INTRODUÇÃO
Os
fundadores da Sociologia não estavam interessados no fenômeno religioso
enquanto tal, mas estavam à procura das causas sociais da grande mudança social
que assistiam e dos possíveis remédios para as patologias sociais que
acompanhavam a passagem da sociedade tradicional para a industrial. Divisão
social do trabalho, desemprego, aumento das desigualdades sociais, conflitos de
classe, anomia, etc., eram as grandes questões para as quais a teoria
sociológica procurou uma resposta durante o séc. XIX. Essas questões coletivas
apresentavam uma dimensão ética, e foi nessa perspectiva que os clássicos da
sociologia colocaram a questão da religião, considerada como um fator decisivo
para explicar as estruturas e os processos que asseguravam a ordem e o controle
social nas sociedades humanas. As 3 vertentes clássicas- o organicismo
positivista, o materialismo dialético e a teoria da ação social- deram origem a
muitas outras abordagens sociológicas para a
religião, que de maneira bastante ampla, podemos distinguir em funcionalista, conflitual e simbólico-cultural.
ABORDAGEM FUNCIONALISTA
Distingue os conteúdos das
doutrinas e dos sentimentos religiosos, considerados como obstáculos ao
progresso, das funções sociais desenvolvidas pela religião, essas
consideradas essenciais para a coesão social e para a integração dos indivíduos
na sociedade, especialmente em períodos de rápidas mudanças sociais, como o era
na revolução industrial. A primeira formulação consciente (sistemática) se
encontra em Émile Durkheim, porém podem ser considerados precursores C. H. de
Saint Simon, Augusto Conte, J. Stuart Mill, A. de Tocqueville; enquanto que H.
Spencer e os antropólogos da escola anglo-saxônica, como B. Malinowski deram
importantes contribuições para a sua elaboração.
ABORDAGEM CONFLITUAL
Considera superados não somente
os conteúdos da religião, mas também a sua pretensa função integradora. Para
Feuerbach, Marx e Engels, Voltaire e Hume a religião é mistificadora e
alienante, pois oculta as reais forças que conduzem a mudança e escamoteia
os conflitos que se verificam na esfera da produção, impedindo a
autodeterminação do homem.
ABORDAGEM SIMBÓLICO-CULTURAL
Confluem as contribuições de
autores bem diferentes entre si, como Max Weber, Georg Simmel e Ernest
Troeltsch, todos eles tendo em comum na base uma concepção da religião
depositária de fundamentais significados culturais, pelos quais os indivíduos
e coletividade são capazes de interpretar
a própria condição de vida, construir uma identidade e dominar o próprio
ambiente.
POSITIVISMO
INTRODUÇÃO
A
primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico foi o
positivismo, pois foi a primeira a definir o objeto, a estabelecer conceitos e
uma metodologia de investigação.
A
revolução industrial no séc. XVIII, expressão do poder da burguesia em
expansão, demonstrou a eficácia do novo saber inaugurado pela ciência moderna
no séc. XVII. Ciência e técnica tornam-se aliada, provocando modificações no
ambiente humano jamais suspeitadas. A exaltação desse novo saber e novo
poder leva à concepção do cientificismo.
O
positivismo derivou do cientificismo,
a crença no poder da ciência de explicar a realidade e traduzi-la sob a forma
de leis naturais. Esta filosofia social derivou seu método de
investigação das ciências naturais, especialmente a física e a biologia. Assim a
sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e
coesas que funcionavam harmoniosamente, segundo um modelo físico ou mecânico, por
isso o positivismo também foi chamado de organicismo.
Com o surgimento
da Teoria da Evolução de Charles Darwin, Darwinismo, a idéia de evolução lenta
e progressiva também foi aplicada à sociologia, é o que se chama de darwinismo social (princípio de que as
sociedades se modificam e se desenvolvem num mesmo sentido e que tais
transformações representariam sempre a passagem de um estágio inferior para
outro superior em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais
adaptado e mais complexo) Nesta época as nações industrializadas partiram para
o colonialismo, para conquistar novos mercados, especialmente Ásia, América, e
África, as populações destes lugares forma consideradas “fósseis vivos” Nestes
lugares os europeus se encontraram com civilizações “menos desenvolvidas”,
“primitivas”, e então justificaram a exploração com a ideologia da
“civilização”, retirar estes povos do atraso em que viviam.
