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sexta-feira, 29 de março de 2019

Visões e Ilusões Pólíticas- Análise e Crítica de ideologias: Conservadorismo, Liberalismo, Nacionalismo, Democracia, Socialismo.

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"O chamado inicial e mais básico de Deus é: Frutificai e multipliai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" . Esse chamado é comumente chamado de "mandato cultural". Os seres humanos são seres culturais. Na sua vida normal, les cultivam ou desenvolvem o mundo à sua volta. Do ponto de vista normativo, eles não fazem isso de maneira desconexa, mas de forma ordeira, segundo a intenção de Deus. Em outras palavras, as atividades humanas que moldam a cultura estão de acordo com a intenção criativa de Deus....A cultura humana inclui a política; logo a politica é  parte da criação". p. 231-232




FRASES DE EFEITO DAS IDEOLOGIAS:

A- SOCIALISMO

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B- DEMOCRACIA
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C- CONSERVADORISMO

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D- NACIONALISMO

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E- LIBERALISMO

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Esta análise é tirada da obra Visões e Ilusões Politicas de David T. Koyzis.

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A natureza distorcida de todo pensamento ideológico deveria ser o bastante para nos mostrar de imediato por que o cristão não pode simplesmente aderir a uma ou várias dessas ideologias e defender seus programas p. 229
A única alternativa não idólatra restante é um tipo de pluralismo, que rejeita os monismos reducionistas das ideologias. 


1- O que é ideologia?
É apenas Destutt de Tracy que retrata positivamente a ideologia; mas que para ele o termo tem um sentido diferente daquele que veio a ter para os pensadores posteriores...[Marx, Arendt, Crick, Havel e Mannheim]. Deixando Destutt de Tracy  de lado, os outros cinco concordam com a noção geral de que a  ideologia envolve , uma falsificação da realidade. p. 25

"as ideologias tem uma uma percepção fragmentária da verdade" p. 41
I

2- Ideologia, idolatria e gnosticismo
"Como nas idolatrias bíblicas, cada ideologia se fundamenta em isolar um elemento da totalidade criada, elevando-o acima do resto da criação e fazendo com que este elemento orbite em torno desse elemento e o sirva. A ideologia também se fundamenta no pressuposto  de que esse ídolo tema capacidade de nos salvar do mal real ou imaginário que há no mundo." p. 18

"o liberalismo idolatra  o indivíduo; o socialismo., a classe econômica; o nacionalismo, o Estado-nação ou a comunidade étnica

As ideologias tentam fornecer uma explicação total do mundo e de sua história, e portanto 'toda ideologia tem elementos totalitários'. Elas leem toda a realidade por meio de uma só ideia central... É bem pequena a distância entre ideologia e o totalitarismo, o qual além de interpretar o mundo a partir de uma só ideia, também tenta moldá-lo com uma lógica inexorável... Ele [totalitarismo] tenta reduzir a complexidade da sociedade a uma visão monolítica, geralmente de caráter utópico"  p. 24

Cada uma das ideologias... promete aos eres humanos o livramento de algum mal fundamental visto como a fonte de uma ampla gama de problemas humanos, entre os quais a tirania, a opressão, a anarquia, a pobreza e assim por diante. p. 34

As ideologias dizem que a salvação vem a nós por exemplo, da maximização da liberdade individual [liberalismo], da propriedade comum [socialismo], da libertação do domínio estrangeiro [nacionalismo], da submissão dos indivíduos à vontade geral etc. p. 35

as ideologias tendem a localizar a fonte deste mal básico na própria criação... Assim a ideologia parece com a antiga heresia gnóstica, para a qual o mundo físico é intrinsecamente pecaminoso e a salvação é uma libertação das restrições físicas... os gnósticos julgam sr o mundo  'intrinsecamente mal organizado'. Eles creem que a salvação dos males do mundo  é possível num processo histórico imanente e isso requer uma mudança estrutural na 'ordem do ser', ...o meio para essa mudança é a busca de um conhecimento especial - a gnosis- que se  faz acessível somente aos próprios  gnósticos p. 36

O liberalismo vê a comunidade ou qualquer outra autoridade heterônoma como uma grave ameaça ao bem estar  do indivíduo autônomo,..os libertários identificam o governo como essa fonte do mal. Os conservadores  tendem a ver o caráter dinâmico da criação - suas mudanças e desenvolvimentos -como fonte do mal. As ideologias coletivistas  - como por exemplo, o socialismo e o nacionalismo - tendem a desconfiar da liberdade individual e das comunidades externas, identificando sua existência com o mal.. p. 37




3- Ideologias Políticas
Incluo na categoria das 'ideologias', o liberalismo, o conservadorismo,  o nacionalismo, a democracia ideológica e o socialismo, entre outros sistemas" p. 27


3.1 Liberalismo- a soberania do Indivíduo
O liberalismo parte de uma crença fundamental na autonomia humana... ser autônomo é dirigir a si mesmo, governar a si segundo a lei que se escolheu para si p. 56

O primeiro e mais básico princípio do liberalismo  é: cada um é proprietário ou dono de si mesmo e, portanto,  deve ser libre para governar a si mesmo de acordo com usas próprias escolhas, desde que  essas escolhas não infrinjam o igual direito dos outros de fazer o mesmo p. 57

Os liberais entenderam adequadamente que existe uma esfera legítima de responsabilidade inidvidual na qual nenhum outro indivíduo ou comunidade deve interferir. Eles nos alertaram para a importância dos direitos humanos... p. 227

No liberalismo, a individualidade dada por Deus -um dos bens da criação - se transforma num individualismo em que todas as instituições  sociais são consideradas  derivadas da volição dos indivíduos e sujeita a soberania de suas vontades. p. 160


Liberalismo clássico
Se os indivíduos são de fato soberanos, e se os seus direitos realmente são anteriores à comunidade, faz sentido dizer que os indivíduos existem enquanto tais desde antes da formação da sociedade e do corpo político. Os liberais dão a essa condição pré-social ou pré-política o nome de estado de natureza.

Antes da formação da comunidade (especificamente, da comunidade política), o indivíduo vivia nesse estado de natureza em que ele era completamente soberano e limitado somente pelas barreiras impostas pelo mundo natural e pela soberania dos demais indivíduos. 

