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domingo, 5 de janeiro de 2020

Gramscismo da Falsa Direita x Pensamento Gramsciano- uma resposta a teoria do marximo cultural


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1- Gramcismo


Gramscismo é um termo usado pelos teóricos que usam uma narrativa chamada de marxismo cultural.(acesse aqui se desejar saber)

Trata-se de uma distorção sistemática das idéias de Antônio Gramsci.(1891-1937). Ele foi um filósofo e político masxista. Liderou o movimento dos Conselhos de Fábrica, junto com o grupo do jornal operário l'Ordine Nuovo. Foi preso por Mussoline, e ficou  no cárcere ate 1934. De lá escreveu dezenas de cadernos e cartas conhecidos como Cadernos do Cárcere

Embora eu não seja ligado a ideologia de esquerda, marxista, socialista...penso que não se deve combater uma ideologia com mentiras.


2- Gramsci inverteu a relação entre a superestrutura e a infraestrutura?? 
"né então que fizeram esses filhos da p. , Antonio Gramsci e o pessoal da Escola de Frankfurt, inverteu 180 graus a teoria marxista da infraestrutura e superestrutura, porque segundo Karl Marx a economia é a infraestrutura, ou seja a parte real da história; em cima tem um véu ideológico que é a superestrutura.

Então a família seria parte da super estrutura; e a base seria a economia de propriedade privada...como destruir a propriedade privada se revelou muito mais difícil do que eles poderiam ter que esperar, e na verdade é impossível, é materialmente impossível a eliminação da propriedade privada, ne então eles decidiram inverter tudo, ou seja em vez de destruir a propriedade privada para daí destruir a família automaticamente; não nós temos  que destruir a família primeiro e daí talvez cheguemos a destruição da propriedade privada.  
Ora  pô! O que você acha de uma teoria que inverte em 180 graus o que estava dizendo e continua que há mesmo afirmando que a mesma teoria, é claro que isso é teoria nenhuma, isto é um charlatanismo oportunista do mais rasteiro do mais vagabundo, do mais sem vergonha" Olavo de Carvalho - Os motivos para destruição da família   https://www.youtube.com/watch?v=nKuPHWHqWDA


Resposta:
Gramsci nunca inverteu a teoria de Marx, observe: 

“[...] A estrutura e as superestruturas formam um “bloco histórico”, isto é, o conjunto complexo e contraditório das superestruturas é o reflexo do conjunto das relações sociais de produção” Antonio Gramsci. Cadernos do Cárcere. Vol. 1 – Introdução ao Estudo da Filosofia e A Filosofia de Benedetto Croce. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006. , p. 250-51).

De toda forma, desde o Q 4, 15, 436-7, Gramci nega a interpretação crociana segundo a qual “para Marx, as ‘superestruturas’ são aparência e ilusão”; ao contrário, elas 

“são uma realidade objetiva e operante, mas não são a mola da história, isso é tudo. Não são as ideologias que criam a realidade social, mas é a realidade social, na sua estrutura produtiva, que cria as ideologias. Como Marx poderia pensar que as superestruturas são aparência e ilusão? Também suas doutrinas são uma superestrutura. Marx afirma explicitamente que os homens adquirem consciência de suas tarefas no terreno ideológico, das superestruturas, o que não é uma pequena afirmação de ‘realidade’: sua teoria pretende precisamente, também ela, fazer com que um determinado grupo social ‘tome consciência’ das próprias tarefas, da própria força, do próprio devir. Mas ele destrói as ideologias dos grupos sociais adversários, que de fato são instrumentos práticos de domínio político sobre o restante da sociedade: ele demonstra como eles são privados de sentido, porque em contradição com a realidade efetiva”...  DICIONÁRIO GRAMSCIANO: o mapa crítico de um marxista. LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale (Orgs.).1. ed. – São Paulo: Boitempo, 2017 

