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quarta-feira, 16 de março de 2022

Fim da Beleza- episódio 3 Críticas e refutação ao Brasil Paralelo

 



Descrição do vídeo: 

00:00 - Abertura

00:07:25 - Ato I: País do Futuro

00:23:12 - Ato II: OrganiCidade

00:43:23 - Ato III: Reconstrução O último episódio do O Fim da Beleza estreou. Em nossa conclusão, buscamos mostrar que a beleza não é um luxo, tampouco é relativa. Ela é um bem necessário que deve ser cultivado por meio das virtudes e dos valores que somente a religião e a tradição são capazes de nos fornecer."

 



O documentário:

  • dá a entender que o modernismo não fez uma autocrítica em relação á falhas de projetos urbanistas
  • afirma que o modernismo vem para o Brasil por meio de Lúcio Costa  que faz o plano piloto de Brasília e Oscar Niemeyer, o qual fez várias construções nesta cidade. A cidade apresentou com o tempo vários problemas, o que é fato.
  • afirma que Brasília foi feita para as pessoas não manifestarem, impedir atos democráticos
  • omite as obras belas do modernismo
  • omite as várias fazes do modernismo
  • omite os movimentos posteriores ao modernismo como o pós-modernismo e arquitetura contemporânea
  •  defende a volta das virtudes e valores católicas para cultivo da beleza, simbolizado pela reconstrução da Igreja Cristo Salvador


1- Brasília não foi feita para receber manifestações democráticas?

Quando você tinha a capital no  Rio de Janeiro, o Palácio do Catete estava na calçada. Então se você quisesse protestar,  se você quisesse manifestar, você ia lá na calçada. e começava uma manisfetação ali, algum ato democrático. Hoje em dia Brasília tá completamente isolada das pessoas e isso dificulta realmente diversos tipos de manifestação e coloca o presidente quase como um líder absolutista isolado dessas grandes massas, isso é muito perigoso para a democracia do Brasil isso é muito perigoso politicamente falando 18;57-19:25

Resposta:

O Iphan e o uso da Esplanada dos Ministérios. Nesta época em que o País passa por um período de fortes expectativas no contexto político e econômico, cresce, também, o uso da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Entretanto, muitas vezes, equipamentos são afixados sem que sejam observadas as recomendações legais pertinentes à área nobre da Capital Federal, espaço concebido pelo arquiteto e urbanista Lucio Costa, em sua perspectiva humanista e democrática, destinado, por excelência, às manifestações cívicas, não apenas de Brasília, mas de toda a nação. ...É de plena concordância do Iphan que a Esplanada dos Ministérios é local privilegiado e vocacionado para manifestações políticas e sociais de toda ordem, o que nos impõe não fazer nenhum juízo de valor ou censura ao objeto, mas apenas às condições de preservação do espaço SUPERINTENDÊNCIA DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL NO DISTRITO FEDERAL.Brasília, 15 de abril de 2016  http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Grade%20na%20Esplanada.pdf



2- O movimento Moderno não fez uma autocrítica?

Semelhantemente ao episódio 1, o documentário omite que na verdade desde a década de 50 o movimento moderno reconheceu erros em projetos urbanísticos.

O livro da  Jane Jacobs (citada no documentário) reconheceu as críticas da década de 50:


"Este livro é um ataque." São essas as primeiras palavras de Jane Jacobs neste livro que completa meio século como um dos mais influentes estudos urbanos de todos os tempos. Lançado nos Estados Unidos em 1961, o livro veio somar-se às críticas aos princípios funcionalistas do urbanismo que foram se intensificando ao longo da década de 1950 e acabaram levando à dissolução do CIAM/Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, instituição criada na Europa três décadas antes com o objetivo de defender e difundir o ideário da arquitetura e do urbanismo modernos. Na verdade, o livro é escrito naquele momento-limite em que Brasília está sendo construída – com base num plano urbanístico fundado em muitos dos princípios formulados no âmbito do CIAM – ao mesmo tempo que na Europa e nos Estados Unidos vão se adensando as críticas ao que Jacobs chama aqui de "urbanismo ortodoxo". Não por acaso, o foco deste livro está justamente na ofensiva aberta a um dos princípios básicos da Carta de Atenas, documento-síntese do pensamento urbanístico do CIAM: a ideia de setorização, ou organização espacial da cidade segundo funções predeterminadas. Contra esse princípio, Jacobs defende a diversidade (mescla de usos e usuários, bem como de edificações de idades e estados de conservação variados) como único meio capaz de garantir a vitalidade urbana. E o que é mais importante: chega a isso não por meio de esquemas teórico-conceituais ou diagnósticos exaustivos e pretensamente científicos, mas sim observando a cidade do ponto de vista de quem a pratica cotidianamente. Morte e vida de grandes cidades / Jane Jacobs m  3 ed. – São Paulo : Editora WMF Martins Fontes, 2011. – (Coleção cidades)