Os teóricos políticos divergem quanto ao suposto caráter desse estado de natureza. Locke afirmou que “no princípio, o mundo inteiro era como a América”, querendo dizer que, antes da introdução da comunidade civil na Europa, a vida no continente parecia-se com a do hemisfério ocidental no século 17, território esparsamente povoado por comunidades aborígenes primitivas.20 Outros teóricos liberais imaginaram que o estado de natureza fosse simplesmente uma abstração, e por isso não fizeram esforço nenhum para localizá-lo na pré-história. A “posição original de igualdade” de Rawls enquadra-se nesta categoria. 

Como quer que se caracterizasse esse estado de natureza, e quer ele tivesse existido, quer não, acreditava-se que ele fora marcado por algumas inconveniências ou dificuldades que precisavam ser superadas a fim de que a vida humana fosse mais segura e produtiva. Na opinião de Thomas Hobbes, uma vez que nesse estado pré-político tudo era lícito e cada um poderia fazer o que fosse necessário para sobreviver, o estado de natureza era invariavelmente um estado de guerra generalizada, dentro do qual a vida era “solitária, pobre, desagradável, brutal e curta”.21 Locke tendia um pouco mais a enxergar o estado de natureza como uma realidade pacífica, em que a razão teria tido suficiente força e influência. A lei da razão determina que “ninguém deve causar dano a outrem em sua vida, saúde, liberdade ou bens”.22 Porém, mesmo para Locke, o estado de natureza implicava em que a propriedade não pudesse ser desfrutada de modo seguro e estável. Por esse e outros motivos, as pessoas decidiram que era preciso transcender esse estado em busca de algo capaz de conduzir à paz e à prosperidade. O que substitui o estado de natureza? A comunidade civil, respondem os liberais. Como é possível transcender o estado de natureza? Por meio de uma promessa mútua ou contrato, o que caracteriza a próxima cena na narrativa liberal. A teoria política liberal é frequentemente chamada de teoria do “contrato social”. O contrato é importante para os liberais porque deriva da sua fé na liberdade de escolha. 



Liberalismo Tardio

Dependendo de onde os liberais professos se posicionam dentro dessa história mais ampla, é provável que eles abordem a liberdade de diferentes maneiras. Isso, por sua vez, afetará a intensidade da confiança que eles depositam no Estado. Para Hobbes, a liberdade consiste simplesmente em poder fazer o que bem se entende sem qualquer impedimento. De Hobbes em diante, os liberais expandiram aos poucos o escopo da liberdade para abarcar mais elementos que também consideramos fazer parte da vontade individual. Com isso, os liberais — deliberadamente ou não — expandiram o papel do governo. Esse processo ocorreu em cinco estágios ao longo de vários séculos.



Os cinco estágios do liberalismo
De Hobbes em diante, os liberais expandiram aos poucos o escopo da liberdade... expandiram o papel do governo. Esse processo ocorreu em cinco estágios ao longo de vários séculos.  p. 43

Praticamente todos os liberais, com a possível exceção de Hobbes, defendem que o contrato deve ser voluntário. ...Isso não implica necessariamente a democracia no sentido moderno. Com efeito os primeiros teóricos do do liberalismo não viam muito problema na monarquia constitucional ou no voto baseado em privilégios censitários.p. 61
Os primeiros  liberais pressupunham que a liberdade se resume à capacidade de o indivíduo agir conforme lhe apraz, sem curvar-se perante de ditames de terceiros... p. 61


Primeiro Estágio- comunidade política hobbesiana
Hobbes acreditava que a liberdade mais básica é o direito a auto-preservação... o soberano por ser a fonte de toda a lei, da justiça e da própria moral, permanecia acima da lei..nada disso parece liberal o suficiente, e talvez possa ser descrito como p´re-liberal ou proto-liberal, pois situa-se no começo do desenvolvimento do liberalismo.

Segundo Estágio- Estado Guarda-noturno
foco no direito à autopreservação se alarga para abranger a propriedade ...A ênfase na propriedade produziu a opção preferencial do liberalismo clássico pelo livre-mercado e sua aversão à intervenção governamental nas transações econômicas. p. 64-65

Terceiro Estágio- Estado regulatório
Os "liberais 'reformistas'  perceberam que a liberdade individual poder ameaçada não só pelo governo, mas também por concentrações privadas de poder, chegaram a conclusão de que o poder governamental pdoe ser usado legitimamente a serviço da liberdade....os liberais tardios...concluíram que o Estado é autorizado a proteger a liberdade contra os centros não estatais de poder. Nos Estados Unidos, essa formulação do Estado é ilustrada pelas leis antitruste de Sherman (1890) e Clayton (1914) cujo intuito era barrar os monopólios do mercado e impedir que grandes grupos empresariais enfraquecessem a competição em determinados setores da economia. p. 70

Quarto Estágio - Estado de Igualdade de Oportunidades- Estado de bem-estar social  predominou  de 1930-1973

defende a igualdade de oportunidades como uma forma de assegurar que todos tenham a mesma  chance de progredir... Assim os liberais tardios acabaram por adotar o Estado de bem -estar social, com uma série de programas governamentais que tentam ao menos instituir uma 'rede de segurança' para ajudar quem passa por dificuldades, ou procuram, em alguns casos, nivelar o jogo e buscar maior igualdade econômica na sociedade como um todo. p. 72


Quinto Estágio -Estado de apoio a escolha.
Neste estágio "a  chamada legislação da moralidade não deve ser permitida no Estado Liberal. "p. 74
"igualdade moral dos impulsos" p. 76

"deseja subsidiar a  a liberdade de escolha" p.78

Nesse quinto estágio...Se duas pessoas decidem se casar, ou viver juntas num relacionamento extraoficial, ou pular de relação em relação, a lei não favorece ninguém e se abstém de ditar como os dois lados devem se comportar na sua privacidade...  p. 75

Os liberais de quinto estágio apelam cada vez mais ao governo para aliviar ou até tentar diminuir estas consequências, a fim de que essa busca utópica possa continuar...Isso leva sem dúvida a uma expansão do âmbito do Estado. p. 76

