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segunda-feira, 14 de junho de 2021

Antropologia da Religião

 

Introdução à Antropologia da Religião.

 


Para conhecer uma introdução ANTROPOLOGIA GERAL CLICK  http://averacidadedafecrista.blogspot.com/2021/05/antropologia-introducao.html


"Como qualquer outro aspecto da existência humana, tanto físico quanto cultural, as religiões são notavelmente diversas. É tarefa da antropologia estudar a diversidade humana. E, como acontece com o estudo de outros aspectos da diversidade cultural, como a linguagem ou o parentesco, não é tarefa da antropologia julgar a religião, menos ainda mostrar sua falsidade ou autenticidade." Introdução à antropologia da religião. São Paulo: Vozes.2018. p. 22


Qual  a tarefa da antropologia da religião?

·         Não emitir julgamentos sobre a veracidade ou não das religiões

 Estudar Diversidade das religiões.

·         Elementos comuns das várias religiões

·         Diversidade interna de uma mesma religião (Islamismo, Cristianismo,etc.)

·         Relação existente entre a religião e a sociedade

 

Princípios da  antropologia da religião:


1- Descrição comparativa ou intercultural/ multiculturalismo em oposição a uma descrição superficial

Relato minucioso, detalhado, das maneiras de pensar, agir, sentir das pessoas de uma religião (por um observador residente).


2- Visão holística ou integral / em oposição a uma visão parcial, isolada do resto da cultura

Vai analisar a religião e sua integração com os aspectos econômicos, políticos, sociais, psíquicos, afetivos, familiares, de parentesco, etc.



3- Relativismo cultural/ em oposição ao etnocentrismo (eurocentrismo) do sec. XIX

Cada cultura tem suas peculiaridades, características. posto que ela reflete o entendimento que cada cultura tem seus próprios padrões de compreensão e julgamento.

 

Funções da religião - religare/relegere:

1-      Satisfazer necessidades individuais ( financeiras, afetivas,  emocionais, físicas, etc.)

2-      Satisfazer carência espiritual

3-      Sentido existencial

4-      Fortalecer a obediência às normas morais básicas por meio de punições definitivas (punição pós-morte)

 

 

TEORIAS ANTROPOLÓGICAS DA RELIGIÃO

" Os antropólogos e outros estudiosos da religião forneceram uma variedade de perspectivas teóricas, cada qual fecunda e cada qual limitada à sua maneira. Provavelmente nenhuma perspectiva teórica sozinha, como nenhuma definição sozinha, pode jamais captar toda a essência ou natureza da religião. Acima de tudo deveríamos evitar o reducionismo, a atitude de que um fenômeno como a religião possa ser explicado em termos de (“reduzido a”) uma causa ou base não religiosa única, quer essa causa ou base seja psicológica, biológica ou social. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de observar que as teorias científicas/antropológicas da religião encontram a “razão” ou explicação para a religião na não-religião."  Introdução à antropologia da religião. São Paulo: Vozes.2018,p. 36

1-  Históricas/evolucionistas


E. B. Tylor acreditava que a religião surgiu do animismo. Animismo-deuses tribais- politeísmo- henoteísmo- monoteísmo.

Augusto Conte- a humanidade passa por estágios: teológico-filosófico- cientifico ou positivo.

Hebert Spencer- religião começa pela superstição. Da superstição até o monoteísmo.

*Freud- religião começou como totem (totemismo), o assassinato do pai, que se tornou deus, pois os filhos queriam as mulheres do pai. (teoria psicanalítica)

*Karl Marx- religião iria desaparecer ao se extinguir a luta de classes. ( Teoria do materialismo histórico).

 James Frazer – acreditava que a religião começou como magia.

 

 

2-  Teorias psicológicas

2.1 Teoria Emocionalista

Max Mueller, Rudolf Otto . Acreditavam que a religião começa com emoção avassaladora e termina com erro linguístico.  Divinização do sentimento de temor, espanto e admiração da natureza.

 

2.2 Teoria Psicanalítica

Freud.(ver acima)

 

2.3- Teorias intelectualistas

E. B. Tylor – os antigos tinham uma interpretação confusa entre sonho/visões/ alucinações/ realidade e um sentimento de saudade dos mortos, daí inventaram o conceito de alma/espírito imaterial, e dai surgiu o animismo e que depois evoluiu até chegar ao monoteísmo.

 

James Frazer – acreditava que a religião começou como magia (raciocínio imperfeito) até chegar no monoteísmo. Defendia que a interpretação dos fenômenos tinham causas sobrenaturais e não naturais.

