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sábado, 25 de dezembro de 2021

97 teses de lutero contra a Escolástica em Alemão e Português

 




"Debate sobre a Teologia Escholástica 1

 

A teologia medieval ou escolástica baseava-se amplamente no pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.), um dos mais importantes filósofos da antiga Grécia. Era comum dizer-se que a filosofia em geral é a serva da teologia" 2 que, sem Aristóteles, ninguém pode ser teólogo'.

Formaram-se as correntes ou "escolas" dos tomistas, seguidores do dominicano italiano Tomas de Aquino (1225-1274), dos escotistas, seguidores do franciscano escocês João Duns Escoto (aproximadamente 1270-1308) 4, e dos occamistas, seguidores do franciscano inglês Guilherme de Occam (aproximadamente 1285-1349)5, sendo esta última corrente também chamada de "via moderna". 
Na Universidade de Erfurt. Lutero foi educado segundo os padrões filosofico-teológicos do occamismo. Cedo porém começou a ficar insatiseito com a maneira escolastica de fazer teologia. Com professor de interpretação da Bíblia desde 1512 na recém-fundada (1502) Üniveriidade de Wittenberg, aprofundou-se no estudo da Sagrada Escritura. Em busca de alternativas, encontrou importante ajuda nos escritos de Agostinho (353-430). bispo de Hipona, África do Norte....Agostinho era patrono da Universidade de Wittenberg, e seu pensamento foi de grande importância para a Ordem dos Agostinianos Eremitas, à qual Lutero pertenceu.

 A partir de critérios tomados da Bíblia e de Agostinho, Lutero percebeu que a teologia estava acorrentada no cativeiro da escolástica, impossibilidade articular adequadamente a questão essencial da fé cristã, ou seja, graça e justificação, Deus em seu relacionamento como ser humano e vice-versa. As verdades da fé não podem ser compreendidas em toda a sua profundidade mediante a aplicação das regras da lógica filosófica. A teologia precisava ser libertada, sobretudo da "ditadura" de Aristóteles, a quem, certa vez, Lutero caracterizou como "esse palhaço que, com sua máscara grega, tanto enganou a Igreja"6. 

0 método teológico alternativo era o do paradoxo: afirmações que a lógica tradicional considerava paradoxais passaram a ser usadas para expressar adequadamente as verdades cristãs. Lutero tornou-se o mentor espiritual da nova maneira de fazer teologia. Convenceu seus colegas da Faculdade de Teologia da necessidade de substituir as matérias tradicionais por outras, mais adequadas para conduzir os alunos ao centro da fé cristã. Em maio de 1517, escreveu a seu amigo João Lang, em Erfurt, que "nossa teologia e Agostinho progridem bem, com a ajuda de Deus, e predominam em nossa universidade. Aristóteles decai pouco a pouco e está sendo arruinado."

Na universidade havia regularmente debates públicos sobre séries de teses formuladas especialmente para essa finalidade. Quem pretendia adquirir qualquer grau acadêmico precisava demonstrar sua capacidade intelectual participando de tal debate. Como as teses não se destinavam a publicação, proporcionavam a oportunidade de apresentar idéias novas sem o risco de uma intervenção imediata das autoridades eclesiásticas. 

Para o debate de seu discípulo Francisco Günther, pretendente ao titulo de bacharel em Estudos Bíblicos, Lutero resumiu, em 97 teses claras e radicais, sua critica a todo o sistema da teologia escolástica. As teses, redigidas entre 21 de agosto e 4 de setembro de 1517, dirigem-se sobretudo contra Gabriel Bielx e sua concepção ,da capacidade natural do ser humano (teses 5 a 36), bem como contra a concepção de justiça de Aristóteles e o papel do mesmo na teologia (teses 37 a 53), tratando também da relação existente entre graça, obediência, livre arbítrio e amor (teses 54 a 97). 