Esse estágio final do liberalismo exige que o governo subsidie o comportamento irresponsável.p. 77



A narrativa mais ampla constituída pela história do liberalismo parece ter chegado a uma conclusão nesse quinto estágio. No entanto, dado que a história não chega ao fim na presente era, poderíamos muito bem perguntar se seria possível haver um sexto estágio e que forma ele assumiria. Obviamente, não podemos saber com certeza a forma futura, mas se os acontecimentos passados servem como indicação, é possível observar um desenvolvimento que nos levará de volta ao início da história — ou seja, para um Estado onicompetente, que não conhece nada, a não ser os limites práticos, juntamente com a supressão da liberdade, mas tudo em nome da liberdade! Como muitos podem considerar isso contraintuitivo, cabe uma explicação. Conforme os indivíduos se libertam progressivamente de variedade cada vez maior de restrições, é inevitável que entrem em confronto não somente com padrões comunitários de todo tipo, como também de outros indivíduos. E com isso, o nível de conflito em uma sociedade maior aumenta na mesma proporção. O Estado então intervém, a fim de resolver as disputas criadas por essa visão ideológica liberal tardia. A ironia, como aponta Patrick Deneen, é que “quanto mais a esfera de autonomia é completamente assegurada, mais abrangente o Estado deve se tornar”. 

Por exemplo, com a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Suprema Corte dos Estados Unidos (Obergefell vs. Hodges, em 2015), aqueles que persistem em acreditar que o casamento é uma instituição específica da qual a complementariedade sexual é uma característica intrínseca são cada vez mais compelidos a agir contra suas convicções na vida pública. De forma similar, à medida que alguns indivíduos buscam emancipar-se até da divisão natural da humanidade em homem e mulher, aumentam as batalhas verbais e mesmo legais acerca de pronomes de gêneros, e os governos são chamados a mediar as disputas que inevitavelmente surgem quando se espera que pessoas comuns abandonem as evidências de seus próprios sentidos. Por fim, se as pessoas insistirem em referir-se a uma criança no ventre materno como “bebê”, em lugar de tecido fetal, aqueles que acreditam que a mulher tem direito irrevogável ao aborto serão tentados a suprimir tais expressões. 

Um ano antes de o primeiro-ministro Justin Trudeau ser eleito como chefe do governo canadense, em 2015, ele anunciou que o Partido Liberal não mais apoiaria os candidatos que fossem “antiaborto” a assentos no parlamento, alegando que os direitos da mulher tinham prioridade sobre as convicções de candidatos a membros de seu comitê parlamentar.  Dois anos antes, o ministro da educação de Ontário havia publicamente argumentado que mesmo as escolas católicas, que recebem fundos governamentais, não poderiam ensinar que o aborto é errado, uma vez que isso violaria os direitos humanos.

 Esse é o tipo de liberalismo que suscita alertas entre os conservadores professos. Como Ryszard Legutko escreve, o liberalismo contemporâneo não é adequado para resolver tais conflitos, pois sua velha alegação de que apoia o pluralismo é falsa: “A democracia liberal criou sua própria ortodoxia, o que faz com que se torne menos um fórum para articular posições e concordar com ações do que — em extensão muito maior — um mecanismo político para a seleção de pessoas, organizações e ideias alinhadas com a ortodoxia”. Enquanto o liberalismo continua a empurrar essa ortodoxia para uma sociedade recalcitrante, o nível de conflitos aumenta de forma concomitante, ainda que sem um partido genuinamente desinteressado para arbitrar. James Kalb vai além ao alertar sobre o caráter tirânico do liberalismo, que “rejeita qualquer autoridade que o transcenda, considera ilegítimo o que quer que não se conforme a ele, e não reconhece nenhum princípio restritivo sobre a infinita extensão da liberdade igualitária que não seja a praticidade”.51 Isso sugere que o futuro liberal pode nos fazer voltar à soberania hobbesiana, trazida para colocar um fim a um novo bellum ominum contra omnes provocado conforme a lógica do liberalismo se desenvolve ao longo do tempo. 2ª edição 







Críticas ao liberalismo:

"o liberalismo é permeado de um espírito cuja lógica é contrária ao testemunho cristão público e cujo individualismo é difícil de conter dentro de limites normativos.p. 83
"os seguidores das religiões tradicionais só podem expressar suas crenças no nível da família, do lar e da igreja, devendo manter sua fé fora da vida pública..." p. 80

O liberalismo tem dificuldade para diferir que verdade de que os seres humanos foram criados para a vida em comunidade; e os liberais tem dificuldade para admitir a existência de obrigações legítimas e outras restrições que não sejam redutíveis a acordos voluntários. p. 85

"...o liberalismo...tende a reduzir toda comunidade à mera agregação de vontades individuais. Se todas as comunidades, desde a família até o Estado e a igreja, podem se entendidas redutivamente da mesma forma, acabamos inevitavelmente por negar as diferenças entre uma comunidade e outra -..." p. 256
 No liberalismo a individualidade dada por Deus... se transforma num individualismo em que todas as instituições sociais são consideradas derivadas da volição dos indivíduos e sujeitas à soberania de suas vontades. p. 160

" A deificação liberal  do indivíduo levou a fragmentação da sociedade norte americana e ao colapso dos casamentos, das famílias,  e de outras comunidades básicas, p. 228

Um mercado sem restrição alguma  pode levar facilmente à concentração de recursos econômicos, seguida da concomitante exclusão de muitas pessoas em relação ao uso desses recursos.... apesar da promessa de que um mercado livre sempre haverá de distribuir equitativamente os benefícios econômicos, esse sistema foi historicamente incapaz de impedir  a acumulação de bens produtivos nas mãos de oligopólios e monopólios, como a Standard Oil e a AT &T. ...No século 19 e mesmo no começo do séc. 20, o mercado desregulamentado facilitou a exploração do trabalho infantil, a miséria entre os pobres operários e outros abusos semelhantes..
. p. 216





3.2 Conservadorismo
 " não há uma teoria da comunidade política que possa exclusivamente se chamar conservadora" p. 113

"segundo Amthony Quinton, o conservadorismo tem três princípios:

