan.–Jun. 2016
Todos estes fatos demonstram a dificuldade da esquerda partidária em contemplar a luta contra a discriminação dos homossexuais com parte constitutiva de seu projeto de transformação social. Contemporânea v. 6, n. 1, p. 186 Jan.–Jun. 2016O ativismo LGBTQ e sua ação nos partidos políticos
Durante a década de 1990 e os primeiros anos do novo século, PT e PSTU foram os únicos partidos brasileiros a contar com setoriais LGBT. Após 2006, observa-se o surgimento de setoriais LGBT em diversos partidos políticos brasileiros. A proliferação de setoriais LGBT em instâncias partidárias pode ser creditada a uma maior institucionalização da causa LGBT no Brasil, demonstrada pelo maior foco do ativismo em estabelecer organizações formais voltadas a demandas por direitos civis no campo político institucional.Contemporânea v. 6, n. 1, p. 189 Jan.–Jun. 2016
Até aqui foram apresentados setoriais LGBT criados em partidos políticos identificados na literatura especializada como de esquerda (Kinzo, 1993, Figueiredo e Limongi, 1999, Rodrigues, 2002)28. Há, contudo, uma grande “novidade” em relação à inclusão da questão da diversidade sexual no âmbito partidário brasileiro: a criação de setoriais LGBT em partidos comumente identificados como de “centro” e de “direita” no espectro ideológico. O primeiro destes partidos a contar com um setorial LGBT foi o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)...Contemporânea v. 6, n. 1, p. 191 Jan.–Jun. 2016 p. 191
...o grupo Diversidade Tucana (DT) só foi criado oficialmente em 2006. De acordo com seu presidente, Marcos Fernandes, o DT é uma tentativa de tornar mais orgânica a organização de LGBT dentro do PSDB29. O mesmo rejeita os rótulos de “conservador” e de “direita” muitas vezes atrelados ao PSDB, apontando o compromisso histórico do partido com a causa LGBT. Ele aponta, por exemplo, a inclusão da questão LGBT no Plano Nacional de Direitos Humanos ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) e a criação, pelo então prefeito de São Paulo, José Serra (2005-2006), do primeiro órgão de governo específico para tratar da questão da diversidade sexual...Por fim, identificou-se a existência do grupo “Movimento Diversidade PMDB”. Criado em 2009, o grupo está vinculado ao diretório estadual do Partido do Movimento DemocráticoContemporânea v. 6, n. 1, p. 191 Jan.–Jun. 2016
Se nas décadas de 1980 e 1990 havia certo “monopólio” da representação política de LGBT por partidos identificados como de esquerda, observa-se a pluralização desta representação, com grupos LGBT se organizando em partidos de posicionamento políticos mais ao centro e à direita do espectro ideológico. Mesmo no campo da esquerda, nota-se maior pluralização da representação, com outros partidos, além dos tradicionais apoiadores da causa LGBT (PT e PSTU), criando setoriais LGBT vinculados às suas estruturas partidárias. A despeito das diferenças existentes nos posicionamentos políticos dos partidos apresentados aqui, observa-se um elemento comum no que tange à inclusão da temática LGBT na estrutura partidária: o surgimento inicial de grupos e setoriais LGBT vinculados às estruturas municipais e estaduais dos partidos políticos. Contemporânea v. 6, n. 1, p. 192 Jan.–Jun. 2016
No caso específico do PT, a militância de homossexuais nas instâncias partidárias não significou, contudo, que o tema da livre orientação sexual foi “abraçado” por todos os setores do partido. Exemplo da dificuldade em vincular a luta pela livre orientação sexual às demandas da esquerda foi demonstrado durante a escolha do companheiro de chapa na primeira candidatura à presidência de Luís Inácio Lula da Silva em 1989. O primeiro nome escolhido pela convenção do partido foi o de Fernando Gabeira. Contudo, sua vinculação a temas polêmicos, como a descriminalização do uso da maconha e sua postura não suficientemente “viril”, contribuíram para o rechaço de seu nome para a candidatura à vice-presidência (Dehesa, 2007). Embora nunca tenha participado formalmente do movimento homossexual, vários militantes do PT e de outros partidos de esquerda acreditavam que a imagem de Gabeira estaria muito vinculada às minorias sexuais e poderia prejudicar a candidatura petista junto ao eleitorado (Trevisan, 2004). Até mesmo a criação de um setorial LGBT dentro da estrutura partidária do PT paulista, supostamente mais liberal do que outros estados brasileiros, sofreu várias oposições, sendo viabilizada apenas em 1992 (Green, 2003).Contemporânea v. 6, n. 1, p. 186 Jan.–Jun. 2016
Ao compararmos a postura do PT em relação à livre orientação sexual na década de 1980 e atualmente, é bem provável que observaremos maior abertura de parlamentares do PT (assim como também de outros partidos políticos) para as reivindicações do movimento LGBT. Contudo, as conveniências políticas oriundas da necessidade de angariar apoio eleitoral (a exemplo do tempo disponível na Propaganda Eleitoral Gratuita no rádio e na televisão) e de manter uma coalizão de governo integrada por vários opositores dos direitos LGBT acabam por em grande medida neutralizar a maior abertura do PT às reivindicações do movimento LGBT. Contemporânea v. 6, n. 1, p. 188 Jan.–Jun. 2016
Além de promover a articulação das demandas dos setoriais estaduais, o setorial Nacional LGBT tem atuado no sentido de promover as demandas LGBT junto a parlamentares petistas e às instâncias governamentais. O setorial tem sido crítico em relação às alianças entre o PT e partidos conservadores que, para viabilizar a governabilidade, acabam por comprometer as demandas LGBT, a exemplo do recente caso de suspensão da distribuição do “kit anti-homofobia”, descrito anteriormente. Contemporânea v. 6, n. 1, p. 179-212 Jan.–Jun. 2016 p. 189
7-Qual é a relação entre marxismo e estudos de gênero?