“(...) não é verdade que a filosofia da práxis “destaque” a estrutura das superestruturas; ao contrário, ela concebe o desenvolvimento das mesmas como intimamente relacionado e necessariamente inter-relativo e recíproco. Tampouco a estrutura é, nem mesmo por metáfora, comparável a um “deus oculto”: ela é concebida de uma maneira ultra-realista Gramsci,  “Cadernos do Cárcere”, 6 volumes, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999 – 2002,Caderno 10 nota §40, p. 369, v. 1
  “[...] as forças materiais são o conteúdo e as ideologias a forma, distinção entre forma e conteúdo puramente didática, já que as forças materiais não seriam concebíveis sem forma e as ideologias seriam fantasias individuais sem as forças materiais” (2006, p. 238).
Qto ao suposto projeto de destruição da familia nuclear monogâmica acesse aqui




3- Revolução Cultural Imperceptível? Sem reforma econômica? Sem a existência de idéias de oposição?

. A revolução leninista tomava o poder para estabelecer a hegemonia. O gramscismo conquista a hegemonia para ser levado ao poder suavemente, imperceptivelmente. Não é preciso dizer que o poder, fundado numa hegemonia prévia, é poder absoluto e incontestável: domina ao mesmo tempo pela força bruta e peloconsentimento popular - aquela forma profunda e irrevogável de consentimento que se assenta na força do hábito, principalmente dos automatismos mentais adquiridos que uma longa repetição torna inconscientes e coloca fora do alcance da discussão e da crítica. O governo revolucionário leninista reprime pela violência as idéias adversas. O gramscismo espera chegar ao poder quando já não houver mais idéias adversas no repertório mental do povo

“Com Gramsci ela aprendeu que uma revolução da mente deve preceder a revolução política; que é mais importante solapar as bases morais e culturais do adversário do que ganhar votos; que um colaborador inconsciente e sem compromisso, de cujas ações o partido jamais possa ser responsabilizado, valemais que mil militantes inscritos. Com Gramsci ela aprendeu uma estratégia tão vasta em sua abrangência, tão sutil em seus meios, tão complexa e quase contraditória em sua pluralidade simultânea de canais de ação, que é praticamente impossível o adversário mesmo não acabar colaborando com ela de algum modo, tecendo, como profetizou Lênin, a corda com que será enforcado” (A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994)

Resposta:
  • reforma cultural se dará segundo Gramsci junto com uma mudança economica e não antes dela.
  • A reforma cultural é implantada sorrateiramente ou de maneira imperceptível, mas de forma explicita por meio de argumentação lógica, racional
  • embora a atividade hegemônica e a direção eficaz dos grupos aliados tenha início antes da conquista do poder, ela só se realiza plenamente após este momento, quando as forças dirigentes podem mobilizar o aparelho estatal viabilizando um programa pedagógico.
  • O que os teóricos do chamado marxismo cultural falam sobre  "revolução cultural"  não tem nada a ver com solapar as bases morais (sexo, drogas e Rock) e sim de implantar os ideais socialistas( de igualitarismo, propriedade coletiva dos meios de produção,e o fim das classes sociais, etc.)


O moderno Príncipe deve e não pode deixar de ser o anunciador e  o organizador de uma reforma intectual e moral, o que significa, de resto, criar o terreno para um novo desenvolvimento da vontade coletiva nacional-popular no sentido da realização de uma forma superior e total de civilização moderna....
Estes dois pontos fundamentais de formaçao de uma, Vontade coletiva nacional-popular, da qual o moderno Príncipe é ao mesmo tempo o organizador e  a expressão-ativa e atuante, e reforma intelectual e moral -deveriam constituir a estrutura do trahalho. Os pontos programáticos concretos devem ser incorporados na primeira parte, isto é, deveriam resultar "dramaticamente" da argumentação, não ser uma fria e pedante exposição de raciocínios.

