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sexta-feira, 5 de março de 2021

Tradição oral e Escrituras? Se contradizem? Sola Scriptura



A igreja católica para justificar suas doutrinas não bíblicas apela para a chamada tradição oral, e justifica que esta está  contida nos primeiros pais da igreja (patrística).

Não é verdade que as doutrinas não bíblicas da igreja católica tenham apoio no primeiros 3 seculos da igreja, para isto basta lermos a Coleção Patristica -Editora Paulus.


Nessa postagem me deterei a mostrar que quando a Bíblia usa o termo tradição em relação ao Evangelho se refere ao conteúdo das Escrituras, e assim sendo a doutrina conhecida como sola scriptura (somente as Escrituras) é a corretíssima:


1-As tradições ou doutrinas cristãs eram transmitidas por dois meios:

  •  por meio da palavra oral (Tradição Apostólica oral) 
  •  por meio das Escrituras (Tradição Apostólica  Escrita)

 

2 Ts 2:15  Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.

2- A tradição apostólica oral e a escrita não tinham discordâncias, pois Paulo  repetia ou confirmava as ordens orais em suas cartas:

 1 Coríntios 11:2  De fato, eu vos louvo porque, em tudo, vos lembrais de mim e retendes as tradições assim como vo-las entreguei .
1 Coríntios 11:23  Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei : que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;

1 Coríntios 15:3  Antes de tudo, vos entreguei  o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,

Judas 1:3  Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos
Rm 6:17  Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;


1 Ts 4:11  e a diligenciardes por viver tranqüilamente, cuidar do que é vosso e trabalhar com as próprias mãos, como vos ordenamos;
2 Ts 3:4  Nós também temos confiança em vós no Senhor, de que não só estais praticando as coisas que vos ordenamos, como também continuareis a fazê-las.
2 Ts 3:6  Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes;
2 Ts 3:10  Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma.

3-As próprias tradições dadas por Paulo, e citadas acima  em Tessalonissences, vieram com base nas Escrituras do Antigo Testamento:

At 17:1 ¶ Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus.
2  Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras,
3  expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio.

10 ¶ E logo, durante a noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus.
11  Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.

4- Somente os apóstolos e profetas do primeiro século lançaram os fundamentos da fé, e seus escritos são também a Escritura, como o Antigo Testamento:
Jesus profetizou que iria usar seus apóstolos e enviar profetas:

Jo 16:12 Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora;
13  quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.

Mateus 23:34  Por isso, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade


Efésios 2:19  Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,
20  edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular;

Ef 3:4  pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo,
5  o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito,



1 Timóteo 5:18  Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário.
Citação de Lc 10:77  ... porque digno é o trabalhador do seu salário. ...

1 Timóteo 5:18  Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário.
2 Timóteo 3:16  Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,

Pedro Chamava os Escritos de Paulo de Escrituras:
2 Pedro 3:16  ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras , para a própria destruição deles.


Paulo dizia que suas palavras eram inspiradas e mandamentos:
! Co 14:7  Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo.

5- Portanto não devemos ultrapassar o que está Escrito:
1 Coríntios 4:6  Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro.

Gl 1:8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.
9  Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.



Conclusão:

Toda tradição que ultrapassa ou contradiz as Escrituras deve ser rejeitada. 

 Para saber sobre o CANON SAGRADO e a relação com a igreja click

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Jesus bebeu vinagre do banheiro público? Mirra e Vinho era Narcótico? Será? Conheça as duas bebidas oferecidas a Cristo na cruz.

 

Banheiro Romano


Xilospongium- tersório


Rodrigo Silva, apresentador do programa Novo Tempo apresentou a teoria que teria sido oferecido a Jesus vinagre  e uma esponja, ambos provenientes de banheiro publico romano.

 Ele afirmou que a vasilha de vinagre era usada para limpar a esponja após o uso e limpeza no canal de água, representado na figura acima como uma canaleta no chão.




Resposta:
1- O Xilospongium era uma esponja montada em uma vara, como tersório, instrumento de higiene anal. A esponja usada para dar de beber a Jesus foi montada de improviso:

Jo 19:28  Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede!
29  Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca.
30  Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito.

Mc 15:36  E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta de um caniço, deu-lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo!
37  Mas Jesus, dando um grande brado, expirou.



2- Não se usava  vinagre após lavar a espoja em água corrente. Se não houvesse água corrente se usava lavar a esponja presa na vara em um vaso de vinagre ou água com sal.

Os romanos, pelo menos as classes mais altas e certamente o imperador, usavam um tersório, também chamado de xilospongium, uma esponja montada em uma vara. A esponja poderia ser mergulhada em um canal de água em frente à fileira de banheiros comunitários na latrina e enxaguada nesse canal após o uso. Se não houvesse canal de água corrente, um balde de água salgada ou vinagre seria usado, como Sêneca descreveu em suas Cartas para Lucilo [70,20]. 
Se não houvesse tersório nem água, os gregos e romanos usavam  πεσσοι ou pessoi, pequenas pedras. A tradição começou com os gregos antigos de que três pedras deveriam ser suficientes para terminar o trabalho. " https://toilet-guru.com/galerius.php

3- A crucificação era de fora da cidade, onde não havia banheiro público

Hebreus 13:12  Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta.

Hebreus 13:13  Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério.


4- O vinagre em questão era a famosa bebida usada pelos soldados romanos. E não um vaso de vinagre usado como substancia de limpeza do xiloporium.

O episódio em João 19.29 tem seu paralelo mais exatamente em Marcos 15.36. Longe de ser um sedativo, ele prolongaria a vida e, portanto, prolongaria a dor. O ‘vinagre’ (oxos) era um vinho barato e amargo usado pelos soldados; o uso dessa palavra lembra Salmo 69.21, em que o mesmo substantivo aparece [na tradução grega]. O uso de uma esponja para levar um pouco do vinagre até os lábios de Jesus também é registrado em Marcos 15.36 par. Somente João, entretanto, menciona que a esponja foi colocada na ponta de um caniço de hissopo (gr. hyssôpo). O hissopo é uma planta pequena, um raminho ideal para se usar em aspersões - muito usado nos tempos do Antigo Testamento.  O comentário de João / D.A. Carson ;  São Paulo :Shedd Publicações, 2007, p. 621
 Mt 27:28; Mc 15:36; Lc 23:36; e Jo 19:29-30 narram que um soldado subseqüentemente deu a Jesus oxos, vinho azedo ou vinagre de vinho, que aliviava a sede de modo mais eficaz do que a água, e que era popular nas camadas mais pobres da sociedade por causa de ser mais barato do que o vinho normal [Arndt, 577-8]. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p.822

5- Foram oferecidas duas bebidas a Jesus e não uma: Vinho com mirra e depois vinagre.

A- Antes da crucifixão foi oferecido uma mistura feita de vinho e mirra (gosto amargo como fel):


Mt 27:33 ¶ E, chegando a um lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da Caveira,
34  deram-lhe a beber vinho com fel (chole); mas ele, provando-o, não o quis beber.

35  Depois de o crucificarem, repartiram entre si as suas vestes, tirando a sorte.


 chole -  de um equivalente talvez semelhante ao mesmo que 5514 (de tom esverdeado); ; n f 

1) bílis, amargura 
2) no AT, usado de coisas amargas 
2a) amargo; absinto 

2b) possivelmente mirra 

Mc 15:22 ¶ E levaram Jesus para o Gólgota, que quer dizer Lugar da Caveira.
23  Deram-lhe a beber vinho com mirra; ele, porém, não tomou.

24  Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dele, lançando-lhes sorte, para ver o que levaria cada um.



B- Foi oferecido depois da crucificação o vinagre ou vinho azedo dos soldados romanos, numa esponja junto a um hissopo, num caniço por meio de uma cana. 

Jo 19:28  Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede!
Jo 19:29  Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja e, pondo-a num hissopo, lha chegaram à boca. ARC
30  Jesus, depois de ter tomado o vinagre, disse: Está consumado; e inclinando a cabeça, rendeu o espírito.

Mc 15:36  E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta de um caniço, deu-lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo!
37  Mas Jesus, dando um grande brado, expirou.


6- A primeira bebida, vinho misturado com fel, era um narcótico ou anestésico?