O marxicismo deu origem aos estudos subalternos, que fazem criticas aos discursos hegemonicos da sociedade, ou seja, estudos que atentam para as relações de poder na sociedade:
"A Teoria Queer e os Estudos Pós-Coloniais são parte de um conjunto que podemos chamar de teorias subalternas, que fazem uma crítica dos discursos hegemônicos na cultura ocidental"
http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf Sociologias, Porto Alegre, ano 11, nº 21, jan./jun. 2009, p 158
Stuart Hall afirma que a origem dos Estudos Culturais se deveu a uma oposição crítica às versões economicistas do marxismo vigente entre o final da década de 1950 e a seguinte no contexto acadêmico britânico (HALL, 2003). Assim, os estudos subalternos nascem do marxismo, mas em oposição a certa corrente ortodoxa que se tornara hegemônica, ao mesmo tempo em que deixava de responder às demandas de grupos sociais de sua época, inicialmente operários, aos quais se somaram os imigrantes, negros, mulheres e homossexuais Idem, p. 159
"Uma das contribuições da Teoria Queer – herdada do marxismo culturalizado de Gramsci e dos Estudos Culturais - é a de atentar para as relações de poder cuja “invisibilidade” torna-as mais eficientes." http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%2028/richard%20miskolci.pdf O corte da Sexualidade – A emergência do dispositivo de sexualidade no Brasil Richard Miskolci*P. 15
8-Os estudos de gênero negam o sexo biológico?
Não. Isto é uma caricatura do movimento:
Desde 1964, o psiquiatra norte-americano Robert Stoller vem desenvolvendo estudos sobre masculinidade, feminilidade e a questão da identidade de gênero, criando um ponto de partida para o estudo mais sistemático do travestismo. Este é um dos fenômenos da não-conformidade com as exigências sociais de “coerência” entre o sexo anatômico, a indumentária e o gestual supostamente referente ao sexo oposto. As travestis – pessoas cujo gênero e identidade social são opostos ao do seu sexo biológico e que vivem cotidianamente como pessoas do seu gênero de escolha – elaboram identidades que não devem ser entendidas como “cópias de mulheres”, mas como uma forma alternativa de identidades de gênero. Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Versão 2009. – Rio de Janeiro : CEPESC; Brasília : SPM, 2009.
"Em 2010, o argentino Jorge Scala lançou um livro intitulado "La Ideologia de Género", que foi traduzido ao português por uma editora católica [Katechesis]. Esse pode ter sido um ponto de virada para as recepções de "gênero" no Brasil e na América Latina.
De acordo com a caricatura feita por Scala, aqueles que trabalham com gênero negam as diferenças naturais entre os sexos e pensam que a sexualidade deve ser livre de qualquer restrição. Aqueles que se desviam da norma do casamento heterossexual são considerados indivíduos que rejeitam todas as normas.
Vista por essa lente, a teoria de gênero não só nega as diferenças biológicas como gera um perigo moral. No aeroporto de Congonhas, em São Paulo, uma das mulheres que me confrontaram começou a gritar coisas sobre pedofilia. Por que isso? É possível que ela pense que homens gays são pedófilos e que o movimento em favor dos direitos LGBTQI nada mais é do que propaganda pró-pedofilia. (Judith Butler)
Assim, em primeiro lugar e acima de tudo, "Problemas de Gênero" buscou afirmar a complexidade de nossos desejos e identificações de gênero e se juntar àqueles integrantes do movimento LGBTQ moderno que acreditavam que uma das liberdades fundamentais que precisam ser respeitadas é a liberdade de expressão de gênero.
O livro negou a existência de uma diferença natural entre os sexos? De maneira nenhuma, embora destaque a existência de paradigmas científicos divergentes para determinar as diferenças entre os sexos e observe que alguns corpos possuem atributos mistos que dificultam sua classificação.
Também afirmei que a sexualidade humana assume formas diferentes e que não devemos presumir que o fato de sabermos o gênero de uma pessoa nos dá qualquer pista sobre sua orientação sexual. Um homem masculino pode ser heterossexual ou gay, e o mesmo raciocínio se aplica a uma mulher masculina.
Nossas ideias de masculino e feminino variam de acordo com a cultura, e esses termos não possuem significados fixos. Eles são dimensões culturais de nossas vidas que assumem formas diferentes e renovadas no decorrer da história e, como atores históricos, nós temos alguma liberdade para determinar esses significados.