...o sonho de Le Corbusier continha outras maravilhas. Ele procurou fazer do planejamento para automóveis um elemento essencial de seu projeto, e isso era uma ideia nova e empolgante nos anos 20 e início dos anos 30. Ele traçou grandes artérias de mão única para trânsito expresso. Reduziu o número de ruas, porque "os cruzamentos são inimigos do tráfego". Propôs ruas subterrâneas para veículos pesados e transportes de mercadorias, e claro, como os planejadores da Cidade-Jardim, manteve os pedestres fora das ruas e dentro dos parques. A cidade dele era como um brinquedo mecânico maravilhoso. Além do mais, sua concepção, como obra arquitetônica, tinha uma clareza, uma simplicidade e uma harmonia fascinantes. Era muito ordenada, muito clara, muito fácil de entender. Transmitia tudo num lampejo, como um bom anúncio publicitário. Essa visão e seu ousado simbolismo eram absolutamente irresistíveis para urbanistas, construtores, projetistas e também para empreiteiros, financiadores e prefeitos. Ela deu enorme impulso aos "progressistas" do zoneamento, que redigiram normas elaboradas para encorajar os construtores a reproduzir ainda que parcialmente o sonho. Não importava quão vulgar ou acanhado fosse o projeto, quão árido ou inútil o espaço, quão monótona fosse a vista, a imitação de Le Corbusier gritava: "Olhem o que eu fiz!" Como um ego visível e enorme, ela representa a realização de um indivíduo. Mas, no tocante ao funcionamento da cidade, tanto ela como a Cidade-Jardim só dizem mentiras.    http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Grade%20na%20Esplanada.pdf


Porém, esse esplendor da arquitetura moderna ia de mãos dadas com sua crise. A expansão prática do Movimento Moderno na arquitetura e no urbanismo acarreta a vulgarização de muitos de seus postulados. Essa banalização, consequentemente, provoca reações e uma crise que vão minando a metodologia e as propostas desenvolvidas nos CIAM [congressos internacionais de arquitetura moderna]. Isso não significa que seus princípios já não são válidos, mas, sem dúvida, sua aplicação não traz os resultados esperados, gerando cidades baseadas em critérios especulativos, às quais se presta perfeitamente uma linguagem moderna e trivial de formas simples e sistemas estruturais banaisAssim, no nono CIAM (1953), um grupo de jovens arquitetos (Georges Candilis, Alison e Peter Smithson, Jacob Bakema, Aldo van Eyck, etc.) questiona a rigidez das funções urbanas postuladas na Carta de Atenas. Esse grupo sugere a reintegração urbana a partir das diferentes escalas de desenvolvimento da vida social; critica o crescimento desordenado das cidades e os problemas de articulação do tecido urbano e reformula os planos urbanos com base na revitalização dos bairros, na ideia do claustro e na relação da edificação com seu entorno, expressando em seus agrupamentos residenciais (clusters) uma hierarquia associativa que tem seu melhor exemplo em Toulouse-le-Mirail (1962-1977), de Candilis, mostra emblemática do novo urbanismo. A dissidência dos jovens, a chamada terceira geração, em Dubrovnik e Otterlo, leva à dissolução dos CIAM e à busca de novos mestres que – opondo o partir do zero anterior ao novo forma e memória – encerra o ciclo épico do Movimento Moderno. Introdução à história da arquitetura. José Ramón Alonso Pereira. Porto Alegre : Bookman, 2010.p.p. 276


 
No final do século XX, iniciou-se uma reação contra o Modernismo. A arquitetura viu um retorno aos materiais e formas tradicionais e, às vezes, ao uso da decoração pela própria decoração, como na obra de Michael Graves e, após a década de 1970, o de Felipe Johnson .  https://www.britannica.com/art/Modernism-art/Modernism-in-the-visual-arts-and-architecture



"O pós-modernismo é um estilo eclético e colorido de arquitetura e artes decorativas que surgiram no final da década de 1970 e continuam de alguma forma hoje.


