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Capitulo 6
A abordagem teológica começa com os ensinamentos do Novo Testamento sobre a salvação e pergunta quais sáo as doutrinas essenciais da salvação sem as quais ela não seria possível. Ela utiliza o evangelho, definido por Paulo em Coríntios 15.1-8, que é o poder de Deus para a salvação (Rm 1.16), e pergunta: Quais verdades bíblicas são necessárias para tornar isso possível. Em Romanos 1 a 8, Paulo, falando do evangelho (Rm 1 16) define três aspectos da salvação “nele” (1.17).
Depois de analisar a condenação (Km l 3a), expõe o evangelho em três etapas: justificação (3b— 5), santificaçao ( 6 - 7 ) e glorificação (8). Afirma que justificação é a salvação da pena do pecado, santificação é a salvação do atual poder do pecado e glorificaçãoe a salvação da futura presença do pecado. Resta, então, identificar quais doutrinas sao necessárias para tornar possível essas três etapas da salvação
As Três etapas da Salvação:
1. Justificação : A Salvação da Pena do Pecado
Onze doutrinas são necessárias para tornar possível a justificação:
1) A depravaçao humana;
2) o nascimento virginal de Jesus;
3) a impecabiídade de Jesus;
4) a divindade de Jesus;
5) a humanidade de Jesus;
6) a unidade de Deus;
7) a triunidade de Deus;
8) a necessidade da graça de Deus;
9) a necessidade da fé;
10) a morte expiatória de Jesus
11) a ressurreição de Jesus.
Sem todas elas, nenhum ser humano alcançaria uma situaçao legal como justo diante de Deus. Porque todos somos pecadores em nos mesmos e de nós mesmos (Rm 1— 3a) e só podemos ser declarados justos diante de Deus, se o justo ( J e s u s ) m o r r e r p e I o s i n j u s t o s ( seres humanos), para que o justo juiz (Deus) possa ser justo quando justificar os injustos. Ou seja, a ira de Deus tem de ser satisfeita antes que Ele possa liberar sua misericórdia e salvar os pecadores, declarando-os justos aos seus olhos (Km 3b— 5). Um estudo posterior dos primeiros pais e credos levou à mesma conclusão.
2-Santificação: A Salvação do Atual Poder do Pecado
Mais duas doutrinas são necessárias para esta segunda fase da salvação:
12) a ascensão de Jesus
13) a vigente intercessão sumo-sacerdotal de Jesus.
A segunda etapa da salvação é chamada de santificação. Diferente da justificação, a santificação não é questão de posicionamento diante de Deus; e questão de prática na terra. Não nos salva, como a justificação, meramente da pena do pecado, mas nos liberta do poder do pecado dia a dia....
Por que esses dois fetos são necessários para a santificação? Porque, falando sobre sua ascensão, Jesus disse: “Todavia, digo-vos a verdade: que vos convém que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador [o Espirito Santo] não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei” (Jo 16.7).
Sua ascensão ao Pai foi para apresentar a conclusão oficial de sua missão terrena de salvação. Assinalava também o início de seu ministério sacerdotal em prol de nossa santificação, pois ali à direita do Pai, Ele vive sempre para fazer intercessão pelos crentes (Hb 7.25). Foi pela virtude do seu sangue que entrou no céu em nosso favor (Hb 9.11,12). Como o acusador dos irmãos, (Satanás) acusa-nos de nossos pecados diante de Deus (Ap 12.10), Jesus, nosso advogado (1 Jo 2.1), defende a eficácia de seu sangue expiatório diante do Pai.
3. Glorificação: A Salvação da Futura Presença do Pecado
14) A segunda vinda de Jesus
A segunda vinda de Jesus é necessária para a conclusão de nossa salvação. Mesmo quando Jesus estava subindo ao céu, os anjos anunciaram que Ele regressaria, dizendo: “Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir (At 1.11). A segunda vinda de Jesus assinala a derrota final da morte e do pecado (1 Co 15.24,25). Porque por ela somos libertos da morte (Hb 2.14), da dor e do sofrimento (Ap 21.4),
Paulo nos lembra que hoje “toda a criação geme [...] esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.22,23). Então seremos salvos da presença do pecado. “Seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 Jo 3.2). “Agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face” (1 Co 13.12).
Desde os primeiros tempos, os credos e confissões da fé cristã deixaram claro, como a Escritura deixa, que a segunda vinda e o Reino de Jesus incluirão a separação dos salvos dos perdidos (Mt 25), a ressurreição dos 99 justos e injustos Jo 5.28,29; Ap 20.4-6) e o estado eterno do céu (Ap 2 1 -2 2 ) e do. inferno (Ap 20).
No Credo de Atanásio, por exemplo, lemos: E quando Jesus vier, todos os homens ressuscitarão com o seu corpo, para prestar conta dos seus atos. E os que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna, e os maus para o fogo eterno”. A felicidade consciente e eterna para os remidos e o castigo consciente e eterno dos não remidos fazem parte deste décimo quarto fundamento da fé cristã. p. 99-100
O que Toma um a Doutrina Essencial?