Mas o objetivo dessa teoria era gerar mais liberdade e aceitação para a gama ampla de identificações de gênero e desejos que constitui nossa complexidade como seres humanos.
Esse trabalho, e muito do que desenvolvi depois, também foi dedicado à crítica e à condenação da violação e da violência corporais.
Além disso, a liberdade de buscar uma expressão de gênero ou de viver como lésbica, gay, bissexual, trans ou queer (essa lista não é exaustiva) só pode ser garantida em uma sociedade que se recusa a aceitar a violência contra mulheres e pessoas trans, que se recusa a aceitar a discriminação com base no gênero e que se recusa a transformar em doentes e aviltar as pessoas que abraçaram essas categorias no intuito de viverem uma vida mais vivível, com mais dignidade, alegria e liberdade.
Meu compromisso é me opor às ofensas que diminuam as chances de alguém viver com alegria e dignidade. Assim, sou inequivocamente contra o estupro, o assédio e a violência sexual e contra todas as formas de exploração de crianças. Liberdade não é — nunca é — a liberdade de fazer o mal. Se uma ação faz mal a outra pessoa ou a priva de liberdade, essa ação não pode ser qualificada como livre —ela se torna uma ação lesiva...
A teoria da performatividade de gênero busca entender a formação de gênero e subsidiar a ideia de que a expressão de gênero é um direito e uma liberdade fundamentais. Não é uma "ideologia".http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/11/1936103-judith-butler-escreve-sobre-o-fantasma-do-genero-e-o-ataque-sofrido-no-brasil.shtml
"A americana de 61 anos é doutora em Filosofia pela Universidade de Yale e dá aulas há 24 anos na Universidade da Califórnia em Berkley, uma das principais instituições de ensino dos Estados Unidos.Entre 1988 e 1993, publicou trabalhos considerados hoje base de áreas de estudos conhecidas como teoria queer e de gênero, segundo as quais há uma diferença entre o sexo biológico e as identidades masculina e feminina que, além de serem formadas por aspectos físicos, seriam também construções sociais por receberem influências históricas e sociais.
"Sou vista como a fundadora do conceito ou sua principal representante, mas meu trabalho nessa área tem 25 anos e não é o que faço atualmente", afirma Butler.
"Tinha uma carreira em Antropologia e Sociologia bem antes de começar a usar o conceito, que hoje é uma ideia amplamente aceita em qualquer instituição de pesquisa internacional", diz, em referência à visão sobre gênero como um fenômeno também social e não apenas biológico.Aqueles que se opõem a estes conceitos, como os criadores da campanha contra a filósofa, afirmam se tratar não de uma teoria, mas de uma ideologia de gênero que, mascarada como uma luta contra o preconceito, buscaria subverter as noções tradicionais de sexualidade e, assim, corromper institutos sociais, como a família.O assunto já esteve antes no centro de outras polêmicas no Brasil. Há três anos, houve protestos quando, na elaboração das diretrizes nacionais de educação, a questão de gênero foi retirada do texto.O tema transbordou para os anos seguintes na aprovação de planos municipais e estaduais, com vetos a iniciativas que tratavam da promoção da igualdade, identidade de gênero, orientação sexual e sexualidade nas escolas.Em 2015, ainda gerou debate quando uma frase da filósofa francesa e expoente do feminismo Simone de Beauvoir - "ninguém nasce mulher: torna-se mulher" - fez parte de uma das questões do Enem."O conceito de gênero gera muito medo. É uma ideia muito mal compreendida e representada como caricatura. Até o papa Francisco condenou o 'gênero como uma ideologia diabólica'", diz Butler."É uma crítica feita pelo Catolicismo de direita que pegou entre quem acredita que o conceito nega as diferenças naturais entre os sexos e ameaça o casamento e a família, bases da heterossexualidade. Se você baseia a sua visão de mundo na Bíblia, então, a ideia de gênero vai ser mesmo ofensiva."...
À BBC Brasil, ela esclareceu: “Claro que há aspectos nossos que são sólidos, mas também é verdade que, dependendo da forma como somos criados, da cultura em que vivemos, diferentes possibilidades de desejo emergem em nós. Ser humano é viver na interseção entre biologia e cultura”.
A filósofa afirma que a meta de seu trabalho é criar uma sociedade “mais harmônica” ao promover a aceitação da diversidade e combater a misoginia, o racismo e a violência contra mulheres e transexuais.
“Muitos não querem flexibilizar as categorias de gênero, mas, para outros, é uma questão de vida ou morte”, afirma Butler.“Assim, mulheres percebem que podem fazer mais, homens podem se expressar mais, o amor gay e lésbico torna-se legítimo, as pessoas queer se veem como parte do mundo. O gênero abre para elas a possibilidade de respirar, viver, pertencer. É um espaço de compaixão para a luta que enfrentam.” http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41820744
9- O que realmente dizem os estudos de gênero, em especial a teoria Queer?