O debate realizou-se em 4 de setembro de 1517. Sobre seu conteudo nada sabemos, mas o titulo de bacharel em Estudos Bíblicos foi conferido a Francisco Gunther por unanimidade. Lutero mandou as teses também para Erfurt e Nurnberg. Estava ansioso para conhecer a reação de outros. Chegou a se prontificar a ir pessoalmente a Erfurt para defender publicamente seu ataque aos fundamentos da escolástica. Seus ex-professores, não entanto, não lhe responderam diretamente. Como soube mais tarde, haviam comentado que Lutero era arrogante e condenava precipitadamente os que divergiam de sua teologia. Entre os jovens, porém, as criticas de Lutero foram recebidas como um ato de libertação das verdades bíblicas de seu cativeiro aristotélico-escolástico. Na evolução de Lutero, as teses representam a fase da critica. São o mais importante testemunho escrito de seu rompimento com a escolástica e, assim, com seu próprio passado teológico. Ainda não apresentam o programa de uma teologia alternativa. Entretanto, com as teses, Lutero removeu definitivamente os obstáculos no caminho em direção a uma teologia autêntica, que chega ao "interior da noz" e a "medula dos ossos" 9. Seu amigo Cristóvão Scheurl, de Nürnberg, respondeu-lhe, acertadamente, em 4 de novembro daquele ano, após ter recebido as teses: "Restaurar a teologia de Cristo!" E provável que as teses tenham sido originalmente impressas em forma de cartaz para poderem ser afixadas em Wittenberg, nos lugares destinados a esse fim. Não se conhece nenhum exemplar do original. Só nas reedições as teses estão numeradas; contam-se entre 97 e 100 teses. Os editores modernos preferem contar 97 teses. Joachim Fischer


Pelas teses abaixo responderei, em local e data a serem determinados ainda, o mestre10 Francisco Gunther, de Nordhausen, para obtenção do grau de bacharel em Estudos Biblicos ll, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, agostiniano, decano da Faculdade de Teologia de Wittenberg.

1. Dizer que Agostinho 12 se excede ao atacar os hereges é dizer que Agostinho quase sempre teria mentido. Contra a opinião geral.

 2. Isto é o mesmo que oferecer aos pelagianos 13 e a todos os hereges uma oportunidade de triunfo ou mesmo uma vitória; 

3. E é o mesmo que expor ao deboche a autoridade de todos os mestres da Igreja.
 
4. Por isso, é verdade que o ser humano, sendo árvore má 14, não pode senão querer e fazer o mal, 

5. Está errado que o desejo é livre para optar por qualquer uma de duas alternativas opostas; pelo contrário: ele não é livre, e sim cativo. Contra a opinião comum. 

6. Está errado que, por natureza, a vontade possa conformar-se ao ditame correto. Contra Duns Escoto e Gabriel Biel. 

7. Na verdade, sem a graça de Deus, a vontade suscita necessariamente um ato desconforme e mau. 

8. Não se segue daí, entretanto, que ela seja má por natureza, isto é, pertencente ao mal por natureza, conforme pretendem os maniqueus. 15

9. Mesmo assim, por natureza e inevitavelmente ela é má e de natureza viciada. 

10. Admite-se que a vontade não é livre para tender para aquilo que lhe parece bom segundo a razão. Contra Duns Escoto e Gabriel Biel. 

11. Ela também não tem a capacidade de querer ou não querer o que quer que se lhe apresente. 

12. Dizer isto tampouco é contra o B. Agostinho, que diz: Nada está tanto dentro da capacidade da vontade quanto a própria vontade.

 13. Absurdíssima é a consequência de que o ser humano em erro pode amar a criatura acima de tudo e, portanto, também a Deus. Contra Duns Escoto e Gabriel Biel. 

14. Não é de estranhar que ela pode conformar-se ao ditame errôneo e não ao correto. 

15. Pelo contrário, é característica sua conformar-se exclusivamente ao ditame errado e não ao correto. 

16. Preferível é esta consequência: o ser humano em erro pode amar a criatura; portanto, é impossível que ame a Deus.

17. Por natureza, o ser humano não consegue querer que Deus seja Deus; pelo contrário, quer que ele mesmo seja Deus e que Deus não seja Deus. 

