Introdução à Antropologia da
Religião.
Para conhecer uma introdução ANTROPOLOGIA GERAL CLICK http://averacidadedafecrista.blogspot.com/2021/05/antropologia-introducao.html
"Como qualquer outro aspecto da existência humana, tanto físico quanto cultural, as religiões são notavelmente diversas. É tarefa da antropologia estudar a diversidade humana. E, como acontece com o estudo de outros aspectos da diversidade cultural, como a linguagem ou o parentesco, não é tarefa da antropologia julgar a religião, menos ainda mostrar sua falsidade ou autenticidade." Introdução à antropologia da religião. São Paulo: Vozes.2018. p. 22
Qual a tarefa da antropologia da religião?
· Não emitir julgamentos sobre a veracidade ou não das religiões
Estudar Diversidade das religiões.
·
Elementos comuns das várias religiões
·
Diversidade interna de uma mesma religião
(Islamismo, Cristianismo,etc.)
·
Relação existente entre a religião e a
sociedade
Princípios da antropologia da religião:
1- Descrição comparativa ou intercultural/ multiculturalismo em oposição a uma descrição superficial
Relato minucioso, detalhado, das maneiras de pensar, agir, sentir das pessoas de uma religião (por um observador residente).
2- Visão holística ou integral / em oposição a uma visão parcial, isolada do resto da cultura
Vai analisar a religião e sua integração com os aspectos econômicos, políticos, sociais, psíquicos, afetivos, familiares, de parentesco, etc.
3- Relativismo cultural/ em oposição ao etnocentrismo (eurocentrismo) do sec. XIX
Cada cultura tem suas peculiaridades, características. posto que ela reflete o entendimento que cada cultura tem seus próprios padrões de compreensão e julgamento.
Funções da religião - religare/relegere:
1-
Satisfazer necessidades individuais (
financeiras, afetivas, emocionais,
físicas, etc.)
2-
Satisfazer carência espiritual
3-
Sentido existencial
4-
Fortalecer a obediência às normas morais básicas
por meio de punições definitivas (punição pós-morte)
TEORIAS ANTROPOLÓGICAS DA RELIGIÃO
" Os antropólogos e outros estudiosos da religião forneceram
uma variedade de perspectivas teóricas, cada qual fecunda e cada qual limitada
à sua maneira. Provavelmente nenhuma perspectiva teórica sozinha, como nenhuma
definição sozinha, pode jamais captar toda a essência ou natureza da religião.
Acima de tudo deveríamos evitar o reducionismo, a atitude de que um fenômeno
como a religião possa ser explicado em termos de (“reduzido a”) uma causa ou
base não religiosa única, quer essa causa ou base seja psicológica, biológica
ou social. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de observar que as teorias
científicas/antropológicas da religião encontram a “razão” ou explicação para a
religião na não-religião." Introdução à antropologia da religião. São Paulo: Vozes.2018,p. 36
1- Históricas/evolucionistas
E. B. Tylor acreditava que a religião surgiu do animismo. Animismo-deuses tribais- politeísmo- henoteísmo- monoteísmo.
Augusto Conte- a humanidade passa
por estágios: teológico-filosófico- cientifico ou positivo.
Hebert Spencer- religião começa
pela superstição. Da superstição até o monoteísmo.
*Freud- religião começou como totem (totemismo), o assassinato do pai, que
se tornou deus, pois os filhos queriam as mulheres do pai. (teoria
psicanalítica)
*Karl Marx- religião iria desaparecer ao se
extinguir a luta de classes. ( Teoria do materialismo histórico).
2- Teorias psicológicas
2.1 Teoria Emocionalista
Max Mueller, Rudolf Otto .
Acreditavam que a religião começa com emoção avassaladora e termina com erro linguístico. Divinização
do sentimento de temor, espanto e admiração da natureza.
2.2 Teoria
Freud.(ver acima)
2.3- Teorias intelectualistas
E. B. Tylor – os antigos tinham
uma interpretação confusa entre sonho/visões/ alucinações/ realidade e um
sentimento de saudade dos mortos, daí inventaram o conceito de alma/espírito
imaterial, e dai surgiu o animismo e que depois evoluiu até chegar ao
monoteísmo.
James Frazer – acreditava que a religião
começou como magia (raciocínio imperfeito) até chegar no monoteísmo. Defendia
que a interpretação dos fenômenos tinham causas sobrenaturais e não naturais.