Há muitos ensinamentos importantes na Bíblia (como a proibição contra a blasfémia, a idolatria, o adultério e o homicídio) que não estão na lista das doutrinas essenciais para a salvação. Então, o que toma fiindamental uma doutrina íundamental. A julgar pelas doutrinas pronunciadas essenciais pela igreja cristã histonca, duas características básicas se revelam. Tem de ser uma doutrina timda a nossa salvafão, ou seja, tem de ser de natureza soteriológica ou salvífica. Tem de embasar o evangelho, que é essencial para a salvação (Rm 1.16). Quer dizer, a salvação que Deus revelou não seria possível sem que isso fosse verdade. Este critério está claramente exposto na maioria das doutrinas essenciais. Obviamente, a trindade, a divindade de Jesus e sua morte expiatória e ressurreição sao necessárias para nossa salvação. Além disso, como demonstrado acima, sua ascensão, atual advocacia e segunda vinda são necessárias para a salvação no sentido amplo que inclui não só a justificação, mas também a santificação e a glorificação.
No entanto, existem outras doutrinas que nao parecem necessárias para nossa salvação que compõem a lista.
E quanto ao nascimento virginal? Era essencial para nossa salvação’ Claro que a doutrma subjacente à qual o nascimento virginal aponta — a impecabilidade de Jesus — é essencial para a salvação, porque outro pecador nao pode ser o salvador dos pecadores.3 Ele mesmo precisaria de um salvador. Uma pessoa que esteja se afogando não pode salvar outra pessoa que esteja se afogando.
Mas o nascimento virginal foi necessário para que Jesus fosse sem pecado? Esse ponto é certíssimo: toda pessoa nascida da maneira natural teria sido — exceto pela intervenção divina — pecadora como nós (Rm 3.23; 5.12). E o nascimento virginal foi uma maneira de contornar essa situação. Se era a única maneira, ou se, digamos, uma concepção imaculada de Jesus teria funcionado é tanto discutível quanto irrelevante. O nascimento virginal era uma maneira de resolver a dificuldade, e foi a maneira que Deus escolheu utilizar. Qualquer coisa que não a concepção virginal teria interrompido a relação sem pecado e celestial entre Pai e Filho. E somente a concepção virginal teria interrompido a relaçãò terrena de pai para filho que vinha desde Adão e evitado a herança de uma natureza humana corrupta e consequente morte. A concepção imaculada de Jesus não teria conseguido esse feito. Além disso, era importante, se não crucial para nossa salvação, que Deus sobrenaturalmente indicasse qual de todos os nascidos de mulher (Gn 3.15; Gl 4.4) era seu Filho, o Salvador do mundo.4
4 Veja J. G. Machen, The Virgin Birth o f Christ (Nova York: Harper & Brothers, 1930).
A concepção imaculada de Jesus não ter sido um “sinal externo que, desde o início, chamasse a atenção para a natureza sobrenatural e sem pecado do Salvador. Por conseguinte, tanto pela doutrina subjacente da impecabilidade de Jesus quanto por sua natureza como sinal sobrenatural, o nascimento virginal era uma necessidade divinamente designada para nossa salvação.
DISTINÇÃO ENTRE doutrinas necessárias para tornar a salvação possível e doutrinas necessárias para sermos salvos:
Uma distinção crucial emerge da discussão acima. As catorze doutrinas críticas são essenciais para tomar a salvação possivel. No entanto, não precisamos expressar a crença explícita em todas elas -para sermos salvos.
A lista completa das doutrinas cristãs essenciais para tornar a salvação possível é:
1) A depravação humana;
2) o nascimento virginal de Jesus;
3) a impecabilidade de Jesus;
4) a divindade de Jesus;
5) a humanidade de Jesus;
6) a unidade de Deus;
7) a triunidade de Deus;
8) a necessidade da graça de Deus;
9) a necessidade da fé;
10) a morte expiatória de Jesus;
11) a ressurreição de Jesus;
12) a ascensão de Jesus;
13) a atual intercessão sumo sacerdotal de Jesus
14) a segunda vinda, o julgamento final (o céu e o inferno) e o Reino de Jesus.
Todas estas doutrinas são necessárias para a salvação ser possível em sentido amplo, o que inclui a justificação, a santificação e a glorificação.
Entretanto, não é necessário crermos em todas essas doutrinas para sermos salvos (justificados).
Hoje, o mínimo necessário para crermos para sermos salvos é : 5
1) a depravação humana;
4) a divindade de Jesus;
5) a humanidade de Jesus;
6) a unidade de Deus;
8) a necessidade da graça de Deus;
9) a necessidade da fé,
10) a morte expiatória de Jesus e
11) a ressurreição de Jesus.
5 No Antigo Testamento, ao que parece, o conteúdo necessário para crer (cf. G n 15.6; H b 11.6- Jn 3) era menor que o do Novo Testamento (cf. A t 4.12; 16.31; Rm 10.9,10). Pois não há evidência de que todo crente no Antigo Testamento soubesse que uma pessoa chamada Jesus, que era Deus, morreria por seus pecados e ressuscitaria (veja meu livro Systematic lheology, vol. 3, Sin and Salvatton [Minneapolis: Bethany House, 2004], pp. 414-416). [Edição brasileira: Teologia Ststematica de Norman Geisler, vol. 2, Pecado, Salvação (Rio de Janeiro: CPAD, 2010).
Obviamente, a impecabilidade de Jesus (3) está implícita em seu nascimento virginal (2) e pelo menos duas pessoas da santíssima trindade (7) estão implícitas na unidade de Deus (6) e na divindade de Jesus (4).