18. Amar a Deus, por natureza, sobre todas as coisas, é uma ficção, uma quimera, por assim dizer. Contra a opinião quase gerai. 


19. Também não tem validade o pensamento de Escoto a respeito do valente cidadão que ama a coisa pública mais do que a si mesmo. 


20. Um ato de amizade não provém da natureza, mas da graça preveniente. Contra Gabriel Biel. 


21. Nada há na natureza senão atos de concupiscência contra Deus. 


22. Todo ato de concupiscência contra Deus é um mal e uma prostituição do espírito.

23. Também não é verdade que um ato de concupiscência pode ser posto em ordem pela virtude da esperança. Contra Gabriel Biel. 

24. Isto porque a esperança não é contrária ao amor, que somente busca e deseja o que é de Deus. 


25. A esperança não vem de méritos, mas de sofrimentos que destroem méritos. Contra a prática de muitos. 


26. O ato de amizade não é a forma mais perfeita de fazer 16 o que está em si, nem a mais perfeita disposição para a graça de Deus, nem uma forma de se converter e de se aproximar de Deus. 


27. Ele ê, isto sim, um ato de uma conversão já realizada, temporalmente e por natureza posterior à graça. 


28. “ Tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros.” [Zc 1.3.] “ Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros.” [Tg 4.8.] “ Buscai e achareis.” [Mt 7.7.] “ Quando me buscardes, serei achado de vós.” [Jr 29.13s.) — Afirmar, a respeito destas e de outras passagens semelhantes, que uma parte cabe à natureza e a outra à graça, não é outra coisa que sustentar o que disseram os pelagianos. 


29. A melhor e infalível preparação e a única disposição para a graça é a eleição e predestinação eterna de Deus. 


30. Da parte do ser humano, entretanto, nada precede à graça senão indisposição e até mesmo rebelião contra a graça. 


31. Invencionice vaníssima é a afirmação de que o predestinado pode ser condenado separando-se os conceitos, mas não combinando-os. 17 Contra os escolásticos. 


32. Igualmente não resulta nada da afirmação de que a predestinação é necessária pela necessidade da consequência, mas não pela necessidade do conseqüente. 18


33. Falsa é também a tese de que fazer o que está em si equivale a remover os obstáculos que se opõem à graça. Contra determinados teólogos. 

34. Em suma, a natureza não tem nem ditame correto nem vontade boa. 

35. Não é verdade que a ignorância irremediável 19 exime de toda culpa. Contra todos os escolásticos. 

36. Porque a ignorância de Deus, de si mesmo e do que são boas obras sempre é irremediável para a natureza. 

37. A natureza até necessariamente se vangloria e orgulha por dentro da obra que, na aparência e exteriormente, é boa. 

38. Não existe virtude moral sem orgulho ou tristeza, isto é, sem pecado. 

39. Não somos senhores dos nossos atos desde o princípio até o fim, e sim escravos. Contra os filósofos. 

40. Não nos tornamos justos por realizarmos coisas justas; é tendo sido feitos justos que realizamos coisas justas. Contra os filósofos. 

41. Quase toda a Ética de Aristóteles 20 é a pior inimiga da graça. Contra os escolásticos. 

42. É um erro dizer que a concepção de felicidade de Aristóteles não contraria a doutrina católica. Contra os moralistas. 

43. É um erro dizer que, sem Aristóteles, ninguém se torna teólogo. Contra a opinião geral. 

44. Muito pelo contrário, ninguém se torna teólogo a não ser sem Aristóteles. 

45. Dizer que o teólogo que não é um lógico é um monstruoso herege, é uma afirmação monstruosa e herética. Contra a opinião geral. 

46. É em vão que se forja uma lógica da fé, uma suposição sem pé nem cabeça. Contra os dialéticos recentes. 