Pode haver reforma cultural, ou seja, elevação civil das camadas mais baixas da sociedade, sem uma anterior reforma econômica e uma modificação na posição social e no mundo econômico? É por isso que uma reforma intelectual e moral não pode deixar de estar  ligada a um programa de reforma econômica; mais precisamente, o  programa de reforma econômica é exatamente o modo concreto através do qual se apresenta toda reforma intelectual e moral.  O moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa de fato que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio moderno Príncipe e  serve ou para aumentar seu poder ou , para opor-se a  ele. O Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume.  Cadernos do Cárcere vol 3 p. 18-19

“uma classe é dominante em dois modos, isto é, ‘dirigente’ e ‘dominante’. É dirigente das classes aliadas e dominante das classes adversarias. Por isso, já antes da chegada ao poder uma classe pode ser ‘dirigente’ (e deve sê-lo); quando chega ao poder torna-se dominante, mas continua a ser ‘dirigente’”. Cadernos do Cárcere caderno 1, § 44, p. 41.
...] a supremacia de um grupo social se manifesta de dois modos, como "domínio" e como "direção intelectual e moral". Um grupo social domina os grupos adversários, que visa a "liquidar" ou a submeter inclusive com a força armadae dirige os grupos afins e aliados. Um grupo social pode e, aliás, deve ser dirigente já antes de conquistar o poder governamental (esta é uma das condições principais para a própria conquista do poder); depois, quando exerce o poder e mesmo se o mantém fortemente nas mãos torna-se dominante mas deve continuar a ser também "dirigente"Cadernos do Cárcere vol 5 Caderno19, p.62-63
Na doutrina do Estado -sociedade regulada, de uma fase em que Estado será  igual a Governo, e Estado se identificará com sociedade civil, deverse-á passar a uma fase de Estado-guarda-noturno, isto é, de uma organização coercitiva que protegerá o desenvolvimento dos elementos de sociedade regulada em contínuo incremento e que, portanto, reduzirá gradualmente suas intervenções autoritárias e coativas. E isso não pode fazer pensar num novo "liberalismo", embora esteja por se dar o início de uma era de liberdade orgânica. Cadernos do Cárcere vol 3 p. 245

Hegemonia  . 3 Momentos da consciencia coletiva
"[...] diversos momentos da consciência política coletiva, tal como se manifestaram na história até agora.
O primeiro e mais elementar é o econômico corporativo: um comerciante sente que deve ser solidá-rio com outro comerciante, um fabricante com outro fabricante, etc., mas o comerciante não se sente ainda solidário com o fabricante; isto é, sente-se a unidade homogénea do grupo profissional e  o dever de organizá-la, mas não ainda a unidade do grupo social mais amplo.
Um segundo momento é aquele em que se atinge a consciência da solidariedade de interesses entre todos os membros do grupo social, màs ainda no campo meramente econômico. Já se põe. neste momento a questão do Estado, mas apenas no terreno da obtenção de uma igualdade politico-jurídica com os grupos dominantes, já que se reivindica  o direito de participar da legislação e da adiminstração. e mesmo de modificá-las, de reformá-las, mas nos quadros fundamentais existentes.
Um terceiro momento é aquele em que se adquire a consciência de · que os próprios interesses corporativos, em seu desenvolvimento atual e futuro, superam o círculo corporativo, de grupo meramente econômico; e podem  e devem tornar-se os interesses de. outros grupos subordinados.
Esta é a fase mais estritamente política, que assinala a passagem nítida da estrutura para a esfera das superestruturas complexas; é a fase em que as ideologias geradas anteriormente se transformam em "partido", entram em confrontação e lutam até que uma delas, ou pelo menos uma única combinação delas, tenda a prevalecer, a se impor, a se irradiar por toda a área social, determinando, além da unicidade dos fins econômicos e políticos, também a unidade intelectual e moral, pondo todas as questões em torno das quais ferve a luta não no plano corporativo, mas num plano "universal", criando assim a hegemonia de um grupo social fundamental sobre uma série de grupos subordinados. 
Cadernos do Cárcere vol 3. Caderno 13 p. 40-41)


4- Hegemonia sem coerção?

Hegemonia em Gramsci se refere ao consenso ou orientação por meio do prestígio, confiança e argumentação do grupo dominante. 