Algumas das catorze doutrinas nao são necessárias para crermos para sermos salvos. Por exemplo, não é necessário crermos no nascimento virginal, na ascensão, na atual intercessão de Jesus ou na sua segunda vinda ou julgamento final, como condição para ganharmos posição correta diante de Deus (justificação).
Mesmo algumas que sao necessárias podem ser crenças mais implícitas que explícitas (por exemplo, a depravação humana e a triunidade de Deus).*6
*6 Claro que a crença na divindade de Cristo, que é necessária, implica algum tipo de pluralidade na unidade de Deus, mas em si e por si mesma não acarreta a plena doutrina da trindade. cristã.
No que diz respeito à depravação, precisamos crer que somos pecadores que precisam de um Salvador, mas não em tudo o que está envolvido na doutrina ortodoxa da depravação (como a herança de uma natureza pecaminosa). Semelhantemente, ainda que a divindade de Jesus também esteja implícita nesta visão, a qual envolve duas pessoas que são Deus, não há razão para acreditar que, para a salvação, precisamos entender e crer explicitamente na doutrina ortodoxa da personalidade e divindade do Espírito Santo, que está unido com as outras duas pessoas em uma só natureza.
Na verdade, muitos não entendem isso claramente, mesmo anos depois de serem salvos! A lista completa das doutrinas essenciais é essencial para tomar a salvação possível, mas nem todas são essenciais para crermos para sermos salvos. Todas sao essenciais paia crermos a fim de que sejamos cristãos coerentes, mas nem todas são necessárias para crermos a fim de que sejamos cristãos autênticos.
2- UMA ABORDAGEM HISTÓRICA ÀS DOUTRINAS ESSENCIAIS
O Ponto de grande interesse é que essas mesmas catorze doutrinas essenciais da salvação constam nas primeiras confissões e credos da igreja cristã. Portanto, há uma confirmação histórica do processo-teológico pelo qual chegamos às mesmas conclusões.*7
*7 F. L. Cross, editor, The Oxford Dictionary o f the Christian Church, segunda edição (Oxford, UK:
Oxford University Press, 1978), p. 1.070.
O Credo dos Apóstolos
Creio [9] em Deus [6] Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor [4], que foi concebido pelo poder do Espírito Santo [7], nasceu da virgem Maria [2, 3]; padeceu [10] sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto [5] e sepultado; (desceu à mansão dos mortos;) ressuscitou ao terceiro dia [11]; subiu aos céus [12]; está sentado à direita de Deus Pai [13] Todo-Poderoso, de onde há de vir a julgar òs vivos e os mortos [14]. Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica [universal], na comunhão dos santos, na remissão [8] dos pecados [1], na ressurreição da carne,*8 na vida eterna [14]. Amém.
* 8 Foi só nos tempos modernos que a palavra “came”foi gnosticizada em corpo , uma palavra mais suave que pode ser mais facilmente entendida em menos que o sentido material. Isto é contrário a toda história do credo até e durante a reforma. Mais importante ainda, é contrário ao Novo Testamento (Lc 24.39; A t 2.31; cf. 1 Jo 4.2; 2 Jo 7). Veja Norman L. Geisler, The Battle fo r the Resurrection (Nashville: Thomas Nelson, 1989, cap. 6). O teólogo neo-ortodoxo Emil Brunner declarou en&ticamente: “Ressurreição do corpo, sim! Ressurreição da came, não!” Veja The Christian Doctrine o f Creation and Redemption: Dogmatics, vol. 2 (Philadelphia: The Westminster Press, 1952), p. 372. [Ediçáo brasileira: A Doutrina Cristã da Criação e Redenção, vol. 2 (Sao Paulo- Fonte Editorial, 2006).] Muitos neo-evangélicos seguiram o exemplo (veja George Ladd, / Believe in the Resurrection o f Jesus [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1976], e Murray Harris, From Grave to Glory [Grand Rapids, MI: Zondervan, 1990]).
[observação* Tendo em vista a data do Credo de Nicéia e os escritos dos pais da igreja sabe-se que ele fala da trindade, ou seja, de Jesus como pessoa divina e distinta do Pai e do Espírito Santo como pessoa divina. Embora a leitura isolada do credo não chegue a estas conclusões necessariamente.Pois o termo Senhor era usado como título de divindade ou como forma de tratamento a autoridades como interpretava o herege Ario de Alexandria] Nota minha
Vale ressaltar que todas as catorze doutrinas da salvação estão neste credo.
O Credo de Niceia (3 2 5 d. C .) Da mesma forma, o Credo de Niceia contem todas as catorze doutrinas essenciais da salvação:
Cremos [9] em um só Deus [6], Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Cremos em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigénito de Deus [4], gerado do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, luz da luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito [4], da mesma substância [6] do Pai. Por ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação [10] desceu dos céus: se encarnou pelo Espírito Santo [7] no seio da virgem Maria [2, 3] e se fez homem [5]- Também por nós foi crucificado [10] sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, conforme as Escrituras [15]; e subiu aos céus [12], onde está assentado à direita de Deus Pai [13]. Donde há de vir, em glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim [14]. Cremos no Espirito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai (e do Filho); e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado [7]: ele falou pelos profetas [15]. Cremos na igreja una, santa, católica e apostólica. Confessamos um só batismo para remissão [8] dos pecados [1]. Esperamos a ressurreição dos mortos; e a vida do mundo vindouro [14]. Amém.