Adolf Bastain- Acreditava que
existe uma unidade psíquica da humanidade (arquétipo), ideias fundamentais
básicas, ou seja, mentalmente iguais (anseios, necessidades, sentimentos, etc.).
O que diferencia o homem antigo do atual seria apenas uma formulação local
destes arquétipos. Para ele as religiões deveriam ser analisadas por estes arquétipos
universais, pois seriam construídas com base nestes arquétipos.
Lucien Levy-Bruhl- Acreditava que
o homem atual e o da antiguidade tinham maneiras diferente de pensar, pois os
antigos eram pré-lógicos’ (mentalidade
primitiva). Como exemplo uma estátua poderia ser um objeto e ao mesmo tempo um
deus. Ele posteriormente rejeitou este ponto de vista.
Esta teoria defendida por
Levi-Strauss (1908-2009) dizia que um
mito deve ser interpretado dentro de um contexto onde o totem, o culto, o
símbolo tenham um significado que dê sentido ao todo, sendo cada um deles
complementares e interpretados dentro de um contexto em analogia de significação
de uma palavra numa frase, e de uma frase em em meio a outras frases (contexto
maior).
Newberg, dÁquili e Rause (2002)-
observou que místicos (em meditação) tem intensa atividade cerebral no lóbulo
temporal esquerdo, ele concluiu que o estímulo cerebral ra proveniente de algum
fenômeno ou força real.
Michel Persinger (1987) estimulou
áreas do cérebro e conseguiu reproduzir experiência religiosa, e daí concluiu
que a religião é resultado da atividade cerebral e não de algo exterior ao
cérebro.
3- Teorias Sociais
3.1- Funcionalismo-
Para a teoria
funcionalista a religião tem a função de coesão social, dita normas de
convivência social, impõe regras,
costumes. Para Durkheim a religião é a sociedade divinizada. Nos momentos de efervescência
social surge a ideia religiosa.
3.2- Materialismo Histórico- Socialismo
Teoria de Marx e Engels que diz
que a luta de classe é o que move a história, sendo que a classe dominante impõe
sua ideias sobre as classes dominadas, e a religião é uma expressão dessas
ideias. Portanto a religião é consequência da luta de classes e uma vez
extinguida essa luta, a religião desaparece. A religião é ópio do povo, suspiro
da criatura oprimida, consolo contra a opressão das classes sociais dominantes.
3.3- Funcionalismo estrutural
Teoria afirma que a religião
desempenha uma papel de criação e manutenção da sociedade (coesão social).
Ela defende também que a
religião alivia o medo, tensão e outras
tensões negativas.
3.4 Antropologia simbólica ou interpretativa
E´uma abordagem da religião com
ênfase na interpretação dos símbolos, ligada à ordem social e à experiência individual.
Defensores Victor Turner e Clifford Geertz.
4- Teorias Modulares
Estas teorias veem a religião
como composta por módulos, ou seja,
um composto de elementos, que
constituem um religião.
4.1- Abordagem por elementos modulares de Wallace (1923)
Elementos modulares de Wallace
(não estão em todas as religiões, mas a maioria tem alguns desses elementos):
·
Oração
·
Musica , dança, canto
·
Exercícios (substancias e privações físicas)
·
Exortações, ordens, estímulos e ameaças
·
Mito
·
Magia, bruxaria , ritual
·
Mana ou poder por contato
·
Tabu ou proibição de contato
·
Festas
·
Sacrifícios
·
Assembleia e atividade de grupo
·
Inspiração, alucinação e misticismo
·
Símbolos
4.2 A abordagem evolucionária cognitiva: Guthrie, Boyer e Atran
Essa teoria ensina que a religião é um subproduto de módulos emotivos ( medo, surpresa, raiva, náusea), módulos afetivos ( angústia, culpa e amor) e módulos conceituais. [Soctt Atran] Os agentes sobrenaturais (deus, anjos,demônios, gnomos, espíritos, etc) são uma extrapolação da capacidade de julgamento (agencia humana) de detectar agentes como predadores, protetores ou presas.
