INTRODUÇÃO
Tendo em vista o tabu que envolve os diversos componentes da sexualidade humana, a pornografia se tornou um dos primeiros contatos de informação sobre o assunto por parte das pessoas.
Pessoas solitárias e insatisfeitas no casamento tendem a procurar a pornografia, sendo assim entre casados a pornografia pode ser um sintoma de inadequação sexual:
Entre os entrevistados, a pornografia parece ser a primeira fonte de informação sexual, contribuindo com o aprendizado sobre práticas sexuais e descobertas sobre si mesmo e sobre o corpo do outro, dados já encontrados em pesquisa anterior (Elder et al., 2015) (BAUMEL, 2019)
Apenas entre os homens foi identificado o uso da pornografia para “suprir carência”, consonante com outras pesquisas já realizadas. Popović (2011) traz evidências que homens (e, eventualmente, algumas mulheres) podem ser atraídos para a pornografia quando se sentem solitários e frustrados sexualmente. (BAUMEL, 2019)
Muusses, Kerkhof e Finkenauer, (2015) assinalam que maridos em relacionamentos insatisfatórios utilizam mais pornografia e que o maior uso de pornografia pelos maridos contribui para a insatisfação, em um efeito aparentemente recíproco. Nesse contexto, o uso talvez funcione como uma maneira de escapar do relacionamento insatisfatório, sendo a pornografia uma alternativa atraente para a baixa de atividades sexuais no relacionamento. Outra pesquisa aponta, ainda, que alguns homens em relacionamento tendem a preferir a pornografia ao sexo real; como uma fonte infinita de mulheres e atos sexuais diversificados, a pornografia parece mais emocionante (Sun et al., 2015), além de não demandar um investimento (emocional, sexual, de tempo, entre outros) na relação real com a parceira. (BAUMEL, 2019)
Efeitos Negativos
"Homens e mulheres elencam como impacto negativo o uso excessivo do material com conteúdo sexual e um possível prejuízo à saúde física e mental, destacando a preocupação com o desenvolvimento de um vício e seus efeitos. Tal impacto negativo nos relacionamentos e na saúde física e mental já foi observado na literatura, pela menor disponibilidade do parceiro para interação e, especialmente, pelo uso em segredo (Popović, 2011; Pyle & Bridges, 2012), além de outras consequências danosas decorrentes de um vício, como isolamento social, dificuldade no cumprimento das atividades diárias e apenas alcançar a excitação sexual com o uso de pornografia (Hilton, 2013; Şenormanci et al., 2014)." (BAUMEL, 2019)
O consumo de pornografia foi associado a várias alterações negativas na saúde e sexualidade humanas, desde problemas nas relações pessoais, depressão e falta de motivação [6, 7], a disfunções sexuais e orgásmicas [8], perda de interesse sexual num parceiro real e perda de interesse no parceiro romântico [9]. Muitos estudos revelaram que o uso de pornografia se associa negativamente com a estabilidade e qualidade da relação de intimidade, tanto em casais a namorar, a coabitar ou casados [10- 12].
O impacto da pornografia na satisfação relacional pode relacionar-se com a forma como é descoberto o uso de pornografia por um parceiro, com a percepção de que o uso excessivo parceiro é uma ameaça à relação [13] e com os sentimentos negativos suscitados por esse uso, principalmente nas mulheres [14]. O consumo de pornografia por um indivíduo pode levar também a uma menor satisfação com o seu parceiros íntimo [15].
O uso de pornografia associa-se ainda a um nível menor de compromisso para com o parceiro [16] e a um nível menor de satisfação sexual [17]. Para além destas associações negativas, um dos maiores predictores do uso de pornografia na internet é a falta de felicidade no casamento [18]. Pode isto indicar que o uso de pornografia é, de alguma forma, incompatível com relações saudáveis.
Uma elevada frequência de uso associa-se a uma menor satisfação relacional [31] e utilizadores com maior frequência de utilização mostraram valores mais baixos de satisfação relacional e intimidade que os utilizadores menos frequentes [32]. Morgan [33] descobriu que a frequência de utilização de material pornográfico é um predictor da satisfação sexual e relacional, sendo que à medida que aumenta a frequência, diminui a satisfação.
Utilizadores individuais de pornografia demonstram menor satisfação relacional, intimidade e níveis de compromisso que os não utilizadores e demonstram menor intimidade e níveis de compromisso que os participantes que utilizam pornografia com o parceiro [32]. Também indivíduos que nunca utilizaram materiais sexualmente explícitos mostram uma maior qualidade da relação de intimidade na comunicação, na dedicação, na satisfação sexual e na fidelidade, que os utilizadores solitários e aqueles que utilizaram materiais explícitos apenas com o parceiro da relação reportam mais dedicação e mais satisfação sexual, comparando aos que utilizaram materiais pornográficos sozinhos [17]. No que toca a problemas no seio da relação, casais em que apenas um dos parceiros da relação utilizou pornografia, demonstraram mais problemas relacionados com a excitação (nos homens) e com sentimentos de autopercepção negativos (na mulher) [20]. Wright et al. [35] testaram ainda a associação entre o consumo individual de pornografia e uma menor satisfação sexual tendo encontrado que, a partir de uma determinada frequência desse consumo individual, a satisfação sexual começa a descer.
O estudo de Cranney [43], já discutido nesta revisão, encontrou uma associação entre a insatisfação com a imagem corporal sexual (tamanho do pénis), e o uso de pornografia. Estando esta 18 insatisfação associada a uma menor auto-confiança sexual, levando a dificuldades no estabelecimento ou manutenção de uma relação de intimidade, percebe-se aqui o impacto da pornografia.
Índivíduos mais religiosos e indivíduos que consomem mais pornografia têm níveis mais altos de ansiedade relacional, sendo que estas relações são indirectas e mediadas por uma maior percepção de dependência de pornografia. Pessoas religiosas sentem mais facilmente a percepção de dependência e, como tal, têm mais probabilidade em sofrer com a ansiedade relacional.
A utilização de pornografia parece ser mais deletéria para as relações de intimidade à medida que a sua frequência aumenta, com elevadas frequências a associarem-se a menor satisfação relacional e sexual [31-33], menor qualidade conjugal [37], maior percepção de dependência [39] e maior dificuldade na formação de uma relação de intimidade [38]. (SILVA, 2018 )
BIBLIOGRAFIA
BAUMEL, Cynthia Perovano Camargo et al . Atitudes de Jovens frente à Pornografia e suas Consequências. Psico-USF, Campinas , v. 24, n. 1, p. 131-144, Jan. 2019 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712019000100131&lng=en&nrm=iso>. access on 16 May 2019. http://dx.doi.org/10.1590/1413-82712019240111.
SILVA, José Manuel Sá da. O impacto do consumo de pornografia nas relações de intimidade: Uma
revisão teórica. Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 2018.