47. Nenhuma fórmula silogística subsiste em questões divinas. Contra o cardeal Pedro d’Ailly. 21

48. Mesmo assim, não se segue daí que a verdade do artigo sobre a Trindade contraria as fórmulas silogísticas. Contra aqueles e contra o cardeal. 

49. Se uma fórmula silogística subsistisse em questões divinas, o artigo sobre a Trindade seria conhecido, em vez de ser crido. 

50. Em suma, todo o Aristóteles está para a teologia como as trevas estão para a luz. Contra os escolásticos.

51. É altamente duvidoso que os latinos tenham uma opinião correta sobre Aristóteles. 

52. Teria sido bom para a Igreja se Porfírio 22 com seus universalia 23 não tivesse nascido para os teólogos. 

53. As definições mais correntes de Aristóteles parecem pressupor aquilo que pretendem provar. 

54. Para o ato meritório basta a coexistência da graça; do contrário, a coexistência nada é. Contra Gabriel Biel. 

55. A graça de Deus nunca coexiste de forma ociosa, mas é espírito vivo, ativo e operante; nem mesmo pelo poder absoluto de Deus pode suceder que haja um ato de amizade sem que a graça de Deus esteja presente. Contra Gabriel Biel. 

56. Deus não pode aceitar o ser humano sem a graça justificante de Deus. Contra Occam. 

57. Perigosa é a afirmação de que a lei preceitua que o cumprimento do preceito suceda dentro da graça de Deus. Contra o cardeal Pedro d ’AiIly e Gabriel Biel. 

58. Tal afirmação implica que ter a graça de Deus seria uma nova exigência além da lei. 

59. Tal afirmação implica também que o cumprimento do preceito poderia ocorrer sem a graça de Deus. 

60. Ela também implica que a graça de Deus se tornaria mais odiosa do que a própria lei o foi. 

61. Disso não se infere que a lei deve ser guardada e cumprida na graça de Deus. Contra Gabriel Biel. 

62. Portanto, quem está fora da graça de Deus peca constantemente, mesmo não matando, não praticando adultério, não cometendo roubo. 

63. A conclusão a ser tirada é que essa pessoa peca por cumprir a lei de forma não espiritual. 

64. Não mata, não pratica adultério nem comete roubo espiritualmente quem não se ira nem cobiça. 

65. Fora da graça de Deus é a tal ponto impossível não ser tomado de ira ou de cobiça, que nem mesmo na graça isso pode suceder de forma a cumprir perfeitamente a lei. 

66. Não matar, não praticar adultério, etc. exteriormente e em ato concreto é justiça dos hipócritas. 

67. Não cobiçar e não se encolerizar provém da graça de Deus. 

68. Portanto, sem a graça de Deus é impossível cumprir a lei, seja de que maneira for.

69. Sim, por natureza, sem a graça de Deus, ela é mais transgredida ainda. 

70. Para a vontade natural, a lei, que, em si, é boa, torna-se inevitavelmente má. 

71. Sem a graça de Deus, a lei e a vontade são dois adversários implacáveis. 

72. Aquilo que a lei quer, a vontade nunca quer, a menos que, por temor ou por amor, finja querê-lo. 

73. A [ei é o executor da vontade, que é superado apenas pelo “ menino que nos nasceu” [Is 9.6]. 

74. A lei faz abundar o pecado, porque irrita e retrai de si mesma a vontade. 

75. Mas a graça de Deus faz abundar a justiça através de Jesus Cristo, porque torna agradável a lei. 

76. Toda obra da lei sem a graça de Deus parece boa exteriormente, mas interiormente é pecado. Contra os escolásticos. 

77. Sem a graça de Deus, a mão está voltada para a lei do Senhor, mas a vontade está sempre afastada dela. 

78. Sem a graça de Deus, a vontade se volta para a lei movida pela vantagem própria. 


79. Malditos são todos os que praticam as obras da lei. 

80. Benditos são todos os que praticam as obras da graça de Deus. 

81. Quando não entendido de forma errônea, o capítulo Falsas de pe. dis. V 24 confirma que, fora da graça, as obras não são boas. 