Um livro publicado em 1966 pelo arquiteto americano Robert Venturi, Complexity and Contradiction in Architecture , foi uma influência fundamental no desenvolvimento do pós-modernismo. Venturi exaltava as ambiguidades, inconsistências e idiossincrasias da arquitetura maneirista e barroca de Roma, mas também celebrava a cultura popular e a arquitetura comum da American Main Street.


Um trabalho posterior, Learning from Las Vegas (1972), desconstruiu os sinais e símbolos da Strip de Las Vegas e dividiu os edifícios em 'patos', os edifícios esculturais que incorporavam sua mensagem dentro da estrutura, e o 'galpão decorado', que usava sinais para comunicar sua mensagem. Na prática, significou a redescoberta dos vários significados contidos na arquitetura predominantemente clássica do passado e aplicá-los às estruturas modernas. O resultado foi uma arquitetura que incorporou alusão histórica e traços de capricho.  https://www.architecture.com/explore-architecture/postmodernism


3- O planejamento urbano só atrapalha?

3.1 Para Jane Jacobs, citada no vídeo o Estado serve para oferecer subsídios, pois a cidade se autorregula como um organismo, o planejamento urbano só atrapalha, ele apenas deve ofercer subsídios.


"Essa ordem natural que se reproduz e regenera por si própria - tal como um organismo (Jacobs, 2009, p.488) - é a fonte da vitalidade defendida no livro. Há inúmeras passagens em que Jacobs explicita esse ponto: “As cidades vivas têm uma estupenda capacidade natural de compreender, comunicar, planejar e inventar o que for necessário para enfrentar as dificuldades” (Jacobs, 2009, p.498) ou “As cidades monótonas, inertes, contêm, na verdade, as sementes de sua própria destruição e um pouco mais. Mas as cidades vivas, diversificadas e intensas contêm as sementes de sua própria regeneração” (Jacobs, 2009, p.499).

 

É esse plano que os planejadores urbanos não conseguiriam acessar. Eles pretendem ordenar o que percebem como caos a partir de formas subjetivas de pensamento (Jacobs, 2009, p.244), sejam elas derivadas da tradição utópica ou realista (Jacobs, 2009, p.418). Essa ordem artificial criada pelo planejamento urbano é fadada ao fracasso: “É a coisa mais fácil do mundo pegar algumas formas, dar-lhes uma uniformidade rígida e tentar impor o resultado em nome da ordem. No entanto, a uniformidade rígida, trivial, e os sistemas significativos de ordem funcional raramente são compatíveis com a realidade” (Jacobs, 2009, p.419).

Até aqui, o argumento pode ser sintetizado da seguinte forma: as cidades são naturalmente diversas, é a intervenção por meio do planejamento urbano que desvirtua essa vitalidade na medida em que se opõe à interação de usos e funções, à rua como espaço público por excelência - as ruas são entendidas como os “órgãos mais vitais da cidade” (Jacobs, 2009, p.29) - e à alta densidade populacional. Essa crítica feita por Jacobs pode ser descrita a partir do que Boltanski e Chiapello denominam de crítica estética (critique artistique).17 A manifestação genuína da ordem da cidade só acontece quando ela está livre de coerção, impedimentos e limitações. Qualquer determinação externa parece limitar a possibilidade de autorealização na cidade. Há uma exigência de autenticidade na crítica à uniformização e à perda da diferença, tanto que Jacobs ataca “a Grande Praga da Monotonia” (Jacobs, 2009, p.43) como um dos efeitos perversos do planejamento urbano. E a monotonia nada mais é do que “o oposto da interação de usos e, portanto, da unidade funcional” (Jacobs, 2009, p.142)...

Assim, não parece haver qualquer lugar possível para o planejamento urbano, que teria sido invalidado por completo. O ataque ao planejamento é, ao mesmo tempo, um ataque à atuação do Estado no campo do urbanismo. A ideia de que existiria uma ordem inata nas cidades e de que é preciso sempre se voltar às condições internas que fazem uma cidade crescer e prosperar ou simplesmente morrer - “sua existência como cidades e suas causas de crescimento se encontram nelas mesmas” (Jacobs, 1970, p.141, grifo meu), uma ideia repetida à exaustão também em The Economy of Cities, de 1969 - faz com que o Estado seja uma causa externa. Por mais que a autora reconheça os limites de qualquer analogia biológica, a imagem da cidade como organismo vivo, autossuficiente e capaz de se regenerar sozinho sugere que a atuação estatal seria desnecessária.19 Não é por outra razão que a atuação do Estado, sob a forma de incentivos, tributos, zoneamento e financiamento, aparece apenas na terceira parte de The death and life, uma das menos lidas. E, nessa parte, os agentes privados são os responsáveis por criar as condições de diversidade das cidades. O planejamento estatal deveria apenas fornecer as condições para que esses agentes privados possam florescer (Jacobs, 2011, p.315)...