Além das catorze doutrinas essenciais da salvação, o Credo de Niceia faz referência à Escritura (um fundamento epistemológico) como base para os credos.9
*9 Várias traduções atualizadas deste credo têm sido adotadas por diferentes grupos, mas o conteúdo geral permanece o mesmo.
O Credo de Atanásio (c. 4 2 8 d. C .) *10 Ainda que a maioria dos estudiosos não acredita que Atanásio tenha sido o autor deste credo, as palavras refletem a forte ênfase na divindade de Cristo. Além disso, é a mais antiga e a mais forte declaração explícita em formato de credo sobre a trindade.
*10"Phillip Schaff afima que "é Uma exposição clara e precisa das decisões doutrinárias dos primeiros quatro concílios ecumênicos entre 325 e 451 d.C." (veja The Creeds , fC hritondem , 1 37). Isso colocaria o credo depois de 451 d.C.
Diz o seguinte:
Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé católica, porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem duvida por toda a eternidade.*11 A fé católica consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas em um só Deus, sem confundir as Pessoas nem separar a substância [essência]. Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo. Mas uma só é a divindade do Espírito Santo, Ígual a glória, coeterna a majestade [...] O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado. [...] O Pai e eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. [...] Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. E, contudo, não são tres deuses, mas um só Deus. [...] À religião católica nos proíbe dizer que são três deuses ou senhores. O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado. O Filho procede do Pai; não foi feito, nem criado,as gerado. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do E nesta trindade não há nem mais antigo nem menos antigo, nem maior nem menor, mas as três Pessoas são coeternas e iguais entre si.Quem, pois, quiser salvar-se, deve pensar assim a respeito da trindade Mas para alcançar a salvação, é necessário ainda crer firmemente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. A pureza de nossa fé consiste, pois, em crer ainda e confessar que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. É Deus, gerado na substância [essência] do Pai desde toda a eternidade; é homem porque nasceu, no tempo, da substância [essência] de sua mãe. Deus perfeito e homem perfeito com alma racional e carne humana. Igual ao Pai segundo a divindade; menor que o Pai segundo a humanidade. E embora seja Deus e homem, contudo não são dois, mas um só Cristo. É um não porque a divindade se tenha convertido em humanidade, mas porque Deus assumiu a humanidade. Um, finalmente, não por confusão de substância [essência], mas pela unidade da Pessoa. [...] Ele sofreu a morte por nossa salvação, desceu ao inferno e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos. Subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. E quando vier, todos os homens ressuscitarão com seu corpo para prestar contas de seus atos. E os que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna, e os que tiverem praticado o mal, para o fogo eterno.
*11 Os anglicanos e a maioria dos grupos protestantes adotam este credo, apesar de alguns terem fortes ressalvas sobre a condenação ao inferno de todos os que rejeitam o credo em sua totalidade. [...]
Várias coisas são notáveis neste credo. Primeiramente, além de afirmar as doutrinas essenciais dos credos anteriores, enfatiza a trindade e a encarnação de Cristo. Em segundo lugar, foi dirigido contra muitas heresias. Contra o triteísmo, afirma que “não são três deuses, mas um só Deus”. Contra o monofisismo, assevera que não há “confiisao” ou mistura das duas naturezas. Contra o nestorianismo, declara que há uma “unidade” das duas naturezas em uma Pessoa. E em oposição ao arianismo, o Filho é de “substância [...] igual entre si” com o Pai e não foi “feito”, mas é “incriado” e “eterno”.
Quanto ao suposto absurdo lógico que o Deus infinito não pode tomar-se homem finito, ficca claro que a deidade não se tomou humanidade, mas que a segunda Pessoa da trindade assumiu a natureza humana em adição à sua natureza divina. Claro que isso elimina a heresia do adocionismo, que Jesus era meramente um homem que foi adotado na divindade como Filho. Não foi a subtração da deidade, mas a adição da humanidade. Até o apolinarianismo é excluído, uma vez que fala que o Filho é plenamente humano, “Deus perfeito e homem perfeito com alma racional e carne humana”, não parcialmente humano.
Por fim, este é o primeiro dos credos a falar explicitamente sobre a natureza do julgamento final depois da segunda vinda de Cristo, determinando a “vida eterna” (céu) para os salvos e o “fogo eterno (inferno) para os perdidos. Tendo em vista que ambos os estados são usados sem paralelo e uma vez que “vida eterna” implica existência consciente, entao o mesmo implica “fogo eterno”. A frase “perecerá sem dúvida por toda a eternidade” também implica consciência, visto que na aniquilação a pessoa morreria instantaneamente, não eternamente. Assim, o credo também pronuncia que a aniquilação é herética. E já que implica que haverá pessoas em ambos os lugares, o universalismo também é excluído da ortodoxia. m suma, este é um credo fantástico que explicitamente anatematiza as heresias mais do que qualquer outro credo antigo.