  •  um tradicionalismo que respeita costumes e instituições estabelecidas; 
  • um organicismo segundo o qual a sociedade é sujeita a um crescimento natural, não às invenções mecânicas;
  •  um ceticismo diante das especulações teóricas abstratas.p. 114
"O conservadorismo parece se uma tendência presente dentro das demais ideologias... há capitalistas conservadores e socialistas conservadores... p. 88

Os conservadores não se unem em torno de uma visão do papel do governo, da natureza da comunidade ou do status do indivíduo." p. 91
"O conservadorismo...seu conteúdo mudar significativamente de época para época e de lugar para lugar...um americano típico... cultura islâmica radical... e um conservador num ambiente de monarquia tradicional... p. 91
Em resumo, se alguém se diz conservador, é preciso antes de tudo esclarecer o que a pessoa deseja conservar. Dependendo do lugar e da época, as respostas podem ser bem diferentes p. 91

Se um conservador americano do seculo 20 acredita no governo limitado e no livre mercado,ao passo que um conservador russo acredita na autoridade do czar e da igreja Ortodoxa Russa, talvez seja melhor reconhecer que o conservadorismo é um fenômeno inteiramente historicista, sendo incapaz de oferecer qualquer tipo de cosmovisão coerente e muito menos um programa concreto de ação política. p. 91 


Dez pontos principais do pensamento conservador de Russell Kirk(baseado no liberalismo clássico):
  • ordem moral duradoura
  • costume, convenção, continuidade
  • respeito pelas coisas estabelecidas pelo uso a longo do tempo
  • prudencia...que estuda as possíveis consequências de longo prazo
  • variedade e complexidades criativas, contrapostas a uniformidade
  • imperfectiblidade humana
  • relação entre propriedade privada e liberdade
  • comunidade voluntaria, contraposta ao coletivismo involuntário
  • impor limites ao poder e ás paixões
  • necessidade de conciliar permanência e mudança na sociedade

" mas uma tendência que se alimenta das demais ideologias. Não obstante... conservadorismo apresenta, sim, as principais marcas e uma ideologia.
Conservar significa manter alguma coisa, preservá-la, enfrentando as forças que tendem a eliminá-la com o passar do tempo. p. 88

O que faz alguém conservador é a forma de lidar com a tradição e com a mudança no contexto da comunidade humana em desenvolvimento.p. 92

Em contraponto às ideologias orientadas para a mudança, como o liberalismo e socialismo, o conservadorismo reconhece as limitações da razão humana rejeita todas as propostas que, por exemplo, gostariam de rearranjar a instituição do casamento e da família para acompanhar a mentalidade igualitária dos nosso dias,.. p. 95

Críticas ao conservadorismo:
O que o conservadorismo como um todo parece incapaz de fazer é formular um critério universalmente aceitável, trans-histórico, para discernir o que numa tradição vale a pena preservar e o que deve ser descartado.

Além disso, eles subestimam o caráter dinâmico dessa ordem. A mudança e o desenvolvimentismo não são defeitos, mas partes inalienáveis da criação tal como Deus a estruturou. p. 105

Observamos que o liberalismo e o conservadorismo são popularmente vistos como polos opostos, mas também ..isso não é exato. O liberalismo é uma ideologia particular que se atém à soberania do indivíduo, enquanto o conservadorismo está mais relacionado com a atitude que temos em relação à tradição e á mudança... o verdadeiro oposto ao conservadorismo é o progressismo.

Mas mesmo os progressistas são em certo sentido, conservadores...Em qualquer civilização, os elementos de continuidade que ligam uma geração à outra são bem maiores que as descontinuidades que as separam. p. 111

...a maior parte dos reformistas reconhece de forma bem adequada que vale a pena preservar o enorme acervo da nossa civilização e construir sobre esses alicerces.p 111

Para todo cristão dotado de discernimento, o progresso e a preservação caminham lado a lado. Um não existe sem o outro.

No mandato cultural (Gn 1:28) que estipula nossa missão aqui na terra 'há tanto um elemento conservador quanto um elemento progressivo ou dinâmico'. 'Adão recebeu a ordem de cultivar o jardim e cuidar dele.... Tornar absoluto um ou outro desses elementos é cair num tipo e idolatria, a qual, conforme vimos, é a raiz de toda ideologia. O cristão dotado de discernimento entende que a excelente criação de Deus contém possibilidades de desenvolvimentismo futuro...e esse fato por si só é suficiente para nos vacinar contra um conservadorismo purista" p. 112-113

No conservadorismo ,a tradição, ...passa a ser vista como soberana sobre toda a gama de atividades, associações e comunidades humanas. p. 160

Os conservadores nem sempre conseguem formular teoricamente a principal tarefa do Estado e curvam-se, em vez disso, a qualquer tradição política ou de outra categoria que eles creiam ter provado usa utilidade social. p. 191


3.3 Nacionalismo -A nação deificada
"nem todos dos nacionalismos são do mesmo tipo...O nacionalismo político ou cívico tem seu foco específico de lealdade no Estado, ou seja, na comunidade política de que todos o cidadãos são membros....Revolução Americana e Revolução Francesa.., Assim.americanos e franceses tentaram cimentar a unidade de seus respectivos países por meio de um novo nacionalismo cívico, isto é, por meio de uma ideologia cujo foco principal são as instituições concretas de uma comunidade política existente. " p. 132-133

o nacionalismo étinico,... o nacionalismo se tornou tribal,  e começou a enfatizar  as características culturais  comuns que agrupam  o povo numa sublime unidade espiritual. p. 134

"devemos reconhecer um papel modesto para a nação, como quer que ela se defina, e  manter-nos sempre distantes das pretensões totalitárias do nacionalismo'  p. 148

"o nacionalismo de forma análoga tenta emancipar a nação do controle de quem se encontra fora de seus limites autodefinidos...os nacionalistas identificam o mal, em última análise, com o domínio de quem é diferente deles, seja em matéria de raça, cultura ou religião." p. 128




Críticas ao nacionalismo exacerbado
"o desejo de não ter nenhuma responsabilidade para com quem é diferente não é prático nem muito menos, teoricamente defensável. Em primeiro lugar é impossível sermos governados somente por nós mesmos e por quem se parece conosco.  ... Em segundo lugar,a  alegação de que só se tem condições de governar um determinado grupo quem fala seu idioma como língua materna é simplesmente falsa... é bem verdade que as pessoas rais, de carne e osso, são capazes de defender os interesses de quem não se parece nada consigo. p. 128-129

"No nacionalismo... a nação recebe o status de divindade, e todas as demais  comunidades são vistas como meras partes do todo. As famílias, as escolas, o automóvel-clube, o sindicato,a  empresa e a cooperativa de consumidores devem subordinar-se à comunidade nacional: devem, portanto, servir aos interesses mais grandiosos da nação. p. 160

"o nacionalismo traz em si a semente de ideologias mais destrutivas, como o fascismo e o nacional-socialismo.p. 161.."

