http://www.solanoportela.net/artigos/savonarola.htm
https://www.britannica.com/biography/Girolamo-Savonarola
A REFORMA PROTESTANTE
OS REFORMADORES DO SÉC. XVI
LUTERO
Martinho Lutero nasceu ele em Eisleben, em
1483; era filho de um mineiro; com muitos sacrifícios
o pai enviou Lutero a estudar na Universidade de
Erfurt. Lutero desejava ser advogado, porém,
repentinamente sentiu o chamado para a carreira de
monge, e entrou para um mosteiro dos agostinianos.
Foi ordenado monge, e bem depressa chamou a
atenção de seus pais para a sua capacidade. Foi
enviado a Roma, em 1510, mas voltou desiludido
pelo que viu relativo ao mundanismo e à maldade na
igreja.
Na Universidade de Erfurt. Lutero foi educado segundo os padrões filosofico-teológicos do occamismo. Cedo porém começou a ficar insatisfeito com a maneira escolástica de fazer teologia. Com professor de interpretação da Bíblia desde 1512 na recém-fundada (1502) Üniversidade de Wittenberg, aprofundou-se no estudo da Sagrada Escritura. Em busca de alternativas, encontrou importante ajuda nos escritos de Agostinho (353-430). bispo de Hipona, África do Norte....Agostinho era patrono da Universidade de Wittenberg, e seu pensamento foi de grande importância para a Ordem dos Agostinianos Eremitas, à qual Lutero pertenceu.
A partir de critérios tomados da Bíblia e de Agostinho, Lutero percebeu que a teologia estava acorrentada no cativeiro da escolástica, impossibilidade articular adequadamente a questão essencial da fé cristã, ou seja, graça e justificação, Deus em seu relacionamento como ser humano e vice-versa
No ano de 1517 iniciou sua campanha de
reformador, condenando a venda de "indulgências",
ou perdão de pecados e, como já lemos, afixou as
famosas teses na porta da igreja de Wittenberg. Ao
ser excomungado, foi intimado a comparecer a Roma;
por fim foi condenado "in absentia" pelo papa Leão
X.
Lutero, então, queimou a bula ou decreto do
papa, em 1520.
Foi na Dieta de Worms, em 18 de abril de
1521, que Lutero deu sua célebre resposta. Ao
regressar ao lar, corria perigo de ser assassinado por
seus inimigos.
Surgiram então seus amigos, levaram-no para o
castelo de Wartzburg onde ficou escondido durante
um ano. Foi ali que realizou a tradução do Novo
Testamento para o alemão. Ao regressar a Wittenberg
assumiu novamente a direção do movimento da
Reforma: No ano de 1529, fez-se um esforço para
unir os seguidores de Lutero e os de Zuínglio, porém
não se obteve êxito, em razão do espírito firme e
inflexível de Lutero. Entre os muitos escritos que
circularam em toda a Alemanha, de autoria de Lutero,
o de maior influência foi, sem dúvida, sua
incomparável tradução da Bíblia. Lutero morreu
quando visitava o local em que nasceu, em Eisleben,
a 18 de fevereiro de 1546, aos sessenta e três anos de
idade.
O papa reinante, Leão X, em razão da
necessidade de avultadas somas para terminar as
obras do templo de S. Pedro em Roma, permitiu que
um seu enviado, João Tetzel, percorresse a Alemanha
vendendo bulas, assinadas pelo papa, as quais, dizia,
possuíam a virtude de conceder perdão de todos os
pecados, não só aos possuidores da bula, mas também
aos amigos, mortos ou vivos, em cujo nome fossem
as bulas compradas, sem necessidade de confissão,
nem absolvição pelo sacerdote. Tetzel fazia esta
afirmação ao povo: "Tão depressa o vosso dinheiro
caia no cofre, a alma de vossos amigos subirá do
purgatório ao céu."
Lutero, por sua vez, começou a
pregar contra Tetzel e sua campanha de venda de
indulgências, denunciando como falso esse ensino.