Coerção se refere ao dominação pela força:
 “uma classe é dominante em dois modos, isto é, ‘dirigente’ e ‘dominante’. É dirigente das classes aliadas e dominante das classes adversarias. Por isso, já antes da chegada ao poder uma classe pode ser ‘dirigente’ (e deve sê-lo); quando chega ao poder torna-se dominante, mas continua a ser ‘dirigente’”. Cadernos do Cárcere  caderno 1, § 44, p. 41.
“a supremacia de um grupo se manifesta em dois modos, como ‘domínio’ e como ‘direção intelectual e moral’”.Cadernos do Cárcere volume 5. caderno  19,  p.62-63
à função de “hegemonia” que o grupo dominante exerce em toda a sociedade e àquela de  “domínio direto”  ou de comando, que se expressa no Estado e no governo “jurídico”. Estas funções são preci­samente organizativas e conectivas. Os intelectuais são os  “prepostos” do grupo dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo político, isto é:
1) do consenso “espon­tâneo” dado pelas grandes massas da população à orientação impres­sa pelo grupo fundamental dominante à vida social, consenso que nasce “historicamente” do prestígio (e, portanto, da confiança) obti­do pelo grupo dominante por causa de sua posição e de sua função no mundo da produção;
2) do aparelho de coerção estatal que assegura “legalmente” a disciplina dos grupos que não “consentem”, nem ati­va nem passivamente, mas que é constituído para toda a sociedade na previsão dos momentos de crise no comando e na direção, nos quais desaparece o consenso espontâneo. Caderno 12 p. 21
..] a supremacia de um grupo social se manifesta de dois modos, como "domínio" e como "direção intelectual e moral". Um grupo social domina os grupos adversários, que visa a "liquidar" ou a submeter inclusive com a força armadae dirige os grupos afins e aliados. Um grupo social pode e, aliás, deve ser dirigente já antes de conquistar o poder governamental (esta é uma das condições principais para a própria conquista do poder); depois, quando exerce o poder e mesmo se o mantém fortemente nas mãos torna-se dominante mas deve continuar a ser também "dirigente"Cadernos do Cárcere vol 5 Caderno19, p.62-63

Um grupo pode fazer concessões para alcançar a Hegemonia?
 O fato da hegemonia pressupõe indubitavelmente que sejam levados em conta os  interesses e as tendências dos grupos sobre os quais a hegemonia será exercida, que se forme um certo equilíbrio de compromisso, isto é, que o grupo dirigente faça sacrifícios de ordem econômico-corporativa; mas também é indubitável que tais sacrifícios e tal compromisso não podem envolver o essencial, dado que, se a hegemonia é ético-política, não pode deixar de ser também econômica, não pode deixar de ter seu fundamento na função decisiva que o grupo dirigente exerce no núcleo decisivo da atividade econômica. Cadernos do Cárcere vol 3, p. 48
Como se dá a perda de poder da classe dirigente?
" [...] Em um certo ponto de sua vida histórica, os grupos sociais se separam de seus partidos tradicionais, isto é, os partidos tradicionais naquela dada forma organizativa, com aqueles determinados homens que os constituem, representam e dirigem, não são mais reconhecidos como sua expressão por sua classe ou fração de classe. Quando se verificam estas crises, a situação imediata torna-se delicada e perigosa, pois abre-se o campo às soluções de força, à atividade de potências ocultas representadas pelos homens providenciais ou carismáticos. Como se formam estas situações de contraste entre representantes e representados, que, a partir do terreno dos partidos (organizações de partido em sentido estrito, campo eleitoral-parlamentar, organização jornalística), reflete-se em todo o organismo estatal, reforçando a posição relativa do poder da burocracia (civil e militar), da alta finança, da Igreja e, em geral, de todos os organismos relativamente independentes das flutuações da opinião pública? O processo é diferente em cada país, embora o conteúdo seja o mesmo. E o conteúdo é a crise da hegemonia da classe dirigente, que ocorre ou porque a classe dirigente fracassou em algum grande empreendimento político para o qual pediu ou impôs pela força o consenso das grandes massas (como a guerra), ou porque amplas massas (sobretudo de camponeses e de pequeno-burgueses intelectuais) passaram subitamente da passividade política para uma certa atividade e representam reivindicações que, em seu conjunto desorganizado, constitui uma revolução. Fala-se de crise de autoridade”: e isso é precisamente a crise de hegemonia, ou crise do Estado em seu conjunto  Cadernos do Cárcere, caderno 13, Notas sobre Maquiavel, 23, p. 1603.