 2.4- Teoria da mentalidade primitiva / unidade psíquica

Adolf Bastain- Acreditava que existe uma unidade psíquica da humanidade (arquétipo), ideias fundamentais básicas, ou seja, mentalmente iguais (anseios, necessidades, sentimentos, etc.). O que diferencia o homem antigo do atual seria apenas uma formulação local destes arquétipos. Para ele as religiões deveriam ser analisadas por estes arquétipos universais, pois seriam construídas com base nestes arquétipos.

 

Lucien Levy-Bruhl- Acreditava que o homem atual e o da antiguidade tinham maneiras diferente de pensar, pois os antigos  eram pré-lógicos’ (mentalidade primitiva). Como exemplo uma estátua poderia ser um objeto e ao mesmo tempo um deus. Ele posteriormente rejeitou este ponto de vista.

 2.5-Teoria Estruturalista

Esta teoria defendida por Levi-Strauss  (1908-2009) dizia que um mito deve ser interpretado dentro de um contexto onde o totem, o culto, o símbolo tenham um significado que dê sentido ao todo, sendo cada um deles complementares e interpretados dentro de um contexto em analogia de significação de uma palavra numa frase, e de uma frase em em meio a outras frases (contexto maior).

 

2.6  Teoria Neurológica

Newberg, dÁquili e Rause (2002)- observou que místicos (em meditação) tem intensa atividade cerebral no lóbulo temporal esquerdo, ele concluiu que o estímulo cerebral ra proveniente de algum fenômeno ou força real.

 

Michel Persinger (1987) estimulou áreas do cérebro e conseguiu reproduzir experiência religiosa, e daí concluiu que a religião é resultado da atividade cerebral e não de algo exterior ao cérebro.

 

3- Teorias Sociais

3.1- Funcionalismo-

Para a teoria funcionalista a religião tem a função de coesão social, dita normas de convivência social, impõe regras, costumes. Para Durkheim a religião é a sociedade divinizada. Nos momentos de efervescência social surge a ideia religiosa.

 

3.2- Materialismo Histórico- Socialismo

Teoria de Marx e Engels que diz que a luta de classe é o que move a história, sendo que a classe dominante impõe sua ideias sobre as classes dominadas, e a religião é uma expressão dessas ideias. Portanto a religião é consequência da luta de classes e uma vez extinguida essa luta, a religião desaparece. A religião é ópio do povo, suspiro da criatura oprimida, consolo contra a opressão das classes sociais dominantes.

3.3- Funcionalismo estrutural

Teoria afirma que a religião desempenha uma papel de criação e manutenção da sociedade (coesão social).

Ela defende também que a religião  alivia o medo, tensão e outras tensões negativas.

 

3.4 Antropologia simbólica ou interpretativa

E´uma abordagem da religião com ênfase na interpretação dos símbolos, ligada à ordem social e à experiência individual. Defensores Victor Turner e Clifford Geertz.

 

4- Teorias Modulares

Estas teorias veem a religião como composta por módulos, ou seja, um composto de elementos, que constituem um religião.

4.1- Abordagem por elementos modulares de Wallace (1923)

Elementos modulares de Wallace (não estão em todas as religiões, mas a maioria tem alguns desses elementos):

·         Oração

·         Musica , dança, canto

·         Exercícios (substancias e privações físicas)

·         Exortações, ordens, estímulos e ameaças

·         Mito

·         Magia, bruxaria , ritual

·         Mana ou poder por contato

·         Tabu ou proibição de contato

·         Festas

·         Sacrifícios

·         Assembleia e atividade de grupo

·         Inspiração, alucinação e misticismo

·         Símbolos


4.2 A abordagem evolucionária cognitiva: Guthrie, Boyer e Atran 

Essa teoria ensina que a religião é um subproduto de módulos emotivos ( medo, surpresa, raiva, náusea), módulos afetivos ( angústia, culpa e amor) e módulos conceituais. [Soctt Atran] Os agentes sobrenaturais (deus, anjos,demônios, gnomos, espíritos, etc)  são uma extrapolação da capacidade de julgamento (agencia humana)  de detectar agentes como predadores, protetores ou presas.