9.1 As categorias de sexo, gênero e desejo são impostas pelos regimes dominantes de poder por meio de instituições, práticas e discursos:
Explicar as categorias fundacionais de sexo, gênero e desejo como efeitos de uma formação específica de poder supõe uma forma de investigação crítica, a qual Foucault, reformulando Nietzsche, chamou de “genealogia". A crítica genealógica recusa-se a buscar as origens do gênero, a verdade íntima do desejo feminino, uma identidade sexual genuína ou autêntica que a repressão impede de ver; em vez disso, ela investiga as apostas políticas, designando como origem e causa categorias de identidade que, na verdade, sâo efeitos de instituições, práticas e discursos cujos pontos de origem são múltiplos e difusos. À tarefa dessa investigação é centrar-se — e descenrrar-se — nessas instituições definidoras: o falocentrismo e a heterossexualidade compulsória. 8-99.2 Não existem apenas dois gêneros, nem ralação entre gênero e sexo. O sexo biológico todos têm
A heterossexualidade compulsória e o falocentrísmo são compreendidos como regimes de poder/discurso Butler Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003p. 10
Se o gênero são os significados culturais assumidos pelo corpo sexuado, não se pode dizer que ele decorra, de um sexo desta ou daquela maneira. Levada a seu limite lógico, a distinção sexo/genero sugere uma descontinuidade radical entre corpos sexuados e gêneros culturalmente construídos. Supondo por um momento a estabilidade do sexo binário, não decorre daí que a construção de “homens” aplique-sc exdusivamen- te a corpos masculinos, ou que o termo “mulheres” interprete somente corpos femininos. Além disso, mesmo que os sexos pareçam não pro- blematicamente binários em sua morfologia e constituição (ao que será questionado), não há razão para supor que os gêneros também devam permanecer com número de dois.8 A hipótese de um sistema binário dos gêneros encerra implicitamente a crença numa relação mimética entre gênero e sexo, na qual o gênero reflete o sexo ou é por ele restrito.Butler Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003 p.25
E a tarefa é justamente formular, no interior dessa estrutura constituída, uma crítica às categorias de identidade que as estruturas jurídicas contemporâneas engendram, naturalizam e imobilizam. Butler Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003 p.22
Além disso, mesmo que os sexos pareçam não problematicamente binários em sua morfologia e constituição (ao que será questionado), não há razão para supor que os gêneros também devam permanecer cm número de dois.8 A hipótese de um sistema binário dos gêneros encerra implicitamente a crença numa relação mimética entre gênero e sexo, na qual o gênero reflete o sexo ou é por ele restrito.Butler Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003 p.24
Por outro lado, Beauvoir desejava afirmar que a pessoa nasce com um sexo, como um sexo, sexuada, e que ser sexuado e ser humano são condições coextensivas e simultâneas; o sexo é um atributo analítico do humano; não há ser humano que não seja sexuado; como atributo necessário, o sexo qualifica o ser humano. Mas o sexo não causa o gênero; e o gênero não pode ser entendido como expressão ou reflexo do sexo; aliás, para Beauvoir, o sexo é imutavelmente um fato, mas o gênero é adquirido, e ao passo que o sexo não pode ser mudado — ou assim pensava ela —, o gênero é a construção cultural variável do sexo, uma miríade de possibilidades abertas de significados culturais ocasionados pelo corpo sexuado. A teoria de Beauvoir implicava consequências aparentemente radicais, as quais ela própria não entretinha. Por exemplo, se o sexo c o gênero são radicalmente distintos, não decorre daí que ser de um dado sexo seja tornar-se de um cado gênero; em outras palavras, a categoria de “mulher” não é necessariamente a construção cultural do corpo feminino, e “homem” não precisa necessariamente interpretar os corpos masculinos.
Essa formulação radical da distinção sexo/gênero sugere que os corpos sexuados podem dar ensejo a uma variedade de gêneros diferentes, e que, além disso, o gênero em si não está necessariamente restrito aos dois usuais. Se o sexo não limita o gênero, então talvez haja gêneros, maneiras de interpretar culturalmente o corpo sexuado, que não são de forma alguma limitados pela aparente dualidade do sexo. Consideremos ainda a consequência de que, se o gênero é algo que a pessoa se torna — mas nunca pode ser —, então o próprio gênero é uma espécie de devir ou atividade, e não deve ser concebido como substantivo, como coisa substantiva ou marcador cultural estático, mas antes como uma ação incessante e repetida de algum tipo. Se o gênero não está amarrado ao sexo, causal ou expressivamente, então ele é um tipo de ação que pode potencialmentc proliferar-se além dos limites binários impostos pelo aspecto binário aparente do sexo. Na verdade, o gênero seria uma espécie de ação cultural/corporal que exige um novo vocabulário, o qual institui e faz com que proliferem particípios de vários tipos, categorias resinificáveis e expansíveis que resistem tanto ao binários como às restrições gramaticais substantivadoras que pesam sobre o gênero. Butler Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003 p.163-1649.3 O gênero é mutável
Concebida originalmente para questionar a formulação de que a biologia é o destino, a distinção entre sexo e gênero atende à tese de que, por mais que o sexo pareça intratável em termos biológicos, o gênero é culturalmente construído: consequentemente, não é nem o resultado causal do sexo, nem tampouco tão aparentemente fixo quanto o sexo. Assim, a unidade do sujeito já é potencialmente contestada pela distinção que abre espaço ao gênero como interpretação múltipla do sexo. Butler Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003p.p.24