Os principais pensadores da escola positivista
foram Albert Schäffle, Herbert Spencer Alfred Espinas e Augusto Conte.
Augusto Conte (1798-1857)
- Conte acreditava que a história da humanidade evoluiu
em 3 etapas ou estágios:
Teológico ou fictício-
através do medo e da ignorância o homem explica o s fenômenos da natureza por
meio de deuses concebidos à sua imagem.
Metafísico ou abstrato- neste estágio o homem procura forças
abstratas, conceitos, reflexão mental,
por trás dos fenômenos.
Científico ou positivo- neste
estágio o homem pode abandonar as formas de saber dos estágios anteriores,
seguindo a ciência.
- Conte afirmava que a sociologia ia substituir as
funções da religião que são a coesão e integração e assim esta
desapareceria. Na época dele a sociedade estava entrando na era industrial,
e neste tempo os fundamentos tradicionais da ordem social estavam sendo
desfeitos.
- Afirmava que a sociologia era capaz de promover uma
reforma moral e intelectual da sociedade moderna
- Embora outros positivistas adotem o evolucionismo
social como Herbert Spencer e L. T. Hobhouse, eles não propõe, como Conte
a substituição da religião pela sociologia.
- “A sociologia da religião contemporânea tira da
obra de Conte e de Spencer uma contribuição feita mais de estímulos e de
exemplos metodológicos do que de contribuições teóricas.” (A religião na
sociedade pós-moderna, p. 41)
Émile Durkheim (1858-1917)
- Um pressuposto fundamental do pensamento de
Durkheim é que a sociedade plasma o indivíduo desde o nascimento,
socializando-o em valores e modelos de comportamento bem definidos (É o
que ele chama de fato social), isto é, a sociedade prevalece sobre
o indivíduo.
- Durkheim afirma que os fatos sociais apresentam
coerção social, pois leva o indivíduo a se conformar independente de sua
vontade ou escolha à regras.
- O indivíduo é entendido a partir do social e não ao
contrário. É a consciência coletiva (conjunto de regras,
representações, modelos de comportamento) que guia o agir dos
indivíduos.
- Partindo do pressuposto de que o totemismo era o
sistema religioso mais primitivo, ele propõe uma interpretação
sócio-genética da religião: o sentimento religioso mesmo dirigido à
divindades diferentes, em qualquer lugar sempre tem a mesma origem, nasce
do sentimento de dependência que a
sociedade, como potência coletiva e autoridade moral, inspira em seus
membros.
- A religião segundo ele dá forma expressiva a
sentimentos que alimentam normas e valores e através dos ritos
consolida-os na consciência dos indivíduos. Além disso os ritos suscitam
atitudes de temor e respeito para as normas sociais. Assim ela assume uma
função de integração e coesão social.
- A sociedade é vista como uma realidade
transcendente, dotada de autoridade moral sobre o indivíduo e, ao mesmo
tempo, capaz de levá-lo além de si mesmo; depois, reconhece no sagrado a
própria sociedade em forma simbólica.
- Assim para ele a religião é vista somente na
dimensão coletiva, em outras palavras, a religião é a experiência coletiva
do sagrado. O sagrado é o símbolo da própria sociedade. O sentimento
religioso é o sentimento de dependência do indivíduo do grupo social.
- Para ele a religião surge nos estágios de
efervescência coletiva, isto é, naqueles momentos em quem os membros de um
grupo social atingem uma intensidade de sentimentos tal que se sentem como
que fundidos numa só realidade.
- Ensinava que uma característica comum a todas as religiões
era a distinção entre sagrado e profano. (Isto não acontece nas
religiões Monistas, pois afirmam que a realidade é uma só, nem em formas
religiosas pós-modernas)
- A religião para ele sempre existirá, pois é uma só
coisa com a sociedade; a religião é a sociedade sacralizada.
Herbert Spencer (1820-1903)
- Sua abordagem apresenta como características o
organicismo e o evolucionismo, pois acreditava que havia uma equivalência
entre organismo biológico e organismo social.
- A sociedade foi considerada por ele como um
conjunto super orgânico de estruturas e funções que, para conhecê-lo, é
preciso analisar as unidades que compõem e o papel que elas exercem. A diferenciação
é um processo natural, assim as sociedades humanas são vistas como
momentos internos de um desenvolvimento progressivo, em base ao princípio
de formas homogêneas e incoerentes para formas sempre mais diferenciadas e
harmonicamente integradas.
