Folha de Sao Paulo
A conversão do pentecostalismo
REGINALDO PRANDI
RESUMO
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O avanço acelerado das igrejas evangélicas anuncia para breve um Brasil de maioria religiosa evangélica. Se isso vier a acontecer, o país se tornará também culturalmente evangélico? Traços católicos e afro-brasileiros serão apagados, assim como festas profanas malvistas pela nova religião predominante?
Deixarão de existir o Carnaval, as festas juninas, o famoso São João do Nordeste? Rios, serras, cidades, ruas, escolas, hospitais, indústrias, lojas terão seus nomes católicos trocados? A cidade de São Paulo voltará a se chamar Piratininga? E mais, mudarão os valores que orientam a vida por aqui?
Provavelmente não, porque a religião mudaria antes. Ela se reconfigura em resposta a demandas sociais, e essa recauchutagem é tão mais profunda quanto maiores forem a consolidação e a difusão da crença. Deixa de ser radical e sectária, ajusta-se. Vê-se isso na história recente das próprias religiões evangélicas.
Igrejas pentecostais pregavam uma ética de afastamento do mundo, com profundas restrições ao consumo. Ao preconizar vida simples e despojada, ofereciam um modelo ideal de conduta para uma classe proletária então destinada a ganhar mal e comprar pouco.
Quando a âncora da economia muda do trabalhador que produz para o consumidor (garantidor do crescimento), o pentecostalismo tem de rever sua posição sobre o consumo, até então encarado como ponte para o mundanismo.
Dessa forma, acompanhou a mudança e adotou a teologia da prosperidade -coisa de gênio. Abandonou o princípio de que o dinheiro é do diabo e largou mão do velho ascetismo, mantido na esfera da sexualidade. Adequou-se às aspirações de classe média no que diz respeito a vestir-se, educar os filhos, ter tudo de bom em casa, comprar carro, viajar a turismo e muito mais.
A nova teologia promete que se pode contar com Deus para realizar qualquer sonho de consumo. Em suma, já não se consegue, como antes, distinguir um pentecostal na multidão por suas roupas, cabelo e postura. Tudo foi ajustado a novas condições de vida num país cujo governo se gaba do (duvidoso) surgimento de certa "nova classe média", de fato cliente preferencial das lojas de R$ 1,99.
Incapazes de influir nos grandes temas da sociedade, as igrejas pentecostais ajustaram o foco na velha preocupação com a vida íntima. Agarraram-se a uma moralidade mesquinha e reacionária, tão fácil de impor aos descontentes com sua vida pessoal.
A maioria dos pentecostais é de recém-convertidos, e conversão precisa de motivo forte, subjetivo, que tenha elo direto com felicidade e capacidade de viver bem.
IMPOSIÇÃO DA LEI
A interferência da religião nos costumes poderia vir agora também pela imposição da lei. Para fazer mudanças a seu gosto, o credo da nova maioria contaria com as casas legislativas, onde vai ampliando suas fileiras. Bem no tom de ameaça do pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP).
Ao perder uma batalha em sua guerra homofóbica travada nas trincheiras da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que espantosamente continua a presidir, ele acenou para um revide amparado na possibilidade de a bancada evangélica dobrar numericamente na próxima legislatura.
O instituto Datafolha confirma: se dependermos da opinião expressa por pentecostais, o Brasil pode retroceder em matéria de família, sexualidade e liberdade de escolhas e abandonar normas e direitos fixados após longas lutas.
A pesquisa publicada hoje pela Folha mostra que, no continuum da moralidade, as posições estão bem marcadas: os pentecostais formam o segmento mais atrasado. Os católicos são tão avançados quanto a população média do país, maioria que são. Os evangélicos não pentecostais ocupam posição intermediária entre católicos e pentecostais; já tiveram sua fase de sectários e poderiam representar hoje os pentecostais de amanhã.
Os sem religião, espíritas e umbandistas tendem a ter posição condizente com os avanços da sociedade, à frente dos católicos, mas são muito minoritários. Outras religiões, pelo pequeno número de seguidores na população, nem aparecem na amostra.
É preciso lembrar que, independentemente de religião, os mais pobres e os menos escolarizados, camadas em que os pentecostais arregimentam preferencialmente seus adeptos, estão menos afeitos ao avanço dos costumes e direitos.