Em primeiro lugar, ao mesmo tempo em que é possível encontrar passagens em que o Estado é criticado em bloco - em The real problem of cities, de 1970, Jacobs afirma que a centralização é um problema em si mesmo, impeditivo da criação e da inovação, incompatível com a flexibilidade e aleatoriedade da vida (Jacobs, 1970a, p.206-207) -, também é possível encontrar defesas, por exemplo, ao subsídio público para habitação (Jacobs, 2011, p.420 e ss). Na parte sobre os subsídios, Jacobs não defende que o Estado construa unidades habitacionais públicas, mas antes que toda provisão habitacional passe necessariamente pelo mercado. Os subsídios serviriam para garantir acesso àqueles que não podem pagar, assim como ajudariam a reformar edifícios velhos em bairros degradados. No modelo de Jacobs, todos são proprietários pagando por suas hipotecas e a renovação dos cortiços vem do esforço individual de cada família para modernizar seus apartamentos. Caberia ao Estado garantir crédito a essas pessoas, ou seja, gerar as condições para que o privado possa desenvolver seus interesses e, assim, trazer vitalidade e diversidade para as cidades (Jacobs, 2011, p.389 e ss)...

 

Essa ordem natural que se reproduz e regenera por si própria - tal como um organismo (Jacobs, 2009, p.488) - é a fonte da vitalidade defendida no livro. Há inúmeras passagens em que Jacobs explicita esse ponto: “As cidades vivas têm uma estupenda capacidade natural de compreender, comunicar, planejar e inventar o que for necessário para enfrentar as dificuldades” (Jacobs, 2009, p.498) ou “As cidades monótonas, inertes, contêm, na verdade, as sementes de sua própria destruição e um pouco mais. Mas as cidades vivas, diversificadas e intensas contêm as sementes de sua própria regeneração” (Jacobs, 2009, p.499). É esse plano que os planejadores urbanos não conseguiriam acessar. Eles pretendem ordenar o que percebem como caos a partir de formas subjetivas de pensamento (Jacobs, 2009, p.244), sejam elas derivadas da tradição utópica ou realista (Jacobs, 2009, p.418). Essa ordem artificial criada pelo planejamento urbano é fadada ao fracasso: “É a coisa mais fácil do mundo pegar algumas formas, dar-lhes uma uniformidade rígida e tentar impor o resultado em nome da ordem. No entanto, a uniformidade rígida, trivial, e os sistemas significativos de ordem funcional raramente são compatíveis com a realidade” (Jacobs, 2009, p.419). Rev. Bras. Estud. Urbanos Reg. 21 (1) • Jan-Apr 2019 Bianca Tavolari https://doi.org/10.22296/2317-1529.2019v21n1p13


 3.2 Limitações do pensamento de Jane Jacobs e dos pensadores do Brasil Paralelo por causa de uma análise micro

Jane Jacobs fez sua análise faz apenas uma análise a nível micro, de vizinhança:

... a observação seria completamente distinta se Jacobs olhasse para a Broadway na altura da Times Square e não para uma rua de bairro. Em outras palavras, há, aqui, uma questão clara de escala. Não se trata do homem na multidão na grande avenida da grande cidade, mas do balé espontâneo nas calçadas de uma rua menor, em que todas as pessoas são identificáveis e discerníveis. Rev. Bras. Estud. Urbanos Reg. 21 (1) • Jan-Apr 2019 Bianca Tavolari https://doi.org/10.22296/2317-1529.2019v21n1p13

 Jane Jacobs despreza a infraestrutura da cidade, assim como os entrevistados do Brasil Paralelo

"Não muito longe da famosa casa de Jane Jacobs na Hudson Street, em Greenwich Village, e da taverna White Horse, e seu famoso balé de rua, fica a estação de metrô West Fourth na 6th Avenue e 4th Street. É uma coisa enorme, uma das maiores em todo o sistema, com oito faixas em quatro plataformas em dois níveis. Sete linhas de metrô – A, B, C, D, E, F e M – se conectam lá, e a estação bombeia milhares de pessoas por hora para as ruas da pitoresca vila. Esta parada, e os trens e túneis a que ela leva, são cruciais para o funcionamento de Greenwich Village.