"O nacionalismo, em suma, é potencialmente expansionista, seja na sua forma cívica, seja na forma étnica" ´. 136





3.4 Democracia - a tirania da maioria?

Numa democracia direta, os cidadãos se reúnem para votar diretamente no que estiver em pauta e, por assim dizer que eles governam a si mesmos.

Numa democracia representativa, a participação dos cidadãos consiste em grande medida na escolha de representantes que governem em nome deles. p. 172

"é preciso definir duas concepções básicas de representação...A primeira delas é...  a teoria da agência ou delegação, segundo a qual o representante age seguindo diretrizes das por seus representados. p. 175-176  é bem verdade que, num mundo decaído, a tutela está sujeita a o abuso e pode se tornar pesada e autoritária

a outra concepção é a do "curador ou tutor, eleito para fazer não necessariamente o que o povo quer

"Embora a democracia seja em si uma forma de governo - e provavelmente, a melhor atualmente disponível na nossa sociedade complexa e diferenciada - ela pode assumir dimensões ideológicas na medida em que incorpora uma crença na quase infalibilidade da voz populi - a voz do povo" p. 149

foi somente no séc. 20 que a democracia adquiriu uma conotação totalmente positiva no discurso feral. p. 150

elementos comuns ...nas democracias do mundo ocidental:
  • sufrágio [voto] universal
  • valor de todos os votos igual
  • decisões são tomadas conforme o princípio do domínio da maioria
  • direito de votar vem... com o direito a se candidatar
  • liberdade considerável de expressão e de imprensa
  • a maior parte dos sistemas políticos democráticos protege a liberdade dos cidadãos junatamente com o direito das minorias, em gral consolidados numa carta de direitos
  • as democracias ocidentais se pautam pelos princípios gerais do Estado de direito, incorporados, ao menos, parcialmente, numa constituição, seja ela escrita ou não.
Certamente não existe nada de intrinsecamente democrático no Estado de direito, por se tratar de um princípio antigo, com raízes mesopotãmicas, hebraicas, gregas e romanas. Todavia deve-se admitir que sem esse princípio pré democrático, talvez até não democrático, a democracia rapidamente descambaria para uma tirania da maioria... p.151-152


Em suma, a democracia pode colocar em perigo a politica na medida em que procura impor um interesse majoritário único sobre uma comunidade política diversa e pluriforme

"Ademais, a democracia ideológica, além de favorecer a tirania da maioria, também leva em si um potencial totalitário p. 164

"Parece então que os controles democráticos do poder político são insuficientes para prevenir sua expansão totalitária, especialmente se não houver uma forma compensatória de controlar a própria democracia p 165

A ideologia democrática é, portanto, incapaz de estabelecer limites normativos ao poder do Estado democrático. Há porém outro sentido em que a democracia pode se tornar totalitária: quando tenta aplicar o princípio democrático a todo o sistema político e até mesmo a todas as áreas da vida, incluindo esferas em que pelas mais diversas razões, a democracia é absolutamente inadequada. è dessa forma que a democracia deixa de ser simplesmente uma forma de governo e se transforma num estilo de vida com raízes nitidamente idólatras. p.166

Aqui também é onde vemos o democratismo assumir o papel de uma narrativa redentora, guiando a humanidade por incrementos em direção à meta final. A história geralmente consiste em uma expansão gradual do sufrágio para incluir o maior número de cidadãos e, mais que isso, consiste em uma extensão da própria democracia para além da comunidade política, incluindo as muitas comunidades não estatais dentro de sua jurisdição territorial. O Estado final previsto não é somente um sistema político democrático, mas toda uma forma de vida democrática. 2ª edição







Quer sejam democráticos ou não, todos os sistemas políticos devem permitir que forças externas ponham limites ao poder expansivo do Estado. p. 166

A democracia como credo, seguindo sua crença central na soberania popular, tenta estender o princípio democrático por todo o governo e procura ate se infiltrar em instituições não estatais, como a empresa, a escola, a igreja institucional e a família. O problema dessa intromissão é que a democracia... acaba causando a intrusão opressiva de uma massa social indiferenciada em comunidades normativamente estabelecidas com base numa variedade de princípios alternativos. E isso a democracia como credo não entende. p. 172

Os democratas ideológicos sujeitam a política e Estado às paixões da maioria popular p.191

3.5 Socialismo- a salvação pela propriedade comum

Embora diferentes socialismos contem diferentes histórias, não é difícil discernir uma narrativa redentora que inspira a visão socialista mais ampla. O episódio inicial pode ou não ser explicitamente articulado, mas geralmente consiste de um suposto estado primitivo de igualdade original, no qual os bens da terra são compartilhados entre os membros da comunidade. Talvez sejam comunidades tribais ou comunidades nômades às quais faltem propriedades estáveis, e todos trabalham juntos para o bem comum como parte de uma rede familiar estendida. Podem ser caçadores e catadores ou pastores e seus rebanhos migrando de acordo com as estações, bem como uma comunidade agrária estabelecida em um pedaço de terra.