Religião e posição social se atraem e se somam. Por outro lado, se o pentecostalismo também sonha em ser uma religião de classe média ilustrada, terá de mudar.
Ainda que majoritária, condição aqui apenas hipotética, a religião evangélica, sobretudo pentecostal, seria a crença de indivíduos convertidos um a um, e não a que funda uma nação e fornece os elementos formadores de sua cultura, lugar ocupado pelo velho catolicismo.
O processo que culminaria no redesenho do cenário da fé seria diferente daquele que modelou a cultura no Brasil. Por tudo isso, em vez de o Brasil virar culturalmente evangélico, a religião evangélica pode bem se converter ao Brasil.
REGINALDO PRANDI, 67, é professor sênior do departamento de sociologia da USP e pesquisador do CNPq. Escreveu, entre outros livros, "Mitologia dos Orixás", "Segredos Guardados" (ambos pela Companhia das Letras) e "Os Mortos e os Vivos" (selo Três Estrelas, do Grupo Folha).
"Só uma minoria deles se diz contra a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo (36%) e contra a adoção de crianças por casais homossexuais (42%), índices inferiores ao que pensa a média da população e muito abaixo do registrado entre evangélicos (em torno de 65% e 70%, respectivamente).
Apenas espíritas e umbandistas são mais liberais a respeito desses temas. Mas membros de todas as igrejas cristãs pensam de forma muito parecida sobre o aborto: entre 65% a 70% dizem que a mulher que praticar aborto deve ser processada e presa."
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/119929-catolicos-vao-pouco-a-missa-e-contribuem-menos-com-igreja.shtml
“está muito mais centrada na defesa de VALORES, especialmente os ligados à unidade da família. Se é uma igreja que cresce no chamado “Brasil moderno e urbano”, esse crescimento se dá com a pregação de valores que podemos chamar “tradicionais”. O colunista continua: “A Assembleia, infiro, tende a crescer de forma sustentável e consolidada porque opera numa esfera que produz alterações que tendem a ser permanentes. As correntes que dão excessivo valor às relações de troca com Deus podem ter ascensão vertiginosa, mas esbarram, não tem jeito, no peso da realidade. O Altíssimo não sai por aí recompensando quem faz muita bobagem com sua conta bancária. Também não costuma resolver os problemas que estão afeitos à medicina. A força desse tipo de discurso é limitada”.
2-Os Pentecostais tem por princípio a liberdade religiosa;
- portanto se a maioria fosse evangélica não se proibiria a manifestação de festas católicas, espíritas ou quaisquer outras.
- Basta conhecer que TODOS os países de maioria evangélica, privam pelos direitos à liberdade religiosa.
- Assim estas festas continuarão a existir a menos que toda população se tornasse evangélica!!!
3- Em segundo lugar, NUNCA em toda a história do protestantismo (mesmo dentro do pentecostalismo) se abriu mão dos valores tradicionais como sexualidade dentro do casamento, heterossexualidade,e outros valores tradicionais, exceto em seitas derivadas do protestantismo, e essas são tidas como movimentos heréticos.
3-Mesmo dentro do movimento Neopentecostal esses valores sempre perduraram, como diz este Sociólogo especializado no assunto:
4- Assim a afirmação que E mais, mudarão os valores que orientam a vida por aqui? Provavelmente não, porque a religião mudaria antes. ... Vê-se isso na história recente das próprias religiões evangélicas." é falsa pois, o que mudou nas igrejas pentecostais foi os chamados "usos e costumes de santidade" (que nada tem de fundamentação bíblica como: uso de saias, cabelos sem cortar, não uso de bermudas, etc.) e mudança para uma liturgia "mais brasileira" com ritmos populares, basicamente isso.
5-Em relação à Teologia da Prosperidade,a maioria dos pentecostais não à adota . O segmento que adota é conhecido como NEOPENTECOSTAIS. A Assembléia de Deus combate o ensino da Teologia da prosperidade ou Teologia da Confissão Positiva.