A data exata fixada pelos historiadores como
início da grande Reforma foi registrada como 31 de
outubro de 1517. Na manhã desse dia, Martinho
Lutero afixou na porta da Catedral de Wittenberg um
pergaminho que continha noventa e cinco teses ou
declarações, quase todas relacionadas com a venda de
indulgências; porém em sua aplicação atacava a
autoridade do papa e do sacerdócio. Os dirigentes da
igreja procuravam em vão restringir e lisonjear
Martinho Lutero. Ele, porém, permaneceu firme, e os
ataques que lhe dirigiam, apenas serviram para tornar
mais resoluta sua oposição às doutrinas não apoiadas
nas Escrituras Sagradas.
Após longas e prolongadas controvérsias e a
publicação de folhetos que tornaram conhecidas as
opiniões de Lutero em toda a Alemanha, seus ensinos
foram formalmente condenados. Lutero foi
excomungado por uma bula 6
do papa Leão X, no mês
de junho de 1520. Pediram então ao eleitor Frederico
da Saxônia que entregasse preso Lutero, a fim de ser
julgado e castigado. Entretanto, em vez de entregar
Lutero, Frederico deu-lhe ampla proteção, pois
simpatizava com suas idéias.
Martinho Lutero
recebeu a excomunhão como um desafio,
classificando-a de "bula execrável do anticristo". No
dia 10 de dezembro, Lutero queimou a bula, em
reunião pública, à porta de Wittemberg, diante de
uma assembléia de professores, estudantes e do povo.
Juntamente com a bula, Lutero queimou também có-
pias dos cânones ou leis estabelecidas por autoridades
6 Os decretos do papa chamavam-se "bulas"; a palavra bula quer
dizer "selo". O nome é aplicado a qualquer documento selado
com selo oficial.
romanas. Esse ato constituiu a renúncia definitiva de
Lutero à igreja católica romana.
Em 1521 Lutero foi citado a comparecer ante a
Dieta do Concílio Supremo do Reno. O novo
imperador Carlos V concedeu um salvo-conduto a
Lutero, para comparecer em Worms. Apesar de
advertido por seus amigos de que poderia ter a
mesma sorte de João Huss, que nas mesmas
circunstâncias, no Concílio de Constança, em 1415,
apesar de possuir um salvo-conduto, foi morto por
seus inimigos, Lutero respondeu-lhes: "Irei a Worms
ainda que me cerquem tantos demônios quantas são
as telhas dos telhados." Finalmente, no dia 17 de abril
de 1521 Lutero compareceu ante a Dieta, presidida
pelo imperador. Em resposta a um pedido de que se
retratasse, e renegasse o que havia escrito, após
algumas considerações respondeu que não podia
retratar-se, a não ser que fosse desaprovado pelas
Escrituras e pela razão, e terminou com estas
palavras: "Aqui estou. Não posso fazer outra coisa.
Que Deus me ajude. Amém."
Instaram com o
imperador Carlos para que prendesse Lutero,
apresentando como razão, que a fé não podia ser
confiada a hereges. Contudo, Lutero pôde deixar
Worms em paz.
Enquanto viajava de regresso à sua cidade,
Lutero foi cercado e levado por soldados do eleitor
Frederico para o castelo de Wartzburg, na Turíngia.
Ali permaneceu Lutero guardado, em segurança e
disfarçado, durante um ano, enquanto as tempestades
de guerra e revoltas rugiam no império.
Entretanto,
durante esse tempo, Lutero não permaneceu ocioso;
nesse período traduziu o Novo Testamento para a
língua alemã, obra que por si só o teria imortalizado,
pois essa versão é considerada como o fundamento do
idioma alemão escrito. Isto aconteceu no ano de
1521. O Antigo Testamento só foi completado alguns
anos mais tarde. Ao regressar do castelo de
Wartzburg a Wittenberg, Lutero reassumiu a direção
do movimento a favor da igreja Reformada,
exatamente a tempo de salvá-la de excessos
extravagantes.
A divisão dos vários estados alemães, em
ramos Reformados e romanos, deu-se entre o Norte e
o Sul. Os príncipes meridionais, dirigidos pela
Áustria, aderiram a Roma, enquanto os do Norte se
tornaram seguidores de Lutero. Em 1529 a Dieta
reuniu-se na cidade de Espira, com o objetivo de
reconciliar as partes em luta. Nessa reunião da Dieta
os governadores católicos, que tinham maioria,
condenaram as doutrinas de Lutero. Os príncipes
resolveram proibir qualquer ensino do luteranismo
nos estados em que dominassem os católicos. Ao
mesmo tempo determinaram que nos estados em que
governassem luteranos, os católicos poderiam exercer
livremente sua religião. Os príncipes luteranos
protestaram contra essa lei desequilibrada e odiosa.