Alguns sustentam que a mirra (fel) era um anestésico: 

Jo 19:29. A bebida oferecida aqui não deve ser confundida com o “vinho misturado com mirra” que alguma pessoa caridosa lhe ofereceu no caminho para a cruz (Mc 15.23). Aquela era uma bebida sedativa que visava aliviar a agonia, e Jesus se negou a bebê-la. Ele estava completamente resolvido a beber, em lugar disso, o cálice de sofrimento que o Pai lhe designara. 
O Talmude de Jerusalém relata que, antes da crucificação, se oferecia ao condenado uma bebida anestesiante, que pessoas compadecidas, geralmente mulheres distintas de Jerusalém, mandavam preparar por sua conta. ...
bebida oferecida a Jesus era a mesma que os soldados sempre carregavam consigo em seus exercícios, a chamada posca, uma limonada preparada com água, vinagre e ovos batidos. Jesus, que rejeitara a primeira bebida anestésica, agora bebeu avidamente esse líquido refrescante (Jo 19.30). Quanto ele deve ter sofrido na cruz! Precisamente esse seu último gesto de beber revela muito a esse respeito. Em seguida falou: “Está consumado” (Jo 19.30). Gritando novamente com voz forte, rendeu o espírito (cf. Lauck; Strack-Billerbeck; e Bornhauser). Comentário Bíblico esperança
19:29 Os soldados deram-lhe a beber vinagre . Possivelmente amarrou uma esponja para o final de uma haste com hissopo , e pressionou contra seus lábios. (O hissopo planta também é usado na Páscoa Ex 12:22) -. Não deve ser confundido com o vinagre misturado com fel, que havia sido oferecido antes (Mt. 27:34). Ele não bebia por causa do que ele teria agido embotamento sua capacidade de sofrer.  Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento versículo por versículo. São Paulo: Vida Nova , 2008.
 Quando se chegava ao lugar era preciso empalar o criminoso sobre sua cruz. Suas mãos eram atravessadas com pregos, mas em general os pés eram atados frouxamente à cruz. Nesse momento, e para adormecer sua dor, davam-lhe a beber vinho drogado, preparado por um grupo de mulheres abastadas de Jerusalém como um ato de misericórdia. Um escrito judeu diz: "Quando se leva a um homem para matá-lo, deve-se permitir que beba um grão de incenso em uma taça de vinho para adormecer seus sentidos... As mulheres abastadas de Jerusalém costumavam doar estar coisas e levá-las ao lugar." A taça drogada foi oferecida a Jesus mas Ele se recusou a bebê-la, porque se propôs aceitar a morte em seu aspecto mais amargo e lúgubre e não evitar nem a mais mínima dor William Barclay. Comentário do Novo Testamento. p. 785



D. A . Carson o famoso erudito nega que a mistura de vinho e mirra aliviasse a dor, antes veneno:
34 Marcos diz que eles ofereceram vinho misturado com mirra para Jesus, e ele o recusou; Mateus diz que eles ofereceram vinho misturado com fel, ele o experimentou e, depois, recusou-o. Uma explicação comum é que Marcos descreve um costume em que as mulheres de Jerusalém, respondendo a Provérbios 31.6,7 (o alegado costume é judaico, não romano), preparavam uma bebida de vinho e incenso [olíbano] — a menção de Marcos à mirra, em vez de ao olíbano é explicada de várias maneiras (e.g., Lane, Mark [Marcos], p. 124) — como uma bebida analgésica para abrandar a dor dos sofredores (b Sanhedrin 43a). Jesus recusou essa bebida a fim de beber todo o cálice do sofrimento com todos os sentidos
intatos. Então, Mateus muda “mirra” (Marcos) por “fel” a fim de ligar o evento a Salmos 69.21.
 Embora essa interpretação permaneça popular, há outra mais convincente(cf. Moo, “Use of OT” [“Uso do AT”], p. 249-52). Nem Marcos nem Mateus mencionam as mulheres, e os dois sugerem que os soldados administraram a bebida. Além disso, o fato de Mateus dizer que Jesus provou a bebida antes de recusá-la argumenta contra a percepção de que era uma bebida costumeira para entorpecer e, assim, mitigar a dor; pois se fosse uma bebida costumeira, Jesus saberia o que continha no que lhe deram para beber: por que ele a provaria se, no fim, recusaria a bebida? É muito melhor presumir que o gesto em Mateus e em Marcos não foi de compaixão, mas de tortura.
Pode ser que usassem vinho com mirra para deixar a bebida mais forte (TDNT, p. 7:458), mas ela não tinha efeito sobre a dor (cf. John Wilkison, “The Seven Words From the Cross” [“As sete palavras da cruz”], SJT 17 [1964], p. 77, n. 1).
Mas a mirra tinha sabor amargo, portanto, uma grande dose dela misturada com vinho deixaria este intragável. Quer fosse costume quer não, a bebida foi oferecida a Jesus, mas era tão amarga que ele a recusou e, de acordo com essa percepção, os soldados se divertiram com isso. Marcos mantém a palavra “mirra” para descrever o conteúdo da bebida, e Mateus usa “fel” para descrever o gosto da bebida e para fornecer uma ligação com Salmos 69.21. No hebraico e no grego, a palavra para “fel” em Salmos 69.21 ( r õ ’s e cholê, respectivamente) refere-se a várias substâncias amargas ou venenosas. Jesus, como seu pai Davi, procurou solidariedade, mas não encontrou nenhuma (SI 69.20,21). Comentário de Mateus D.A. Carson. São Paulo: Shedd, 2010, p. 665

Marcos 15.23 fala de "vinho misturado com mirra" (AV) e a maioria dos comentaristas considera a mirra como anódina ou narcótica, mas nunca é usada como tal na farmacologia. Mirra ( smurna ) é a resina de goma obtida das pequenas árvores do gênero Commiphora e, em particular, da espécie Commiphora myrrha. Tem um odor aromático e um sabor amargo, e foi usado como um anti-séptico aromático moderado em métodos antigos de embalsamamento (cf. João 19.39), e como uma substância estimulante suave em lavagens de boca. Existem várias referências a ele no Antigo Testamento, onde foi altamente considerado como um perfume (cf. Salmo 45.8, Provérbios 7.17 e Cânticos 1.13, 5.5), e era um ingrediente do óleo da unção do Tabernáculo (Êxodo 30.23). Wilkinson, J. (1964). The Seven words from the Cross. Scottish Journal of Theology, 17(1), 69-82. doi:10.1017/S0036930600006086   
https://www.cambridge.org/core/journals/scottish-journal-of-theology/article/seven-words-from-the-cross/9A01FC4515D823CF70BE3E2A49543713

O particípio passivo do vb. smymizõ ocorre em Mc. 15:23, com referência ao‘Vinho misturado com mirra” que os soldados ofereceram a Jesus antes da crucificação. Freqüentemente aquele tem sido entendido como anódino que se oferecia aos prisioneiros condenados, para embotar seu estado de consciência (cf. San. 43a). W. Michaelis, no entanto, entende que não passava de uma bebida que os soldados ofereciam aos exaustos (TDNT VII 459).Ver, porém, Fel, Veneno, Absinto.

 
CL e AT cholè parece ser cognato do latim (h)olus, talvez também com o grego chloê (“broto verde”, “grama”), e se referir, em primeira instância, à cor do bílis, e daí chega a ser empregado com respeito ao próprio fel ou bílis. O que impressionava, porém, era seu gosto amargo. Arndt (891) cita o escritor de tragédias, Fílocles; epekaleito Cholè dia to pikron (que “era chamado Cholè por causa da sua amargura”). Na LXX a palavra traduz uma variedade de palavras hebraicas., e acham-se todos os três significados, “fel”, “veneno” e “absinto” : (1) merórâh> “fel” (Jó 20:14); (2) rõs“veneno” (Dt 32:32; Sl 69:21 [68:22]; cf. Mt 27:34); (3) laanah> “absinto” (Pv 5:4; Lm 3:15). Ocasionalmente, a palavra se refere a uma planta (e.g, Dt 29:18; 32:32), mas permanece a incerteza quanto à identidade da planta referida. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p.822 821

 
Dois dos termos se empregam no NT no sentido literal, cholè se emprega do vinho misturado com “fel” que foi oferecido a Jesus enquanto os soldados se preparavam para crucificá-lo (Mt 27:24). Tendo em vista o paralelo em Mc 15:23, parece que a palavra se refere à mirra. “Conforme o Talmude (San. 43a, cf. Pv. 31:6-7) um homem que estava para ser executado podia pedir ‘um grãó de incenso’ (um narcótico) em vinho a fim de embotar seus sentidos e aliviar a dor. Jesus recusa o sedativo e heroicamente suporta Seus sofrimentos até o fim” [ D. Hill, The Gospel of Matthew, 1972, 353], Mt 27:28; Mc 15:36; Lc 23:36; e Jo 19:29-30 narram que um soldado subseqüentemente deu a Jesus oxos, vinho azedo ou vinagre de vinho, que aliviava a sede de modo mais eficaz do que a água, e que era popular nas camadas mais pobres da sociedade por causa de ser mais barato do que o vinho normal [Arndt, 577-8]. Como Mt 27:34, isto também pode ter sido considerado como um cumprimento de Sl 69:21 [68:22]. Evangelho de Pe 5:15-16 dá a impressão de que cholè fosse na realidade veneno [cf. o TM de Sl 69:21] que era misturado com o vinho e dado a Jesus a fim de apressar a Sua morte antes do anoitecer. A morte de Jesus se seguiu pouco após),  Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p.822