6-Mas a Igreja Universal do Reino de Deus (maior denominação neopentecostal e a igreja que mais dá ênfase à prosperidade financeira foi a que mais perdeu fiéis (queda de 11% em relação a 2000). A igreja, que nos anos 1990 deu um salto de 269 mil para 2,1 milhões de fiéis, perdeu 228 mil na última década. http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/por-que-edir-macedo-e-a-igreja-catolica-perderam-fieis-e-por-que-a-assembleia-de-deus-ganhou/
7- A afirmação: "Quando a âncora da economia muda do trabalhador que produz para o consumidor (garantidor do crescimento), o pentecostalismo tem de rever sua posição sobre o consumo, até então encarado como ponte para o mundanismo.
- A teologia da prosperidade começou nos Estados Unidos e iniciou-se no Brasil com a Igreja Nova Vida, da qual saiu a universal e Internacional da Graça de Deus (igrejas neopentecostais)
- O neopentecostalismo é um tipo de pentecostalismo, mas numa 3ª onda, de onde veio a Teologia da Confissão Positiva- ver apêndice 1
- Assim não houve adoção da Teologia da Prosperidade, especialmente por parte majoritária da Assembléia de Deus (a igreja que mais cresceu)
- o autor do texto dá a entender que o fator preponderante do crescimento dos pentecostais seria a teologia da prosperidade, mas desde que surgiu o pentecostalismo sempre foi o ramo evangélico que mais cresceu!!!!! mesmo antes do surgimento da Teologia da Confissão Positiva- ver apêndice 2
- O simples fato de ser contra a prática de atos homossexuais não caracteriza homofobia
- O SITE PSIQWEB CITA o dicionário especializado:"Esta expressão significa medo do homossexualismo. O medo do homossexualismo empurra as pessoas em direção ao sexo oposto com objetivos de reprodução e de garantir ao sujeito sua identidade heterossexual.
A Homofobia é típica de pessoas que, consciente ou inconscientemente, ainda têm muitas dúvidas e angústias sobre sua identidade sexual. Como mecanismo de defesa de sua insegurança, estas pessoas costumam ridicularizar e agredir os homossexuais. Casos muitos graves de Homofobia levam o sujeito a fazer investidas como o assassinato de homossexuais. "
http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerDicionario&idZDicionario=382 - Os valores cristãos repudiam atos de violência, ódio aos homossexuais ou qualquer pessoa
- Para haver tolerância aos homossexuais tem que haver discordância, assim os evangélicos tem o dever de amar todas as pessoas, e isso inclui tolerar práticas consideradas pecaminosas pela bíblia.
- A pesquisa citada da Folha não faz distinção entre praticantes e não praticantes. Existem muitos católicos nominais, como também evangélicos, o que tornaria os 'católicos' mais receptivos a conceitos como aborto, união civil homossexual, etc.
- os valores [em termos de doutrina] de família, sexualidade e liberdade de escolha são os mesmos no catolicismo, evangélicos pentecostais e não pentecostais
- a única diferença é que os evangélicos são a favor dos métodos anticoncepcionais
- Defender o direito à vida por parte de fetos inocentes (ser contra o aborto) não é ser retrógrado.
- Para se evitar as concepções pós estupro (que giram em torno de 1-3%) deve-se implementar políticas de Segurança (garantidas pela constituição) e investir em informação especialmente na pílula do dia seguinte (que impede à fecundação) e assim seria desnecessário o aborto
- em relação a adoção, o número de casais que querem adotar é mais que 5 VEZES o de crianças a serem adotadas http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/05/25/ha-54-vezes-mais-pretendentes-do-que-criancas-aptas-a-adocao-aponta-cnj.htm. Em relação à adoção as opinioes dos evangélicos é dividida.
Censo 2010: número de católicos cai e aumenta o de evangélicos, espíritas e sem religião
Os resultados do Censo Demográfico 2010 mostram o crescimento da diversidade dos grupos religiosos no Brasil. A proporção de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas anteriores, embora tenha permanecido majoritária. Em paralelo, consolidou-se o crescimento da população evangélica, que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. Dos que se declararam evangélicos, 60,0% eram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %, evangélicos não determinados. A pesquisa indica também o aumento do total de espíritas, dos que se declararam sem religião, ainda que em ritmo inferior ao da década anterior, e do conjunto pertencente às outras religiosidades. http://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?view=noticia&id=1&idnoticia=2170&t=censo-2010-numero-catolicos-cai-aumenta-evangelicos-espiritas-sem-religiao
Apêndice 2
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/caracteristicas_religiao_deficiencia.pdf