82. Não só as leis cerimoniais são leis não boas e preceitos nos quais não se vive. Contra muitos mestres. 

83. Isto vale também para o próprio Decálogo e para tudo o que puder ser ensinado ou prescrito interior ou exteriormente. 

84. A lei boa na qual se vive é o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. 

85. Se fosse possível, a vontade de qualquer pessoa preferiria ser completamente livre e que não houvesse lei. 

86. A vontade de qualquer pessoa odeia que a lei lhe seja imposta, a menos que deseje que lhe seja imposta por amor a si mesma. 

87. Já que a lei é boa, não pode ser boa a vontade que é inimiga da lei. 

88. Disso se evidencia claramente que toda vontade natural é iníqua e má.

89. A graça é necessária como mediadora que concilie a lei com a vontade. 

90. A graça de Deus é dada para orientar a vontade, para que esta não erre também ao amar a Deus. Contra Gabriel Biel, 

91. Ela não é dada para suscitar atos com maior frequência e facilidade, mas porque, sem ela, nenhum ato de amor é suscitado. Contra Gabriel Biel. 

92. E irrefutável o argumento de que o amor seria supérfluo se, por natureza, o ser humano fosse capaz de um ato de amizade. Contra Gabriel Biel. 

93. Perversidade sutil é dizer que fruir e usar constituem o mesmo ato. Contra Occam, o cardeal Pedro d ’Ailly e Gabriel Biel. 

94. O mesmo vale para a afirmação de que o amor a Deus subsiste mesmo ao lado de intenso amor pela criatura. 95. Amar a Deus significa odiar a si mesmo e nada saber além de Deus. 

96. Nosso querer deve conformar-se em tudo à vontade divina. Contra o cardeal Pedro d’Ailly. 

97. Não só devemos querer o que ele quer que queiramos, mas devemos querer absolutamente qualquer coisa que Deus queira."

1 Disputatio contra scholasticam theologian, WA 1,224-8. Tiadução de Walter O. Schlupp. 

2 Philosophia anciila theologiae. 

3 Cf. a tese 43 deste escrito. 

4 Um dos mais brilhantes pensadores escolásticos. Lecionou em Paris, na Inglaterra e em CaIônia (Alemanha). 

5 Iniciador do norninalismo (v. nota 23 infra) dos sécs. XIV/XV e da corrente filosófico-teológica da "via moderna". Um das mais fiéis adeptos de sua teologia foi Gabriei Biel (v. nota 8 infra). Occam lecionou em Paris e faleceu na Alemanha como refugiado. 

6 Carta a Joao Lang. de 8 de fevereiro de 1517 (WA Br 1,88,17s. - n° 34). 

7 Carta de 18 de maio de 1517 (WA Br 1.99.8-10 -no 41). 

8 Aproximadamente 1410-1495. Natural da Alemanha, ocupou diversos cargos eclesiasticos, lecionou na Universidade de Tiibingen (1484-1492) e escreveu um livro didático de teologia, de ampla divulgação. Seu pensamento teve grande importância para a formaçâa teológica de Lutera. 

9 Carta a João Braun, vigario em Eisenach, de 17 de marca de 1509 (WA Br 1,17,43s. - n° 5). 

10 A universidade conferia os títulos de bacharel, mestre e doutor. Francisco Günther já obtivera o grau de mestre na Faculdade de Artes Liberais. uma espécie de curso básico para todos as estudantes.

I I Grau conferido pela Faculdade de Teologia. O bacharel em Estudos Biblicos estava habilitado a dar aulas sobre a Biblia.

12 Cf. a introduçâo a este escrito.

13 Adeptos do asceta britânico Pelágio (m. depois de 416), que viveu durante muito tcmpo em

Roma. Afirmou que o cristão é capaz de chegar a perfeicào através da cumprimento da lei

de Deus e rejeitou a doutrina do pecado original. O pelagianismo foi virias vezes condenado coma heresia.