Conclusões:

1- Jesus antes da crucifixão provou vinho com fel, mas não quis beber.
2- Jesus depois da crucifixão pediu água , e lhe deram vinagre.
3- O vinho com mirra não tinha propriedade anestésica, antes era provavelmente um veneno usado para apressar a morte ou estava tão saturado de mirra que o tornava intragável 
4- Jesus não tomou vinagre de latrina, nem tão pouco a esponja usada para dar o vinagre era proveniente de sanitários

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Teologias contemporâneas

 


1-Contexto Histórico dos Séculos XIX e XX
2-A Teologia do Século XX:  Karl Barth e Paul Tillich,Emil Brunner, Dietrich Bonhoeffer, Rudolf Oscar Culmann, Wolfhart Pannemberg ,  Jurgen Moltmann
4-Movimentos Teológicos Contemporâneos: Ecumenismo, Teologia Gay, Teologia Feminista, Teologia da Prosperidade, Teologia do teísmo aberto
5- A Teologia Latinoamericana



Idade contemporânea:
da revolução Francesa até hoje

1-Contexto Histórico século 19

Charles Darwin - "Evolução das Espécies"- explicações naturalísticas, questionou o Fixismo (crença que as espécies são imutáveis), - questionamento do ensino bíblico.  No futuro a crença em Deus iria desaparecer.
Agnóstico- não  sabe se Deus existe ou não. "A descendência do homem"



Augusto Comte- positivismo (bandeira nacional) a humanidade passou por 3 estágios:
Estagio primitivo ("mítico"), intermediário e um positivo ou cientifico (evolução). Ele aplicou a teoria da evolução na sociologia. Ateu. No futuro a crença em Deus iria desaparecer.

A antropologia/sociologia dizia havia uma evolução das religiões: 
  • desenvolvimento da crença na imortalidade da alma/espírito
  • desenvolvimento do animismo (crença que tudo tem "anima" [alma, vida])
  • desenvolvimento do totemismo (Animal, planta, objeto ou fenômeno natural que serve de símbolo sagrado de certas tribos ou clãs a que se julgam ligados de modo específico e considerado seu ancestral ou divindade protetora.- deus tribal)
  • desenvolvimento do politeismo (muitos deuses)
  • desenvolvimento do henoteísmo (adoração a apenas um dos deuses)
  • desenvolvimento do monoteísmo (crença em apenas um único Deus)



Freud- pai da psicanálise. Ateu. Acreditava assim como Comte, que a sociedade estava em um estado de evolução. Ele dizia a crença em Deus era a lembrança (inconsciente) ou anseio da proteção do pai, que a criança tinha, enquanto criatura frágil. Deus é a projeção da imagem paterna. Dois impulsos básicos e fortes: sexo, violência. Ser humano tem basicamente 3 "partes": ID  (impulsos), EGO (eu, decisão), SUPEREGO (normas sociais). No futuro a crença em Deus iria desaparecer.

Marx- marxismo. Ateu. Acredita numa evolução do capitalismo desembocaria no socialismo e depois no fim do Estado, ou seja o comunismo, o fim das classes sociais,  o fim da traição*, etc
*A origem da família da propriedade privada e do Estado".  "A religião é o opio do povo, ...o suspiro da criatura oprimida" URSS - pregaram o ateismo.

2- sec. 18  
David Hume - argumento contra os milagres

Immanuel Kant- teoricamente destruiu os argumentos contra a existência de Deus



















sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Dom de Linguas: Uma análise Bíblica, Histórica, Linguística e Neurológica. Línguas humanas (xenoglossia) ou (glossolalia)sobre-humanas?







1- O termo glossa (língua, idioma, dialeto) elimina a linguagem estática, sempre se refere a um idioma humano?


"glossa- uma declaração que tem a forma de língua, mas que requer um intérprete inspirado para que se entenda seu conteúdo - língua extática, língua, fala em êxtase"... "quem fala em lingua não fala às pessoas, mas a Deus" (1 Co 14:2).
A maioria dos estudiosos entende que os fenômenos descritos em At 2.4 em 1 Co 14.2 são significativamente diferentes, na medida me que naquele caso as pessoas entendiam em sua própria língua ou dialeto regional, ao passo que neste caso era necessária a intervenção de um intérprete. Este é o motivo por que muitos interpretam glossa em 1 Co 14:2 no sentido de fala extática, que era também um elemento que fazia parte das religiões helenísticas e que era símbolo de inspiração divina."Léxico Grego do Novo Testamento baseado em domínios semânticos- Johannes Louw, Eugene NIda. São Paulo:SBB, 2013 p. 349

(b) Conforme a narrativa de Lucas em At cap. 2, a outorga do Espírito em Jerusalém ligava-se com o “falar em outras línguas” ; juntos, os discípulos proclamaram os grandiosos feitos de Deus (At 2:4, 11), e, ao mesmo tempo, o Espírito levou muitos a entenderem no seu próprio idioma esta proclamação. Ainda que a tradição não nos tenha transmitido qualquer quadro totalmente claro dos eventos no Pentecoste, pelo menos deixa claro que o Espírito de Deus levou a efeito um ato excepcional de falar e ouvir o evangelho, o que teve como resultado a formação da comunidade original. Quando, mais tarde em Cesaréia, os primeiros pagãos receberam o Espírito Santo e se tornaram membros da igreja, também compartilharam da graça de adorar e louvar a Deus “em outras línguas” , assim como também ocorreu entre os discípulos de João Batista que vieram a ser crentes em Êfeso (At 10:46; 19:6). (Ver mais -► Pentecoste; Espírito; Outro» art. allos, heteros NT 2).

(c) Estas manifestações eram, sem dúvida, de tipos diferentes, visto que, para Jerusalém, Lucas descreve o falar em línguas como uma pregação do evangelho (apophthmgesthai* “declarar abertamente” , “dirigir-se a alguém com entusiasmo”, At 2:4, 14) dirigida às pessoas em idiomas estrangeiros, ou pelo menos dialetos; em Cesaréia, Êfeso e Corinto, no entanto, tratava-se provavelmente de louvor e adoração que se dirigiam a Deus em tons inarticulados. O que há em comum é a convicção de que estes fenômenos estão arraigados, não na excitabilidade da piedade humana, mas, sim, na obra do Espírito Santo, e que contribuem à glorificação e à adoração a Deus. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, 1509-1510.



No mínimo, Paulo certamente considera as línguas como sendo primariamente um assunto particular entre o homem e Deus (14:2-6, 16, 19, 23, 28), mas, como concessão, ele permite um máximo de duas ou três expressões em público, na condição de haver alguém presente para interpretá-las (14:27, 28). O princípio básico que se expressa nestas passagens é a importância da racionalidade e da inteligibilidade no culto público. Somente aquilo que é inteligível pode edificar a igreja (14:1-6, 19, et passim; c f mais em J. P. M. Sweet, “A Sign for Unbelievers: PauFs Attitude to Glossolalia”, NTS 13, 1966-7, 240-57; e comentários sobre 1 Co, ad loc.).Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p. 780




O resultado de serem cheios do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, foi darem testemunho de Jesus — através das línguas e da pregação de Pedro. Interessante detalhe é que nos outros acontecimentos narrados em Atos nos quais há “glossolalia” , o fenômeno parece ser diferente do de Pentecostes. “Não há sugestão no resto do livro que o dom de línguas foi repetido como uma ajuda lingüística para os esforços missionários da Igreja. Em outras palavras, o dom de línguas não facilitou a subseqüente pregação do evangelho, providenciando um meio de comunicação da mensagem” (D. Guthrie, op. cit, pág. 538). Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p.727-728


 (a) A citação em 1 Co 14:21, de Is 28:11-12 (en heteroglõssois, “por homens de outras línguas”), que originalmente se referia a um idioma humano estrangeiro, é aplicada por Paulo à “glossolalia”, que os descrentes não entendem. Em Corinto, membros da congregação se sentiam impulsionados pelo Espírito Santo para vociferar orações, louvores e ações de graça no Espírito, de modo desarticulado e entusiástico (1 Co 14; 14 e segs.). Este falar em línguas era o transbordar de uma possessão elemental do indivíduo e uma forma distinta da adoração individual (1 Co 14:2, 28b). Visto que este louvor e estas orações em línguas não eram entendidos por outros, o falar em línguas não contribuía à edificação e ao fortalecimento da congregação (1 Co 14:5). ([Ed.] Paulo pode até dizer que as línguas são um sinal para os descrentes [1 Co 14;22]. A citação de ls 28:11-12 considera a presença de pessoas que falam em línguas estrangeiras como sinal de julgamento, o que poderia subentender julgamento contra a igreja, se todos falassem em línguas sem ninguém para interpretar. De qualquer maneira, os de fora tirariam a conclusão de que se tratava de loucura [v. 23]. A profecia, no entanto, pode operar graciosamente, ao convencer do pecado e ao levar ao arrependimento e à verdadeira adoração [w. 24-25].).1509