 


 Alguns observadores notaram, desde o tempo de Xenófanes, que as entidades religiosas tendem a ter traços semelhantes aos traços humanos, um fenômeno chamado antropomorfismo. Em 1993 Stewart Guthrie apresentou sua “nova teoria” da religião baseada numa séria aplicação da ideia antropomórfica. Contudo, a partir de sua perspectiva, o antropomorfismo quanto ao mundo sobrenatural (e ao mundo natural) não era um equívoco, mas antes uma “boa aposta”: “É uma aposta porque o mundo é incerto, ambíguo e necessitado de interpretação. É uma boa aposta, porque as interpretações mais valiosas são geralmente aquelas que desvendam a presença de tudo o que é mais importante para nós. Isto geralmente são outros seres humanos” (1993: 3). 

Evidentemente, as entidades sobrenaturais não são exatamente como os humanos: elas são muitas vezes maiores ou mais poderosas ou invisíveis ou imortais, mas ainda assim elas são extensões ou negações de qualidades humanas (seres humanos mortais, seres sobrenaturais imortais). A chave para a humanidade não está, em última instância, nos nossos corpos ou em nossa mortalidade, mas em nossa intencionalidade, em nossas mentes e vontades.


O projeto de Pascal Boyer para “explicar a religião” começa com a hoje familiar premissa de que o pensamento humano não é uma coisa unitária e homogênea, mas o resultado de módulos de pensamento interoperantes, uma “confederação” de expedientes explicativos, que ele chama de “sistemas de inferência”. Entre estes sistemas estão três de particular importância – a formação de conceitos, a atenção à exceção e a agência

O pensamento procede através da criação de conceitos e até “moldes” mais abstratos; os moldes são como formulários em branco com certos campos a serem preenchidos, e os conceitos são a maneira específica como o formulário é preenchido. Por exemplo, o molde “instrumento” tem certas opções e o conceito “martelo” preenche estas opções de uma determinada maneira. De modo semelhante, o molde “animal” ou “pessoa” tem certas qualidades com um conjunto de variáveis possíveis. Uma destas qualidades das pessoas é a agência – a capacidade de empenhar-se numa ação inteligente, deliberada e mais ou menos “livre”. Por mais que nós humanos estejamos interessados em nossos conceitos, somos atraídos para exceções e violações dos mesmos. 

Os humanos são animais mortais com dois braços; um humano com três braços seria interessante, mas um humano imortal o seria muito mais. Algumas ideias, afirma Boyer, têm o potencial de “grudar” melhor em nossa mente pelo simples fato de serem bastante excepcionais: na expressão dele, um ser que é imortal tem força adesiva, mas um ser que existe apenas nas terças-feiras não a tem. Não causa surpresa que “os conceitos religiosos violam certas expectativas provenientes das categorias ontológicas, mas preservam outras expectativas” (2001: 62)

 Entre as expectativas mais críticas que a religião preserva estão a agência e a reciprocidade/permuta. As entidades sobrenaturais “não são representadas como tendo traços humanos em geral, mas como tendo mentes, o que é muito mais específico” (144), o que não é uma grande tensão para o pensamento humano, já que até os animais manifestam alguma agência, tendo seus próprios desejos e intenções. Além disso, é vantajoso, na opinião de Guthrie, atribuir uma mente à natureza e à sobrenatureza, já que (parafraseando a famosa aposta de Pascal), se estivermos certos, pode ser decisivamente importante e, se estivermos errados, não resulta nenhum dano.

Como conclui Boyer, a religião é construída com “sistemas e capacidades mentais que de qualquer maneira estão aí [...] e, portanto, a noção de religião como um território especial é não apenas infundada, mas de fato é antes etnocêntrica” (311). Nesta maneira de ver, a religião não requer absolutamente uma explicação separada, mas é antes um produto ou subproduto da maneira como a mente funciona na sociedade em todos os contextos, inclusive não religiosos. Em particular, Boyer aponta para as predisposições mentais evoluídas dos humanos, para a natureza da vida social, para os processos de troca de informação e para os processos de inferências derivantes. Se existem agentes não humanos, e eles podem ser contratados como seres sociais – como “parceiros sociais de intercâmbio” –, vale evidentemente a pena pensar e atuar sobre isto.