Quando o status construído do gênero é teorizado como radicalmente independente do sexo, o próprio gênero se torna um artifício flutuante, com a consequência de que homem e masculino podem, com igual facilidade, significar tanto um corpo feminino como um masculino, e mulher e feminino tanto um corpo masculino como um feminino.Butler Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003 p.24-259.4 existe uma descontinuidade entre sexo e gênero, eles são independentes. Homem não é apenas individuo do sexo masculino
Se o gênero são os significados culturais assumidos pelo corpo sexuado, não se pode dizer que ele decorra, de um sexo desta ou daquela maneira. Levada a seu limite lógico, a distinção sexo/genero sugere uma descontinuidade radical entre corpos sexuados e gêneros culturalmente construídos. Supondo por um momento a estabilidade do sexo binário, não decorre daí que a construção de “homens” aplique-se exclusivamente a corpos masculinos, ou que o termo “mulheres” interprete somente corpos femininos. Além disso, mesmo que os sexos pareçam não problematicamente binários em sua morfologia e constituição (ao que será questionado), não há razão para supor que os gêneros também devam permanecer cm número de dois.8 A hipótese de um sistema binário dos gêneros encerra implicitamente a crença numa relação mimética entre gênero e sexo, na qual o gênero reflete o sexo ou é por ele restrito.Butler Judith. Problemas de g ênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003 p.24
Quando o status construído do gênero é teorizado como radicalmente independente do sexo, o próprio gênero se torna um artifício flutuante, com a consequência de que homem e masculino podem, com igual facilidade, significar tanto um corpo feminino como um masculino, e mulher e feminino tanto um corpo masculino como um feminino. Butler Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003p.24-25
9.5 A cultura heterossexual impõe apenas 2 gêneros
a estrutura binária heterossexista que cinzela os gêneros em masculino e feminino e impede uma descrição adequada dos tipos de convergência subversiva e imitativa que caracterizam as culturas gay e lésbica. Butler Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003 p.102-103
Butler (2003a) afirma que [o] gênero é a estilização repetida do corpo, um conjunto de atos repetidos no interior de uma estrutura regulatória altamente rígida, a qual se cristaliza no tempo para produzir a aparência de uma substância, de uma classe natural de ser. (p. 59). É, assim, a partir da repetição constante de certos atos impingidos no corpo que criamos nossas identidades. Esses atos são, para Butler, performativos, pois “a essência ou a identidade que pretendem expressar são fabricações manufaturadas e sustentadas por signos [sinais] corpóreos e outros meios discursivos” (Butler 2003a, p. 194). As performances de gênero e sexualidade são reguladas por normas que estabelecem como homens e mulheres devem agir – o que Butler identifica como heteronormatividade. Essas regras limitam as potencialidades dos gêneros, circunscrevendo-os a um binarismo castrador. Como mencionado acima, podemos ser homens ou mulheres (heterossexuais), e aqueles/as que rompem com as possibilidades de classificação, através de suas práticas, são tornados seres abjetos, culturalmente ininteligíveis e/ou desprezados, corpos que não importam (Butler, 1999).BORBA, R, 2015 p. 97
Consideremos a interpelação médica que, apesar da emergência recente das ecografias, transforma uma criança, de um ser "neutro" em um "ele ou em uma "ela": nessa nomeação, a garota torna-se uma garota, ela é trazida para o domínio da linguagem e do parentesco através da interpelação do gênero. Mas esse tornar-se garota da garota não termina ali; pelo contrário, essa interpelação fundante é reiterada por várias autoridades, e ao longo de vários intervalos de tempo, para reforçar ou contestar esse efeito naturalizado. A nomeação é, ao mesmo tempo, o estabelecimento de uma fronteira e também a inculcação repetida de uma norma...
...E se existe uma agência, ela deve ser encontrada, paradoxalmente, nas possibilidades abertas naquela — e por aquela — apropriação constrangida da lei regulatória, pela materialização daquela lei, pela apropriação e identificação compulsória com aquelas demandas normativas. A formação, a manufatura, o suporte, a circulação, a significação daquele corpo sexuado — tudo isso não será um conjunto de ações executadas em obediência à lei; pelo contrário, será um conjunto de ações mobilizadas pela lei, será a acumulação citacional e a dissimulação da lei produzindo efeitos materiais, será a necessidade vivida daqueles efeitos e a contestação vivida daquela necessidade....
Como resultado dessa reformulação da performatividade, (a) a performatividade de gênero não pode ser teorizada separadamente da prática forçosa e reiterativa dos regimes sexuais regulatórios; (b) a explicação da agência [pessoa] condicionada por aqueles próprios regimes de discurso/poder não pode ser confundida com o voluntarismo ou o individualismo, muito menos com o consumismo, e não pressupõe, de forma alguma, um sujeito que possa escolher; (c) o regime da heterossexualidade atua para circunscrever e contornar a "materialidade" do sexo e essa "materialidade" é formada e sustentada através de — e como — uma materialização de normas regulatórias que são, em parte, aquelas da hegemonia sexual; (d) a materialização de normas exige aqueles processos identificatórios pelos quais as normas são assumidas ou apropriadas, e essas identificações precedem e possibilitam a formação de um sujeito, mas não são, estritamente falando, executadas pelo sujeito; (e) os limites do construcionismo ficam expostos naquelas fronteiras da vida corporal onde corpos abjetos ou deslegitimados deixam de contar como "corpos". Se a materialidade do sexo é demarcada no discurso, então esta demarcação produzirá um domínio do "sexo" excluído e deslegitimado. Portanto, será igualmente importante pensar sobre como e para que finalidade os corpos são construídos, assim como será importante pensar BUTLER, J. 1999. Corpos que pensam: sobre os limites discursivos do sexo. In. G. Louro (org.), O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, pp. 151- 172.