No caso da interpretação de línguas, parece que Paulo não está pensando em termos de traduzir um idioma para o outro, o que pressuporia que as “línguas” tinham um esquema coerente de gramática, de sintaxe e de vocabulário. Pelo contrário, parece que a interpretação aqui é mais semelhante ao discernimento daquilo que o Espírito está dizendo através de quem fala em línguas. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,1509


 A glossolalia se identifica explicitamente como as línguas que falavam estes judeus estrangeiros (2:4, 6, 8, 11; cf. 1 Co 13:1; contrastar, porém, 1 Co 14:2; Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,1641



"A Pítia era chamada prophètis, mas tinha o título adicional de promantis (Eur., Ton 681; Hdt., 6, 66). Este cargo pertencia originalmente a uma, duas ou três moças tiradas da população local, mas, pelo menos em tempos posteriores, a Pítia era de idade avançada. A Pítia sentava-se num tripé em cima de uma cavidade na terra, de onde emergia um “espírito oracular” (pneuma mantikon) na forma de fumaça, dandolhe a inspiração. Esta aumentava quando ela mastigava folhas de louro (a planta de Apolo). Como resultado, irrompia em sons inarticulados enigmáticos, semelhantes à glossolalia (-* Palavra, art. glóssa).Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, 1877


2- Uma língua extática, pode conter uma mensagem, um conteúdo cognitivo?

Sim, a língua extática pode conter uma linguagem codificada. Veja a explicação de D.A Carson

"Pesando tudo isso, então, a evidência favorece a posição de que Paulo considerava o dom de línguas um dom de idiomas existentes, ou seja, de línguas que eram cognitivas, fossem elas de homens ou de anjos. Além disso, se ele sabia dos detalhes de Pentecostes (atualmente, uma opinião impopular no mundo acadêmico, mas totalmente defensável em minha opinião), seu entendimento sobre línguas deve ter sido moldado, até certo ponto, por esse evento.27 28 Certamente as línguas em Atos exerceram algumas funções diferentes das que eram exercidas em ICoríntios; mas não há evidência substancial que sugira que Paulo pensasse as duas como essencialmente diferentes.

Que peso tem a linguística nas avaliações do falar em línguas atual? No meu entendimento, há concordância universal entre os linguistas que gravaram e analisaram milhares de exemplos atuais de pessoas falando em línguas de que o fenômeno contemporâneo não é nenhum idioma humano.29 * Os padrões e as estruturas exigidos por todo idioma humano conhecido simplesmente não estão presentes nesses exemplos. Ocasionalmente, uma palavra reconhecível escapa; mas isso é estatisticamente provável, dado o grande volume de verbalização. A conclusão de Jaquette é inevitável: “Não estamos lidando aqui com idioma, mas sim com verbalizações que superficialmente lembram um idioma em certos aspectos estruturais”.30" 

26Gundry, ‘“Ecstatic Utterance’”, 304.

27Alguns autores, entre eles Jimmy A. Millikin, “The Nature of the Corinthian Glossolalia”, Mid-America TheologicalJournal 8 (1984): 81-107, argumentaram que as línguas em Corinto eram formas degenerativas das línguas em Atos, uma mistura estranha de palavras reais e sons inarticu- lados. Contudo, Paulo, em nenhum lugar de ICoríntios 12—14, trata o dom como se fosse em si degenerativo. Não é o dom, mas o peso dado a ele pelos coríntios que é o foco do ataque de Paulo.

28Ou, mais precisamente, que as línguas carregam conteúdo cognitivo, independentemente de esse conteúdo ser entendido pelo falante ou pelo ouvinte. Veja Abraham Kuyper, The Work 0/ the Holy Spirit, trad. Henri de Vries (edição reimpressa, Grand Rapids: Eerdmans, 1975), 132-38.

29 Veja especialmente os trabalhos muito citados de W J. Samarin, Tongues of Men and Aigels: The Religious Language of Pentecostalism (Nova York: Macmillan, 1972); idem, Variation and Variables in Religious Glossolalia: Language in Society (Londres: Cambridge University Press, 1972).

30 J. R. jaquette, “Toward a Typology of Formal Communicative Behaviors: Glossolalia”,

Anthropological Linguistics 9 (1967): 6.


Quando se realizaram estudos sobre falar em línguas em diferentes culturas e ambientes linguísticos, diversas conclusões surpreendentes apareceram.31 O fenômeno do falar em línguas relaciona-se com o idioma natural do falante (e.g., um alemão ou um francês que fale em línguas não usará um dos dois sons de “th” do inglês; e um falante de língua inglesa jamais incluirá o som de “u” do francês “cru”). Além disso, o discurso estereotipado de qualquer cultura “reflete o discurso da pessoa que guiou o glossolalista para tal comportamento. Há pouca variação de padrões de som dentro do grupo que se levanta em volta de um guia específico”,32 mesmo quando outros estudos mostram que padrões de línguas de cada falante geralmente são identificáveis em outros oradores e algumas poucas pessoas usam um ou dois padrões mais distintos.33 Seja como for, as línguas atuais, em.termos lexicais, são não comunicativas, e os poucos exemplos de casos de xenoglossia atuais são tão mal atestados que nenhum peso pode ser colocado neles.

O que procede dessa informação? Para alguns, a evidência é tão forte a ponto de concluírem que a única posição bíblica é que nenhum dom de línguas contemporâneo conhecido é biblicamente válido, e o ideal é que toda essa prática deveria parar imediatamente.34 35 Para outros, como Packer, o falar em línguas atual não é como o falar descrito na Bíblia, portanto seus praticantes contemporâneos não deveríam dizer que seu dom está de acordo com o Pentecostes ou com Corinto; contudo, o atual fenômeno parece fazer mais bem do que mal, tem ajudado muitos crentes no que diz respeito a adoração, oração e compromisso, e, por isso, deve- ria talvez ser avaliado como um bom dom de Deus, apesar de não ter nenhuma garantia bíblica explícita.33 Não consigo imaginar uma forma mais adequada para desagradar ambos os lados do atual debate.

Será que conseguimos ir além desse impasse? Acredito que sim, se os argumentos de Poythress forem considerados. Como, pergunta ele, as línguas podem ser percebidas? 

31Veja Felicitas D. Goodman, Speaking in Tongues: A Cross-Cultural Study of Glossolalia (Chicago: University of Chicago Press, 1972).

31Ibid., 123.

33Virginia H. Hine, “Pentecostal Glossolalia: Toward a Functional Interpretation”, Journal for the Scientific Study of Religion 8 (1969): 212.

34E.g., John F. Mac Arthur, Jr., The Charismatics: A Doctrinal Perspective (Grand Rapids: Zondervan, 1978), especialmente 156ss. [Publicado no Brasil por Editora Fiel sob o título Os carismáticos: urn panorama doutrinário.].

35J. I. Packer, Keep in Step with the Spirit (Leicester: Inter-Varsity; Old Tappan, N.J.: Revell, 1984), 207ss, [Publicado no Brasil por Edições Vida Nova sob o título Na dinâmica do Espírito.].


Há três possibilidades: 1-sons desconexos, reprodução exacerbada de palavras e coisas parecidas que não se confundem com idiomas humanos; 2- sequências relacionadas de sons que parecem ser idiomas existentes e desconhecidos ao ouvinte não treinado em linguística, embora não sejam; e 3 - idiomas existentes conhecidos por um ou mais dos ouvintes em potencial, mesmo que sejam desconhecidos do falante.36 Acrescentaria uma quarta possibilidade, que foi tratada posteriormente por Poythress, ainda que não tenha sido classificada por ele até aqui: padrões de fala suficientemente complexos a ponto de poderem carregar todos os tipos de informação cognitiva em algum tipo de ordem codificada, ainda que linguisticamente esses padrões não sejam identificáveis como idioma humano.

O nosso problema até aqui é que as descrições bíblicas de línguas parecem exigir a terceira possibilidade, mas o fenômeno contemporâneo parece se enquadrar melhor na segunda possibilidade; e esse par nunca convergirá. Todavia, a quarta possibilidade é também logicamente possível, ainda que comumente seja ignorada; e ela satisfaz as restrições tanto daquilo que é apresentado nos documentos bíblicos do primeiro século quanto de alguns dos fenômenos atuais. Não entendo como isso possa ser ignorado.