O Credo da Calcedônia (451 d .C .) Este credo foi aprovado em uma sessão ecumênica. Abrange todos os credos anteriores e acrescenta doutrinas essenciais teológicas desenvolventes. Declara:
Fieis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar [9] um só e mesmo Filho [4], nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito [3] quanto à divindade [4] e perfeito quanto à humanidade [5]; verdadeiramente Deus [4, 6] e verdadeiramente homem LU constando de alma racional [humana] e de corpo [5], consubstanciai com o Pai [4] segundo a divindade [7], e consubstanciai conosco, segundo a humanidade [5]; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado [1]; gerado segundo a divindade [4] pelo Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação [10], nascido da virgem Maria [2], portadora de Deus reterente a sua humanidade [5]; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor Umgemto, que se deve confessar, em duas naturezas [4, 5], inconfundiveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo para formar uma só pessoa [4, 5] e em uma subsistência [hipóstase]; não separado nem dividido em duas pessoas mas um só e o mesmo Filho, o Unigénito, Verbo [Logos] de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas desde o princípio [15; examinaremos esta décima quinta doutrina crucial mais tarde] acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais [isto é, o Credo de Niceia] nos transmitiu.
Além de outras doutrinas essenciais, o Credo da Calcedônia destaca a trindade o nascimento virginal de Cristo, sua humanidade e divindade e a unidade hipostática de suas duas naturezas em uma pessoa, sem separação, nem confusao. Além disso, enfatiza a perfeição e completude das duas naturezas juntamente com a eternidade do Filho, antes de todos os séculos. Alem da tônica na união das duas naturezas, o credo vai tão longe quanto chamar Maria de portadora de Deus (theotokos), por causa da pessoa a quem ela deu a luz, em relação à natureza humana, também era Deus, em relação a natureza divina.
3-CRITÉRIOS DISCERNENTES PARA A ORTODOXIA
A numeração entre colchetes inserida nos credos revela que todas as catorze doutrinas essenciais da salvação mencionadas acima também se encontram nestes primeiros credos. Ainda que muitos dos segmentos do cristianismo aceitem estes três primeiros credos e quatro concílios como definição definitiva de ortodoxia, nem todos dão o mesmo peso aos credos.
Os católicos romanos aceitam vinte e um concílios da igreja como fidedignos. A Igreja Ortodoxa Oriental aceita somente os primeiros sete. Os não católicos aceitam apenas quatro e destacam numerosas doutrinas pronunciadas por concílios mais recentes que são contrárias às Escrituras.*12 Entre elas incluem-se a adoração aos ícones, a veneração à Maria, a oração pelos mortos, o purgatório, a necessidade de obras para a salvação, a inspiração dos livros apócrifos, a adoração dos elementos consagrados na eucaristia, a assunção de Maria e a infalibilidade do papa.13
A visão reformada (seguindo Lutero e Calvino) aceita geralmente apenas os quatro primeiros concílios da igreja, pois, começando com o quinto concílio, as doutrinas questionáveis começam a emergir. A visão anabatista, que fazia parte da reforma radical, incluindo a maioria dos batistas, congregacionais, pentecostais, menonitas, da Igreja Livre e de igrejas independentes, vem desta tradição. Entre os primeiros anabatistas estavam Balthasar Hubmaier, Jacob Hutter, Hans Denck, e Menno Simons. Ainda que muitos dessa tradição tivessem grande respeito pelo Credo dos Apóstolos e fossem evangélicos em suas crenças doutrinárias centrais, rejeitaram toda autoridade eclesiástica, sustentando firmemente que só a Bíblia tem autoridade divina.1 Isso não quer dizer que acreditassem que não havia valor nas confissões, nem que os credos primitivos não contivessem doutrina ortodoxa essencial. Significa que somente a Bíblia é infalível e autoridade divina.
Para citar Tomás de Aquino, que resumiu o que muitos pais antes dele criam: “Cremos nos sucessores dos apóstolos só à medida que nos dizem as coisas que os apóstolos e profetas deixaram em seus escritos” (Thomas de Aquino, On Truth [Tomás de Aquino, Sobre a Verdade], 14.10 ad 11).
12 Veja N orm an L. Geisler, “The Historical Development o f Roman Catholicism”, The Christian Apologetics Journal, vol. 4 (Primavera de 2005): pp. 21-62, publicada por Southern Evangehcal Seminary, Charlotte, N C (www.ses.edu). «
13Veja Norm an L. Geisler e Ralph MacKenzie, Roman Catholics and Evangelicals: Agreements and Differences (Grand Rapids, MI: Baker, 1995).
14 Keith Mathison caracterizou indevidamente este ponto de vista como Sola Scnptura em lbe Shape o f Sola Scnptura (Moscow, ID: Canon Press, 2001). Veja minha análise crítica em The Christian Apologetics Journal (Primavera de 2005): pp. 117-129 (www.ses.edu).
A Diferença entre Explícito e Implícito
Nem todas as doutrinas essenciais nos credos estão explicitamente declaradas. A doutrina das Escrituras é um exemplo. Embora esteja em toda parte implícita como base única e infalível para a crença cristã, em nenhum lugar é tratada explicitamente. Nenhum credo ou concílio tratou dela, mas todos a implicaram e a citaram. Da mesma forma, a doutrina da depravação humana não é explicitamente tratada nestes antigos credos, mas está implícita nas declarações sobre a morte de Jesus pelos nossos “pecados” e na necessidade de "remissão” de pecados e ‘perdão”. É esta distinção entre crença explícita e implícita, que levou muitos teologos a falar fidei implicitus (fé implícita).
Por exemplo, a pessoa que cre na divindade de Jesus e na unicidade de Deus é implicitamente trinitária, ainda que não creia (porque não lhe falaram a respeito) na doutrina formal da trindade.