5- Publicação das obras completas de Gramsci, década de 60? 

Passado mais de um século, ainda não temos uma boa tradução de Aristóteles, mas publicamos, já na década de 60, as obras completas de Antonio Gramsci. O. Carvalho, Santo Antonio Gramsci e a salvação do Brasil, in Id., A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994; ...
Resposta:
A edição completa dos Cadernos do cárcere começou a ser publicada pela primeira vez no Brasil em 1999, organizada por Carlos Nelson Coutinho. Até hoje não foram publicadas todas as obras de Gramsci (2020), muito menos na década de 60 como atesta o próprio tradutor, Coutinho:

Quando ele foi publicado aqui, parcialmente, em meados dos anos 60, chegamos a dispor em português de uma massa de textos que, com exceção do italiano e do espanhol, não estava disponível ainda em nenhuma outra língua MAURÍCIO SANTANA DIAS da Redação São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999    https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2111199904.htm


No Brasil, graças ao empenho de Ênio Silveira, diretor da editora Civilização Brasileira, foram publicados, entre 1966 e 1968, quatro dos seis volumes: Concepção dialética da história, Os intelectuais e a organização da cultura, Maquiavel, a política e o Estado moderno e uma seleção de Literatura e vida nacional, além de uma antologia das cartas do cárcere....

Em 1975, na Itália, é publicada uma edição crítica 6, quando todo o conteúdo dos 29 cadernos 7, miscelâneos e especiais8, chega ao público. Uma reprodução dessa edição foi traduzida para o espanhol e publicada em 1981, no México.

Embora a edição crítica italiana dos Cadernos do Cárcere nunca tenha sido publicada no Brasil, nossa edição dos anos de 19909 é baseada na edição crítica, conforme explica o seu principal editor....
Acredita-se que a publicação em língua portuguesa de todos os textos escritos no cárcere acompanhados de um aparato crítico é passo importante para orientar os estudos sobre o pensamento do autor. Nesse sentido, considerando que uma edição nacional está em processo de publicação na Itália, entende-se que a tradução para o português dos Cadernos do Cárcere, das cartas e dos escritos anteriores à prisão deva ser com base nessa edição. Até que isso seja feito, é fundamental que os pesquisadores brasileiros estudem “nossa edição crítica”, publicada nos anos de 1990. JACOMINI, Márcia Aparecida and MORAES, Carmen Sylvia Vidigal. Os escritos de Antonio Gramsci e obras de intérpretes em teses e dissertações sobre políticas educacionais (2000-2010). Educ. rev. [online]. 2018, vol.34, n.72 [cited 2020-01-05], pp.209-230. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602018000600209&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0104-4060. http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.59345.



6- Gramsci inventou o a idéia de Hegemonia?


Gramsci jura que é leninista, mas como ele atribui a Lênin algumas idéias de sua própria invenção das quais Lênin nunca ouviu falar, as relações entre gramscismo e leninismo são um abacaxi que os estudiosos buscam descascar revirando os textos com uma paciência de exegetas católicos. Uma dessas idéias é a de "hegemonia", central no gramscismo. Gramsci diz que ela foi a "maior contribuição de Lênin" à estratégia marxista, mas o conceito de hegemonia não aparece em parte alguma dos escritos de Lênin.   O. Carvalho, Santo Antonio Gramsci e a salvação do Brasil, in Id., A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994; ...