Considere, então, a descrição linguística de Poythress sobre glossolalia:

Vocalização livre (glossolalia) ocorre quando: (1) um ser humano produz uma sequência relacionada de sons pronunciados; (2) não consegue identificar a sequência de som como pertencente a nenhuma língua natural que ele já saiba falar; (3) não consegue identificar e dar o significado das palavras ou morfemas (unidades lexicais mínimas); (4) no caso de falas com mais do que poucas sílabas, ele tipicamente não conseguiría repetir a mesma sequência de sons se lhe pedissem isso; (5) um ouvinte ingênuo pode supor que seja um idioma desconhecido.37 38

36Vern S. Poythress, “The Nature of Corinthian Glossolalia: Possible Options”, Westminster Theological Journal 40 (1977): 131. Veja também o cuidadoso trabalho de Francis A. Sullivan, “Speaking in Tongues”, Lumen Vitae 31 (1976): 145-70.

37Vern S. Poythress, “Linguistic and Sociological Analyses of Modern Tongues-Speaking: Their Contributions and Limitations”, Westminster Theological Journal 42 (1979): 369.

38Ibid., 375.

O passo seguinte é crucial. Poythress nos relembra que tais vocalizações livres ainda podem carregar conteúdo além de uma imagem vaga do estado emocional do falante. Ele oferece sua própria ilustração criativa;3* inventarei outra. Imaginem que a mensagem é:

Louvai ao Senhor, pois seu amor dura para sempre”.

Ao retirarmos as vogais, obtemos:

LV SNHR PS S MR DR PR SMPR.

Isso pode parecer um pouco estranho; contudo, quando nos lembramos que o hebraico moderno é escrito quase sem vogais, podemos imaginar que, com certa prática, isso podería ser lido com bastante tranquilidade. Agora, remova os espaços e, começando pela primeira letra, reescreva a sequência usando cada terceira letra repetidamente por toda a sequência até que todas as letras sejam usadas. O resultado é:

LNPMRSRSRSDRPVHSRPM.

Agora adicione um som de “a” depois de cada consoante e divida arbitraria- mente a unidade em pedaços:

LANAPA MARA SARASARA SADARA PAVA HASARA PAMA.

Acredito que isso não é diferente das transcrições de certas línguas atuais. Certamente é muito parecido com algumas que já ouvi. Mas a questão importante é que isso transmite informação, desde que você conheça o código. Qualquer um que conheça os passos que dei podería revertê-los a fim de voltar à mensagem original. Como Poythress afirma, portanto é sempre possível para a pessoa carismática reivindicar que o falar L [em línguas] é uma linguagem codificada e que somente ao intérprete de línguas é dada a ‘chave’ sobrenatural para decifrá-la. É impossível para um linguista, não somente na prática, mas ainda mais na teoria, encontrar um meio de testar essa reivindicação”.39

39Ibid., 375-76.

Parece, então, que as línguas podem carregar informação cognitiva mesmo sem ser um idioma humano conhecido — assim como a “linguagem” de um programa de computador possui uma grande quantidade de informação, ainda que não seja uma “língua” realmente falada por alguém. Tal padrão de verbalização não podería ser desprezado de forma legítima como se fosse uma linguagem sem nexo. Ele é tão capaz de possuir conteúdo proposicional e cognitivo, assim como qualquer outro idioma humano conhecido. “Língua” e “idioma” ainda parecem ser palavras eminentemente razoáveis para descrever o fenômeno. Isso não significa que todo fenômeno atual do falar em línguas é, portanto, biblicamente autêntico. Significa que há uma categoria de fenômeno linguístico que possui conteúdo cognitivo, que pode ser interpretada e que parece se adequar às características das descrições bíblicas, ainda que não seja um idioma humano conhecido. Claro que isso não se aplica às línguas de Atos 2, em que o dom consistiu de idiomas humanos conhecídos; todavia, em outros lugares, a opção não parece ser tão simples quanto “idioma humano” ou “linguagem sem nexo”, como muitos escritores não carismáticos afirmam. Na verdade, o fato de Paulo poder falar de variedade de línguas (12.10,28) pode sugerir que, em algumas ocasiões, idiomas humanos foram falados (como em Atos 2) e, em outros casos, não — apesar de, no último caso, as línguas ainda serem vistas como carregando conteúdo cognitivo. A manifestação do Espírito. D. A Carson. São Paulo:Vida Nova, 2013,p. 85-89


3- O uso privado (em particular) contradiz a edificação coletiva dos dons?

 1-Paulo diz que o que fala pelo Espírito uma língua é edificado mesmo não conhecendo  o significado da sua fala ou oração:

1 Co 14:2  Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.

:3  Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando.

4  O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja.

5  Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação.

6 ¶ Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?

7  É assim que instrumentos inanimados, como a flauta ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos, como se reconhecerá o que se toca na flauta ou cítara?

8  Pois também se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha?

9  Assim, vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis ao ar.

10  Há, sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo; nenhum deles, contudo, sem sentido.

11  Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim.

12  Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja.

13  Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar.

14  Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.

15 ¶ Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.

16  E, se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes;

17  porque tu, de fato, dás bem as graças, mas o outro não é edificado.

2- Paulo fazia o uso PRIVADO da língua mais que todos

18  Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós.

19  Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua.

“Todavia”, continua ele, “prefiro falar na igreja cinco palavras que se podem compreender, a fim de também instruir os outros, a falar dez mil palavras em uma língua” (v. 19).
Não há defesa mais firme para o uso privado do falar em línguas do que essa, e tentativas de evitar essa conclusão se tornam marcantemente insignificantes sob exame.9s Se Paulo fala em línguas mais do que todos os coríntios e, mesmo assim, ainda prefere falar na igreja cinco palavras inteligíveis a dez mil palavras em uma língua (um modo de dizer que Ele não falará em línguas na igreja, praticamente em qualquer situação, mesmo sem eliminar totalmente a possibilidade), então onde é que ele as fala?
 A manifestação do Espírito. D. A Carson. São Paulo:Vida Nova, 2013,p. 107.


3- Temos exemplos de outros dons (além dos 9 de 1 Co 12:2-10) como o dom de celibato e as próprias revelações pessoais de Paulo:

 Como veremos, alguns querem desconsiderar a legitimidade de qualquer uso privado do falar em línguas com base nesse texto e em outros similares: “Qual seria o benefício para toda a comunidade”, perguntam eles, “do uso privado do falar em línguas”? Obviamente, não existe nenhum benefício direto: ninguém, a não ser Deus, ouve o que é dito. Todavia, a Paulo foram concedidas visões e revelações extraordinárias que objetivavam somente seu benefício imediato (2Co 12.1-10); contudo, certamente a igreja recebeu ganhos indiretos, pois essas visões e revelações, para não mencionar a questão do espinho na carne, o capacitaram mais para seu ministério e proclamação. Do mesmo modo, é difícil ver como o versículo 7 do capítulo em estudo torna ilegítimo o uso privado do falar em línguas se o resultado é uma pessoa melhor, um cristão com mais consciência espiritual: a igreja pode sim receber benefícios indiretos. O versículo elimina a possibilidade de algum χάρισμα (charisma) para engrandecimento pessoal ou meramente para satisfação pessoal; ele não elimina a possibilidade de benefício individual (assim como o casamento, um dos χαρίσματα [charismata] de acordo com ICo 7.7, pode beneficiar o indivíduo), desde que o resultado final seja o benefício comum. O contexto não demanda nada mais que isso. A manifestação do Espírito. D. A Carson. São Paulo:Vida Nova, 2013,p. 37.


4- O dom de línguas no livro de Atos- evangelização?

Os textos que mencionam claramente e não implicitamente (como At 8) São Atos 2, 10 e 19, e em nenhum deles a pregação foi com dom de línguas:


Em Atos 2  vemos:

  •  os discípulos falando em idioma materno dos peregrinos,
  •  som como de um vento
  • visão de línguas como que de fogo
  • falando das grandezas de Deus.
  • Pedro evangelizando os judeus não por meio do dom de línguas, mas por meio da pregação no vernáculo (língua comum aos ouvintes- aramaico ou grego)

At 2:1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;

2  de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados.

3  E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles.

4  Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.

5 ¶ Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu.

6  Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua.

7  Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando?

8  E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?

9  Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia,

10  da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem,

11  tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?

12  Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer?

13  Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados!

14 ¶ Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras.
15  Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia.
16  Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel:
17  E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos;
18  até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.

Em Atos 10 temos:

  • pregação de Pedro
  • dom de línguas engrandecendo a Deus

At 10:44 ¶ Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.