 Mas assim que a comunidade se estabelece, é praticamente inevitável que a próxima cena na história seja uma divisão inicial da terra entre parcelas privadas, um desenvolvimento que se equipara à queda bíblica do pecado. Uma vez que isso acontece, o estado original de igualdade se rompe em um monopólio de proprietários no uso da propriedade, com a consequente exclusão de outros. Se a terra é passada para o filho mais velho ou dividida entre a próxima geração, a propriedade rapidamente se torna desigualmente distribuída, com algumas pessoas tendo maiores ou menores quantidades, enquanto outras trabalham para os proprietários, mas sem gozar das propriedades. Tal desigualdade produz um conflito social e competição sobre os meios de produção. Alguns se tornam ricos, e muitos outros, pobres, uma situação que os socialistas de todos os lugares lamentam. Cada história redentora oferece uma solução para o problema histórico central da sociedade. Se desigualdade é o problema básico, então os socialistas devem providenciar uma resposta. O desejado estado final é aquele no qual os membros da comunidade possuem de forma igualitária os bens da terra. A questão então é como torná-lo efetivo. Para os socialistas, o meio para atingir a igualdade geralmente passa pela ideia de que todos devem colocar seus recursos em um pote metafórico, ao qual todos possam recorrer quando necessário. A posse comum das propriedades, dessa maneira, substitui a posse individual. Isso pode ser alcançado reunindo pessoas voluntariamente em uma comunidade baseada nesse princípio ou, se os socialistas tiverem aspirações políticas mais fortes, ganhando o controle do aparato governamental, de modo a implementar tal sistema de propriedade em larga escala; nesse caso, o poder coercitivo do Estado se coloca acima do elemento voluntário, forçando os cidadãos a entregarem seus bens, pretensamente para o bem de toda a comunidade. Se levado às últimas consequências, tal esforço requer uma transformação, não somente das instituições políticas, mas de toda a sociedade. É aqui que o potencial totalitário do socialismo aparece.2ª edição 






A maioria dos socialistas, sejam eles teóricos, como Marx ou socialistas Fabianos, ou práticos, como Robert Owen e Vladimir Lenin, esposavam o pressuposto de que os seres humanos vivem inseridos em sistemas que operam à revelia de sua vontade , mais ainda, de que as virtudes humanas - especialmente as relacionadas  com a capacidade produtiva tenderão a desabrochar num ambiente radicalmente transformado...
Por um lado o socialismo parece se basear num pressuposto de que os seres humanos são espontaneamente virtuosos quando são emancipados de sistemas sociais, econômicos e políticos viciados. p. 185

Mesmos os socialistas utópicos ...  tendem a basear-se em valores éticos provenientes de uma crença na bondade e fraternidade humanas. p. 187

"precisamos diferenciar entre as variedades estatistas e não estatistas de socialismo. Introduz-se aí a distinção ente o socialismo propriamente dito e o anarquismo p. 186


O socialismo...no seu nível mais básico, ele pode ser definido pelo seu foco no igualitarismo econômico, ou seja, no desejo de distribuir os frutos da terra de forma mais equitativa dentro de uma certa comunidade. Para além dessa predileção básica, como já vimos, as definições variam, bem como as estratégias para obter essa igualdade tão estimada p. 191


Críticas ao Socialismo
Alegar que toda a propriedade pertence a uma coletividade tão indefinida e nebulosa leva inevitavelmente a que uma instituição particular exerça de fato o controle como representante dessa coletividade. .. surge o problema de quem será responsável pela redistribuição. Em praticamente todos os casos,a a resposta é que um órgão do governo passa a planificar a economia de cima para baixo....um partido socialista ou comunista tem de aspirar a tomar o controle direto sobre o governo para esse propósito. Isso pode ser feito por meios democráticos regulares, e muitos socialistas professos valorizam as instituições da democracia parlamentar.

A esta altura, no entanto,  o socialismo, particularmente em sua forma marxista, começa a se tornar gravemente antidemocrático na prática, apesar de ter sua raiz espiritual na doutrina da soberania popular. Se o capitalismo e o socialismo representam dois estágios históricos irreversíveis, conforme dita o esquema marxista, a passagem de um ao outro é nada menos que figa da servidão ruma a emancipação. e uma vez dado esse passo, seria inconcebível compactuar com uma regressão ao estágio anterior...Quando o partido socialista chega ao poder, mesmo através de meios parlamentares, ele deve tomar medidas para se manter no poder afim de completar a transição para nova ordem...eles terão de consolidar seu poder, agindo para eliminar os demais partidos da competição. p. 196

O que a propaganda panfletária chama de propriedade comum é, na realidade, a monopolização de toda a propriedade por uma elite autonomeada, que na prática não presta contas a ninguém p. 197

A ideologia do socialismo, portanto, baseia-se no pressuposto de que uma forma única de propriedade comum é capaz de suplantar todas outras formas de propriedades, sejam elas individuais ou comuns p. 202

Os sujeitos da propriedade são diversos: famílias, escolas, sociedades anônimas, clubes particulares, bibliotecas, museus, sindicatos trabalhistas e obviamente, comunidades políticas ou Estados....O modo como o museu administra seus bens, por exemplo, é fundamente diferente do modo pelo qual a empresa administra os seus. O parque nacional trata seus bens diferente de uma madeireira. p. 199
Além disso as várias formas de propriedade devem coexistir, e nenhuma delas deve tentar assimilar ou abolir as demais...Mesmo na família, nem tudo é propriedade comum. Os filhos tem suas próprias camas, roupas, brinquedos, escova de dentes, bicicleta,  livros e assim por diante...Enfim, as sociedades humanas incorporam uma variedade de formas de propriedade compartilhada, e qualquer tentativa de reduzir essa diversidade a uma forma única corre o risco de degenerar em totalitarismo. p. 200

Um dos pressupostos centrais do marxismo é que um número imenso de fenômenos são redutíveis à luta de classes economicamente fundamentada. Entre esses fenômenos, incluem-se o governo politico, os sistemas jurídicos, o casamento, a vida familiar, a religião, a filosofia e a solidariedade nacional....p. 212
a fonte do mal para Marx é precisamente a divisão do trabalho. p. 211


 Por repudiarem explicitamente os devaneios dos socialistas utópicos e não desejarem seguir a abordagem platônica de projetar cidades imaginárias de caráter platônico, eles alegam estar apenas prevendo a direção da história em seus termos mais gerais. Todavia, em uns poucos trechos de seus escritos, Marx e Engels não resistem e acabam especulando um pouco sobre o futuro socialista. Em uma das passagens mais conhecidas, eles descrevem assim a sociedade comunista: 