Alguns observadores notaram, desde o tempo de Xenófanes, que as entidades religiosas tendem a ter traços semelhantes aos traços humanos, um fenômeno chamado antropomorfismo. Em 1993 Stewart Guthrie apresentou sua “nova teoria” da religião baseada numa séria aplicação da ideia antropomórfica. Contudo, a partir de sua perspectiva, o antropomorfismo quanto ao mundo sobrenatural (e ao mundo natural) não era um equívoco, mas antes uma “boa aposta”: “É uma aposta porque o mundo é incerto, ambíguo e necessitado de interpretação. É uma boa aposta, porque as interpretações mais valiosas são geralmente aquelas que desvendam a presença de tudo o que é mais importante para nós. Isto geralmente são outros seres humanos” (1993: 3).
Evidentemente, as entidades sobrenaturais não são exatamente como os humanos: elas são muitas vezes maiores ou mais poderosas ou invisíveis ou imortais, mas ainda assim elas são extensões ou negações de qualidades humanas (seres humanos mortais, seres sobrenaturais imortais). A chave para a humanidade não está, em última instância, nos nossos corpos ou em nossa mortalidade, mas em nossa intencionalidade, em nossas mentes e vontades.
O projeto de Pascal Boyer para “explicar a religião” começa com a hoje familiar premissa de que o pensamento humano não é uma coisa unitária e homogênea, mas o resultado de módulos de pensamento interoperantes, uma “confederação” de expedientes explicativos, que ele chama de “sistemas de inferência”. Entre estes sistemas estão três de particular importância – a formação de conceitos, a atenção à exceção e a agência.
O pensamento procede através da criação de conceitos e até “moldes” mais abstratos; os moldes são como formulários em branco com certos campos a serem preenchidos, e os conceitos são a maneira específica como o formulário é preenchido. Por exemplo, o molde “instrumento” tem certas opções e o conceito “martelo” preenche estas opções de uma determinada maneira. De modo semelhante, o molde “animal” ou “pessoa” tem certas qualidades com um conjunto de variáveis possíveis. Uma destas qualidades das pessoas é a agência – a capacidade de empenhar-se numa ação inteligente, deliberada e mais ou menos “livre”. Por mais que nós humanos estejamos interessados em nossos conceitos, somos atraídos para exceções e violações dos mesmos.
Os humanos são animais mortais com dois braços; um humano com três braços seria interessante, mas um humano imortal o seria muito mais. Algumas ideias, afirma Boyer, têm o potencial de “grudar” melhor em nossa mente pelo simples fato de serem bastante excepcionais: na expressão dele, um ser que é imortal tem força adesiva, mas um ser que existe apenas nas terças-feiras não a tem. Não causa surpresa que “os conceitos religiosos violam certas expectativas provenientes das categorias ontológicas, mas preservam outras expectativas” (2001: 62)
Entre as expectativas mais críticas que a religião
preserva estão a agência e a reciprocidade/permuta. As entidades sobrenaturais
“não são representadas como tendo traços humanos em geral, mas como tendo
mentes, o que é muito mais específico” (144), o que não é uma grande tensão
para o pensamento humano, já que até os animais manifestam alguma agência,
tendo seus próprios desejos e intenções. Além disso, é vantajoso, na opinião de
Guthrie, atribuir uma mente à natureza e à sobrenatureza, já que (parafraseando
a famosa aposta de Pascal), se estivermos certos, pode ser decisivamente
importante e, se estivermos errados, não resulta nenhum dano.
Como conclui Boyer, a religião é construída com “sistemas e capacidades
mentais que de qualquer maneira estão aí [...] e, portanto, a noção de religião
como um território especial é não apenas infundada, mas de fato é antes
etnocêntrica” (311). Nesta maneira de ver, a religião não requer absolutamente
uma explicação separada, mas é antes um produto ou subproduto da maneira como a
mente funciona na sociedade em todos os contextos, inclusive não religiosos. Em
particular, Boyer aponta para as predisposições mentais evoluídas dos humanos,
para a natureza da vida social, para os processos de troca de informação e para
os processos de inferências derivantes. Se existem agentes não humanos, e eles
podem ser contratados como seres sociais – como “parceiros sociais de
intercâmbio” –, vale evidentemente a pena pensar e atuar sobre isto.