No entanto, Jacobs praticamente não menciona essa parada nem, surpreendentemente, o sistema de metrô de Nova York em sua obra-prima e livro mais influente, The Death and Life of Great American Cities. Essa omissão aponta para algo que Jacobs não entendeu, que foi a infraestrutura: os grandes sistemas que fazem uma cidade funcionar. Jacobs não só não falava muito sobre o sistema de metrô de Nova York, como também não falava muito sobre o sistema de água, uma maravilha da engenharia cujos canos serpenteiam centenas de quilômetros nas montanhas Catskill, levando líquido fresco e limpo para milhões de pessoas. Ela não fala sobre a rede elétrica. É quase como se ela presumisse que os bairros urbanos densos que ela amava apenas se materializavam organicamente nas margens do Hudson, não o produto de sistemas de infraestrutura massivos geralmente financiados ou dirigidos por grandes governos.


Jacobs era excelente em usar seus olhos e ouvidos para registrar o que realmente estava acontecendo nas ruas, por ignorar a teoria e ir direto para a realidade. Ela moldou meu pensamento (e de todos os outros) para melhor. Mas em parte por causa dos tempos e por causa de suas próprias limitações, ela perdeu algumas coisas importantes, e isso nos machucou. Seu foco intenso nas minúcias das ruas confunde causa e efeito. Ela e seus devotos podem se concentrar demais no design, sem reconhecer o contexto maior em que o design se encontra. Ela cultuava o local, o balé das ruas, sem ver todos os fatores que tornavam essa dança possível. É importante não tentar copiar o desenho de uma rua ou local, sem reconhecer a base desse desenho, que pode incluir infraestrutura física, bem como regulamentação legal e financeira.

Como exemplo, vejamos algo que ela amava, densidade. Como se obtém densidade em um bairro urbano? Você tem que possibilitar que muitas pessoas vivam bem dentro de uma pequena quantidade de espaço. Isso significa poucos ou nenhum carro. Se as pessoas precisam de carros, então precisam de vagas de estacionamento para seus carros, e o estacionamento consome a terra e as possibilidades de densidade. Então você precisa de metrô, linhas de bonde e ônibus. Jacobs não falou muito sobre isso em Morte e Vida , nem falou sobre os outros grandes sistemas que as cidades contam. Nem, se bem me lembro, ela falou muito sobre isso em seus outros livros sobre cidades e economia que li.

Ela não ignorou completamente o trânsito. No capítulo 18 de Morte e Vida, sobre a batalha entre carros e cidades pela supremacia, ela eviscera o planejamento urbano modernista no estilo Corbusier e explica habilmente como o tráfego de carros não pode ter prioridade se as cidades prosperarem. Mas ela nunca sai e diz que grandes cidades devem ter grande transporte de massa.


O mais próximo que ela chega é em um parágrafo, onde ela diz que um transporte público melhor precisa esperar uma comunidade pública e política que esteja pronta para isso. “Atualmente, o transporte público definha, mas não por falta de potencial aprimoramento técnico. Uma riqueza de técnica engenhosa está no limbo porque não há sentido em desenvolvê-la durante uma era de erosão da cidade, sem fundos para ela, sem fé nela.” Isso é de um parágrafo de um livro que ignora amplamente o assunto; aparece como uma reflexão tardia.

Jacobs era certamente uma senhora muito inteligente. Ela era realmente radical, com a intensidade de seu olhar e sua disposição de descartar quase completamente qualquer formação acadêmica e embalagem. Eu entendo que ela recusou todos os diplomas honorários por causa de seu desdém pela academia. Eu a respeito e gosto imensamente dela. Tive a grande sorte de me corresponder com ela quando escrevi meu primeiro livro, How Cities Work , e de conhecê-la em Toronto, em sua casa. Desde que decifrei Death and Life of Great American Cities , e mais tarde muitos de seus outros livros, ela me ensinou a vantagem de ver as coisas por mim mesmo, de conversar com pessoas comuns e desconfiar do julgamento oficial de especialistas.