Nela, ninguém tem uma esfera exclusiva de atividade, mas cada um se torna capaz em qualquer área que desejar. A sociedade regula a produção geral, tornando possível que eu faça uma coisa hoje e outra amanhã; caçar de manhã, pescar pela tarde, pastorear o gado ao pôr do sol e fazer crítica depois do jantar, ao meu bel-prazer, isso tudo sem que eu jamais me torne caçador, pescador, pastor ou crítico.27 Essa sociedade do futuro corresponde à visão bíblica do novo céu e da nova terra, onde Deus “lhes enxugará dos olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem lamento, nem dor” (Ap 21.4). A própria divisão do trabalho cessará, deixando os seres humanos livres para edificar uma nova sociedade sem as opressões do passado. A virtude humana poderá desabrochar nessa nova ordem, porque todos os obstáculos à virtude terão sido abolidos. É claro que a principal diferença entre a visão marxiana e a cristã é que esta aguarda a plenitude última da criação no retorno de Cristo, quando só então o processo da redenção será cumprido e todas as coisas serão renovadas, ao passo que a primeira entende que o clímax emergirá a partir da própria história.p. 211 







O Papel do governo:

Primeiro, o governo é obrigado a cuidar daquilo que é comum a todos os cidadãos do Estado...ambiente físico, regulando e ,se possível, proibindo a poluição do ar, da água e do solo. Deve tomar conta... parques nacionais, estaduais, e municipais, empresas públicas e monumentos históricos entram nesta categoria.... segurança pública...

Em segundo lugar o governo tem uma responsabilidade redistributiva mínima dentro do corpo político...A justiça não demanda a igualdade absoluta. Além disso , o governo também não deve ter a pretensão de tronar-se a principal fonte do bem-estar econômico dos seus cidadãos....Porém... assegurar que os cidadãos e as comunidades tenham recursos suficientes para cumprir as vocações recíprocas... , mantendo, por exemplo, um ambiente jurídico protetor
. p. 217

Terceiro, o governo tem um papel  a desempenhar na proteção dos economicamente carentes.... acesso ao sistema legal... governo desempenhar um papel mais direto no alívio à pobreza, desde que ele não ultrapasse sua competência normativa. p. 218


Teoria da soberania das esferas ou Responsabilidade Diferenciada




A noção de soberania das esferas ou de responsabilidade diferenciada, pressupõe uma concepção não hierárquica da sociedade...não é uma hierarquia ontológica... isso não implica necessariamente a ausência de autoridade. ...No entanto essas hierarquias são limitadas pela própria natureza dos postos de autoridade em questão, natureza essa que, por sua vez, é limitada pelo contexto institucional.
p. 287

Cada pessoa ocupa uma posição de autoridade que se manifesta de modo limitado em diferentes contextos institucionais. Nem Norman nem Tereza são intrinsecamente subordinados um ao outro fora de suas posições respectivas. Norman, o aluno está sujeito à professora Tereza, porque matriculou-se no curso dela. E Tereza, a motorista está sujeita à autoridade policial  Norman quando estiver dirigindo..." p. 287

Deus redime a pessoa como um todo, não somente a sua vida espiritual ou moral. Assim, o alcance cósmico da redenção em Jesus Cristo e da renovação do Espírito Santo não se resume à oração diária, à leitura da Escritura e à presença semanal na reunião da igreja, embora essas coisas certamente façam parte dessa vida. O alcance cósmico da redenção significa que a vida como um todo é redimida, incluindo a família, o trabalho, a recreação, a vida acadêmica e a vida política. Se o cosmos inteiro é um campo de batalha contínua entre os espíritos da fé e os da incredulidade, temos a responsabilidade dada por Deus de discernir os espíritos em cada uma dessas esferas." (p.230).

"O chamado inicial e mais básico de Deus é: Frutificai e multipliai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" . Esse chamado é comumente chamado de "mandato cultural". Os seres humanos são seres culturais. Na sua vida normal, les cultivam ou desenvolvem o mundo à sua volta. Do ponto de vista normativo, eles não fazem isso de maneira desconexa, mas de forma ordeira, segundo a intenção de Deus. Em outras palavras, as atividades humanas que moldam a cultura estão de acordo com a intenção criativa de Deus....A cultura humana inclui a política; logo a politica é  parte da criação. p. 231-232
Teoria da Soberania das Esferas


Classificação das ideologias: esquerda e direita 

Não existe nenhum esquema universalmente aceito para classificar as ideologias políticas, e os que temos à nossa disposição não ajudam muito. Um dos métodos mais comuns e, creio eu, menos
esclarecedor, consiste em agrupá-las em um espectro que vai da esquerda à direita. O uso dos termos esquerda e direita é tão amplo que merece algum comentário. 

Muitos usam esses rótulos como se eles tivessem um conteúdo invariável, universalmente conhecido
desde tempos imemoriais. Se chamamos Margaret Thatcher (1925- 2013) de direitista, o que precisamente estamos dizendo sobre suas crenças políticas e sua plataforma de governo?
 Se rotulamos François Mitterrand (1916-1996) de esquerdista, o que poderemos esperar que nosso interlocutor entenda a respeito do falecido líder francês? 
Usamos esses termos geralmente de forma pejorativa, como um modo de desacreditar aquele que discorda de nós. Sem querer, acabamos revelando muito mais sobre nós mesmos do que sobre os nossos adversários políticos. Por que usar esses rótulos, então? Será que eles comunicam alguma coisa? Será que vale a pena mantê-los em uso?

O uso dos termos esquerda e direita originou-se unicamente da disposição dos assentos dos deputados na Assembleia Nacional Francesa depois de 1789. Os monarquistas tradicionais sentavamse à direita do líder da casa e os republicanos, à esquerda. Com o tempo, o monarquismo deixou de ser uma força importante e o radicalismo e o socialismo ganharam espaço. A configuração dos partidos políticos mudou e seus lugares na câmara parlamentar migraram para o lado direito do líder.
40 No começo, os da direita favoreciam a soberania do monarca, enquanto os da esquerda defendiam a soberania popular. Assim, o critério básico para localizar os partidos e suas ideologias ao longo do espectro era sua atitude em relação à posse do poder político. Desnecessário será dizer que esse critério está completamente obsoleto hoje em dia. Os significados de esquerda e direita mudaram ao longo das décadas, à medida que diferentes grupos de questões passaram a suplantar em importância questões anteriores.