Desde esse tempo ficaram conhecidos como
protestantes, e as doutrinas que defendiam também
ficaram conhecidas como religião protestante.
Na noite antes do dia de todos os santos, em 31 de outubro de 1517 Martinho Lutero fixou na porta do castelo-igreja de Wittenberg as suas 95 teses acadêmicas, onde neste ida as relíquias reunidas pelo eleitor eram ali reunidas, e esperavam grande multidão.
"O costume de anunciar publicamente as teses...era um velho costume das universidades medievais,e a porta que Lutero usou para usa proclamação tinha sido empregada regularmente como quadro dos boletins acadêmicos. Acrescentou a essas teses um convite amável:
Devido ao amor pela fé e ao desejo de traze-la à luz, as seguintes proposições serão discutidas em Wittenberg sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero. Doutor de Humanidades e Teologia Sacra e Coadjutor do Ordinário sobre tais ciências nesse lugar. Pelo que pede os que estiverem incapacitados de comparecer e debater oralmente o façam por carta" (A História da Civilização- A Reforma. Will Durant, Rio de Janeiro: Record. 2ª edição p. 286)
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Teses que questionam o Papa e sua idoneidade:
6, 21,34,84, 86
Teses que questionam as indulgencias:
21,32,33,34,40,44,,49,52,66,67, 76, 85
A tese 76 mostra que a indulgencia apenas livra da pena imposta da autoridade eclesiastica como por exemplo: dar esmolas, fazer orações, jejuns.Basta ver a tese 76
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AS 95 TESES DE LUTERO
Debate para o esclarecimento do valor das indulgências
"Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
1 Ao dizer: "Fazei penitência*", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
* A penitencia dividia-se em 3 partes:
- sentir tristeza pelo pecado
- confessar o pecado
- satisfação (vigílias, jejuns, varas)
Lutero defendeu que as indulgencias oferecidas pela igreja eliminavam a contrição e a confissão e que a satisfação na verdade era feita pela renovação da vida como consequência da fé na graça de Deus.
2 Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).
3 No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula, se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.
4 Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.
5 O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.
6 O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e confirmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, remitindo-a nos casos reservados para si; se estes forem desprezados, a culpa permanecerá por inteiro.
7 Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.
8 Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.
9 Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.
10 Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.
11 Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.
12 Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.
13 Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.
14 Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais, quanto menor for o amor.
15 Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.
16 Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.
17 Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror diminua na medida em que cresce o amor.
18 Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontram fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.
19 Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza.
20 Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.
21 Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.
22 Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.
23 Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.
24 Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.
25 O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.
26 O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.
27 Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].
28 Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.
29 E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas? Dizem que este não foi o caso com S. Severino e S. Pascoal.
30 Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.
31 Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.
32 Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
33 Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Deus.
34 Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.
35 Não pregam cristãmente os que ensinam não ser necessária a contrição àqueles que querem resgatar ou adquirir breves confessionais.
36 Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência.
37 Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto, tem participação em todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de indulgência.
38 Mesmo assim, a remissão e participação do papa de forma alguma devem ser desprezadas, porque (como disse) constituem declaração do perdão divino.
39 Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar perante o povo ao mesmo tempo, a liberdade das indulgências e a verdadeira contrição.
40 A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, pelo menos dando ocasião para tanto.
41 Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.
42 Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.
43 Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.
44 Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.[imposta pelo Papa]
45 Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.
46 Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.
47 Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.
48 Deve-se ensinar aos cristãos que, ao conceder indulgências, o papa, assim como mais necessita, da mesma forma mais deseja uma oração devota a seu favor do que o dinheiro que se está pronto a pagar.
49 Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.
50 Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51 Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto - como é seu dever - a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extraem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.
52 Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.
53 São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.
54 Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.
55 A atitude do papa é necessariamente esta: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.
56 Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.
57 É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.
58 Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.
59 S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.
60 É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que lhe foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem este tesouro.
61 Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos, o poder do papa por si só é suficiente.