 

 Scott Atran amplia ainda mais esta visão e na direção dele próprio. Também ele afirma que a religião envolve “exatamente as mesmas estruturas cognitivas e afetivas como as crenças e práticas não religiosas – e não outras –, mas de maneiras (mais ou menos) sistematicamente distintas” (2002: ix). Já que “uma entidade como ‘a religião’ não existe”, não há necessidade de “explicá-la” de uma maneira única. A religião é, mais uma vez, um subproduto e epifenômeno de outros processos ou módulos, geralmente humanos, dos quais Atran aponta vários: módulos perceptuais, módulos emotivos primários (para respostas fisiológicas “sem intermediário” como medo, surpresa, raiva e náusea), módulos afetivos secundários (para reações como angústia, culpa e amor) e módulos conceituais. A agência ocupa também um local elevado em sua lista de prioridades humanas e temos processos elaborados e essenciais para detectá-la e interpretá-la, especialmente porque podemos ser enganados e tapeados por outros. Os agentes sobrenaturais são uma mera e completamente razoável extrapolação da agência humana e natural,subprodutos de um mecanismo cognitivo naturalmente selecionado para detectar agentes – tais como predadores, protetores e presas – e para lidar rápida e economicamente com situações de estímulo envolvendo pessoas e animais” (15). Não causa surpresa, conclui ele, que “a agência sobrenatural é o conceito culturalmente mais recorrente, cognitivamente mais relevante e evolucionariamente mais convincente quando se trata de religião” (57). Justin Barrett, em seu Why Would Anyone Believe in God? [Por que alguém haveria de acreditar em Deus?], de 2004, postulou um “dispositivo de detecção de agência hiperativa” (Hadd – Hyperactive Agency Detection Device) e conduziu muitos experimentos a fim de testar o pressuposto “natural” intuitivo de que os agentes estão operando ao nosso redor.



4.3 Integração social e cooperação: teoria da sinalização custosa

 

Um último fator a respeito da religião que precisa ser reconhecido é que ela muitas vezes é exigente. As religiões exigem comportamentos que são custosos, consomem tempo e muitas vezes são difíceis ou dolorosos; muitas vezes as religiões pedem que as pessoas acreditem em afirmações que são francamente difíceis de aceitar. 

Recentemente, diversos estudiosos sustentaram que a dificuldade da religião pode ser a fonte de suas realizações integrativas. Numa sociedade, os indivíduos precisam saber que eles podem confiar uns nos outros – que cada um está comprometido com o grupo e que cada um está contribuindo para o grupo, e não “vivendo à custa” dos esforços dos outros. Em 1996 William Irons propôs a “teoria da sinalização honesta [sic]” como solução para o problema do comportamento religioso, sugerindo que as exigências da religião assinalam ou demonstram compromisso social, que assim aumenta a cooperação e o bem do grupo. Desde então Richard Sosis, Candace Alcorta e Joseph Bulbulia colaboraram numa série de ensaios que promovem a “teoria da sinalização custosa” (por exemplo, SOSIS & ALCORTA, 2003; BULBULIA & SOSIS, 2011). A afirmação é que religião é socialmente integrativa precisamente porque ela é dispendiosa e desconfortável: a vida social depende da cooperação e da confiança mútua, mas existe sempre o potencial de decepção no grupo. Assim, impostores preguiçosos se encontram numa corrida armamentista evolucionária com camaradas que, como detectores de impostores, criam testes cada vez mais exigentes de honestidade compromisso, incluindo especialmente testes aparentemente impraticáveis e arbitrários como a religião. “O resultado desta escalada seriam comportamentos rituais sempre mais complexos à medida que os remetentes tentam enganar os receptores



Crenças religiosas

 

Entidades:

a-       Pessoais- deuses [Hinduísmo 33 milhoes de deuses, Deus, anjos, demônios, espíritos de mortos, espíritos guias, gnosmos, fadas, genius, etc.

b-      Impessoais- força impessoal (mana), Brahaman [Hinduísmo]

 

a-       Naturais (humanos e não humanos) -homens, gnomos, bruxos, anões, elfos, musas, duendes, etc.

b-      Sobrenaturais-Deus , deuses, anjos, demônios, fadas, gênios (Jinn)

c-       Mortos-vivos- (vampiro, zumbi)

Cosmogonia

a-       Universo primordial eterno  –deuses criados (Mitologia Mesopotâmica, Egípcia, Nórdica)

b-      Deus eterno- universo criado (Cristianismo,Islamismo, Judaísmo).

Escatologia (estudo do fim)

a-      Mundo cíclico- Maias, Hinduísmo, Religião Nórdica

b-      Mundo não cíclico- Cristianismo, Islamismo, Judaísmo.

 

Símbolos religiosos

Cada símbolo deve ser interpretado de acordo com o contexto cultural específico.

 


BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:

Introdução à antropologia da religião. São Paulo: Vozes.2018.