 Em vários momentos, na França e em outros lugares, a questão primordial estava entre clericalismo e anticlericalismo — entre aqueles que se sentavam à direita, apoiando as prerrogativas de uma igreja institucional e aqueles sentados à esquerda, desejosos de que a igreja perdesse completamente o seu poder. Talvez como consequência dessa particularidade histórica, haja uma tendência popular que persiste em entender qualquer envolvimento cristão na política, desde os partidos democráticos cristãos da Europa até a American Christian Coalition [Coalizão Cristã da América] de 1990, como um fenômeno da direita. Além disso, muitos cristãos tendem à aproximação de partidos posicionados à direita, um fenômeno agravado em parte pelos de esquerda, que consideram a fé religiosa
como resquício de um passado pouco iluminado.41

Ao longo do século 20, no entanto, a posição de qualquer pessoa no espectro esquerda-direita foi determinada em boa parte por sua atitude diante da igualdade social e econômica. Os sociaisdemocratas e os comunistas, apesar de discordarem em vários pontos, querem no fundo distribuir igualmente a renda da sociedade.
Os liberais clássicos e os fascistas são tão diferentes como a noite é do dia, especialmente no que se refere à liberdade individual, mas ambos creem que os seres humanos são intrinsecamente desiguais
ou se tornam desiguais no exercício de seus diferentes potenciais individuais. Os racistas estão na extrema direita porque, além de acreditar que algumas pessoas são superiores às outras, creem que
essa superioridade é biologicamente determinada. 
Os comunistas estão na extrema esquerda porque creem que praticamente todas as diferenças e desigualdades humanas são economicamente determinadas e podem, portanto, ser eliminadas. (Na prática, as sociedades comunistas têm sido invariavelmente marcadas pela desigualdade e só conseguiram criar o que Milovan Djilas chama de uma “nova classe”, constituída pelos membros da burocracia e do partido.42

 Apesar dessa realidade bem diferente da teoria, as aspirações comunistas continuam igualitárias até o fim.) No mundo ocidental do século 21, entretanto, os componentes religiosos e culturais se reafirmaram de modo a justificar mais alterações na definição de esquerda e direita, refletindo assim de alguma forma a divisão clerical-anticlerical do período da Revolução Francesa.

Dessa maneira, mesmo que alguém favoreça o Estado de bem estar social e as políticas de redistribuição econômica, temas antes vistos como totalmente de esquerda, e mesmo assim persista na
oposição à liberação do aborto ou em acreditar que a complementaridade sexual é inerente à estrutura do casamento, essa pessoa será rejeitada por ser vista como alguém de extremadireita, ou mesmo como um completo fanático. 

Isso sugere mais uma vez que o critério econômico pode não ser mais tão proeminente como outrora, com o critério cultural voltando à tona. Assim, os termos esquerda e direita são de pouca utilidade por três razões principais.

 Primeiro, eles sempre se relacionam aos assuntos que estão em voga em determinada época e, portanto,
não podem ter um sentido único e universalmente aceito. Essa talvez não seja a razão mais importante para a rejeição desses termos; no entanto, devemos ao menos estar cientes de que, se criticarmos alguém por estar muito à esquerda ou muito à direita, nós usaremos um critério que não é permanente e que provavelmente mudará no futuro.

Segundo, o espectro esquerda-direita é unidimensional e necessariamente prioriza um determinado critério de avaliação sobre diversos outros critérios possíveis. Por que enfocar tão obsessivamente a distribuição de recursos econômicos? Por que não analisar as ideologias em termos de suas atitudes em relação à dimensão do poder do governo? Ou diversidade versus unidade? Ou democracia versus aristocracia? Assim, pois, podemos empregar diversas matrizes em um modelo multidimensional. Se
tivéssemos que escolher somente duas matrizes, colocando-as em
posição perpendicular, o resultado final seria algo como a figura 2.




Trata-se de uma forma bidimensional de organizar as ideologias políticas e é, sem dúvida, mais esclarecedora que o contínuo unidimensional.

Existe, porém, uma terceira razão para se rejeitar o espectro esquerda-direita, razão essa que nem mesmo um modelo multidimensional consegue superar. Essa classificação não explica as diferenças religiosas que existem entre as várias ideologias. A maior parte das ideologias modernas fazem parte da mesma família religiosa, conforme já observamos. De um jeito ou de outro, cada uma delas transforma a humanidade em um deus, e por isso todas têm muito em comum. No entanto, divergem no tocante a qual manifestação da humanidade elas preferem adorar. Conforme veremos adiante, o liberalismo idolatra o indivíduo; o socialismo, a classe econômica; o nacionalismo, o Estado-nação ou a comunidade étnica. Embora possamos, em tese, criar um contínuo de ideologias com “comunidade” de um lado e “indivíduo” do outro, ainda não teremos como distinguir os diversos tipos de comunidade. 

Além disso, há um conjunto de doutrinas políticas que seria difícil encaixar em qualquer contínuo. Incluem-se aí a democracia cristã europeia, o radicalismo islâmico da Al-Qaeda e do Hamas e o nacionalismo hindu do Partido Janata indiano. As diferenças básicas entre essas religiões históricas não podem ser facilmente colocadas em um esquema uni, bi ou multidimensional. Por todos esses motivos, eu preferiria banir os termos esquerda e direita do discurso político. Mas, uma vez que isso não vai acontecer, peço ao leitor que esteja ciente das deficiências desses termos e não lhe lhes atribua demasiada importância. Entretanto, há dois outros rótulos que podem ter mais validade: progressista e conservador, frequentemente vistos como sinônimos de esquerda e direita. A esse respeito, basta-me dizer por ora que, em tese, vejo o progressismo e o conservadorismo como duas atividades mutuamente compatíveis e necessárias. Elas não devem ser rigidamente contrapostas.