45  E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo;

46  pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro:

At 11:13  E ele nos contou como vira o anjo em pé em sua casa e que lhe dissera: Envia a Jope e manda chamar Simão, por sobrenome Pedro,

14  o qual te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa.

15  Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio.

16  Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo.


Em Atos 19 temos:

Pregação

Dom de línguas e profecia

At 19:3  Então, Paulo perguntou: Em que, pois, fostes batizados? Responderam: No batismo de João.
4  Disse-lhes Paulo: João realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que vinha depois dele, a saber, em Jesus.
5  Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus.
6  E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam.
7  Eram, ao todo, uns doze homens.

Ainda que essas línguas tenham sido idiomas humanos reais e mensagens cognitivas comunicadas, não é nada claro que tais mensagens fossem essencialmente evangelísticas. Somos informados de que a multidão ouviu aqueles que falavam em línguas declarando as “grandezas de Deus” (2.11; τά μεγαλεία του θεού, ta mega I ela ton theou). A forma verbal da mesma expressão ocorre em 10.46 (καί μεγαλυνόντων τον θεόν, kai megalynontõn ton theon) e 19.17 (καί έμεγαλύνετο το όνομα του κυρίου ’Ιησού, kai emegalyneto to onoma ton kuriou Iêsou), em que se trata da adoração, e não do evangelismo per sc. De forma semelhante, no capítulo 2, as pessoas ouvem adoração em seu próprio idioma, contudo isso gera questionamentos (simpatizantes e contrários), e não conversões. E a pregação de Pedro, presumivelmente em aramaico, que leva a milhares de conversões;14 as línguas em si, creio, constituem o que o jargão moderno chamaria de pré-evangelismo A manifestação do Espírito. D. A Carson. São Paulo:Vida Nova, 2013, p. 144

 Todavia, as línguas em Atos 2 estão em desigualdade com as de ICoríntios 12—14, pelo fato de os descrentes as entenderem, mesmo que sem nenhuma demonstração do dom de interpretação. Contudo, esse é o único lugar no Novo Testamento em que elas desempenham essa função. O que acredito que fica claro é que não carismáticos que buscam fazer do uso evangelístico das línguas seu propósito normativo e exclusivo estão duplamente enganados: as línguas não são primariamente evangelísticas, mesmo em Atos 2, e, mesmo assim, essa é a única passagem em que línguas não interpretadas são entendidas até pelos que não creemA manifestação do Espírito. D. A Carson. São Paulo:Vida Nova, 2013, p. 145


5- O dom de línguas em Corinto era para pregação do evangelho?

Não,. o dom de línguas era:

  •  dirigido a Deus (em contraste ao dom de profecia v. 3)-  em oração para edificação pessoal v.2,14, 15
  • dirigido a Deus- em  louvor v.2,15, 17
  • em espírito (a inspiração não brota do entendimento /mente) v. 2,14-16
  • edificação coletiva- quando acompanhado de interpretação mediante o dom. Neste caso a mensagem da língua (conteúdo) pode ser a interpretação da oração, louvor, ou mesmo como uma profecia v.5


1 Co 12:1 ¶ Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis.

2  Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.

3  Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando.

4  O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja.

5  Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação.

6 ¶ Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?

7  É assim que instrumentos inanimados, como a flauta ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos, como se reconhecerá o que se toca na flauta ou cítara?

8  Pois também se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha?

9  Assim, vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis ao ar.

10  Há, sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo; nenhum deles, contudo, sem sentido.

11  Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim.

12  Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja.

13  Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar.

14  Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.

15 ¶ Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.

16  E, se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes;

17  porque tu, de fato, dás bem as graças, mas o outro não é edificado.

18  Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós.

19  Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua.

20  Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos.

21 ¶ Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor.

22  De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e sim para os que crêem.

23  Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?

24  Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado;

25  tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós.

26 ¶ Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.

27  No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete.

28  Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.


A pessoa que fala em línguas, em um primeiro momento, não fala aos homens, mas com Deus. Ninguém a entende (14.2). Alguns não carismáticos tentam reduzir o escopo desse “ninguém” para “ninguém que não conheça o idioma (humano) que está sendo falado”.“ Isso dificilmente é uma possibilidade; uma vez que a linha anterior [14.2-3] estabelece um contraste entre discursos direcionados a pessoas e discursos direcionados a Deus, parece mais natural entender o “ninguém” de uma forma mais ampla. O conteúdo desse falar em línguas é “mistérios”. A palavra pode ter sido usada aqui de uma maneira não técnica, para sugerir que “o falante e Deus com- partilham verdades escondidas que outros não têm permissão de compartilhar”.86 87 88 Em contraste, quem profetiza edifica, exorta e consola outros. Isso não significa que a profecia é o único dom que possua essas virtudes: o ensino e o falar em línguas que é interpretado também as têm. Em outras palavras, essas funções da profecia não a definem.™ O contexto especifica que a questão é a inteligibilidade: entre os dons espirituais em que o ato de falar está presente (outros como o de contribuição ou de administração não estão sendo considerados), somente aqueles que são inteligíveis levam à edificação imediata da igreja. De fato, aquele que fala em línguas edifica a si mesmo (14.4);89 contudo, essa é uma perspectiva muito estreita para os que meditaram em ICoríntios 13. A manifestação do Espírito. D. A Carson. São Paulo:Vida Nova, 2013,p. 103-104


 O versículo 14 não introduz um novo assunto, uma mudança do falar em línguas para o orar em línguas, pois 14.2 já estabeleceu que falar em línguas é direcionado, sobretudo, a Deus. Em outras palavras, falar em línguas é um tipo de oração. Paulo reconhece que tal oração é uma oração válida — seu espírito está orando — mas sua mente continua “infrutífera”. Isso pode significar que tal oração não oferece benefício mental, intelectual e cognitivo; todavia, pode significar que, sob tais circunstâncias, uma vez que a sua mente não está envolvida na ação, não se produzem frutos nos ouvintes — o que fica pressuposto é que a edificação dos ouvintes requer inteligibilidade de discurso, e a inteligibilidade do discurso, por sua vez, requer que a mente do falante esteja engajada. A manifestação do Espírito. D. A Carson. São Paulo:Vida Nova, 2013

 p. 106


6- Há diferença no cérebro entre orar num idioma usando a linguagem articulada e o falar em linguas?

https://www.youtube.com/watch?v=tDiPCK15P5M

Quando a pessoa fala em línguas (pelo Espírito Santo) o lobo frontal cessa a atividade.

Quando a pessoa ora, ou medita, ou inventa sons (controle intencional) ela usa o lobo frontal.

Em 2006, o Dr. Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, usando tomografia computadorizada de emissão de fóton único (SPECT), descobriu que o lobo frontal de indivíduos que falavam em línguas era muito menos ativo. Esse perfil cerebral contrastava com as freiras franciscanas na oração contemplativa e os monges budistas na meditação, em que a atividade do lobo frontal é aumentada. Uma vez que a atividade do lobo frontal é aumentada quando estamos focados no que estamos dizendo, esse achado confirma os autorrelatos do que as pessoas que falaram em línguas experimentaram, implicando que as palavras faladas na glossolalia se originam de uma fonte diferente da mente do indivíduo falando em línguas.

Testamos várias hipóteses sobre glossolalia: (1) sabe-se que os lobos frontais estão envolvidos em controle intencional de comportamentos (Frith et al., 1991; Pardo et
al., 1991).....É interessante que os lobo frontais mostraram diminuição da perfusão durante a glossolalia, mas isso é consistente com a descrição dos sujeitos de um falta de controle intencional sobre o desempenho de glossolalia. ... Andrew B. Newberg et al., The measurement of regional cerebral blood flow during glossolalia: A preliminary SPECT study, Psychiatry Research: Neuroimaging (2006), doi:10.1016/j.pscychresns.2006.07.001.

A glossolalia produziu um padrão significativamente diferente de atividade cerebral em comparação ao canto, relata a equipe na edição de novembro da Psychiatry Research: Neuroimaging. Talvez a diferença mais importante seja a diminuição da função do lobo frontal, diz Newberg. "A parte do cérebro que normalmente os faz sentir no controle foi essencialmente desligada." Outra mudança notável foi o aumento da atividade na região parietal - a parte do cérebro que "recebe informações sensoriais e tenta criar um senso de identidade e de como você se relaciona com o resto do mundo", diz Newberg. As descobertas fazem sentido, diz Newberg, porque falar em línguas envolve abrir mão do controle enquanto obtém uma "experiência muito intensa de como o eu se relaciona com Deus". Curiosamente, ele observa, as respostas da glossolalia foram o oposto daquelas vistas em indivíduos em um estado meditativo. Quando as pessoas meditam sobre um determinado objeto sagrado, Newberg descobriu que a atividade do lobo frontal aumenta, enquanto sua atividade parietal diminui. Isso está de acordo com a noção de que na meditação a pessoa tem um foco controlado enquanto perde o senso de identidade. https://www.sciencemag.org/news/2006/11/tongues-mind acesso em 01/01/2021


7- O dom de línguas cessou? Os dons cessaram? 