Resposta:
Antes de tudo deve-se destacar que Gramsci usa o termo hegemonia de duas formas, tanto no sentido de coerção como no sentido de dirigencia, consenso. Mas sobretudo, de fato Lenin usa o termo no sentido exatamente negado por Olavo de Carvalho:



De modo que não se trata, para Gramsci, de superar o horizonte do marxismo, mas, ao contrário, de voltar às suas fontes originárias: deriva daqui a atribuição a Lenin, a partir de Q 4, 38, 465, da paternidade do próprio conceito de hegemonia que, aliás, representa “a contribuição máxima de Ilitch à filosofia marxista, ao materialismo histórico, contribuição original, criadora”. DICIONÁRIO GRAMSCIANO: o mapa crítico de um marxista. LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale (Orgs.).1. ed. – São Paulo: Boitempo, 2017 

Disso resulta a necessidade da hegemonia, isto é, da capacidade dirigente do proletariado, na fase da revolução democrático-burguesa. Aqui há uma diferença de significado entre Gramsci e Lenin, por que Gramsci, quando fala em hegemonia, refere-se por vezes a capacidade dirigente, enquanto que outras vezes pretende se referir simultaneamente a direção e dominação. Lênim, ao contrário, entende por hegemonia, sobretudo, a função dirigente. O termo 'hegemonia' aparece em Lenim pela primeira vez num escrito de 1905, no início da revolução, diz ele: Segundo o ponto de vista proletário, a hegemonia pertence a quem se bate com maior energia, a quem se aproveita de qualquer ocasião para golpear o inimigo, pertence àquele a cujas palavras correspondem os fatos e que, portanto, é o líder ideológico da democracia, criticando-lhe qualquer inconseqüência  O conceito de Hegemonia em Gramnsci, .p. 11
na verdade o conceito de hegemonia veio de Lenin :"Já que para Lenin, é impossível a conquista do poder sem o consenso do proletariado..." (Fontes do pensamento politico. Gramsci. Carlos Nelson Coutinho, 1981p. 41


7- Gramsci teve uma filha?

O que Gramsci fez com sua própria filha, por que não o faria com os filhos dos outros? É

preciso que a pregação comunista atinja os cérebros enquanto ainda estão tenros e indefesos,
e, fechando-lhes o acesso a toda concepção de ordem espiritual, os encerre para sempre no
círculo de ferro da mundanidade "histórica" O. Carvalho, Santo Antonio Gramsci e a salvação do Brasil, in Id., A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994; ...
Resposta:
Gramsci só teve filhos homens, Delio e Giuliano:

Sua vida pessoal também foi repleta de experiências significativas, sendo a principal a sua reunião e o subsequente casamento com Julka Schucht (1896-1980), violinista e membro do Partido Comunista Russo que conheceu durante sua estadia na Rússia. Antonio e Julka tiveram dois filhos, Delio (1924-1981), e Giuliano, nascido em 1926, 
Antes da prisão de Gramsci, em novembro de 1926, sua esposa Julia retornou à União Soviética para dar à luz seu segundo filho, Giuliano. Giuliano nasceu em Moscou em 30 de agosto de 1926, pouco mais de dois meses antes da prisão de Gramsci. Por causa da prisão e morte prematura de Gramsci, ele nunca teve a chance de conhecer Giuliano. Esta é uma foto de Giuliano como um garotinho com seus colegas de escola em Moscou, tirada em algum momento na década de 1930.
 





8- Nada de política?  Ideias camufladas?

 A revolução leninista tomava o poder para estabelecer a hegemonia. O gramscismo conquista a hegemonia para ser levado ao poder suavemente, imperceptivelmente.A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994;
O que Gramsci lhe ensinou foi abdicar do radicalismo ostensivo para ampliar a margem de alianças; foi renunciar à pureza dos esquemas ideológicos aparentes para ganhar eficiência na arte de aliciar e comprometer; foi recuar do combate político direto para a zona mais profunda da sabotagem psicológica. Com Gramsci ela aprendeu que uma revolução da mente deve preceder a revolução política; que é mais importante solapar as bases morais e culturais do adversário do que ganhar votos; que um colaborador inconsciente e sem compromisso, de cujas ações o partido jamais possa ser responsabilizado, vale mais que mil militantes inscritos. Com Gramsci ela aprendeu uma estratégia tão vasta em sua abrangência, tão sutil em seus meios, tão complexa e quase contraditória em sua pluralidade simultânea decanais de ação, que é praticamente impossível o adversário mesmo não acabar colaborando com ela de algum modo, tecendo, como profetizou Lênin, a corda com que será enforcado. A conversão formal ou informal, consciente ou inconsciente da intelectualidade de esquerda à estratégia de Antonio Gramsci é o fato mais relevante da História nacional dos últimos trinta anos. É nela, bem como em outros fatores concordantes e convergentes, que se deve buscar a origem das mutações psicológicas de alcance incalculável que lançam o Brasil numa situação claramente pré-revolucionária, que até o momento só dois observadores, além do autor deste livro, souberam assinalar, e aliás mui discretamente 3.  12 Olavo de Carvalho, Santo Antonio Gramsci e a salvação do Brasil, in Id., A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994; ...