Pelo visto, a pessoa que crê no evangelho (que o Senhor Jesus Cristo morreu pelos pecados dela e ressuscitou) pode ser salva mesmo não sendo uma trinitária explícita. A diferença entre as doutrinas necessárias para a Salvação e as Doutrinas Necessárias para Crerm os a fim de sermos Salvos .
Nem todos os fundamentos soteriológicos são necessários para explicitamente crermos a fim de que sejamos salvos. Por exemplo, nenhum texto sacro afiíma que o nascimento virginal fcz parte do que é necessário para crermos paia que entremos no céu. No entanto, se Jesus não tivesse nascido de uma virgem, Ele seria pecador tanto como os outros filhos nascidos de Adão (Rm 5.12,13). E se Ele não fosse sem pecado, então não poderia nos salvar do pecado. Portanto, como já observado, há nítida diferença entre o que tem de ser verdadeiro para que sejamos salvos e o que tem de ser crido para que sejamos salvos. Semelhantemente, poderíamos não crer e até descrer na segunda vinda de Cristo e, ainda assim, sermos salvos. Claro que se não houver segunda vinda, então não poderemos ser salvos no sentido pleno de um dia sermos salvos da presença do pecado (glorificação).
A Diferença entre Negar e não Crer numa Doutrina
Há certas doutrinas essenciais que podemos não crer e, ainda assim, ser salvos. Podemos não crer no nascimento virginal, na inspiração das Escrituras, na ascensão de Jesus, na sua defesa diante do Pai e na sua segunda vinda e, ainda assim, sermos salvos. Podemos não crer nessas doutrinas, porque ainda não fomos informados a respeito. Ou podemos conhecê-las, mas mesmo assim não crer que fàçam parte do que é necessário crermos para ser salvos. 108
No entanto, há certas coisas que não podemos negar hoje15 e, ainda assim, ser salvos.
Precisamos crer no evangelho, que Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou (1 Co 15.1-6). Temos de crer em nosso-coração que Deus ressuscitou Jesus dos mortos (Rm 10.9). Temos de crer no Senhor Jesus Cristo (At 16.31). Tendo em vista que o termo “Senhor” (em grego, kurios), usado para referir-se a Jesus no Novo Testamento, significa divindade,*16 segue-se que não podemos negar a divindade de Jesus e ser salvos.
16 A palavra “Senhor” usada em relação a Jesus no Novo Testamento significa divindade, afirmação que é clara pelos seguintes fatos: É a tradução habitual da palavra hebraica Yahweh (Senhor), cujo significado único no Antigo Testamento grego (a Septuaginta) é Deus. É a tradução do Novo Testamento da escritura do Antigo Testamento que se refere a Yahweh (M t 3.3; 22.44). Ê usada no contexto de adorar a Jesus Jo 20.28; Fp 2 .11 ), mas sabemos que só Deus deve ser adorado.
Claro que se ninguém nos ensinar sobre a divindade de Jesus, então é possível não crermos nela e, ainda assim, sermos salvos. Certamente nem todos os santos do Antigo Testamento compreenderam a divindade do Messias e creram nela como condição para serem salvos. Mas se conhecemos a doutrina da divindade de Cristo e, mesmo assim, a negamos, não há base no Novo Testamento que afirme que somos salvos. É uma condição normativamente necessária para a salvação hoje (Rm 10.9; At 2.21,36; 3.14-16; 5.30-32; 10.36; 16.31; 1 Co 12.3). É necessário crermos “no Senhor Jesus Cristo” para sermos salvos (At 16.31, grifo meu). Temos de crer no coração e confessar com a boca o u Senhor Jesus” para sermos salvos (Rm 10.9,10, grifo meu). Isso significa que quem crê que Jesus é Miguel, um anjo criado (como creem as testemunhas de Jeová), não é salvo. Da mesma forma, os mórmons que creem que Jesus é irmão de Lucifer não são salvos. Significa também que os arianos (seguidores de Ário, século IV)) que negam a divindade de Jesus, não são salvos.17
* 17 Claro que é possível que alguns arianos não tenham sido devidamente informados sobre a divindade de Jesus, tendo apenas uma fé implícita nessa doutrina, mas, ainda assim, são salvos. Neste caso, porém, a prova de que têm essa fé implícita na divindade de Jesus seria que, quando devidamente ensinados a esse respeito pelas Escrituras, eles colocam a fé na divindade de Jesus explicitamente (cf. A t 19.1-6). Pelo visto, até o próprio Ário m udou de opinião e aceitou a conclusão do Credo de Niceia, que afirma a divindade de Jesus.
A Diferença entre Heresia e Salvação H á diferença entre ser herege e estar perdido. Podemos ser hereges em algumas doutrinas e, ainda assim, sermos salvos. Sermos salvos (justificados) depende apenas de crermos em certas verdades salvadoras 15
Dizemos "hoje”, porque o progresso da revelação de Deus requer que mais conteúdo seja explicitamente crido hoje (por exemplo, o “nome” de Jesus, At 4.12; Jo 3.18,36; 8.21) do que era no tempo do Antigo Testamento (cf. G n 15.5,6; Jn 3) como a divindade, morte e ressurreição de Jesus pelos nossos pecados. Mas podemos descrer no nascimento virginal, na inspiração da Bíblia, na ascensão e na segunda vinda de Jesus e, ainda assim, sermos salvos. Em suma, podemos ser hereges em uma série de doutrinas e, mesmos assim, sermos salvos. Claro que estaremos sendo antibíblicos e incoerentes. Mas é melhor sermos incoerentemente salvos do que estarmos coerentemente perdidos. Lógico que é ainda melhor sermos coerentemente salvos, mas esta não é a questão em apreço.