9.6 os estudos de Gênero propõe uma mudança cultural
A teoria queer permite pensar a ambigüidade, a multiplicidade e a fluidez das identidades sexuais e de gênero mas, além disso, também sugere novas formas de pensar a cultura, o conhecimento, o poder e a educação (GUACIRA, p. 550, 2001)
A “reviravolta epistemológica” provocada pela teoria queer transborda, pois, o terreno da sexualidade. Ela provoca e perturba as formas convencionais de pensar e de conhecer. A sexualidade, polimorfa e perversa, é ligada à curiosidade e ao conhecimento (GUACIRA, p. 551, 2001)
Desta forma o movimento queer reflete a respeito da heteronormatividade, pela qual gays e lésbicas normalizados são aceitos, enquanto aqueles que fogem à norma são considerados abjetos, indesejados havendo uma crítica aos movimentos sociais (gays, lésbicas) que se pautam nas políticas de identidade. Assim existe uma receptividade com os excluídos do movimento homossexual, como travestis, transexuais, não brancos.Essa nova visão de mundo destaca as normas que criam o sujeito buscando desconstruir normas e convenções culturais, em uma perspectiva foucaultiana, salientando, ainda, o binário hétero-homo como uma construção histórica que deve ser repensada e analisada. Como consequência houve uma ampliação do conceito de gênero, que antes era entendido como sinônimo de mulheres, começando, com a teoria queer, a ser compreendido como elemento relacionado às normas e algo cultural que está presente tanto em homens como em mulheres.Foi em uma conferência na Califórnia, em fevereiro de 1990, que Teresa de Lauretis empregou a denominação Queer Theory empregou pela primeira vez a denominação Teoria Queer para contrastar para contrastar o empreendimento queer com os estudos gays e lésbicos.(MISKOLCI, 2007)
Ideologia no sentido comum
Conjunto de concepções abstratas que constituem mera análise ou discussão sem fundamento de ideias distorcidas da realidade. (Dicionário Michaelis)
b- Os estudos de gênero também estão certos ao afirmar que a biologia não determina a identidade de gênero, ou seja, o fato de um bebê ser do sexo masculino não significa que ele se identificará necessariamente como homem (identidade de gênero)., pois o Gênero é biopsicossocial, 99,99% da população tenha uma correspondencia entre sexo biiologico e orientação sexual, ou seja, são cisgênero) (vide DSM V- Manual Estatistico de Desordens Mentais) http://averacidadedafecrista.blogspot.com.br/2015/09/dsm-v-disforia-de-genero.html
Para indivíduos masculinos que se identificam femininos, a prevalência varia de 1:11.900 a 1:45.000 e para femininos que se identificam masculinos de 1:30.400 a 1:200.000. Guia Prático de Atualização Departamento Científico de Adolescência. Disforia de Gênero. SBP. p. 3, 2017.
1 em 11900 dá 0,008%;
1 em 30400 dá 0,003%c- Os estudos de gênero estão certos ao afirmar que a heterossexualidade não é determinada pela biologia, mas sim um fator biopisicossocial, embora segundo Kinsey 4 a 5% da população seja exclusivamente homossexual, no Brasil é 1,2%. ver Sexualidade Humana e seus Transtornos. 5ª edição. Carmita Abdo. São Paulo: Leitura Médica, 2014
Os dados, coletados em 2019, mostram que 94,8% da população adulta, o que equivale a 150,8 milhões de pessoas, identificam-se como heterossexuais, ou seja, têm atração sexual ou afetiva por pessoas do sexo oposto; 1,2%, ou 1,8 milhão, declaram-se homossexual, tem atração por pessoas do mesmo sexo ou gênero; e, 0,7%, ou 1,1 milhão, declara-se bissexual, tem atração por mais de um gênero ou sexo binário.