Mas Gramsci é, neste ponto, bastante exigente: não basta derrotar a ideologia expressa da burguesia; é preciso extirpar, junto com ela, todos os valores e princípios herdados de civilizações anteriores, que ela de algum modo incorporou e que se encontram hoje no fundo do senso comum. Trata-se enfim de uma gigantesca operação de lavagem cerebral, que deve apagar da mentalidade popular, e sobretudo do fundo inconsciente do senso comum, toda a herança moral e cultural da humanidade, para substituíla por princípios radicalmente novos, fundados no primado da revolução e no que Gramsci denomina "historicismo absoluto" ( mais adiante explico )....Uma operação dessa envergadura transcende infinitamente o plano da mera pregação revolucionária, e abrange mutações psicológicas de imensa profundidade, que não poderiam ser realizadas de improviso nem à plena luz do dia. O combate pela hegemonia requer uma pluralidade de canais de atuação informais e aparentemente desligados de toda política, através dos quais se possa ir injetando imperceptivelmente na mentalidade popular toda uma gama de novos sentimentos, de novas reações, de novas palavras, de novos hábitos, que aos poucos vá mudando de direção o eixo da conduta.Daí que Gramsci dê relativamente pouca importância à pregação revolucionária aberta, mas
enfatize muito o valor da penetração camuflada e sutil...Milhões de pequenas alterações vão assim sendo introduzidas no senso comum, até que o efeito cumulativo se condense numa repentina mutação global ( uma aplicação da teoria marxista do "salto qualitativo" que sobrevem ao fim de uma acumulação de mudanças quantitativas ). Ao esforço sistemático de produzir esse efeito cumulativo Gramsci denomina,significativamente, "agressão molecular": a ideologia burguesa não deve ser combatida no campo aberto dos confrontos ideológicos, mas no terreno discreto do senso comum; não pelo avanço maciço, mas pela penetração sutil, milímetro a milímetro, cérebro por cérebro, idéia por idéia, hábito por hábito, reflexo por reflexo....

Enxertando o pragmatismo no marxismo, Labriola e Gramsci propunham que se jogasse no lixo o conceito de verdade: na nova cosmovisão, toda atividade intelectual não deveria buscar mais o conhecimento objetivo, mas sim a mera "adequação" das idéias a um determinado estado da luta social. A isto Gramsci denominava "historicismo absoluto".Nesta nova cosmovisão, não haveria lugar para a distinção - burguesa, segundo Gramsci - entre verdade e mentira. Uma teoria, por exemplo, não se aceitaria por ser verdadeira, nem se rejeitaria por falsa, mas dela só se exigiria uma única e decisiva coisa: que fosse "expressiva" do seu momento histórico, e principalmente das aspirações da massa revolucionária. Dito de modo mais claro: Gramsci exige que toda atividade cultural e científica se reduza à mera propaganda política, mais ou menos disfarçada

...O objetivo primeiro do gramscismo é muito amplo e geral em seu escopo: nada de política, nada de pregação revolucionária, apenas operar um giro de cento e oitenta graus na cosmovisão do senso comum, mudar os sentimentos morais, as reações de base e o senso das proporções, sem o confronto ideológico direto que só faria excitar prematuramente antagonismos indesejáveis.A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994