62 O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
63 Este tesouro, entretanto, é o mais odiado, e com razão, porque faz com que os primeiros sejam os últimos.
64 Em contrapartida, o tesouro das indulgências é o mais benquisto, e com razão, pois faz dos últimos os primeiros.
65 Por esta razão, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.
66 Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.
67 As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tal, na medida em que dão boa renda.
68 Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade na cruz.
69 Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.
70 Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbido pelo papa.
71 Seja excomungado e maldito quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.
72 Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.
73 Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,
74 muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram defraudar a santa caridade e verdade.
75 A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.
76 Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa.
77 A afirmação de que nem mesmo S. Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o papa.
78 Afirmamos, ao contrário, que também este, assim como qualquer papa, tem graças maiores, quais sejam, o Evangelho, os poderes, os dons de curar, etc., como está escrito em 1 Co 12.
79 É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insignemente erguida, equivale à cruz de Cristo.
80 Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes conversas sejam difundidas entre o povo.
81 Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil, nem para os homens doutos, defender a dignidade do papa contra calúnias ou perguntas, sem dúvida argutas, dos leigos.
82 Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas - o que seria a mais justa de todas as causas -, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica - que é uma causa tão insignificante?
83 Do mesmo modo: por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?
84 Do mesmo modo: que nova piedade de Deus e do papa é essa: por causa do dinheiro, permitem ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, porém não a redimem por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta, por amor gratuito?
85 Do mesmo modo: por que os cânones penitenciais - de fato e por desuso já há muito revogados e mortos - ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?
86 Do mesmo modo: por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?
87 Do mesmo modo: o que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à remissão e participação plenária?
88 Do mesmo modo: que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações 100 vezes ao dia a qualquer dos fiéis?
89 Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende ele as cartas e indulgências outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?
90 Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.
91 Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.
92 Fora, pois, com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo: "Paz, paz!" sem que haja paz!
93 Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo: "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!
94 Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno;
95 e, assim, a que confiem que entrarão no céu antes através de muitas tribulações do que pela segurança da paz."
BIBLIOGRAFIA
http://www.luteranos.com.br/lutero/95_teses.html
A História da Civilização- A Reforma. Will Durant, Rio de Janeiro: Record. 2ª edição
ZWINGLIO
A Reforma na Suíça despontou independente
por completo do movimento na Alemanha, apesar de
se haver manifestado simultaneamente, sob a
orientação de Ulrico Zuínglio, o qual, em 1517,
atacou "a remissão de pecados", que muitos
procuravam por meio de peregrinações a um altar da
Virgem de Einsieldn. No ano de 1522, Zuínglio
rompeu definitivamente com Roma. A Reforma foi
então formalmente estabelecida em Zurique, e dentro
em breve tornou-se um movimento mais radical do
que na Alemanha. Entretanto, o progresso desse
movimento foi prejudicado por uma guerra civil entre
cantões católico-romanos e protestantes, na qual
Zuínglio morreu em 1531. Apesar de tudo, a reforma
continuou a sua marcha, e mais tarde teve como dirigente
João Calvino, o maior teólogo da igreja, depois
de Agostinho; sua obra, "Instituições da Religião
Cristã", publicada em 1536, quando Calvino tinha
apenas vinte e sete anos, tornou-se regra da doutrina
protestante.
CALVINO
João Calvino nasceu em
Noyo, França, a 10 de julho de 1509 e morreu em
Genebra, Suíça, a 27 de maio de 1564. Estudou em
Paris, Orleans e Bourges. Aceitou os princípios de
Reforma em 1528 e foi expulso de Paris. Em 1536,
em Basiléia, publicou "Instituições da Religão Cristã"
obra que se tornou a base da doutrina de todas as
igrejas protestantes, menos a luterana.
Em 1536,
Calvino refugiou-se em Genebra, onde viveu até à
morte, com exceção de alguns anos de exílio. A
Academia Protestante que Calvino fundou,
juntamente com Teodoro Beza e outros reformadores,
transformou-se no centro principal do protestantismo
na Europa. As teologias calvinista e luterana possuem
características racionais e radicais que inspiraram os
movimentos liberais dos tempos modernos, tanto no
que se refere ao Estado como também à igreja, e
contribuíram poderosamente para o progresso e para
a democracia em todo o mundo.
OS PILARES DA REFORMA