- Na sua perspectiva encontramos como em Conte a
tentativa de realizar uma sociedade auto-orientada, da qual o
desenvolvimento industrial e o progresso científico constituem os fatores
principais do processo evolutivo, e na qual a religião desenvolve pelo
menos um papel privado; todavia ele não propõe como Conte, a substituição
da religião pela sociologia.
Karl Marx (1818-1883)
- Considerava que não se pode pensar a relação
indivíduo-sociedade separadamente das condições materiais em que essas
relações se apóiam. Para ele as condições materiais de todas a
sociedade condicionam as demais relações sociais. Em outras palavras,
para viver, os homens têm de, inicialmente, transformar a natureza, ou
seja, comer, construir, etc., sem o
que não poderia existir como seres vivos. Por isso o estudo de qualquer
sociedade deve partir justamente
das relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção e
transformar a natureza. Assim as relações sociais de produção
condicionam todo o resto da sociedade.
- Segundo Marx, as desigualdades sociais observadas
em seu tempo era provocadas pelas relações de produção do sistema
capitalista, que dividem os homens em proprietários e não-proprietários
dos meios de produção. As desigualdades são a base da formação das classes
sociais.
- Para Marx as relações entre os homens se caracterizam por
relações de oposição, antagonismo, exploração e complementaridade entre as
classes sociais (classe social é um, grupo de indivíduos que ocupam uma
mesma posição nas relações de produção em determinada sociedade). A história
do homem é a história das lutas de classes.
- Sob o ponto de vista de Marx a religião era “expressão de sofrimento real, protesto
contra um sofrimento real, suspiro da criatura oprimida, coração de um
mundo sem coração, espírito de uma situação sem espírito, ópio do povo” e
também “teoria geral deste mundo,...
seu fundamento universal de consolo e legitimação”.
- Numa primeira fase, portanto, Marx trabalha a
religião como alienação. Numa segunda fase, que começa com a Ideologia Alemã (1845) ele
considera a religião como ideologia, falsa consciência, é o reflexo
ilusório, fantástico, das relações de dominação de classe, de exploração:
as idéias religiosas exprimem, justificam e escondem a realidade da
dominação. Assim para ele a religião servia de legitimação para a
classe dominante e consolo para os dominados. A religião surgia então em
conseqüência da situação dos pobres, pois “É o homem que faz a religião; a religião não faz o homem” e “Não é a consciência que determina a
vida, mas é a vida que determina a consciência”. Assim a religião deve
ser abolida como condição para a verdadeira felicidade. Mas para abolir a
religião é preciso que a situação seja mudada, a situação que necessita de
ilusões. Pois ela só existe numa situação de alienação.
TENDÊNCIA
ATUAIS DO PENSAMENTO MARXISTA
·
Vários Marxistas atualmente tem reconhecido que
nem toda religião é ópio do povo ou alienação; tais como: Michael Löwoy, Luciem
goldmann, Michèle Bertrand pois, percebe-se a participação de religiosos em
lutas sócio-políticas em países como Nicarágua, El Salvador e Brasil.
Max Weber (1854-1920)
- Dentre os 3 autores que tem sido considerados os
fundadores da sociologia- Marx, Durkheim e Weber, este último foi o que
mais se preocupou com o fenômeno religioso, e conseqüentemente é o que
mais tem influenciado a sociologia da religião.
- Para ele não há uma linha unívoca nem um curso
progressivo na história, assim se afasta bastante do modelo do
materialismo histórico e de concepções evolucionistas dominantes de seu
tempo.
- Weber também rejeita a proximidade com a
biologia defendida pelos teóricos evolucionistas, e em clara distinção
a esses destacava a importância do método histórico e comparativo.
- Para a sociologia positivista a ordem social
submete os indivíduos como força exterior a eles. Para Weber, ao
contrário, não existe oposição entre indivíduo e sociedade: as
normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada
indivíduo sob a forma de motivação. A análise de Weber está centrada
nos atores sociais e em suas ações. Destaca a subjetividade e
intencionalidade dos atores sociais.