Resposta:
Estes dois pontos fundamentais de formaçao de uma, Vontade coletiva nacional-popular, da qual o moderno Príncipe é ao mesmo tempo o organizador e  a expressão-ativa e atuante, e reforma intelectual e moral -deveriam constituir a estrutura do trabalho. Os pontos programáticos concretos devem ser incorporados na primeira parte, isto é, deveriam resultar "dramaticamente" da argumentação, não ser uma fria e pedante exposição de raciocínios. Cadernos do Cárcere vol 3 p. 18-19




9- Gramsci era relativista?
Tanto Gramsci quanto Rorty negam que o conhecimento humano possa descrever o real, e declaram que a única finalidade dos nossos esforços culturais e científicos é expressar desejos coletivos. Para um e para outro, não há conceitos universais, nem juízos universais válidos, mas pode-se “criar” universais pela propaganda, fazendo todas as pessoas compartilharem das mesmas crenças, ou melhor, das mesmas ilusões. A função da intelectualidade é portanto gerar essas ilusões e, como diz Rorty, “inculcá-las gradualmente” na cabeça do povo. Eles divergem somente quanto à identidade do intelectual: para Rorty, ele se constitui da comunidade acadêmica; para Gramsci, é o Partido ou “intelectual coletivo”. O IMBECIL COLETIVO

Resposta:
Não existe um texto falando de relativismo moral nos escritos de Gramsci

Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas “originais”; significa também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, “socializá-las” por assim dizer; e, portanto, transformá-las em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. (GRAMSCI, Cadernos do cárcere. Tradução de Carlos Nelson Coutinho com a colaboração de Luiz Sergio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. v. 1, p. 95-96) 

10- Gramsci, perigoso?

“profeta da imbecilidade, o guia de hordas de imbecis para quem a verdade é a mentira e a
mentira a verdade. Somente um outro imbecil como Mussolini podia considerá-lo uma inteligência perigosa. O perigo que há nela é o da malícia que obscurece, não o da inteligência que clareia; e a malícia é a contrafação simiesca da inteligência”
 A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994
 Gramsci transformou a estratégia comunista, de um grosso amálgama de retórica e força bruta, numa delicada orquestração de influências sutis, penetrante como a Programação  Neurolinguística e mais perigosa, a longo prazo, do que toda a artilharia do Exército Vermelho. Se Lênin foi o teórico do golpe de Estado, ele foi o estrategista da revolução psicológica que deve preceder e aplainar o caminho para o golpe de Estado.  A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994
É claro que ninguém adere a Gramsci com outro propósito que não o de
implantar o comunismo em alguma parte do mundo. Mas, sendo o gramscismo um
pensamento obscuro e às vezes incompreensível, não há nenhum motivo para crer que sua
aplicação deva produzir nem mesmo esse resultado
, lamentável o quanto seja. Pode
acontecer, por exemplo, que a estratégia gramsciana não gere outro efeito além de tornar os
burgueses ateus
, retirando os freios que a religião impunha à sua cobiça e ao seu
maquiavelismo. Algo muito parecido aconteceu na própria terra de Gramsci: é impossível não
haver conexão entre a decadência da fé católica e a transformação da Itália numa Sodoma
capitalista.
 A nova cultura materialista e gramsciana que dominou a atmosfera intelectual
italiana desde a década de 60 muito contribuiu para esse resultado; apenas, não se vê que
vantagem os comunistas puderam tirar disso. Os esquerdistas brasileiros deveriam pensar na
experiência italiana antes de atirar-se a aventuras gramscianas que, na educação como na
política, podem levar a resultados tão confusos quanto as idéias que as inspiram. 
A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci, Instituto de Artes Liberais, Rio de Janeiro, 1994

Resposta:
Independente do perigo ou não da Teoria Gramsciana, a história mostra que esta estratégia não teve êxito visto o fracasso do socialismo no mundo. Basta olharmos no mundo a quantidade de países comunistas e a propagação do capitalismo até mesmo na China "comunista".


Conclusão:
Para se contrapor ao teórico Gramsci não se faz necessário fazer caricatura de seus argumentos utilizando-se de distorções, mais conhecidas como Falácia do Espantalho.

Deve-se expor o pensamento do autor e depois trazer respostas a altura.



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