Scott Atran amplia
ainda mais esta visão e na direção dele próprio. Também ele afirma que a
religião envolve “exatamente as mesmas estruturas cognitivas e afetivas como as
crenças e práticas não religiosas – e não outras –, mas de maneiras (mais ou
menos) sistematicamente distintas” (2002: ix). Já que “uma entidade como ‘a religião’
não existe”, não há necessidade de “explicá-la” de uma maneira única. A
religião é, mais uma vez, um subproduto e epifenômeno de outros processos ou
módulos, geralmente humanos, dos quais Atran aponta vários: módulos perceptuais,
módulos emotivos primários (para respostas fisiológicas “sem intermediário”
como medo, surpresa, raiva e náusea), módulos afetivos secundários (para
reações como angústia, culpa e amor) e módulos conceituais. A agência ocupa
também um local elevado em sua lista de prioridades humanas e temos processos
elaborados e essenciais para detectá-la e interpretá-la, especialmente porque
podemos ser enganados e tapeados por outros. Os agentes sobrenaturais são uma
mera e completamente razoável extrapolação da agência humana e natural,
“subprodutos de um mecanismo cognitivo naturalmente selecionado para detectar
agentes – tais como predadores, protetores e presas – e para lidar rápida e
economicamente com situações de estímulo envolvendo pessoas e animais” (15). Não
causa surpresa, conclui ele, que “a agência sobrenatural é o conceito
culturalmente mais recorrente, cognitivamente mais relevante e
evolucionariamente mais convincente quando se trata de religião” (57). Justin
Barrett, em seu Why Would Anyone Believe in God? [Por que alguém haveria de
acreditar em Deus?], de 2004, postulou um “dispositivo de detecção de agência
hiperativa” (Hadd – Hyperactive Agency Detection Device) e conduziu muitos
experimentos a fim de testar o pressuposto “natural” intuitivo de que os
agentes estão operando ao nosso redor.
4.3 Integração social e cooperação: teoria da sinalização
custosa
Um último fator a respeito da religião que precisa ser reconhecido é que ela muitas vezes é exigente. As religiões exigem comportamentos que são custosos, consomem tempo e muitas vezes são difíceis ou dolorosos; muitas vezes as religiões pedem que as pessoas acreditem em afirmações que são francamente difíceis de aceitar.
Recentemente, diversos
estudiosos sustentaram que a dificuldade da religião pode ser a fonte de suas
realizações integrativas. Numa sociedade, os indivíduos precisam saber que eles
podem confiar uns nos outros – que cada um está comprometido com o grupo e que
cada um está contribuindo para o grupo, e não “vivendo à custa” dos esforços
dos outros. Em 1996 William Irons propôs a “teoria da sinalização honesta
[sic]” como solução para o problema do comportamento religioso, sugerindo que
as exigências da religião assinalam ou demonstram compromisso social, que assim
aumenta a cooperação e o bem do grupo. Desde então Richard Sosis, Candace
Alcorta e Joseph Bulbulia colaboraram numa série de ensaios que promovem a
“teoria da sinalização custosa” (por exemplo, SOSIS & ALCORTA, 2003;
BULBULIA & SOSIS, 2011). A afirmação é que religião é socialmente
integrativa precisamente porque ela é dispendiosa e desconfortável: a vida
social depende da cooperação e da confiança mútua, mas existe sempre o
potencial de decepção no grupo. Assim, impostores preguiçosos se encontram numa
corrida armamentista evolucionária com camaradas que, como detectores de
impostores, criam testes cada vez mais exigentes de honestidade compromisso,
incluindo especialmente testes aparentemente impraticáveis e arbitrários como a
religião. “O resultado desta escalada seriam comportamentos rituais sempre mais
complexos à medida que os remetentes tentam enganar os receptores
Crenças religiosas
Entidades:
a-
Pessoais- deuses [Hinduísmo 33 milhoes de deuses,
Deus, anjos, demônios, espíritos de mortos, espíritos guias, gnosmos, fadas,
genius, etc.
b-
Impessoais- força impessoal (mana), Brahaman
[Hinduísmo]
a-
Naturais (humanos e não humanos) -homens,
gnomos, bruxos, anões, elfos, musas, duendes, etc.
b-
Sobrenaturais-Deus , deuses, anjos, demônios,
fadas, gênios (Jinn)
c-
Mortos-vivos- (vampiro, zumbi)
Cosmogonia
a-
Universo primordial eterno –deuses criados (Mitologia Mesopotâmica, Egípcia,
Nórdica)
b-
Deus eterno- universo criado
(Cristianismo,Islamismo, Judaísmo).
Escatologia (estudo
do fim)
a- Mundo cíclico- Maias, Hinduísmo, Religião Nórdica
b- Mundo não cíclico- Cristianismo, Islamismo,
Judaísmo.
Símbolos religiosos
Cada símbolo deve ser
interpretado de acordo com o contexto cultural específico.
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
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