Mas seu contexto a moldou. Suspeito que sua tendência a não se concentrar em grandes sistemas se originou de sua aversão ao governo, que é necessário para criar grandes sistemas. Embora seja vista como uma mulher de esquerda, ela compartilhava com a direita de hoje uma profunda desconfiança em relação ao governo, particularmente ao governo grande. É fácil perceber porquê. Quando intelectualmente atingiu a maturidade, Robert Moses e Robert McNamara eram os responsáveis. Esses homens e outros no governo estavam abrindo estradas pelas cidades e enviando jovens para morrer na Guerra do Vietnã, querendo seu filho como forragem. É por isso que ela imigrou para o Canadá. Mas seu foco na vida comum, na vida nas ruas, agora corre o risco de se tornar a miopia atual. Precisamos de um governo, às vezes um grande governo, para fazer as grandes coisas que precisam ser feitas, desde o sistema nacional de saúde até um sistema de trens decente entre as cidades.

E não há como escapar de que se você ama a Grande Cidade Americana, como Jacobs amava, você tem que amar, ou pelo menos respeitar, os grandes sistemas que os tornam possíveis. "

What Jane Jacobs Missed. Her intense focus on the minutiae of the streets confuses cause and effect, and virtually ignores infrastructure. May 18, 2016 •Alex Marshall  https://www.govtech.com/fs/perspectives/what-jane-jacobs-missed-.html


4- Cidades Medievais e Favelas

Velha Paris- A imagem acima, capturada por volta de 1877, mostra a vista do alto da Rue Champlain, no 20° Arrondissement. (Musée Carnavalet / Roger-Viollet)

Ruas, bairros precisam sim de vitalidade, de relações sociais, como na favela e nas vilas da cidade média. Mas ruas e bairros se inter-relacionam com outros bairros, com o restante da cidade.  Uma cidade sem planejamento urbano como as cidades medievais e as favelas atuais tem vários problemas de insalubridade, inclusive a velha Paris.

Por causa das limitações econômicas forma-se favelas, que ao contrário das cidades italianas  ATUAIS (citadas no documentários) tem muito pouca infraestrutura com água, luz, esgoto, avenidas apropriadas para o trânsito, estacionamento, transporte, segurança, sáude, etc. E justamente isso é o mais precário nessas localidades. Justamente por alguns destes fatores as epidemias se alastravam na Europa e chegou a dizimar um terço da população.

Georges-Eugène Haussmann foi nomeado prefeito de Paris por Napoleão III, tinha do título de Barão e foi o grande remodelador de Paris, planejou uma nova cidade, modificando parques parisienses e criando outros, construindo vários edifícios públicos, como a L’Opéra. Melhorou também o sistema de distribuição de água e criou a grande rede de esgotos, quando em 1861 iniciou a instalação dos esgotos entre La Villette e Les Halles, supervisionada pelo engenheiro Belgrand.

Barão demoliu as antigas ruas, pequenos comércios e moradias da cidade criou uma capital ordenada sobre a geometria de grandes avenidas e bulevares, uma nova disposição que também iria colaborar com o fim dos levantes populares, as barricadas de Paris



"Para seus compatriotas republicanos, no entanto, Haussmann era um vândalo arrogante e autocrático que arrancou o coração histórico de Paris , dirigindo seus bulevares pelas favelas da cidade para ajudar o exército francês a esmagar revoltas populares...

“Haussmann foi retratado como essa figura quase sinistra, apenas para enriquecer a si mesmo e com os dedos no caixa. Seus críticos o acusaram de encher Paris de ruas de paralelepípedos, prédios sem graça com fachadas de pedra e avenidas largas e retas para que o exército pudesse reprimir as massas.”...

Em 1848, Haussmann era um funcionário público ambicioso, subindo na hierarquia quando Louis-Napoléon Bonaparte – sobrinho e herdeiro de Napoleão I – retornou a Paris após 12 anos de exílio em Londres para se tornar presidente da Segunda República Francesa.

Bonaparte, mais tarde eleito imperador Napoleão III, odiou o que viu. Na sua ausência, a população de Paris explodiu de 759.000 em 1831 para mais de um milhão em 1846 – apesar dos surtos regulares de cólera e febre tifóide que mataram dezenas de milhares.

A capital francesa estava superlotada, suja, suja e cheia de doenças. Por que, ponderou Bonaparte, não era mais como Londres, com seus grandes parques e jardins, suas avenidas arborizadas e seu moderno sistema de esgoto ? Paris, declarou ele, precisava de luz, ar, água limpa e bom saneamento....


“É isso que eu quero”, disse Napoleão III a Haussmann. Foi o início do mais extenso programa de obras públicas já realizado voluntariamente em uma cidade europeia, transformando Paris em um vasto canteiro de obras por mais de 17 anos.