A pesquisa mostra ainda que 1,1% da população, o que equivale a 1,7 milhão de pessoas, disse não saber responder à questão e 2,3%, ou 3,6 milhões, recusaram-se a responder. Uma minoria, 0,1%, ou 100 mil, disse se identificar com outras orientações. Segundo o IBGE, quando perguntadas qual, a maioria respondeu se identificar como pansexual – pessoa cujo gênero e sexo não são fatores determinantes na atração; ou assexual – pessoa que não tem atração sexual.https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2022-05/ibge-divulga-levantamento-sobre-homossexuais-e-bissexuais-no-brasil
e- Moralmente falando, os estudos de gênero ao aprovar as relações bissexuais, homossexuais, fora do casamento, etc. chocam com os valores do Cristianismo descritos na bíblia. Por isso há oposição cristã ao ensino nas escolas de que essas relações são morais. Como exemplo temos os videos do kit "gay" http://averacidadedafecrista.blogspot.com.br/2013/07/videos-do-kit-gay-diminuem-homofobia.html
Teóricos e teóricas queer têm como alvo direto de investigação e crítica a construção da heteronormatividade, ou seja, as regras que normatizam e naturalizam a heterossexualidade como modo “correto” de estruturar o desejo. Revista Entrelinhas – BORBA, R, 2015 p. 96 BORBA, R. Revista Entrelinhas – Vol. 9, n. 1 (jan./jun. 2015) LINGUÍSTICA QUEER: UMA PERSPECTIVA PÓS-IDENTITÁRIA PARA OS ESTUDOS DA LINGUAGEMhttp://revistas.unisinos.br/index.php/entrelinhas/article/viewFile/10378/4862
f- Por outro lado os estudiosos do gênero acusam os militantes cristãos radicais de ir contra os direitos universais das pessoas que são LGBTQ. Um ponto contraditório desses radicais é o fato de embora a Bíblia ser contra TODAS as outras religiões, nem por isso os cristãos são contra a liberdade religiosa, pelo contrário. Do mesmo modo o fato da bíblia aceitar apenas a união heterossexual monogâmica dentro de um contrato civil ou familiar (dependendo da região), não dá direito a esses cristãos de tirar a liberdade de expressão sexual, ainda que estas estejam fora do padrão bíblico, como estão de fato as outras religiões.
Assim os ativistas do gênero consideram esses cristãos radicais de promover uma Ideologia pois usam de artifícios (muitas vezes enganosos) para negar o direito dos LGBTQ, mas do outro lado os cristãos consideram os estudos de gênero como ideologia por causa que eles afirmam que é moralmente correto ser gay, lésbica, travesti, transexual, etc e tentar inculcar estas ideias desde crianças pequenas até em adolescentes. E também que uma pessoa do sexo masculino posso realmente ser mulher em oposição à sua biologia. Para saber sobre intersex, pessoas xxy, xxxy, etc. veja http://averacidadedafecrista.blogspot.com/2018/05/teologia-da-sexualidade.html
8- Sexo deve ser discutido nas escolas?
Veja o que disse Judith Butler:
A teoria queer sugere uma série de reflexões importantes aos jovens. Eis algumas: Como você sabe de que gênero você é? E como você se imagina no futuro? O gênero está ali desde o começo ou se estabelece com o tempo? Existem mais que dois gêneros? O que é gênero e como funciona? Pode deixar de funcionar? Por que algumas pessoas se inquietam tanto sobre gênero, sobretudo quando outra pessoa não tem a aparência que se esperaria? Por que crianças às vezes são intimidadas por causa de seu gênero? E se seu corpo não aparenta o gênero que você sente ter? Como é olhar-se no espelho e não ver seu eu do jeito que o sente? Qual a diferença entre sexo e gênero? Por que existem tantas ideias diferentes de gênero de acordo com o lugar de onde se vem?
E há algumas questões relacionadas à sexualidade: Como sei se sou hétero ou gay? São as únicas duas opções? Como aprendo o que quero? Como testo o que eu quero? Se eu me sinto atraído por alguém do mesmo sexo, sou gay? Por que às vezes ficamos nervosos com pessoas pelas quais somos atraídos? Por que às vezes é mais fácil ficar sozinho lendo ficção científica? Como lésbicas fazem fazem sexo? O que é coito anal? Os bissexuais são só "indecisos"? Por que às vezes temos vergonha do que desejamos, de nossas fantasias? Por que às vezes temos vergonha ou ficamos inquietos quanto a desenvolver novas características sexuais ao crescermos? Por que algumas pessoas odeiam gays e lésbicas? Por que às vezes é tão assustador não se encaixar? O que as crianças podem fazer por um mundo em que ninguém sofra por causa de seu gênero ou sexualidade? http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/09/1683172-sem-medo-de-fazer-genero-entrevista-com-a-filosofa-americana-judith-butler.shtmledição 2465 veja
Claro que sexualidade deve ser discutida na escola, mas a comunidade deve ser consultada:
"A aplicação da Orientação Técnica Internacional deve ser consistente com as leis e políticas nacionais, e levar em conta valores e normas locais e comunitários. Isto é importante mesmo numa escola médio; professores e administradores são exortados a ter muito cuidado ao exercer seu dever em áreas do currículo que pais e comunidade considerem sensíveis. Espera-se que a Orientação contribua construtivamente para esses esforços." Orientação técnica internacional. UNESCO. 2010, p. 5
"PREOCUPAÇÃO: A educação em sexualidade é contra nossa cultura ou religião.
RESPOSTA: A Orientação Técnica Internacional sublinha a necessidade da relevância cultural e de adaptações locais, engajando e criando apoio entre os guardiões da cultura numa dada comunidade. As partes envolvidas, incluindo líderes religiosos, devem participar da elaboração da futura forma da educação em sexualidade. Entretanto, o guia também enfatiza a necessidade de modificar normas sociais e práticas nocivas que não se alinham com os direitos humanos e aumentam a vulnerabilidade e o risco, especialmente para meninas e mulheres jovens." Orientação técnica internacional. UNESCO 2010, p.9.