- Max enfatizava que os acontecimentos que integram a
sociedade têm origem nos indivíduos. Assim a sociedade pode ser
compreendida a partir do conjunto de ações individuais reciprocamente
referidas. Por isso ele define como objeto da sociologia a ação social
(qualquer ação que o indivíduo faz implicando numa orientação
significativa visando outros indivíduos.). A ação social pode ser:
Tradicional, Afetiva, Racional com relação a Valores e Racional com
relação a Fins. Assim Weber destaca a subjetividade do agente social.
- Restituiu uma posição autônoma à religião no
concerne à capacidade de exercer influência sobre a sociedade.
- O modelo de Weber é a interação recíproca entre
religião e sociedade.
- Max introduziu a noção de carisma (qualidade
considerada extraordinária)- uma importante contribuição à teoria da
mudança social, mostrando o influxo das idéias religiosas no surgimento de
comportamentos inovadores- que até hoje tem sido utilizada para
interpretar fenômenos, como o surgimento de novos movimentos religiosos na
sociedade pós-industrial. Segundo sua análise destaca que as grandes
religiões originam-se da pregação
de um líder carismático (ao qual Weber dá o nome de profeta), ao
redor do qual se reúnem discípulos. Esta figura rejeita a tradição e exige
obediência por causa do carisma que dele emana. Assim ele considera o
carisma o poder revolucionário criador da história capaz de derrubar a
regra e a tradição. Ele defende dois tipos de profetas, o emissário e o
exemplar. O profeta emissário foi peculiar às religiões do Oriente
Médio (Zoroastrismo, judaísmo, cristianismo e islamismo) e pretendiam ser
instrumentos de transformação do mundo. Já o profeta exemplar
defende uma religião de salvação do tipo predominantemente contemplativo.
Ele é visto como um exemplo, um santo. O primeiro conduz predominantemente
a ascese e o segundo a mística. Na religião ascética o fiel se vê como
instrumento de Deus e adota uma postura ativa para controlar seus
impulsos. Na religiosidade mística desenvolve uma postura
predominantemente contemplativa. Esses dois tipos de religiosidades
implementam teodicéias e racionalidades distintas. A religiosidade
ascética tende para um Deus pessoal e uma ascese intramundana , enquanto
que uma religiosidade mística tende para uma postura contemplativa e para
uma imanência e despersonalização do divino; tanto quanto para uma ascese
fora do mundo (extramundana).
- Ele destaca que com a morte do líder carismático
ocorre a questão da sucessão e da estabilização da mensagem e isto ocorre
através do que ele chama de “rotinização
do carisma”. Assim os discípulos alteram o caráter do carisma e da
autoridade que se funda sobre ele. O carisma, considerado algo
sobrenatural passa a ser objeto de aquisição e de educação, pois para se
tornar portador deste carisma o discípulo deve ser recrutado, treinado e
colocado à prova. Assim o carisma entra de novo na vida cotidiana. Assim
os seguidores não possuindo o carisma original passam apenas a viver a experiência de forma secundária, mediada por ritos e
símbolos.Em outras palavras, os discípulos institucionalizam o carisma,
isto é, criam um corpo doutrinal, práticas cultuais e uma organização
sacerdotal (sacerdotes) que constituem outros suportes e mediações
para poder reviver a experiência do fundador.
- A sociologia da religião de Weber emerge do surgimento do capitalismo. Defende que o espírito do capitalismo conseguiu se firmar estavelmente no Ocidente somente pela racionalização de todos os aspectos da vida encorajada pela reforma protestante (eliminação da função mediadora da Igreja Católica por meio de indulgências, sacerdotes, etc.; a desmagização [desencanto] do mundo por meio do questionamento dos milagre dos santos, da transubstanciação), em especial pela ascese intramundana do calvinismo (compromisso ativo no mundo, em especial o incentivo ao trabalho e ao estudo) e que isto se deu de forma não intencional, pois a usura era condenada pelo protestantismo. Porém destaca que o capitalismo por sua vez se tornou prejudicial ao protestantismo (individualismo, consumismo, exploração, utilitarismo, etc).
- Assim para Weber a religião pode ter efeitos tanto de reforço e justificação dos ordenamentos sociais existentes, como de crítica e subversão destes últimos. O fulcro da atenção de Weber desloca-se, portanto sobre os efeitos que determinadas imagens religiosas do mundo, mediante determinadas normas éticas, têm sobre as respectivas sociedades, em particular sobre o agir econômico.