A Diferença entre ser Herege em um a Doutrina e Herege em todas as Doutrinas
Se negamos uma doutrina essencial, somos, então, hereges? Somos hereges na doutrina em particular que negamos, mas não hereges nas demais. Por exemplo, se negamos a inerrância da Bíblia, ainda assim, podemos ser salvos. A inerrância, por mais epistemologicamente importante que seja, não faz parte do plano de salvação necessário para crermos para sermos salvos. Da mesma forma, podemos negar o nascimento virginal e, mesmo assim, sermos salvos, pelas mesmas razões. Sermos heterodoxos em uma doutrina não significa que não somos ortodoxos nas outras doutrinas. Claro que precisamos ser ortodoxos nas doutrinas salvíficas acima mencionadas para sermos salvos.
TRÊS DIFERENTES TIPOS DE DOUTRINAS ESSENCIAIS
Uma importante doutrina ausente da lista de catorze doutrinas necessárias para a salvação é (15) a inspiração das Escrituras. Os antigos credos sequer a mencionam, e os credos mais recentes não a elaboram. As razões básicas para isso emergem da natureza da situação. Primeiro, a doutrina nunca foi questionada. Era um fato aceito na Igreja Primitiva que as Escrituras eram a base para os credos. Na verdade, os primeiros pais citaram o Novo Testamento mais de trinta e seis mil vezes, todos os versículos, exceto onze! *18
*18 Veja Norman L. Geisler e William Nix, A General Introduction to the Bible (Chicago: Moody lress, 1968), p. 431. [Ediçáo brasileira: Introdução Bíblica: Como a Bíblia Chegou até Nós (São Paulo: Vida, 1997).]
Além disso, os credos foram formados em resposta a ensinos heréticos, e nenhum dos antigos mestres da igreja questionou a autoridade divina das Escrituras.*19 Em suma, os credos não tratavam das Escrituras; estavam baseados nas Escrituras. Este fato fica claro em credos mais recentes que se referem as Escrituras como base.
*19 Veja Norman L Geisler, Systematic Theology, vol. 1, Introduction and Bible (Mineápolis: Bethany House, 2003), cap. 17. [Edição brasileira: Teologia Sistemática de Norman Geisler, vol. 1, Introdução; Biblia (Rio de Janeiro: CPAD, 2010).]
H á outras razões por que diferentes listas de doutrinas essenciais ou fundamentais têm sido propostas. Uma razão é a incapacidade de distinguir entre três diferentes tipos de fundamentos: o fundamento soteriológico, o fundamento epistemológico e o fundamento hermenêutico.
Fundamento Soteriológico
Fundamentos soteriológicos são aqueles que têm a ver com a salvação. Em suma, se essas doutrinas não são verdadeiras, então a salvação não é possível. É por isso que essas catorze doutrinas são pontos essenciais da fé, como mostra o estudo acima. Além disso, podemos dividir os fundamentos salvíficos (salvadores) em: os necessários para a justificação (por exemplo, a morte e ressurreição de Jesus), os necessários para a santificação (por exemplo, a ascensão de Jesus, sua atual sessão como nosso advogado) e os necessários para a glorificação (por exemplo, a segunda vinda de Jesus e o julgamento final).
Fundamento Epistemológico
Conspícua por sua ausência da lista de doutrinas essenciais esta (15) a inspiração das Escrituras, que foi listada como um dos grandes fundamentos da fé por conservadores modernos, como B. B. Warfield, Charles Hodge e J. Gresham Machen. A razão para a ausência é que estávamos falando sobre fundamentos soteriológicos (salvação). Podemos ser salvos sem crer na inspiração e (consequente) inerrância da Biblia.20
20 A inerrância decorre logicamente da inspiração divina. Porque se a Bíblia é a Palavra de Deua v, Deus não pode errar, então se conclui logicamente que a Bíblia não pode errar em nada do que afirma (ou nega). Veja N orm an L. Geisler, editor, Inerrancy (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1979). [Edição brasileira: A Inerrância da Biblia (São Paulo: Vida, 2003).
Uma Escritura inerrante não é necessária para a salvação. As pessoas eram salvas antes que houvesse Bíblia, e as pessoas são salvas por meio da leitura de cópias errantes da Bíblia. Além disso, a crença na inerrância não é necessária para sermos salvos.
Inspiração e inerrância não são teste de autenticidade evangélica, mas de coerência evangélica. A crença na inspiração e na inerrância não faz parte do plano de salvação que temos de crer para que sejamos salvos. Mas a inspiração e inerrância fàzem parte da fundação que torna o plano de salvação cognoscível. A fim de termos um alicerce firme para o que cremos, Deus julgou necessário fornecer uma Palavra inerrante como a base de nossa crença. Como disse Tomas de Aquino: “A fim de que a salvação fosse mais facilmente levada para o homem e fosse] mais certa, foi necessário que os homens aprendessem as coisas divinas através da revelação .divina .21
João Calvino acrescentou: “Nossa fé na doutrina só está firme quando temos a perfeita convicção de que Deus é o autor [da Escritura]. Por conseguinte, a maior prova da Escritura é uniformemente tirada do caráter daquele cuja palavra ela é”.22
Portanto, a inspiração não e um fundamento soteriológico, mas um fundamento epistemológico. A epistemologia (do grego, episteme) versa sobre como sabemos. E sem uma revelação totalmente verdadeira e divinamente fidedigna proveniente de Deus, como a que temos nas Escrituras, nunca poderíamos ter certeza de quais doutrinas são necessárias para nossa salvação. Todavia, os grandes credos ecumênicos mencionam as Escrituras” como a base para o que cremos (veja acima). Desta forma, confirmam este fundamento epistemológico da fé.