"A educação em sexualidade atrai tanto oposição quanto apoio. Caso haja oposição, ela não é intransponível. Ministérios de educação desempenham um papel crucial na criação de consenso sobre a necessidade da educação em sexualidade, por meio de consultas e advocacy com partes interessadas, incluindo, por exemplo:
• jovens, representados em sua diversidade, e organizações que trabalhem com eles; • pais e associações de pais e mestres; • formadores de políticas e políticos; • ministérios, incluindo saúde e outros envolvidos com as necessidades dos jovens; • profissionais e instituições educacionais, incluindo professores, diretores e instituições de formação; • líderes religiosos e organizações confessionais; • sindicatos de professores; • instituições de formação de pro ssionais de saúde; • pesquisadores; • líderes comunitários e tradicionais; • grupos de lésbicas, gays, bissexuais e indivíduos transgênero; • ONGs, particularmente as que trabalham em saúde sexual e reprodutiva com jovens; • pessoas vivendo com o VIH; • a mídia (local e nacional);
• doadores ou nanciadores externos relevantes."
Orientação técnica internacional. UNESCO. 2010 p. 10
Algumas sugestões quanto aos procedimentos iniciais, para a sua realização do trabalhoem sexualidade, são feitas a seguir:(i) A proposta deve ser incluída no planejamento previsto no projeto anual da escolae direcionada para as diferentes faixas etárias. O envolvimento da comunidade escolaré imprescindível. Alunos e alunas, pais e mães, e todos aqueles que podem contribuirpara um processo educativo democrático devem dar sua contribuição, tornandoa metodologia participativa uma realidade desde o início do trabalho.(ii) A escola poderá tomar algumas iniciativas para garantir que a comunidade escolaresteja comprometida com o processo. Para tal, é imprescindível:• sensibilizar todas as instâncias da instituição sobre a importância do trabalho noâmbito escolar;• informar e explicar a proposta de trabalho a toda a comunidade escolar, e pedir colaboração e sugestões;• apresentar os tópicos e objetivos de aprendizagem e eventualmente as “Orientaçõestécnicas internacionais sobre educação em sexualidade”, disponibilizando o material para quem quiser conhecê-lo, abrindo espaço para discussões e dúvidas;• realizar uma reunião com pais e mães para apresentar a proposta. " Orientações técnicas de educação em sexualidade para o cenário brasileiro : tópicos e objetivos de aprendizagem. -- Brasília : UNESCO, 2014, P. 18
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo 26° 1.Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
2.A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
3.Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.
Na América:
Comissão Americana de direitos humanos:
12.4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja acorde com suas próprias convicções.
No Brasil:
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.
Fontes Bibliográficas:
A origem da familia, da propriedade privada e do Estado. Engels. São Paulo: La Fonte, 2017.
ABDO, Carmita. Sexualidade Humana e seus Transtornos. 5ª edição. São Paulo: Leitura Médica, 2014
BORBA, R. Revista Entrelinhas – Vol. 9, n. 1 (jan./jun. 2015) LINGUÍSTICA QUEER: UMA PERSPECTIVA PÓS-IDENTITÁRIA PARA OS ESTUDOS DA LINGUAGEM
http://revistas.unisinos.br/index.php/entrelinhas/article/viewFile/10378/4862
BUTLER, J. 1999. Corpos que pensam: sobre os limites discursivos do sexo. In. G. Louro (org.), O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, pp. 151- 172.
Contemporânea v. 6, n. 1, p. 179-212 Jan.–Jun. 2016. Gustavo Gomes da Costa Santos.
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade / Judith Butler; traduçào, Renato Aguiar. — Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003p.
Comissão Interamericana de direitos humanos. https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm
DSM- V MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS disponivel em http://aempreendedora.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Manual-Diagn%C3%B3stico-e-Estat%C3%ADstico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5.pdf
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990
Encyclopaedia Britannica https://www.britannica.com/topic/Ganymede-Greek-mythology
FIRESTONE, Shulamith.. A dialética do sexo. Labor do Brasil 1979.
LOURO, Guacira Lopes. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação.Rev. Estud. Fem., Florianópolis , v. 9, n. 2, p. 541-553, 2001 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2001000200012&lng=en&nrm=iso>. access on 30 Dec. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2001000200012.
MISKOLCI, Richard. A Teoria Queer e a Questão das Diferenças: por uma analítica da normalização.Congresso de leitura do Brasil, 2007
MISKOLCI, Richard; CAMPANA, Maximiliano. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Soc. Estado., Brasília , v. 32, n. 3, p. 725-748, dez. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922017000300725&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 mar. 2018.
Sociologias, Porto Alegre, ano 11, nº 21, jan./jun. 2009. Richard Miskolci. disponível em http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/08.pdf
O corte da Sexualidade – A emergência do dispositivo de sexualidade no Brasil. Richard Miskolci
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41820744 Rafael Barifouse Da BBC Brasil em São Paulo
1 novembro 2017. acesso em 23/3/2018
Orientação técnica internacional. UNESCO. 2010
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/11/1936103-judith-butler-escreve-sobre-o-fantasma-do-genero-e-o-ataque-sofrido-no-brasil.shtml