Como vimos acima o dom de linguas basicamente é um dom para oração, será que as pessoas hoje precisam deste dom menos que nos dias de Cristo?

http://averacidadedafecrista.blogspot.com/2014/07/batismo-no-espirito-santo-o-carater.html


sábado, 5 de dezembro de 2020

Revolução Científica- contribuição cristã





Por que a ciência moderna surgiu somente no século XVI?


Fundação do método científico
"Francis Bacon (1561-1626) e Galileo Galilei (1564-1642) são considerados fundadores do método científico - a confiança na observação empírica sobre lógica humana ou autoridade.34 Ambos sustentavam a verdade dos dois livros de Deus - o livro da natureza e o livro da Palavra de Deus, a Bíblia. Ambos os livros tinham que ser estudou para entender melhor a Deus. Em 1603, Francis Bacon, Lord Chanceler de Inglaterra e um dos  fundadores da Royal Society, escreveu, citando Jesus: Pois nosso Salvador disse: “Você erra, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus”, [Mateus 22:29 KJV] colocando diante de nós dois livros ou volumes para estudar, se formos protegidos do erro: primeiro o Escrituras, revelando a vontade de Deus, e então as criaturas [ciências naturais] expressando seu poder, do qual o último é uma chave para o primeiro: não apenas abrindo nosso entendimento para conceber o verdadeiro sentido das Escrituras pelas noções gerais de razão e regras de linguagem, mas principalmente abrindo nosso crença, em nos levar a uma devida meditação da onipotência de Deus, que é principalmente assinada e gravado em Suas obras. 35

 Da mesma forma, em 1615 Galileu escreveu: Pois a Bíblia Sagrada e os fenômenos da natureza procedem igualmente da palavra divina, a primeira como o ditame do Espírito Santo e este último como o executor observador da ordem de Deus.36
35. Francis Bacon, The Advancement of Learning (London: Henrie Tomes, 1605). The 1893 edition by
David Price (Cassell & Company) is online at www.fullbooks.com.
36. Galileo Galilei, “Letter to the Grand Duchess Christina of Tuscany, 1615.” O livro que fez o  seu mundo. Vishal Mangalwadi. São Paulo:Vida, 2012 p. 281

A Reforma Protestante despertou o interesse popular em descobrir e conhecer a verdade, e isso impulsionou a ciência. Os Reformadores levaram a sério a exortação de Cristo que o conhecimento da verdade libertaria.59 Lutero enfatizou a ideia bíblica do sacerdócio de todos os crentes.60 Consequentemente, todos os seres humanos devem fazer tudo para a glória de Deus.61 Uma vez que tudo existe para a glória de Deus, 62 e os céus declaram sua glória, 63 é direito do  povo de Deus estudar todas as coisas, incluindo os céus. Assim, quase todos os pioneiros da ciência eram cristãos e a maioria deles eram devotos Cristãos. Eles estavam trabalhando para a glória de Deus. Idem , p. 287

"Quando os antigos tentaram explicar o mundo, eles usaram a intuição, a lógica, criação de mitos, misticismo ou racionalismo - separado da observação empírica. Por exemplo, a lógica baseada na intuição de Aristóteles (384-322 aC) postulou que se você derrubar duas pedras de um penhasco, então uma pedra duas vezes mais pesada cairia duas vezes mais rápido como a pedra mais leve. Nenhum erudito aristotélico - grego, egípcio, romano, Cristão ou Muçulmano - realmente testou a teoria de Aristóteles, descartando dois pedras. Finalmente, Galileo Galilei (1564-1642 DC) fundamentado na Bíblia, na verdade testou e refutou a suposição de Aristóteles, mostrando que duas bolas de massa diferente pousou junto. * Intuição, lógica, observação, experimentação, informação, técnicas, especulação, e o estudo de textos oficiais existiam antes do século XVI.

Por si só, não constituem ciência sustentável. Se alguém insiste que as descobertas antigas provam que a ciência antecede a Bíblia, então é preciso Admita que as culturas não-bíblicas sufocaram e mataram esse começo louvável. Somente na Europa a astrologia se transformou em astronomia, a alquimia em química e matemática na linguagem da ciência. Então, apenas nos séculos XVI e XVII - depois que a mente cristã ocidental levou a sério o mandamento da parte de Deus: “Sede fecundos e multiplicai-vos e enchei a terra e subjugai-a: e tem domínio sobre os peixes do mar, e sobre as aves do ar, e sobre toda coisa vivente que se move sobre a terra. ”13 A ordem de governar sobre a terra estava na Bíblia por alguns milhares anos. Por que não havia ciência sustentável até o século XVI? 

O professor Harrison disse que a ciência começou quando os cristãos começaram a ler a Bíblia literalmente: Somente quando a história da criação foi despojada de seus elementos simbólicos, a ordem de Deus para Adão esteja relacionado às atividades mundanas. Se o Jardim do Éden fosse apenas uma alegoria elevada, como Filo, Orígenes, e mais tarde Hugo de São Victor sugeriram, não haveria muito sentido em tentar restabelecer um paraíso na terra. Se a ordem de Deus a Adão para cuidar do jardim teve principalmente significado simbólico, como Agostinho acreditava, então a ideia de que o homem deveria restabelecer o paraíso através da jardinagem e agricultura simplesmente não teria se apresentado tão fortemente para o mente do século XVII.14


Perseguição religiosa x científica

A Igreja perseguiu alguns indivíduos, como Galileu, que eram cientistas. Mas a Igreja é muito mais culpada de queimar Bíblias, tradutores da Bíblia e teólogos, do que proibir livros de ciência ou assediar cientistas. É o cristianismo assim, oposto à teologia ou não responsável por compilar, preservar e propagando a Bíblia? Os líderes religiosos em meu país, a Índia, nunca perseguiram um Galileu. Faz isso me dê o direito de me gabar? Bem no século XIX, nossos professores ensinaram - em uma faculdade financiada pela Grã-Bretanha - que a Terra assentou nas costas de uma grande tartaruga! 15 Nunca perseguimos um Galileu porque a Índia hindu, budista ou animista nunca produziu um. Aqueles que não têm filhos nunca experimentam conflito com seus adolescentes.

 A Igreja não executou cientistas por causa da ciência destes. Os conflitos (“Heresias”) eram teológicas, morais, sociais, pessoais, políticas ou administrativo. A ciência nasceu na universidade, uma instituição inventada por a Igreja. Quase todos os primeiros cientistas trabalharam em universidades relacionadas à Igreja, supervisionadas por bispos. Muitos deles eram teólogos e exegetas bíblicos. Giordano Bruno (1548–1600) é frequentemente considerado um cientista morto pela Igreja. A Igreja o via como um monge renegado e um feiticeiro hermético, que fez um pouco de astronomia, mas não fez nenhuma contribuição para a ciência. Bruno ensinou uma filosofia  especulativa e imanentista * de uma alma do mundo com um número infinito de mundos. Seu o imanentismo, da Grécia e do Islã, atrasou a ciência." O livro que fez o  seu mundo. Vishal Mangalwadi. São Paulo:Vida, 2012 p. 267-270

Galileu, como Copernico e Kepler, era um homem de fé profunda” (O universo numa camiseta. Editora Glogo, p. 77). Galileu Galilei declarou: “Eu acho que... é muito piedoso e prudente afirmar que a Bíblia sagrada jamais pode afirmar inverdades- sempre que o seu verdadeiro sentido é compreendido... Mas acredito que ninguém irá negar que ele é, muito frequentemente, obscuro, e pode  querer dizer coisas muito diferentes do significado das simples palavras.” (idem p. 78)

“A passagem de Josué, disse Galileu, concorda perfeitamente com a descrição copernicana- mas o autor da passagem, tentando manter as coisas simples para os pastores e lavradores que iriam ouvir a narrativa, contou a história como se vivêssemos em um universo cujo centro fosse a Terra. Como poderíamos colocar hoje em dia, eles a ‘tornaram mais acessível às massas’. Como as autoridades da Igreja, Galileu acreditava que a Escritura jamais poderia estar errada.”