14 Cf. Mt 7.17.

15 Adepto do persa Mani.(215-provavelmente 276) Fundador de uma religião que se espalhou por todo o imperio Romano. Sua característica principal era a dualidade entre o bem e o mal (ou entre a luz e as trevas)

16 Facere quod est in se. no original: "fazer (tudo) o que se é capaz de fazer". Trata-se da idéia de que Deus dá sua graça a quem faz o que é capar de fazer. Essa ideia está presente tanto na teologia como na religiosidade popular da Idade Média. Fazendo o que é capaz de fazer, a ser humano prepara-se para o recebimento da graça de Deus. 

Segundo Tomás de Aquino, a ser humano só pode fazê-lo movido pela graça divina. Para Alexandre de Haies íoor volta de 1170-12451. . natural da Inglaterra e desde aproximadamente 1231 franciscano. . - quem faz o que é capaz de fazer é igual a uma pessoa que abre a janela: não acende a luz no quarto nem o ilumina, mas faz com que a luz possa entrar nele para iluminá-lo.

17 O que significa separar e combinar os conceitos pode ser mostrado através do seguinte exemplo: "Quem dorme, pode estar acordado" é uma afirmação correta "separando-se os conceitos", pois um ser humano pode dormir e estar acordado em momentos diferentes.1 Mas é uma afirmacão errada "combinando-se os conceitos", pois ninguém pode dormir e estar acordado ao mesmo tempo.

18 "Necessidade da conseqiiência" quer dizer, neste contexto: aquilo que Deus quer, acontece  necessariamente; quem for predestinado por Deus, será necessariamente salvo. "Necessidade do conseqüente" quer dizer: não se pode demonstrar que determinada pessoa necessariamente tivesse que ser predestinada por Deus.

19 Ignorantia invincibilis, no original. Por "ignorância irremediável" os teólogos escolásticos entendiam o fato de que obstáculos intransponiveis impedem uma pessoa de conhecer o verdadeiro e único caminho da salvaçáo, que é indicado pela Igreja de Roma. Tal ignarância, diriam. não é pecado; conseqüentemente, exime de toda culpa. Além disso conheciam a "ignorância grave", que exime de grande parte de culpa, e a "ignorância intencional", cuja consequência é uma culpa maior.

20- Cf. a introdução a este escrito

21 1350-1420, francês. lecionou na Universidade de Paris, tendo sido mais tarde nomeado bispo (1396 em Cambrai) e cardeal (141 1). e um dos teólogos em cujos escritos Lutero se aprofundou como estudante universitário

22 232/33-304/05, filósofo neoplatõnico que, embora fosse inimigo do cristianismo, exerceu grande influência sobre o mesmo. Sua introduçào aos escritos lógicos de Aristóteles, redigida em grego e traduzida para o latim, no séc. VI, por Boécio, foi o ponto de partida para a controvérsia medieval sobre os universalia (cf. a nata seguinte). 

23 Conceitos genéricos. Na Idade Média discutiu-se a relaçào entre eles e as coisas reais e perceptíveis. O realismo platônico afirmava que os conceitos genéricos existem realmente, separados das coisas. Segundo o realismo aristotélico, os conceitos existem imanentes as coisas. Para o nominalisma, eles sao meras abstrações das coisas concretas, abstrações essas produzidas pelo raciocínio humano. 

 24 Decreturn magistri Gratiani, parte II, causa XXXIII, questào III, distinctio V, capitulo 6, in: Corpus iuris canonici, Graz, 1955, v. I, col. 1241. O Decreturn Gratiani é a campilação do direito canônico feita pelo monge camaldulense Graciano pouco depois de 1140."

 Martinho Lutero Obras Selecionadas Volume 1 Os Primórdios Escritos de 1517 a 1519, Editora Sinodal: São Leopoldo  e Concórdia Editora: Porto Alegre, 1987, p. 13-20