Haussmann abriu um caminho no labirinto apertado e caótico de ruas de favelas no centro da cidade, derrubou 12.000 prédios, abriu espaço para o Palais Garnier, sede da Ópera Nacional de Paris, e o mercado Les Halles, e ligou os novos terminais de trem com suas avenidas longas, largas e retas.

Menos conhecido é o comissionamento de Haussmann de uma notável coleção de mobiliário urbano – postes de iluminação, quiosques de jornais, grades – e os coretos decorativos nos 27 parques e praças que ele criou.


Abaixo do solo, Haussmann supervisionou a instalação de les egouts , a complexa rede de esgoto da cidade. Ele também encomendou reservatórios e aquedutos para trazer água potável para a cidade.

Sob suas ordens, lâmpadas a gás foram instaladas ao longo das ruas de paralelepípedos alargadas; agora que os elegantes flâneurs que percorriam os 137km de novos boulevards se retiraram para a noite, os foliões e prostitutas que emergiam dos bares e das sombras podiam caminhar com segurança. As novas ruas foram arborizadas e largas calçadas ao longo das quais surgiram esplanadas de cafés, que logo se encheriam de artistas e artesãos desfrutando da “hora do absinto”.... 


Os críticos também o acusaram de destruir os tesouros medievais da cidade, citando o charme duradouro das ruas estreitas e sinuosas do Marais: o bairro mais antigo da cidade e que escapou da destruição de Haussmann.

Houve indignação adicional com a impressionante conta de 2,5 bilhões de francos para o trabalho - cerca de € 75 bilhões hoje. Em 1869, os ataques se tornaram ensurdecedores e Haussmann foi forçado a se defender vigorosamente diante de parlamentares e funcionários da cidade. Na esperança de recuperar sua própria popularidade, Napoleão III pediu a Hassmann que renunciasse. Ele recusou.

“Haussmann tinha uma grande crença no serviço público e passou toda a sua carreira a serviço do rei e depois do imperador”, diz De Moncan. “Ele acreditava que, se renunciasse, seria assumido que ele havia feito algo errado, quando na verdade ele estava muito orgulhoso do que havia feito. Napoleão III ofereceu-lhe todo tipo de incentivo, mas ele ainda recusou, então o imperador o demitiu.

“O Segundo Império e Napoleão III foram desprezados pelos republicanos, e Haussmann foi vítima dessa reação política. Victor Hugo o odiava, e porque todos na França consideravam o que Hugo escreveu como a palavra de Deus, eles odiavam Haussmann também. Hugo, o homem que escreveu Os Miseráveis ​​sobre as condições desesperadoras de Paris, acusou Haussmann de destruir o charme medieval da cidade!...


De Moncan observa que esse foi o mesmo “encanto” que trouxe epidemias para Paris; o charme que “tinha 20 pessoas vivendo em um quarto sem luz e sem banheiros, apenas um pátio comum no qual faziam seus negócios. Pessoas como Hugo esqueceram o quão verdadeiramente miserável Paris tinha sido para os parisienses comuns.”

Sem emprego e persona non grata em Paris, Haussmann passou seis meses na Itália para levantar o ânimo. Ele voltou e recebeu um posto de gestão com os militares – que durou menos de uma semana antes de Napoleão III ser derrotado.


Alguns dos críticos mais severos de Haussmann, incluindo o político e filósofo Jules Simon , mais tarde mudaram sua visão sobre ele: “Ele tentou fazer de Paris uma cidade magnífica e conseguiu completamente”, escreveu Simon em 1882. flores e a povoou de estátuas”...


“Mas o que ele fez foi fenomenal; ele foi o primeiro desenvolvedor urbano moderno do mundo. Todos que vieram a Paris para as exposições universais, incluindo a rainha Vitória, ficaram surpresos com a transformação da cidade. Em 1867, houve uma reunião de arquitetos europeus na Alemanha na qual Haussmann foi saudado como um gênio puro; um brilhante desenvolvedor urbano moderno. No entanto, tudo o que foi dito sobre ele em casa foi que ele era um vigarista.” 

 https://www.theguardian.com/cities/2016/mar/31/story-cities-12-paris-baron-haussmann-france-urban-planner-napoleon

 

5- Movimento Moderno teve várias fazes.

http://averacidadedafecrista.blogspot.com/2022/03/fim-da-beleza-1-critica-e-refutacao-ao.html

6- Movimento Moderno tinha obras bonitas?

http://averacidadedafecrista.blogspot.com/2022/03/fim-da-beleza-1-critica-e-refutacao-ao.html

7- A arquitetura parou no movimento moderno?

http://averacidadedafecrista.blogspot.com/2022/03/fim-da-beleza-1-critica-e-refutacao-ao.html


8- A volta à tradição e valores católicos

"Quanto mais escolhas aquele ser humano tiver, pior vai ser a possibilidade ele tomar uma decisão, ele trava . Isso quer dizer no final das contas, que precisamos de algum tipo de guia na nossa vida tanto os fixos que temos ao nascer, quanto com os sociais e um mundo das virtudes, e o norte religioso, os valores superiores daquele ser humano.