Fundam ento Hermenêutico Pressupomos ainda um terceiro tipo de fundamento neste estudo: o fundamento hermeneutico. Todas as doutrinas fundamentais acima relacionadas com a nossa salvação baseiam-se em (16) a interpretação literal e histórico gramatical da Escritura.23 Sem isso não há ortodoxia. A maioria das seitas especializam-se em negar esse método literal, no todo ou em parte. É como podem tão facilmente torcer as Escrituras para proveito herético próprio.24 Toda a doutrina protestante de sola Scriptura (só a Bíblia) está baseada na precondição de uma interpretação25 literal da Bíblia.26
A hermenêutica literal é o método fundamental que torna todos os fundamentos doutrinários possível.
*21 Veja Thomas Aquinas, Summa Theologica [Tomás de Aquino, Suma Teológica],
*22 1.1.1. John Calvin, Institutes o f the Christian Religions, tradução para o inglês de Henry Beveridge (London: James Clarke, 1953), 1.7.4. [Edição brasileira: João Calvino, As Institutas__Edição Clássica, 4 vols. (São Paulo: Cultura Cristã, 1985).]
23 Geisler, Systematic Theology, vol. 4, cap. 13. [Edição brasileira: Teologia Sistemdtica de Norman Geisler, vol. 2 (Rio de Janeiro: CPAD, 2010).]
24 Norman L. Geisler e Ron Rhodes, Correctingthe Cults (Grand Rapids, MI: Baker, 2005). [Edição brasileira: Resposta às Seitas (Rio de Janeiro: CPAD, 2008).]
25 Claro que o método “literal” não significa que não possa haver figuras de linguagem. Significa que a Bíblia inteira é literalmente verdadeira, exatamente como o autor quis, ainda que nem tudo seja literalmente verdade. H á parábolas, metáforas e muitas figuras de linguagem na Bíblia que transmitem uma verdade literal.
26 Veja os artigos e resenhas em Christian Apologetics Journal (Primavera de 2005), wvm.ses.edu.
RESUMO E CONCLUSÃO
Saber que as doutrinas são essenciais para a fé cristã é necessário para a preservação do cristianismo ortodoxo, o delineamento da heresia e a identificação das seitas. E também necessário para a unidade cristã, pois não há verdadeira unidade sem unidade na verdade. E não há unidade essencial sem a unidade nas doutrinas essenciais. E não há unidade nas doutrinas essenciais, sem saber quais são as doutrinas essenciais. Teológica e historicamente, as doutrinas essenciais da fé cristã são os pilares que sustentam o evangelho. Soteriologicamente, mostramos que há catorze. Mas além destas, há um fundamento epistemológico, que é (15) a inspiração e infalibilidade das Escrituras. Esta é a fonte e fundamento de toda doutrina essencial da salvação. Neste sentido, é o fundamento dos fundamentos. No entanto, nenhuma dessas doutrinas seria possível se não fosse por (16) o método de interpretação literal e histórico-gramatical. Este, então, é o fundamento hermenêutico da fé. Portanto, há dezesseis doutrinas essenciais pelas quais conhecemos a fé cristã ortodoxa, a base da unidade verdadeira. É dentro deste contexto que o famoso ditado se aplica: “Nas coisas essenciais, unidade, nas coisas não essenciais, liberdade, e em todas as coisas, caridade”. Razóes para Crer. São Paulo:CPAD. 1 edição: Fevereiro / 2013 p. 97 -113
Seita
Para uma religião ser uma seita (estar num grupo que) deve negar pelo menos uma das seguintes doutrinas:
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Seita
Para uma religião ser uma seita (estar num grupo que) deve negar pelo menos uma das seguintes doutrinas:
- Crença exclusiva num único Deus; 1 Jo 5:20
- crença na divindade de Cristo Rm 1:19-23; Jo 8:34; 1 Jo 2:23
- crença na pecaminosidade humana Rm 3:23
- salvação eterna pela graça por meio da fé no único Salvador (Jesus) Ef 2:8-9; Lc 23:43; Gl 5:4
- crença na encarnação de Cristo, Fp 2:6-1; Jo 1:1
- crença na morte vicária 2 Coríntios 5:3, 14-15
- crença num único mediador 1 Tm 2:1-2
- crença na ressurreição corpórea de Cristo 1 Co 15:14-17
- crença na infabilidade bíblica; Jo 10:35; Mt 5:18
- crença no Juízo divino; Atos 10:42; 2 Timóteo 4:1 ; Rm 2:16;
- crença numa vida de santidade de acordo com as regras das Escrituras, o que inclui não invocar ou cultuar os santos e outros mortos ou aprovar pecados sexuais 1 Jo 3:8-10; 1 Co 6:9-10; 1 Tm 1:10; Gl 5:20-21; Rm 13:13
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