“...a experimentação e a análise matemática, em conjunto, seriam a espinha dorsal da ciência. Creditamos a Galileu o nascimento dessa ideia, uma noção que encontraria o sue maior defensor na obra de um inglês- um rapaz de Lincolshire [Newton], nascido um mês apenas após a morte de Galileu. ( Idem p. 82). Essa estratégia, inaugurada por Galileu e firmemente estabelecida por Newton, é agora chamada de método científico” (p.91)



"Que na Escritura Sagrada se obtém muitas proposições falsas quanto ao sentido nu das palavras; Que na disputa natural ela reservada ser reservada no último lugar; Que a Escritura, para acomodar-se a capacidade do povo, não se abstém de perverter seus principais dogmas, atribuindo, assim, ao mesmo Deus condições longínquas e contrárias à sua essência; Quer que, de certo modo, prevaleça nas coisas naturais o argumento filosófico ao fim do sacro; Que o comando feito por Josué ao Sol, que parasse, se deve intender feito não ao Sol, mas ao primeiro móvel, quando não se mantém o sistema de Copérnico 
FAVARO, A. (ed.).Le Opere di Galileo Galilei : Edizione Nazionale sotto gli auspici di Sua  Maestà il Re d„Italia. Florença: Barbèra , 1907. v. XIXFAVARO, A. (ed.).



No Diálogo sobre os Dois Grandes Sistemas Mundiais (1632), Galileu menosprezou os Aristotélicos e defendeu Copérnico  com uma tese, não como uma hipótese. Depois que o  Diálogo recebeu autorização de ser publicado,  a Liga acusou Galileu de ter colocado o tolo Simplicio como  uma figura das opiniões do  Papa Urbano sobre cosmologia. Galileu era amigo pessoal de papa Urbano VIII; no entanto, zombando de seu protetor e rejeitando conselho passou dos limites. Convocado novamente, Galileu voltou a Roma, embora Veneza ofereceu-lhe asilo e a Alemanha poderia tê-lo abrigado. * A Inquisição (1633) encontrou poucos erros teológicos, mas baniu a Diálogo e condenou-o por violar regras não publicadas de 1616. Tradutores da Bíblia como Tyndale foram enforcados e queimados. Galileu, o cientista, teve sua sentença comutada para prisão domiciliar, organizada pelo arcebispo de Siena. Ele voltou para sua própria villa em Arceti sob supervisão, o que lhe permitiu terminar suas Duas Novas Ciências (1638). O Vaticano permitiu que o Diálogo de Galileu fosse impresso em 1743 e retirado formalmente sua proibição em 1822.  O livro que fez o  seu mundo. Vishal Mangalwadi. São Paulo:Vida, 2012 p271

"Entre as diferentes propostas que foram apresentadas ao longo dos anos, estudiosos da história das ciências reconhecem que o cristianismo proporcionou o ambiente ideal para a realização de atividades científicas. Conforme já foi sugerido, a doutrina cristã da criação proporcionou um ambiente favorável para o desenvolvimento da pesquisa científica. Ao contrário das religiões  orientais e politeístas, cujas cosmovisões promovem uma identificação entre a divindade e o mundo físico, o cristianismo estabelece uma distinção entre o Criador e a criação. Além disso, o livro de Gênesis parece ter fornecido o ímpeto religioso e a autorização divina para o domínio humano sobre a natureza, instigando a sociedade a estudar, pesquisar e conhecer os segredos da natureza.Apesar de todos esses fatores favoráveis, a ciência progrediu vagarosamente durante o período medieval. Foi somente durante os séculos 16 e 17 que as ciências passaram por uma transformação drástica na forma e nos métodos empregados para se obter novos conhecimentos do mundo natural. Curiosamente, durante o mesmo período, outra revolução estava acontecendo no mundo religioso – a Reforma Protestante. 

Considerando que “muitos, senão todos os principais filósofos naturais da revolução científica eram cristãos fervorosos (HENRY, 2010, p. 41) e que em seus dias “ciência, filosofia e teologia eram tidos como a mesma atividade” (FUNKENSTEIN, 1986, p. 3), algumas perguntas têm sido levantadas por estudiosos de ambas as áreas: Haveria, por acaso, alguma relação entre essas duas “reformas”? O fato de a ciência moderna ter se originado durante o período de surgimento do protestantismo seria um indicador de que o último foi mais favorável a avanços científicos que o cristianismo medieval? Em outras palavras, teria o surgimento da ciência moderna ocorrido meramente porque o protestantismo era mais receptivo a ideias inovadoras do que o catolicismo? Ou haveria algum elemento essencialmente protestante que não apenas abriu o caminho para o surgimento das ciências modernas como também proporcionou um estímulo intelectual para o avanço do conhecimento científico? Essa relação entre protestantismo e ciência tem sido feita por estudiosos já há algum tempo. Francis Bacon, por exemplo, foi um dos primeiros a perceber a relação entre os dois movimentos: “Quando foi do agrado divino chamar a Igreja de Roma a prestar contas por suas cerimônias e práticas depravadas, assim como suas doutrinas ofensivas, formuladas para promover o mal, foi simultaneamente ordenado pela Providência Divina o surgimento e a renovação de uma nova fonte de todo outro conhecimento” (ROBERTSON, 2011, p. 63)...

Por outro lado, o etos científico era alimentado pela crença calvinista da eleição dos santos. Uma vez eleitos, os calvinistas eram pressionados pela necessidade de saber se haviam sido predestinados. Essa certeza era obtida por meio da execução de boas obras, incluindo atividade científica, considerada benéfica à humanidade (GERRISH, 2004, p. 166). Robert Merton (1970) foi um dos que especialmente avançaram essa tese. Conforme ele alega, o avanço da ciência na Inglaterra se deu, principalmente, graças a ideais calvinistas como diligência, indústria, vocação secular, valorização da educação, e glorificação a Deus por meio de boas obras e do estudo da natureza. Quando consideramos que os “protestantes predominaram, de forma geral, sobre católicos romanos entre os cientistas de renome na Europa moderna, e que dentro do protestantismo, as igrejas reformadas […] desempenharam um papel predominante na fomentação de homens da ciência” (GERRISH, 2004, p. 166; cf. HENRY, 2010, p. 44-45), o argumento de Merton parece merecer consideração. 

Assim, a maioria dos filósofos naturais do século 17 acreditava que Deus havia criado o mundo com um propósito e que pertencia ao ser humano a responsabilidade de descobrir esse propósito. Esse foi, especialmente, um conceito defendido por Francis Bacon. Em sua obra Novum Organum, Bacon argumenta que o ser humano, por meio de sua queda no pecado, perdeu tanto seu estado de inocência quanto seu domínio sobre a criação. “Ambas as perdas, entretanto, podem ser reparadas nessa vida de forma parcial – a primeira, por meio da religião e da fé; a última, por meio das artes e das ciências” (BACON, 1857-74, v.4, p.247). Movido por esse sentimento “restauracionista”, Bacon conseguiu criar uma “reforma das ciências”, fundamentando-a em seu conhecido método de indução, que contrastava com a maneira tradicional de resolver questões – o método dedutivo. 

Bacon também foi a peça central no estabelecimento da Royal Society de Londres, a renomada sociedade que até os dias de hoje patrocina e promove o avanço do conhecimento científico. “O domínio sobre as coisas” se tornou um dos objetivos da sociedade, conforme relata Thomas Sprat (1667, p.62), primeiro historiador da Royal Society. Graças a esse espírito, a Inglaterra foi o berço do empirismo baconiano e das invenções tecnológicas que alimentaram a revolução industrial durante o século 19. “Caso não fora o conhecido empirismo britânico, fundado por Francis Bacon durante a era elisabetana, as ciências modernas teriam permanecido, em grande medida, um ramo especulativo da ‘filosofia natural’” (RASCHKE, 2013, p.1751). Para muitos, portanto, a investigação e a pesquisa científica se tornaram atividades teológicas. Conforme eles entendiam, havia uma convicção de que “o conhecimento poderia proporcionar a reversão da maldição da ignorância e da separação de Deus que dela resultara” (HARRISON, 2001, p.230).

BACON, Francis. Novum Organum, 2.52. In: SPEDDING, James; ELLIS, Robert Leslie; 
FUNKENSTEIN, A. Theology and the scientific imagination from the Middle Ages to the seventeenth century. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1986
GERRISH, B. A. The old protestantism and the new: essays on the reformation heritage. Nova York, NY: T&T Clark, 2004
HARRISON, Peter. The Bible, protestantism, and the rise of natural science. Cambridge: Cambridge
 University Press, 2001.
HENRY, John. Religion and the scientific revolution. In: HARRISSON, Peter (Ed.). The Cambridge companion to science and religion. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
ROBERTSON, John M., ed. The philosophical works of Francis Bacon. London: Routledge, 2011." A hermenêutica protestante e o surgimento da ciência moderna: Glauber Souza Araujo. Revista Caminhando v. 22, n. 2, p. 137-152, jul./dez. 2017