 Quando você não tem uma narrativa, quando você não tem o senso histórico, quando você destrói, pior ainda né, destrói aquilo que a história de um povo por exemplo, você tem ser jogado né, filosoficamente falando, na contingência das suas existências sem ter onde alicerçar as suas ações e digamos assim ter uma perspectiva de futuro.


Só vamos saber para onde nós vamos se soubermos quem fomos no passado.  Tudo que for bom que precisa ser resgatado e mantido com uma forma de ordenamento de personalidade e nesse momento que existe uma conexão do indivíduo com a sua própria sociedade. É nesse momento que vai ter um tipo de afeto um sentimento de União, quando eu olho para trás e olhe para frente.

O caminho,  da aquisição de valores e virtudes não é um caminho puramente racional, né, quando o nosso vamos adquirindo valores nós adquirimos esses valores de forma também afetiva porque eu quero ser como meu pai eu quero ser como o meu avô eu quero ser como aquela pessoa que tem esses valores. 53:32- 55:22

Em 1941 a União Soviética foi invadida pela Alemanha nazista, construções por todo o país foram desmanchadas e seus materiais usados como recursos para o esforço de guerra e os planos para o palácio dos sovietes foram completamente cancelados, o maior símbolo de grandeza e esplendor da União Soviética Jamais foi construído, após passar anos abandonado o local foi transformado pelo governo em uma grande piscina a céu aberto.

A tradição continuava sobreviver por meio de cochichos e memórias de um passado quase esquecido. Com o colapso da União Soviética em 1991 a cultura e a história do Povo Russo e vestiram novamente, a Rússia renascia. Movimentos nacionais surgiram buscando reviver obras destruídas durante o regime comunista pela iniciativa e esforço e contribuição dos próprios cidadãos o símbolo histórico da fe russa foi reconstruído. O exemplo da catedral de Cristo Salvador nos mostra como é possível nos reconectar com a tradição aprendendo a partir dos acertos e erros de nossa história a construir uma fundação mais sólida para nosso futuro" 58:34- 1:20:00

Nós precisaremos volto a dizer isso né passar por um despertar desse sono mecanicista desse sono
utilitarista para um estado desperto da contemplação, nós perdemos a capacidade de contemplar.
Agora muitas coisas já se perderem e foram recuperadas, cabe a nós contemporâneo resgatar essa capacidade de apresentar a beleza em todo o seu esplendor 
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Com o colapso da União Soviética em 1991 a cultura e a  história do Povo Russo e vestiram novamente, a Rússia renascia. Movimentos nacionais surgiram buscando reviver obras destruídas durante o regime comunista. Pela iniciativa, esforço e contribuição dos próprios cidadãos o símbolo histórico da fe russa foi reconstruído. O exemplo da catedral de Cristo Salvador nos mostra como é possível nos reconectar com a tradição aprendendo a partir dos acertos e erros de nossa história a construir uma Fundação mais sólida para nosso futuro... 59:29-1:00:22


O dever de nosso tempo não é imitar o passado mas rimar com ele, os conhecimentos e valores que herdamos, sobreviveram,  pois houve quem os cultivou através dos séculos, nesse sentido a arte é como uma grande ponte que liga gerações distantes por meio de suas obras e a beleza o elemento fundamental para curar as feridas do presente.


 Nós precisaríamos, volto a dizer isso, né passar por um despertar desse sono mecanicista, desse sono utilitarista, para um estado desperto da contemplação; nós perdemos a capacidade de contemplar. Agora muitas coisas já se perderem e foram recuperadas, cabe a nós contemporâneos restaurar essa capacidade de apresentar a beleza em todo o seu esplendor...

 O desafio de cada um de nós é pegar isto, que está em guetos, guetos contemplativos digamos assim, e representar ao mundo. Não devemos cair no desespero, devemos ter a confiança de que portando a beleza naquilo que ela tem de tradicional, espiritual ela vai continuar qualquer o fim da beleza é a beleza não ter fim. 1:00:34 - 1:02:54